GT 11. Antropologia das Práticas Juvenis
Coordenador(es):
Frank Nilton Marcon (UFS - Universidade Federal de Sergipe)
Mylene Mizrahi (PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)
O presente GT tem como como objetivo reunir trabalhos resultantes de pesquisas em conclusão ou em andamento, que tenham como foco de investigação as práticas juvenis em suas mais diversas expressões. Mudanças sociais, políticas e culturais ocorridas no ocidente, especialmente na segunda metade do século XX, produziram alterações significativas nas subjetividades juvenis, promovendo mudanças no conjunto das experiências que por muito tempo definiram os sentidos de “ser jovem” e “ser adulto”. Atualmente, as pesquisas antropológicas tem lançado mão de diferentes abordagens teóricas e metodológicas para a compreensão das práticas juvenis, das quais se destacam a influência das teorias da agência, dos estudos sobre performactivity, das abordagens disposicionalistas, como também de uma releitura dos Cultural Studies. Desse modo, fazer uma antropologia das práticas juvenis em nosso atual contexto, trata-se não apenas de estar atento às mudanças nos repertórios de sentidos acionados pelos/as jovens, como também de se abrir para possibilidades interpretativas advindas de outros campos do saber. Serão aceitas para o debate nesse grupo de trabalho, pesquisas, especialmente etnografias, que se dediquem ao estudo das práticas juvenis a partir de diferentes temas, tais como: sociabilidades e territorialidades; gênero, sexualidade e relações étnico-raciais; educação, trabalho e profissionalização; arte, estética e performactivity; entre outros
Resumos submetidos |
---|
"É os guri na CB de novo": práticas e sociabilidades entre jovens em um bairro boêmio de Porto Alegre/RS Autoria: Joanna Munhoz Sevaio (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Autoria: Em Porto Alegre/RS, o bairro Cidade Baixa é significado e vivenciado enquanto lugar de boemia, desde o tempo do sambista Lupicínio Rodrigues (1914-1974) até hoje o lazer noturno conduz grande parte das atividades do bairro. Bares, lanchonetes, casas de shows, restaurantes, boates e cafés estão entre os estabelecimentos que promovem as aglomerações encontradas na “CB”. Em minha pesquisa de mestrado desenvolvo etnografia sobre as controvérsias públicas envolvendo moradores e frequentadores de lá, o que tem se avolumado recentemente for um fenômeno: as ruas como lugar essencial de sociabilidade juvenil. Neste work exploro minhas experiências de pesquisa com um grupo específico de frequentadores do bairro que estudo - jovens que se reúnem em torno de caixas de som em que as batidas de funk são predominantes e que permanecem nas ruas e calçadas, dando outros ritmos à vida noturna da Cidade Baixa. Além da música, os “baderneiros” - tal como são qualificados por parte dos moradores - compartilham também bebidas alcoólicas trazidas de casa ou compradas em supermercados próximos, o que engendra sociabilidades destoantes dos estabelecimentos ao redor. O colorido das garrafas de “corote”, ou o chamado “kit” - geralmente uma garrafa de bebida destilada comprada em conjunto com alguma bebida doce - são as opções mais recorrentes. Tendo por aporte metodológico a perspectiva da etnografia de rua (Eckert; Rocha, 2013) adentro nas sociabilidades destes jovens através de fotografias e de relatos etnográficos resultado do work de campo que venho realizando desde março de 2019 até o presente momento, para a composição de um quadro analítico de como os mesmos praticam (Certeau, 2014) e significam o bairro, o que leva a discussões acerca da reivindicação política do direito de estar e de pertencer aos lugares da cidade.
|
"Hoje eu quero ver quem vai gastar mais": consumo e masculinidade no contexto hype Autoria: Thainá Saciloto Paulon (UFSM - Universidade Federal de Santa Maria) Autoria: O presente work se insere em uma pesquisa de mestrado em andamento, que se foca em compreender o fenômeno da série de vídeos "Quanto custa o Outfit?" e do contexto hype (termo que designa desejo exacerbado por um item que tem pouca oferta). De caráter etnográfico, essa pesquisa procura analisar jovens de classe média e alta das regiões metropolitanas do sudeste brasileiro, que consomem marcas de luxo (roupas e sapatos) e performam esse consumo em feiras de moda. Entendendo que o vestuário é um importante veículo que expressa comportamentos, procuramos discutir como esse consumo performado é um produto cultural, produzido através de um padrão de ostentação. De maneira geral, objetiva-se discutir como se articulam juventude e masculinidade, suas significações e suas tensões, abarcando as dinâmicas de construção de identidade e distinção.
|
As dimensões simbólicas das Facções Criminosas nas sociabilidades juvenis. Autoria: Sérgio da Silva Santos (SEUNE - Faculdade da Seune) Autoria: Este work é fruto de uma pesquisa de Tese desenvolvida no Programa de Pós-graduação em Sociologia da Universidade de Brasília, apresentada em novembro de 2019. Trata-se de uma abordagem sobre as narrativas em torno das Facções Criminosas em Alagoas, considerando as juventudes como importantes atores na constituição dessas narrativas. Nesse sentido, uma das especificidades tratadas foram as redes sociais e o papel dos símbolos nos processos de sociabilidades juvenis.
As redes sociais são espaços de sociabilidades que intensificam as dinâmicas interacionais e os diálogos que fazem parte do cotidiano de muitos jovens. O acesso à internet tem crescido de forma exponencial no Brasil e produzido um espaço de interação, negociação e de disputas. Os fenômenos interacionais, a partir da vida online, aumentaram as dinâmicas de conflitos e as práticas de opressões, mas também aumentaram a possibilidade da participação política dos internautas. As disputas pelo espaço, ou melhor, ciberespaço, fomentaram inúmeras questões que incidem na vida das pessoas, principalmente das juventudes.
No contexto das Facções Criminosas os números 2 e o 3 tornaram-se símbolos das grupos criminosos CVRL – Comando Vermelho Rogério Lemgruber e PCC – Primeiro Comando da Capital, em Alagoas, e contribuem no processo de significações e de interações nos contextos da realidade virtual e do cotidiano das juventudes.
A vida online se confunde com sua vida offline. Atualmente, nas redes sociais, o jogo simbólico atravessa a tela e adentra a realidade da vida cotidiana nas ruas. Ocupar as redes sociais para se popularizar é uma estratégia que deu certo para as facções criminosas, seja para o PCC seja para o CVRL seja ainda para outras facções. Elas passaram a ser uma ferramenta para que suas práticas se tornassem públicas. Nelas seus membros performam e praticam o exibicionismo. A busca por seguidores, admiradores ou até mesmo curiosos, estimula as redes sociais desses atores.
Assim, o poder do símbolo é constituído através da popularidade das facções criminosas no cotidiano da cidade. São muitos os jovens que publicam em suas redes sociais as marcas que estabelecem vínculos simbólicos com as facções criminosas Comando Vermelho e Primeiro Comando da Capital. É também decisivo o poder exercido por esses atores na mudança do comportamento dos jovens no que se refere ao acesso deles à cidade e às redes sociais.
|
Cartografias do Sombrio: subjetividade e alteridade no universo gótico de Fortaleza Autoria: Sandra Stephanie Holanda Ponte Ribeiro (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) Autoria: No work, apresento uma discussão sobre os eventos musicais que compõem os circuitos de lazer de jovens “afinados” com o gótico na cidade de Fortaleza, estado do Ceará. A pesquisa teve como objetivo refletir sobre como esses jovens vivenciam uma experiência com o universo gótico em diferentes espaços e eventos apontando para o caráter híbrido, fluído e espontâneo dos encontros. Para isso, priorizei o uso de técnicas de investigação como a observação de campo desses eventos, conversas informais e entrevista. Os jovens que têm uma afinidade com o gótico são aqueles que podem ser reconhecidos, em termos de estética, através do uso predominante de vestimentas pretas – em geral roupas inspiradas nos visuais de bandas do estilo rock gótico e nos personagens de filmes clássicos de horror e da literatura gótica. Eles costumam frequentar locais como boates, bares, casas de shows, cinemas no centro da cidade e cemitérios. Quando se acompanha as trajetórias desses jovens, percebe-se suas relações com os jovens afinados com o rock metal, com o punk, etc. Assim, apesar de manter uma forte afinidade com o gótico, esses indivíduos, ao se permitirem relacionar com outros mundos, impossibilitam, ainda que parcialmente, a captura de seus afetos por uma “identidade gótica”. A experiência com o gótico é marcada pela conexão com o outro. Além disso, a variedade de espaços em que esses eventos ocorrem – em diferentes locais da cidade – e de atrações musicais presentes neles possibilita abranger jovens de idades, classes sociais e afinidades culturais distintas. É essa pluralidade que caracteriza as práticas observadas durante a pesquisa. Nesta, discorro sobre como e onde ocorrem os eventos musicais que fazem parte das trajetórias desses jovens na cidade de Fortaleza, buscando ressaltar alguns aspectos que singularizam esses encontros. Reflito sobre como noções como juventude, cidade e festividade podem ser ampliadas para dar vazão às dinâmicas que compõem as experimentações juvenis. Depois, apresento um relato de campo do evento Baile das Sombras, no qual procuro traçar como ocorrem alguns processos de desterritorialização (DELEUZE, 1977) através do encontro com a alteridade. Nestes encontros, os jovens se abrem a novas experiências subjetivas que lhes permitem dissolver identidades, inovar os códigos e se movimentar desordenadamente. Por meio deles, pude observar as singularidades que caracterizam os eventos e as performances relacionadas ao mundo artístico gótico, e, ao mesmo tempo, rastrear o movimento de afetos que atravessa as subjetividades desses indivíduos. De forma geral, esta pesquisa refere-se aos fluxos descontínuos que constantemente reconfiguram as performances e as subjetividades juvenis.
|
Discutindo os rituais: as afirmações masculinas em shows de Heavy Metal (Campina Grande-PB). Autoria: Muryel Moura dos Santos (UFCG - Universidade Federal de Campina Grande), Prof. Dra. Mércia Rejane Rangel Batista Autoria: Durante a pesquisa realizada no mestrado abordamos o universo do Heavy Metal, quando analisamos as performances das bandas e a interação com o público. Destacamos que estas apresentam uma característica política de subversão, pois estão associadas não só a quebra iconográfica de símbolos sagrados, como também nos discursos de contestação ao status quo. No exercício descritivo de cunho etnográfico desse artigo demonstramos que esta máxima “transgressiva” é empiricamente irrealizável, no qual observamos contraditoriamente que se enfatiza os processos de conformação da diferença pela exacerbação da masculinidade. Nosso ponto central é destacar de que maneira os homens e jovens do Heavy Metal conformam as diferenças, uma vez que estes atores se projetam enquanto subversivos à moral dominante. Nesse contexto, recuperamos algumas situações (a forte presença masculina nos espaços de prestígio e status social, bem como a projeção destes sobre o lugar das mulheres na comunidade como um todo) que reforçam a posição privilegiada do elemento masculino, reforçando a ideia de que o Heavy Metal é o ‘paraíso’ dos homens.
|
É as gurias! Trânsitos e performances de gênero no cotidiano de uma Casa de Passagem Autoria: Fernanda Bittencourt Ribeiro (PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) Autoria: Numa Casa de Passagem (modalidade de acolhimento institucional do sistema de proteção à infância e adolescência), localizada na grande Porto Alegre (RS) residem meninos e meninas, "crianças e adolescentes". Ao longo de 2018, oito meninas adolescentes lá coabitaram e conviveram intensamente. Irmãs ou não, chegaram por diferentes razões, algumas pela primeira vez, outras pela segunda ou terceira... Nesta comunicação, além de apresentar as diferentes práticas de trânsito que suas trajetórias permitem traçar, viso interrogar os modos como elas habitaram esta instituição, as relações tecidas e/ou rompidas ao longo da residência, atentando, especialmente, para as dimensões performativas do gênero nas relações cotidianas. Além dos dados etnográficos registrados ao longo de mais de dois anos de pesquisa na casa, conto com anotações de uma centena de dossiês arquivados na instituição. Esta fonte que guarda uma determinada memória das práticas juvenis na Casa de Passagem será colocada em perspectiva ao presente no qual estas práticas se situam e se transformam.
|
Etnografias de circuitos de lazer na cidade de São Paulo nos anos 1990 e a cena indie rock Autoria: Eliza Dias Möller (UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora), Silva, Elisabeth Murilho da; Prof. Dra; Universidade Federal de Juiz de Fora; murilho@gmail.com Autoria: Esse work, ainda em fase inicial, pretende investigar a cultura juvenil dos anos 1990 no Brasil através do desenvolvimento da cena musical independente, nos eixos Rio de Janeiro e São Paulo. É importante ressaltar que, neste caso, o termo “independente” está diretamente ligado ao gênero do “indie rock”. Através de entrevistas, imagens, videoclipes e outros materiais produzidos pelas bandas, selos e fãs busco entender como se dá o estilo de vida destes jovens, o que realmente os movia em seus contextos sociais, com o que se identificavam e como construíram suas identidades de maneira geral. Sendo os anos 1990 uma década que se inicia com grande instabilidade política e econômica com o governo de Fernando Collor de Mello e seu subsequente impeachment/renúncia, seguido pelos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso e a estabilidade monetária do Plano Real, , o contexto tanto fez com que estes jovens da classe média buscassem novas formas de diversão e tomassem iniciativas, quanto viabilizou um maior intercâmbio de informações e produtos, a partir da paridade com o dólar em 1994, incrementando a produção cultural. Além disso, o acesso a informações sobre a cultura juvenil internacional é ainda mais massivo através dos meios de comunicação mais avançados, quando os jovens não têm que esperar necessariamente os discos e fitas cassete chegarem ao país, contexto descrito por Helena Abramo (1994) para o final da década anterior. Os jovens da década de 1990 podem ouvir as músicas nas TVs pagas e relacioná-las aos estilos rapidamente, junto com todas as informações que um clipe de música pode trazer, muito mais do que uma capa de um disco ou uma fotografia. Vemos aqui, a música, a moda, os estilos, o consumo e o lazer como agentes principais das culturas juvenis, como explica Hall, Jefferson, Clark e Roberts (2006), tendo em vista a juventude como fator de implicação expressiva nas mudanças da indústria do lazer e em sua ampliação. Como consequência, o próprio mercado destinado ao público juvenil passa a se dedicar também às demais faixas etárias como algo massivamente aceito e desejado, num prolongamento do estilo de vida juvenil. Nesta pesquisa, procuro investigar de que modo bandas como, Pelvs (RJ), Pin Ups (SP), Garage Fuzz (SP), entre outras, criaram seus circuitos, diálogos e identidades nacionais, onde buscavam suas referências, quais lugares se apresentavam, se produziam fanzines, quais eram seus contextos sociais e se, de alguma forma, deixaram algum legado. Para essa apresentação específica, pretendo apresentar o recorte das casas de shows em São Paulo, buscando mapear um circuito de lazer ou uma “mancha de lazer” (Magnani; Souza; 2007) e entender como ela se relacionava com as bandas independentes, a música e o público.
|
Graffiti: A arte que vem dominando os muros de Fortaleza – Uma discussão sobre os festivais e oficinas na cidade. Autoria: Caio Martiniano de Brito Baima (Estudante), Prof.Dr. Marco Aurélio Paz Tella Autoria: Apreciando o contexto fortalezense, explorando as manifestações artísticas e culturais, percebemos uma quantidade relevante de eventos relacionados à arte-grafite. O papel do antropólogo ao realizar o work de relatar sua pesquisa é, em primeiro plano, distinguir aquilo que aqui denomino ações autônomas, ou seja, aquelas articuladas e oferecidas pelos próprios artistas locais, daquelas oferecidas pelo Poder Público, compreendendo o valor e a expressividade que ambos os tipos de eventos podem ter. Lemos aqui Poder Público em duas vertentes, o Governo do Estado do Ceará e a Prefeitura Municipal de Fortaleza. É necessário, ao pesquisar jovens grafiteiros, olhar para as faces de intervenção do Estado ante as ações desses sujeitos, pinturas de murais, atos de intervenção etc. Aqui proponho observar esse Estado sob duas perspectivas: aquele que surge enquanto facilitador, fornecendo espaços, promovendo eventos e por outro lado aquele que aparece como limitador, que coíbe ou promove retaliação, que, portanto, veta de alguma forma esse tipo de produção artística. É preciso, sob o amparo antropológico, trazer nesse momento, essa discussão a partir dos argumentos apresentados pelos interlocutores, dessa forma, através dos diálogos e entrevistas com os grafiteiros de Fortaleza. Nesse ponto, além das coletas de produções acadêmicas que tratam do assunto, apresentarei e discutirei relatos de artistas que participam de eventos e festivais, a exemplo do Concreto (oferecido pelo Estado por meio de edital), Musas nos Muros (evento autônomo com participação exclusiva de mulheres no bairro do Bom Jardim), Sopa das Letras (atividade autônoma na comunidade das Barreiras onde os artistas distribuíram comida e pintaram murais). Tentarei, portanto, remontar a história e a conjuntura na qual esses eventos foram moldados, da mesma forma haverá uma tentativa de relatar casos em que os interesses do Estado entram em confronto com o dos artistas, tratando especificamente de repressão policial, cancelamentos de eventos, falta de verba etc.
|
Hip Hop e a Construção de Práticas Juvenis em Porto Alegre/RS: Um Olhar Antropológico sobre o Tema. Autoria: Diogo Raul Zanini (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Autoria: O problema deste artigo visa trazer elementos etnográficos de uma pesquisa sobre processos de socialização, de formação e transmissão de conhecimento entre jovens. A pesquisa, no caso, se realizou em espaços do movimento e da cultura Hip Hop em Porto Alegre/RS. Como esses jovens e suas práticas se colocam e instrumentalizam a partir do Hip Hop? O que os mobiliza? São questões que o presente work se propõe a problematizar.
Podemos perceber o movimento e a cultura Hip Hop em uma relação histórica com as lutas por reconhecimento e emancipação da juventude negra no Brasil e em outros países do mundo como os EUA. Atualmente muitos jovens formam a cena Hip Hop em Porto Alegre. A cena é diversa. E pensar as práticas juvenis, nesse contexto, requer levar em conta essa diversidade composta por vários espaços e seus agentes. O objetivo deste work é contribuir para o debate em torno das compreensões do tema das práticas juvenis na Antropologia e das Ciências Sociais.
|
Sociabilidade e afeto na escola: driblando as regras e experienciando as interações afetivo-sexuais Autoria: Renata de Souza Carvalhaes (SEC), Claudia Mercedes Mora Cárdenas Autoria: O presente work tem por objetivo analisar a sociabilidade e interações afetivas dentro do ambiente escolar, e, problematizar as possíveis vivências de violências nos relacionamentos afetivo-sexuais entre jovens. As reflexões realizadas são desdobramentos de uma pesquisa de mestrado que visou compreender como as violências nas relações afetivo-sexuais na adolescência são significadas por estudantes de uma escola estadual da região Costa Verde do estado do Rio de Janeiro. A pesquisa é de cunho etnográfico e foi desenvolvida a partir da observação participante no espaço escolar, durante 7 meses, e de entrevistas em profundidade com 3 moças e 3 rapazes entre 18 e 24 anos. Os eixos de análise privilegiados foram: sociabilidade, gênero, sexualidade, experiências que envolvem algum tipo de ação violenta no relacionamento e as agências dos adolescentes diante dos conflitos. Foi demonstrado que os jovens vivenciam grande parte de suas experiências afetivo-sexuais na escola e, para isso, subvertem várias regras da instituição. São frequentes diversas experiências de violências com seus parceiros e parceiras. Os resultados revelam que as agressões entre casais se naturalizam no cotidiano e reforçam a dicotomia vítima e agressor. Múltiplas narrativas que envolvem algum tipo de agressão não foram classificadas como violentas, mas como “experiências negativas”. A reprodução de padrões sociais de gênero contribui para a manutenção de hierarquias e desigualdades que atingem a moças e rapazes de diferentes formas. Os interlocutores tendem a agenciar individualmente as violências vividas. O silenciamento a respeito do tema contribui para a invisibilidade da violência no namoro e no “ficar”, e consequentemente a não procura de cuidado junto aos serviços de saúde. A escola não é percebida como possível local de solicitação de apoio, nem como um agente de proteção, o que nos leva a refletir sobre o pouco diálogo e as estratégias de controle que acabam por produzir o distanciamento dos estudantes. Tal quadro pode se intensificar com o atual panorama político brasileiro em que as escolas estão sendo atacadas com o respaldo do projeto “Escola sem Partido”. Apresenta-se como desafio a expansão de estudos que possibilitem compreender melhor a violência nas relações afetivo-sexuais de adolescentes, assim como, o debate das questões de gênero, sexualidade e violência na escola visando instrumentalizar os jovens para perceberem as possíveis violências vividas, quais instituições recorrer, contribuir para o fortalecimento das agências frente às violências e o reconhecimento dos jovens como sujeitos de direitos.
|
Trajetórias de vida e performances políticas de jovens Sem Terra: etnografia entre estudantes da UFFS – campus Laranjeiras do Sul-PR Autoria: Fernanda Marcon (UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul) Autoria: Este work é parte da etnografia proposta pelo projeto de pesquisa: “Resistir no campo: etnografia das performances políticas de jovens indígenas e Sem Terra no Paraná” e analisa as trajetórias de vida de jovens Sem Terra, estudantes do curso Interdisciplinar em Educação do Campo: Ciências Sociais e Humanas- Licenciatura, da UFFS campus Laranjeiras do Sul-PR. Os relatos dos jovens sobre suas trajetórias de vida se entrelaçam à participação no Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), seja a partir de uma participação mais antiga, desde a infância e que se estende aos pais e outros familiares, seja uma participação mais recente e autônoma, quando não há a mediação de parentes. As memórias e a forma de as narrar também constituem as performances políticas destes jovens na medida em que a participação no MST inclui diferentes atividades formativas e que reforçam o vínculo e a identidade com as reivindicações do movimento. Além disso, os cursos de licenciatura em Educação do Campo realizam um diálogo entre as instituições de ensino superior e a coordenação de educação do MST, que compreende a formação de educadoras/es para as escolas do campo como fundamental na luta por reforma agrária. Nesse sentido, os estudantes que ingressam na licenciatura em Educação do Campo – Ciências Sociais e Humanas na UFFS compreendem esse processo como a continuidade e qualificação de sua formação militante e possibilidade de um outro lugar de participação no movimento, quando tornam-se eles próprios “educadoras/es”. A reflexão sobre as trajetórias de vida contribuiu para os propósitos da etnografia em analisar as performances políticas dos jovens Sem Terra a partir de diferentes aspectos que constituem a militância e participação no movimento, sobretudo como essa participação implica em um modo particular de ser jovem, de conceber essa categoria e se relacionar com ela em distintos espaços de militância.
|
“É nós por nós”: diversão, solidariedade e política entre jovens periféricos de Alagoas. Autoria: Adson Ney dos Santos Amorim (UFAL - Universidade Federal de Alagoas), Fernando de Jesus Rodrigues Autoria: A partir de etnografia em “bairros de periferia”, bem como da atuação em movimentos populares e redes de solidariedade em favelas de Maceió/Alagoas, inclusive durante a pandemia, nos interessamos por transformações de agências políticas e estéticas expressas por “jovens periféricos” desde 2016. Partimos de colaboração etnográfica em diferentes margens urbanas. De um lado, nos baseamos em registros do cotidiano, durante um ano, em um bairro altamente estigmatizado, a partir da atuação de um dos autores nas brigadas urbanas de work de base do MST. De outro, em registros feitos na circulação por grotas, quebradas e bailes de reggae, produzidos em pesquisa anterior sobre circuitos de lazer popular em Alagoas. Problematizamos os entrelaçamentos entre três processos recentes: 1. declínio do reggae e ascensão do bregafunk como linguagem de diversão e visibilidade entre jovens periféricos; 2. Reconfigurações das disputas por espaço e redes de pessoas através da assistência social por movimentos sociais com atuação na base, ligados a grupos partidários e empresariais; 3. O rompimento da aliança CV/PCC e a reconfiguração de zonas de mobilidade e mercados ilegais em periferias de Maceió, a partir de 2016. Destacamos, de um lado, sociabilidades de garotos que se organizam em coletivos de dançarinos e bancas de MCs, circulando em competições – muitas vezes sobre olhares de reprovação de vizinhos – com grupos de outras quebradas ou de rolê em “bairros nobres”. Propomos uma cartografia das mobilizações estético-políticas da ostentação, nas músicas e vestimentas dos grupos para os MCs BH e O cria, e de demonstrações de orgulho pela favela e o desejo de desfrutar da cidade. Por outro lado, vimos o surgimento de tramas ambivalentes de “partilha do sensível” e “desentendimento”, no sentido de Ranciére, entre bregafunkeiros e jovens ligados a movimentos populares e à igreja católica, a partir de tensionamentos entre diferentes regimes normativos depreendidos de suas ideias e posturas. Os jovens engajados em movimentos populares se mobilizam em torno de uma agenda de ações de solidariedade e educação popular no mesmo bairro. Vindos de estratos que vivem menos instabilidades nas ocupações econômicas dos pais e melhor aquinhoados de títulos de educação entre grupos que distintamente se reconhecem como periféricos, mobilizam-se a partir de uma perspectiva de solidariedade com os mais pobres, combatendo o descaso do poder público e o crescimento da vulnerabilidade nas periferias, sintetizada em falas como "Se eles não faz nada, aqui é nós por nós". Focaremos nos ideais de associação-mobilização que norteiam estes jovens, levando em conta os trânsitos dos adolescentes entre fronteiras de mercados culturais, informais e criminais em batalhas por respeito e sobrevivência.
|
De perto e por dentro dos espaços escolares: Consumo, vestuário e identidades juvenis. Autoria: Marcus Vinicius de Sousa Silva Barbosa (UFG - Universidade Federal de Goiás) Autoria: O presente work é resultado de uma pesquisa etnográfica que toma o consumo como via para perceber e pensar o vestuário nas práticas juvenis em duas escolas públicas (federal e militar) da rede básica de ensino do Estado de Goiás ligeiramente colocadas em polos opostos por seus inúmeros aspectos (disciplinares, políticos e pedagógicos) demasiadamente contrastantes.
Entendendo o vestuário como fenômeno cultural e marcador social e simbólico, que ascende símbolos e significados e delimita pedaços, essa pesquisa consistiu em relacionar e entender o vestuário, pelo enfoque antropológico, enfatizando o consumo, como um agenciamento e prática juvenil que são mobilizadas na construção de suas identidades e responsáveis por travar relações dentro das espacialidades e dos processos educativos de duas instituições escolares. A escola foi escolhida como campo empírico a partir de uma vasta bibliografia antropológica que se debruça a postular que esses espaços vão muito além do local do saber sistematizado. Nesses lugares as experiências juvenis se apregoam de forma latente. É onde a maioria dos encontros acontecem e as redes de sociabilidades podem ser mais facilmente visualizadas.
O escopo foi, sobretudo, a análise do vestuário, tal qual os sentidos atribuídos pelos estudantes ao uniforme, tanto institucionalmente quanto na ótica do jovem e o que representa a vontade de oferecer novos estatutos a essa peça. E, também, o que denota os marcadores simbólicos que escapam dessa materialidade trivial que compõe a estética e a cultura escolar, vislumbrando investigar de que forma, dentro dos muros da escola esses elementos operam e são agenciados na construção identitária juvenil, com que e quem dialogam durante essa produção. Além das relações engendradas e os pedaços construídos através do consumo ou da possibilidade de consumir desses jovens.
O campo demonstrou que o manuseio dos marcadores simbólicos na construção identitária transforma a escola em um lugar da agência e da expertise juvenil. Foi possível perceber as sociabilidades, as negociações e esboços, por menores que sejam, de aversões que desafiam o status quo através do agenciamento da roupa, dos diferentes sentidos que os uniformes (e a sua manutenção) ganham nessas espacialidades.
Nas duas escolas, foi percebido que, dentro de seus processos educativos institucionais (menos ou mais reguladores), as práticas desses jovens se mostram como tecnologias próprias desenvolvidas pelos mesmos para produzir suas relações sociais, identidades, estilos, ao agenciarem os bens de consumo e vestuário, tal qual os usos e contra usos dos uniformes e dessas peças que escapam da cultura escolar, a partir de práticas e sentidos próprios, interferindo de forma criativa, direta e indiretamente, às experiências escolares.
|
JUVENTUDE (EN) CENA – VOZES QUE ECOAM: Teatro do Oprimido e o debate sobre sexualidade na escola Autoria: Anna Beatriz Ramos Dias (ufcg) Autoria: Os desafios e as dificuldades enfrentadas pelas práticas metodológicas escolares no atual modelo educacional nos mostram a necessidade de refletir sobre o papel da educação e o uso de suas ferramentas no processo de ensino-aprendizagem, sendo indispensável novas posturas diante das práticas educacionais no ensino básico e superior. Nesse sentido, este work resulta do meu TCC da licenciatura em Ciëncias Sociais, com o objetivo de trabalhar as técnicas do Teatro do Oprimido (T.O.) como um caminho para repensar a educação na contemporaneidade, fazendo uso do T.O. como uma prática educativa. O T.O. foi criado por Augusto Boal na década de 60 como forma de proporcionar autonomia aos agentes sociais, através da ação e da expressão. Por meio de exercícios e jogos teatrais, fundamentais para o desenvolvimento de todas as técnicas do T. O., integra-se o grupo de participantes, levando-os a buscar suas próprias formas de expressão - o que auxilia na desmecanização física e intelectual e na construção de conhecimentos através da arte. Tornando-se “espect-atores” (BOAL, 2005), os participantes do T.O. refletem, discutem e modificam o meio em que vivem. Buscando a transformação social ao deixar a forma passiva de apenas assistir e receber, os “espect-atores” passam a agir e produzir. Neste work, a experiência que reúne arte, educação e protagonismo juvenil é apresentada por meio do Coletivo Rouxinol de Teatro do Oprimido do IFPB. A experiência do Coletivo é aqui apresentada por ser exemplar de uma educação engajada e transformadora que trata de questões atuais da sociedade como um todo e da juventude de forma particular, como é o caso da LGBTfobia. Tomando como referencias, em Peça para Falar, Palco para Ocupar, Nóbrega (2016) narra o encontro do MST com o T.O. e pontua em seu prólogo a relação entre arte e política. Reunir jovens estudantes para pensar coletivamente uma peça, desde o título até as posições ocupadas provoca um conjunto de fatores que agem nesse processo transformador. É no fazer que se faz pensar e é pensando que se vai fazendo.
Em Aprendizagem como/na prática, Lave (2015) faz uma reflexão sobre cultura & aprendizagem, destacando a importância da locução “&” nessa relação. A aprendizagem estaria diretamente relacionada às coerências e incoerências da vida cotidiana, e o aprender por meio do fazer, seria uma aprendizagem como parte das práticas sociais.
Neste work trago um recorte específico: uma peça na modalidade Teatro-Fórum, desde sua montagem até as experiências vividas com as apresentações. A partir da peça, de alguns relatos e percepções de estudantes envolvidos, reflito sobre os lugares de fala e representação no T.O.: as vozes que ecoam desse processo que se propõe a transformar, ao agir.
|