GT 77. Ritmos da Identidade: Música, Juventude e Identidade

Coordenador(es): 
Carlos Benedito Rodrigues da Silva (UFMA - Universidade Federal do Maranhão)
João Batista de Jesus Felix (UFT - Fundação Universidade Federal do Tocantins)

Socialização e discussão de pesquisas concluídas ou em andamento, enfocando a música e ritmos como elementos de mobilização coletiva, e definição de linguagens e códigos de comunicação: enfoques sobre construção de performances e linguagens corporais entre grupos de juventude nas diversas regiões brasileiras ou mesmo em outros países, a partir das tendências rítmicas veiculadas pelos sistemas midiáticos. Estamos diante um fenômeno bastante interessante, pois, é cada vez maior as expressões artísticas, que eram assumidas como simplesmente formas de lazer, serem assumidas como formas de se expor posições políticas. A arte sempre foi vista como muito perigosa, principalmente pelos governos autoritários, mas ela era entendida como uma extensão, uma maneira a mais dos órgãos especializados em políticas (Partidos Políticos principalmente) tinham para demonstrar suas posições. Atualmente existem vários trabalhos acadêmicos que procuram demonstrar que a música, a dança, o cinema, o teatro, têm uma grande autonomia política. Nossa intenção, com instituição deste GT, é dar espaço para conhecermos pesquisas desenvolvidas em todo o território nacional ou estrangeiros, sobre formas de se construir identidades através da música, da dança e do lazer.

Palavras chave: MusicaJunentudeIdentidade Negritude
Resumos submetidos
A Influência dos Instrumentos Musicais no Resgate e na Autoafirmação da Identidade Coletiva
Autoria: Brenda Suyanne Barbosa (Universität Wien)
Autoria: Nas últimas décadas, músicos, luthiers e a indústria cinematográfica vem recorrendo a réplicas e reproduções de instrumentos musicais achados em escavações arqueológicas para seus projetos. O presente work expões as formas como a música tem influenciado no resgate e na autoafirmação da identidade de grupos de pessoas para, consequentemente, discutirmos de uma maneira mais abrangente a função social dos instrumentos musicais. Para entendermos as diferentes maneiras em que a prática musical realça as questões de identidade, será apresentado um paralelo sobre a movimentação que tem sido realizada no cenário musical internacional com a utilização de modelos de instrumentos de sopro encontrados na Europa Ocidental, e o que podemos encontrar no Brasil referente ao uso de instrumentos musicais pelos Povos Nativos. Desta forma, poderemos observar a forte importância histórica representada por instrumentos musicais e o inconsciente comportamento social perante o significado que estes objetos possuem.
A presença feminina nas batalhas de passinho: Discutindo gênero nas culturas juvenis
Autoria: Milena Matias Fonseca (UFPB - Universidade Federal da Paraíba), Prof. Dra. Luciana Maria Ribeiro de Oliveira
Autoria: Este artigo é um fragmento da minha pesquisa de dissertação de mestrado que está em andamento (fase inicial). O tema é resultante de um tópico da pesquisa sobre as batalhas de passinho que se iniciaram em João Pessoa-PB em 2019. Essas batalhas acontecem em alguns bairros da cidade uma vez por semana. Em meados de 2019 surgiu a primeira batalha no bairro de Mangabeira 7, hoje existem batalhas por, pelo menos, cinco bairros da capital. As batalhas basicamente são duelos de dança individuais ou em duplas onde se demonstram coreografias para o público presente e os participantes são aplaudidos após a apresentação. O Brega Funk é a música através da qual se originou a dança que nasceu nas periferias de Recife-PE e que foi batizada como “passinho dos malokas”, tornando-se uma das referências da juventude, não só do Recife, mas em outros estados. Desde seu início o Brega Funk tem uma forte presença masculina, são muitos MCs e dançarinos que se destacam em suas produções. Porém essa presença deixa de ser hegemônica quando as MCs e meninas que dançam o passinho ocupam os espaços da cena do Brega Funk. As batalhas de passinho acontecem geralmente em espaços públicos, com a participação de um público jovem, incluindo crianças. As batalhas são um momento onde se pode analisar várias questões para além da música em si. As práticas realizadas em torno da música revelam um movimento em que a juventude se articula em prol de construir alternativas de aproveitamento do seu tempo livre. Dançar tornar-se uma forma lazer e entretenimento para as juventudes de bairros periféricos. Nas batalhas de passinho em João Pessoa há uma forte participação de meninas duelando, assim muitas questões surgem sobre como as meninas se posicionam neste contexto que é muito apontado socialmente como um ambiente onde as mulheres são desrespeitadas nas letras das músicas que se referem à elas de forma sexualizada com coreografias sensuais e objetificadoras do corpo feminino. Mediante o exposto o momento atual da pesquisa está sendo observar as batalhas e, através de narrativas das interlocutoras, compreender como as meninas se colocam nesse espaço e qual o significado para elas de estarem participando desse movimento. Assim, a análise da participação das meninas nas batalhas permitirá abrir possibilidades de discussões sobre esse movimento que é recente em João Pessoa e endossa a importância da atuação feminina nas culturas juvenis.
Agua y hip- hop: juventudes en movimiento
Autoria: Digna Araceli Argueta Diaz (UFRR - Universidade Federal de Roraima)
Autoria: “El agua no se vende se cuida y se defiende; el agua no se vende porque el hip hop la defiende” Frase que suena melódicamente entre bits y ansias de transformación. Ser joven es uno de los desafíos actuales más grandes de El Salvador, donde entre violencias e injusticia social, las juventudes buscan reconocimiento, identificarse y pertenecer a un espacio donde sus voces sean reconocidas y respetadas. Tornarse juventud militante dentro del movimiento social por el agua salvadoreño, representa una nueva aproximación a las formas históricas de hacer incidencia y al mismo tiempo un proceso de construcción identitaria nueva, en el que juventudes de los diferentes sectores de la sociedad convergen, entre ellos jóvenes del campo y la ciudad que han encontrado en la cultura urbana su espacio de pertenencia. Este documento es parte de una investigación en andamiento en torno a la construcción de las identidades militantes de las juventudes dentro del movimiento Social por el agua en El Salvador y busca hacer una aproximación al hip-hop como mecanismo de vinculación y pertenencia en la lucha por el Agua. Aportando a la politización estética de los discursos y a la transformación de identidades individuales (self), para tornarse una identidad colectiva (selves).
As sambistas de um samba que elas querem: as performances corporais de jovens musicistas cariocas
Autoria: Barbara Rodrigues Silva Grillo (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: Entre os anos de 2017 e 2018, desenvolvi uma pesquisa de cunho etnográfico na cidade do Rio de Janeiro. Nela, estava preocupada em entender dinâmicas e relações travadas em rodas de samba inteiramente femininas surgidas em anos recentes. Nesse meio tempo, me dediquei principalmente a conhecer dois grupos, o Samba que Elas Querem e o Moça Prosa. Ambos os grupos eram formados por jovens mulheres cariocas com origens e motivações muitas vezes diferentes, cujos vínculos se construíam por meio da vontade de realizar aquelas rodas de samba, de “tocarem juntas”. Além de compartilhar a peculiaridade de formarem esses grupos inteiramente femininos, essas mulheres também integravam um mesmo “circuito de jovens” (Magnani 2005) que se conectava entre as zonas sul e central da cidade por um profundo interesse pela música. Dessa forma, embora o objetivo do work tenha sido compreender o acontecimento dessas rodas inteiramente femininas, também foi necessário entender e entrar em contato com esse circuito maior e diverso, onde os homens também figuravam como companhias musicais dessas mulheres. Isso porque eram os conflitos que essas mulheres vivenciavam quando na companhia desses homens que as motivaram a criar os grupos inteiramente femininos. Assim, permeadas por discursos contemporâneos politizados sobre as pautas de gênero e sexualidade, essas jovens sambistas entendiam a formação daqueles grupos como uma forma de “empoderamento feminino”. Como Berth (2018) demonstrou o empoderamento não é um movimento político que necessariamente se constitui por concepções econômicas, mas pode ser entendido também por meio de disposições estéticas e afetivas. Foi dessa maneira que nas relações com as interlocutoras busquei compreender as formas como ela se engajavam estética e afetivamente ao samba. Essas formas se mostraram centrais para a maneira como figurariam aquilo que era o principal desejo das mulheres daqueles grupos: integrarem as rodas para além de cantoras ou “musas”, apresentando-se como cantoras, instrumentistas, arranjadoras e organizadoras daquelas rodas de samba. A fim de entender como, em meio a esse contexto, essas mulheres construíam suas presenças nas rodas de samba em que participavam, passei a frequentar as rodas entendendo-as como um ritual, tendo especial atenção às performances corporais daquelas sambistas. Assim, foram essas performances que deram tom à voz política e íntima – aquela do desejo de fazer música – de cada uma delas. Por conta disso, nessa apresentação, buscarei descrever a partir dos dados etnográficos, junto às entrevistas das interlocutoras, a significação dessas performances em relação aquilo que buscavam representar enquanto mulheres sambistas em uma roda de samba inteiramente feminina.
Circulação, pertencimento e identidade a partir da trajetória da DJ Tamy Reis
Autoria: Sthefanye Silva Paz (SEEDUC)
Autoria: A partir da ideia da construção de identidades através da música e das linguagens corporais que são construídas pela juventude, me proponho a analisar a trajetória de Tamyres Reis, DJ de hip-hop nas principais festas black do Rio de Janeiro. A juventude que frequenta as festas onde Tamy é residente tem em comum a circulação pelo subúrbio carioca, onde geralmente essas festas ocorrem, e a construção de uma identidade negra pautada pela visualidade e estética de suas roupas, acessórios e cabelos. O consumo da moda black fica evidente nas redes sociais de divulgação das festas e dos seus principais representantes como os Dj’s residentes e produtores. A trajetória da DJ reforçar assim a ideia de interseccionalidade, visto que se trata de uma mulher negra, do subúrbio carioca e de interculturalidade pois ela transita entre o mundo religioso e o mundo secular. Tamyres é declaradamente uma cristã protestante, circula entre espaços religiosos e não religiosos se colocando como mediadora cultural através da música. DJ Tamy desnaturaliza a ideia de que há uma forma única de vivenciar o cristianismo protestante, pois a mesma é construída no plural em uma vida urbana que é cercada de heterogeneidades, compreendo que os indivíduos participam de múltiplos pertencimentos que são simultâneos e que se inter-relacionam na construção de suas identidades e formas de representação do mundo social (VELHO, 1994). A mediação é importante para entender a atuação de DJ Tamy e o trânsito que é realizada de forma constante entre esses diferentes domínios culturais e simbólicos. Além disso, é também interesse do meu work analisar a sua construção estética pois compreendo que esse é um fator que reforça e evidência seu trânsito cultural e simbólico e compõem sua identidade. Isso seria uma possiblidade, já que as trajetórias individuais não são lineares, assim como as escolhas dos indivíduos não são definitivas e o multipertencimento, relativização e adaptação dos discursos e das normas religiosas por parte de seus fiéis são possíveis em outros pertencimentos religiosos. Ainda neste artigo pretendo discutir, a partir da trajetória da DJ Tamy, a noção de work que é central para compreensão de sua circulação.
Coreorebeldia etnomusicológica: percursos epistemológicos e metodológicos de uma etnografia das práticas musicais da BATEKOO
Autoria: Leonardo Moraes Batista (Departamento Nacional do Sesc), Thamara Collares do Nascimento (thamaracollares.nave@gmail.com); Danilo da Cunha de Jesus dos Santos (danilo.cunhads@live.com); Acsa Braga Costa (acsabragac@gmail
Autoria: A BATEKOO é movimento/festa de juventude negra que versa com entretenimento, cultura, sonoridade, corporeidade, estética e embate político, protagonizado por corpos de pessoas negras. Um encontro afrodiaspórico que transita entre a memória, por meio da conexão ancestral e uma reontologia focada em construir uma contranarrativa ao que se refere às experiências cotidianas das pessoas negras na sociedade. “Juventude”, “geração”, “revolução” e “mudança” são palavras que podem descrever objetivamente esse movimento criado por pessoas pretas e para pessoas pretas que tem como principal interesse a exaltação da diversidade da negritude. Esse é o espaço que praticamos e pesquisamos. Falamos no plural porque somos Negô: um grupo de estudos e pesquisas constituído por pessoas negras praticantes, participantes e “pretantes” da BATEKOO. Somos pesquisadoras/es associadas/os ao Laboratório de Etnomusicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LABETNO – UFRJ). A etnomusicologia por ser um campo, uma área, uma disciplina que articula discussões e processos interdisciplinares que se desdobra em produção de conhecimento, a partir de ações singulares na/com a dinâmica social, sendo o escopo sonoro espaço de pesquisa e nosso campo de atuação. Estamos construindo, desde fevereiro de 2019, a pesquisa de doutorado, em andamento, com foco na juventude negra LGBTTTQI+ e sua produção estético-sonoro-corpórea em meio aos espaços urbanos. Somos um grupo que possui diferentes perspectivas sociais atravessadas por ações raciais que se desdobram em perspectivas necropolíticas (MBEMBE, 2018). Nossa pesquisa mergulha na produção da juventude e nas suas estratégias e formas de sobrevivência que se dão nas práticas estético-corpórea-sonoras por meio/com o movimento/festa BATEKOO. Temos como base metodológica o enfoque etnográfico mesclado à Pesquisa Ação Participativa (PAP) em diálogo com as ideias de descolonização além das concepções negrocídas. Ou seja, partimos das práticas de ações afirmativas, como engajamento político além extermínio da população jovem e negra. O escopo epistemológico desse processo é embasado pelo pensamento negro, produzido em África e nas diásporas, como vida e não como tema (RAMOS, 1955). Nós, batekoonianos, assim como os Black Power, modificamos nossas lentes, focados em não mais assumir a branquitude como modelo de produção de conhecimento. Assumimos um referencial diferente, fluido e preto, rompendo e atravessando os limites impostos pelo pensamento Moderno. Contudo, buscamos compreender a BATEKOO como este espaço de construções de identidades e memórias atravessadas pela experiência civilizatória de torna-se negro, por meio da relação entre sonoridades e corporeidades afrodiaspóricas como um projeto negropolítico de afrofuturo.
Duelos verbais periféricos no centro da cidade: relações raciais e políticas do improviso na batalha da escadaria. Contribuição à Antropologia do Hip Hop no Recife.
Autoria: Neilton Felix da Silva (UFPE)
Autoria: Assim como as políticas públicas do carnaval do Recife, mostram, existe hierarquia entre as culturas populares e esta se exprime através do espaço alegado a elas. De modo que, as ruas surgem como um local “aberto”, e talvez, único para muitos pernambucanos, de contato com algum tipo de arte. Pois, “quando a luz do sol se esvaia dando lugar ao luar, auxiliada por lâmpadas em seus altos postes”, bem no “coração" do grande polo comercial do Recife/PE. Uma paralela à Avenida Boa Vista, é ocupado pela “Batalha da Escadaria”, um movimento urbano artístico popular da cultura Hip Hop pernambucana, existente há 13 anos. Tendo como destaque o MCing (na cultura Hip Hop, nome dado a prática dos masters of cerimony – MC’s – Mestres de Cerimônia, improvisando falas ritmadas e rimadas sobre músicas sampleadas). A simbólica atrás da escolha deste lugar como palco de pura expressão é tomada da palavra, não pode ser negligenciada para esses jovens entre 14 a 30 anos de idade, a grande maioria negra (pretos e pardos), de gênero masculino, e oriundo da “quebrada”, da “ré”, e outras periferias da região. Mas a Batalha da Escadaria tem uma particularidade estética que a distingue das práticas de poesia urbana que se multiplicam há alguns anos no Brasil e no Estado, as cenas ou batalhas de “slam”, hoje amplamente associadas à poesia e discursos politizados, e também, considerados vínculos educacionais, e nas quais, hoje, várias mulheres atuam. Na Batalha da Escadaria, o que acontece entre os MC’s, é a chamada “batalhas de sangue”, que configura em ataques e trocas de insultos, “baixarias” muitas vezes de ordem sexual. Como prática performática organizada entorno da rima e do duelo verbal, parece sofrer diferentes influencias que poderiam marcar alguma singularidade do MC’ing pernambucano ou recifense, singularidade que este projeto de mestrado busca identificar, compreender e analisar. Sendo assim, o presente work, buscará fazer uma descrição e análise dos processos performativos (a nível discursivo) dos duelos verbais, e de suas interações em relação a sua inserção na cidade numa perspectiva interseccional (território, raça e classe).
Música tamacheque e guerrilha digital: a internet funciona como ferramenta de mudança social?
Autoria: Renato de Lyra Lemos (UFPE - Universidade Federal de Pernambuco)
Autoria: Em plena era da informação, as Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s), especialmente a internet, são vistas como ferramentas capazes de causar revoluções sociais. Diversas pesquisas nos últimos anos têm apresentando os impactos que os usos dessas ferramentas vêm causando, especialmente entre os jovens, possibilitando um maior acesso à informação, facilidade de comunicação, maiores oportunidades de inserção no mercado de work e proporcionando com que suas visões de mundo e as denúncias dos seus problemas sociais sejam transmitidas em maior escala. Assim, diversas organizações e governos têm vislumbrado um potencial transformador na internet de mudanças a nível social e econômico, especialmente no continente africano. Essas representações desse potencial da internet são conceituadas como “messianismo tecnológico” pois essa caracterização da internet como uma ferramenta de mudança social se estende para além de sua capacidade que é a de gerar, armazenar e trocar dados. Além de quase metade da população global não ter nenhum tipo de acesso à internet, uma parcela significativa dos que possuem está sujeita a uma experiência mediada pelo colapso tecnológico e pelo reparo, ou seja, com o uso de tecnologias obsoletas, redes elétricas de energias instáveis e conexões de internet lentas e oscilantes. Assim, grupos socialmente excluídos acabam sendo postos ainda mais à margem, mesmo quando conseguem ter algum tipo de acesso à internet. Mesmo assim, grupos de jovens ao redor do globo têm construído formas de estruturarem os dispositivos tecnológicos de um modo que possibilitem uma maior inserção social, a visibilização de suas reivindicações sociais. É o caso das comunidades de jovens tamacheques na região do Sahel na África Ocidental. Após o sucesso internacional de alguns grupos de música tamacheque, com um significativo interesse da indústria fonográfica por grupos de rock com influência tamacheque, diversos jovens nascidos a partir dos anos 1980 têm visto cada vez mais na música uma maneira de ganharem a vida. Porém, devido à falta de um mercado local que possa sustentar a grande quantidade de artistas e grupos existentes, esses jovens acabam tendo de encontrar maneiras de utilizarem os recursos digitais que têm às mãos para possibilitar que suas músicas sejam ouvidas além das fronteiras locais. Desse modo, essa pesquisa tem por intuito compreender os dispositivos de insurgência cultural tecidos pelas novas gerações de músicos tamacheques para conseguirem ser ouvidos através da utilização das tecnologias digitais às quais têm acesso. Para isso, utilizo-me da metodologia da etnografia digital, acompanhando a movimentação desses artistas através das redes sociais e os impactos desse fenômeno cultural na imprensa e em blogs de música.
Saber Cantar e Comunidade de Afetos: um debate sobre música entre os Calons
Autoria: Renan Jacinto Monteiro (CRIAS)
Autoria: Neste work proponho uma discussão acerca da potência da música não só enquanto formadora de uma identidade masculina Calon como também enquanto formadora de um sentimento de “comunidade”. Através de uma pesquisa etnográfica que foi realizada na Rua dos Ciganos, na Costa Norte da Paraíba, foi possível perceber o quanto a música permeava a construção de um perfil de masculinidade desejável entre os ciganos desta localidade. Por ser um importante elemento na construção desta masculinidade, o Saber Cantar se torna um dos saberes mais valorizados pelos próprios ciganos na Rua, trazendo prestígio e honra para aqueles que o tem. Desde os primeiros anos de vida, os meninos, majoritariamente, são incentivados a cantar e participar das rodas de cantoria que ocorrem na Rua. Geralmente sem hora e local marcado, as cantorias acontecem no ritmo da vida cotidiana e as crianças vão aprendendo a cantar enquanto praticam o próprio cantar. Mas é em momentos festivos, como festas de casamento, por exemplo, onde os Calon colocam a prova o seu Saber Cantar frente aos convidados da festa e os demais cantores que se apresentarão no palco instalado, em busca do prestígio de ser eleito pelo público como um “bom” ou “excelente” cantor. Embora nestes momentos a música acabe, algumas vezes, por inflamar certas rivalidades e criar tensões e conflitos indesejáveis, o que coloca a conformidade da festa em risco, em outros ela cria alianças fortes e reanima sentimentos de unidade e “comunidade”. Nestes momentos, muito comuns nas festividades de final de ano, como natal e ano novo, a música é acionada como um elemento para unir as pessoas em torno de um sentimento que as faz sentir como integrantes de um grupo. Em todos esses momentos, no Saber Cantar e na própria formação de um sentimento de unidade, a performance tem grande relevância para fazer com que um cantor seja elogiado e reconhecido como um “bom cantor”, como também para fazer com que as pessoas se sintam integrantes de um mesmo grupo Calon. Por último, vale ressaltar o quanto estar atento à música entre os Calon da Rua dos Ciganos é estar atento a questões de gênero, geração, política, honra, socialidade, etc.
Sarau da onça: a afirmação da identidade negra como nova forma de resistência à discriminação racial no bairro Sussuarana
Autoria: Mossi Kuami Anoumou (UFBA - Universidade Federal da Bahia)
Autoria: O “Sarau da Onça” é um encontro de jovens que fazem poesia e hip-hop, no bairro de Sussuarana, em Salvador. É uma área formada pelos bairros Nova Sussuarana, Novo Horizonte e Sussuarana Velha. Esse evento foi promovido inicialmente pelos missionários combonianos (uma congregação católica). No ano 2000, criaram o Centro de Pastoral Afro Pe. Heitor Frisotti (CENPAH) para exercer atividades de formação identitária, arte-educação, promoção da autoestima de grupos, coletivos e comunidades na luta contra toda e qualquer discriminação. Tornou-se, assim, um espaço em construção de resistência, no sentido de ajudar a comunidade na luta contra a discriminação e o racismo. O tempo passou e as atividades foram bem sucedidas e deram origem ao Sarau da Onça em 2011. Trata-se duma atividade cultural que tem como objetivo despertar nos jovens negros o desejo de buscar sua visibilidade a partir da poesia. Esses encontros de poesias têm “como foco o acesso aos bens culturais, a ressocialização de populações marginalizadas, buscando promover e incluir socialmente esses sujeitos no modo como negociam e elaboram sua memória e suas identidades” (OLIVEIRA e OLIVEIRA, 2017, p. 122). Por meio da poesia e música nos encontros, há partilha das realidades vividas de discriminação, racismo e rejeição. Sob a forma de linguagens literárias de resistência periférica, as atividades de afirmação e revalorização da identidade negra desenvolvidas no Sarau através da poesia e da música vão mudando o jeito de viver dessa juventude. Essas expressões artísticas constituem a forma de eles manifestarem suas posições políticas. Pois consideram a aprendizagem no Sarau da Onça como uma formação artística, política e identitária. O objetivo desta comunicação, fruto de uma pesquisa de mestrado (em andamento), é identificar, nos eventos do Sarau da Onça, os processos que propiciam a construção da identidade negra como nova forma de resistência à discriminação racial na cidade. As questões abordadas neste work buscam compreender duas dimensões desse processo: a) as repercussões dessa aprendizagem na vida dos participantes; e b) analisar as técnicas e performes elaborados nos encontros de poesias e de hip-hop.
“É a novidade nova”: uma análise sobre sociabilidade e pertencimento a partir do Passinho no Recife
Autoria: Sandro Soares Ramos de Freitas (UFPE), GUSMÃO SÁ, Beatriz Yolanda Pontes de
Autoria: Este work se propõe a refletir sobre a reconfiguração simbólica em torno da sociabilidade dos jovens situados na periferia do Recife, sob a ótica do movimento do Passinho. Este fenômeno se manifesta, fundamentalmente, a partir de um estilo de dança com passos característicos e músicas baseadas no ritmo conhecido como brega-funk. Esse movimento, surgido na periferia, ganhou destaque, especialmente por meio das redes sociais, e hoje tem sua inserção em espaços e festas de diferentes classes sociais, tanto na Região Metropolitana do Recife, como em outras cidades do país. Em meio a muitas semelhanças com o ocorrido no movimento do Funk carioca, o sucesso do Passinho fez com que os jovens envolvidos – especialmente os MC’s – passassem a ser publicamente reconhecidos e assumissem, em determinados momentos, o papel de porta vozes de suas comunidades. O material que alicerça a análise aqui proposta são as entrevistas e demais manifestações públicas de alguns MC’s do Passinho, especialmente da dupla Shevchenko e Elloco, os principais nomes desse movimento. A partir de suas falas propõe-se observar como os MC’s acionam e revalorizam noções relacionadas a questões de: pertencimento a comunidade, visto que os artistas reforçam o lugar que vivem; inclusão social e ascensão social por meio do consumo; e a música e a dança como opções culturais alternativas ao contexto de criminalidade da periferia, em a visibilidade social positiva devido a participação nos grupos do Passinho.
Artes no contexto urbano do estado de São Paulo: o que nos contam as pesquisas antropológicas?
Autoria: Luma Mundin Costa (USP - Universidade de São Paulo), Gabriela da Silva Figueiredo Rocha
Autoria: Em diálogo com a proposta do grupo de work "Ritmos da Identidade: Música, Juventude e Identidade", tencionamos realizar uma revisão bibliográfica dos Programas de Pós-Graduação (PPG) de Antropologia e Ciências Sociais de algumas universidades paulistas, com o recorte sobre a temática da arte e estética no contexto urbano do estado de São Paulo. Serão consideradas produções de PUC/SP, USP, Unicamp, UFSCar, Unifesp e os campi de Araraquara e Marília da Unesp. Contando com o acervo do projeto "São Paulo em Teses: Catálogo Bibliográfico", desenvolvido pela equipe do UrbanData-Brasil – Banco de Dados Sobre o Brasil Urbano (CEM/USP), da qual somos integrantes como bolsistas de iniciação científica, optamos pela análise da produção de dissertações e teses nos PPGs de Antropologia e Ciências Sociais como um recorte que permite identificar os tipos de acionamentos da arte por parte dos pesquisadores, para então investigar em que medida esses works relacionam arte e expressões artísticas com a construção de identidades. Nosso intuito com essa primeira exploração é identificar a intersecção entre a arte e o universo dos estudos urbanos. Mais especificamente, entender (1) se esses works tratam as artes e performances artísticas como consequências ou como ferramentas dos processos de urbanização e (2) o que o objeto artístico estudado nos conta sobre a formação de subjetividades e identidades de grupos ou do próprio espaço. Para a realização da proposta, selecionamos os works classificados com a "Área Temática"(AT) “Arte e estética”, um critério de indexação concebido pelo UrbanData-Brasil/CEM cujo objetivo é agregar referências bibliográficas conforme os vários corpi da literatura, expandindo as possibilidades de classificação além dos critérios convencionais, como “palavras-chave” e “área do conhecimento”. “Arte e estética” figura como uma das 35 ATs do thesaurus produzido pela equipe do UrbanData-Brasil/CEM e compreende tanto coletivos culturais quanto formas estéticas de ocupação do espaço. O banco de dados em questão permite o cruzamento de works com mais de uma classificação, viabilizando uma comparação quantitativa entre os temas que se somam a essa AT, e qualitativa entre os conteúdos propostos por cada work. Essa metodologia pode nos mostrar como as pesquisas antropológicas tratam do papel da música, da dança, do teatro, do audiovisual e das expressões artísticas na cidade, situando a arte no contexto urbano.
Identidade, Lazer e Rede de Relações: Uma Análise Sobre o Tecnobrega e as Festas de Aparelhagem na Cena Cultural de Macapá.
Autoria: Marta Rayane da Silva Gomes (UNIFAP - Universidade Federal do Amapá), Marta Rayane da Silva Gomes
Autoria: As análises empreendidas nesse work se localizam dentro do contexto urbano periférico da Amazônia oriental onde o tecnobrega ambienta junto com seus sub-gêneros como o melody, tecnomelody e o eletromelody os bairros populares e as pontes da cidade de Macapá, capital do Amapá. O tecnobrega a muito tempo vem alcançando profunda capilaridade entre grupos de jovens que nesse contexto residem, e recentemente tem despertado o interesse das camadas médias locais. E é nas pontes e em outros bairros que integram a periferia macapaense, que se pode visualizar seu maior enraizamento compondo a formação da paisagem sonora desses lugares. As festas de aparelhagem, por sua vez, se mostram como uma forte expressão da manifestação desse fenômeno. As descrições e inferências feitas nesse work baseiam-se em investigações bibliográficas e em dados etnográficos obtidos através de observações participante realizadas entre maio de 2017 e julho de 2018, junto à grupos de jovens adepto ao movimento do tencobrega que moram em bairros da zona norte e zona leste da cidade, e que recorrentemente se encontram nas festas de aparelhagem assim como em outros espaços. Nesse artigo se busca apresentar e compreender a importância que tem essa manifestação nas configurações identitária e no estilo de vida de seus adeptos, analisando como tais grupos sociais constroem e são construídos pelos espaços de lazer na cidade, e de que modo ocorre as construções e o condensamento de práticas coletivas dentro do circuito do tecnobrega. O objetivo, nesse sentido, é: trabalhar as questões identitárias como um elemento relacional articulado dentro do fenômeno; as formas de lazer nas periferias de Macapá marcada pelo consumo deste gênero compreendido a partir dos seus usos e seus sentidos. As configurações da composição identitária dos jovens adeptos ao movimento se dão a partir do compartilhamento dos valores em comum, e isso influência no modo como tais grupos utilizam de aparelhos urbanos para o exercício identitário ao compor espaços de lazer. Esses espaços são construídos, sobre tudo, a partir de suas realidades que, por sua vez, permite envolver atores a partir das relações de identidade como elemento do modo como é ocupado os aparelhos urbanos através de modalidades como pedaço e circuito. As evidências simbólicas no movimento do tecnobrega acarretam questões que atravessam o cotidiano de uma juventude que está na margem, que se reconhece um nos outros por compartilharem dos mesmos símbolos e do mesmo estilo devida. As reflexões e análises apresentadas nos mostram um pouco do que se desenha no horizonte simbólico deste fenômeno. E é nessas periferias da amazônia urbana que essa juventude fala e escuta a própria língua.
Trocas simbólicas, conexões e territolialidades no sul do Brasil: uma etnografia da resistência punk entre Porto Alegre e Curitiba
Autoria: Tatiana de Oliveira (Governo Estado Bahia)
Autoria: Com algumas bandas brasileiras comemorando seu quadragésimo aniversário, a cultura punk persiste tanto nos grandes centros quanto em cidades menores, sendo vivenciada por múltiplos atores. A constante ressignificação do punk desde o início dos anos 80 tem propiciado diferentes concepções e formas de ação e organização. Enquanto algumas pessoas que produzem e participam dos eventos são simpatizantes do movimento, outras têm no punk o seu meio e modo de vida, e nele encontram sua estratégia de sobrevivência, resistência e visibilidade. Para perceber como as formas do “faça você mesmo” têm sido empregadas pelos punks nas cidades de Curitiba e Porto Alegre, realizei uma etnografia com observação participante, entrevistas e pesquisa documental. A partir disto, pretendi também relacionar o processo de construção coletiva com a própria sobrevivência tanto das pessoas quanto do movimento, evidenciando formas simbólicas de circulação de riquezas nas formações das bandas, gigs, fanzines e ocupações. Apontei ainda questões de mobilidade, precarização do work e gênero que parecem desenhar a maneira como se tem vivido o punk nestas localidades. Embora contatos e vivências preliminares tenham propiciado uma aproximação do tema, considero que o início efetivo do work de campo se deu em maio de 2019 no show da banda finlandesa Rattus na cidade de Curitiba, e em outubro de 2019 na gig das bandas Discrença e Besthoven, em Sapucaia do Sul (região metropolitana de Porto Alegre). Nas duas ocasiões, bem como em muitos shows onde bandas punks de nome consolidado na cena, foi possível notar que parece haver um código de elegibilidade diretamente ligado à percepção, pelos punks, de quem é “punk real” ou quem circula pela cena mas adota alguns valores que eles combatem. Este campos de disputa, entre “verdadeiros” e “falsos”, entre quem frequenta a cena e quem faz a cena, está presente em várias manifestações do underground, não sendo exclusividade do punk. Longe de ser uma dicotomia que condiciona este work, é um tensionamento para o qual nos interessa olhar para compreender algumas das questões propostas. A própria definição de quem é ou não punk cria um binarismo onde “os outros” seriam os punks, cujos saberes e fazeres são minimizados por grupos distintos que promovem ou participam de eventos nos quais os punks tocam ou são público. A partir deste estereótipo, são formadas falas de desumanização, não levando em conta sua mobilidade geográfica, organização, work, relação com materiais das bandas e trajetórias pessoais e coletivas. O work ainda está em andamento e será tema de minha monografia, que além de apresentar a etnografia, a relacionará com algumas questões teóricas.