GT 58. Migrações, Mobilidades e Deslocamentos. As movimentações populacionais na contemporaneidade.

Coordenador(es):
Miriam de Oliveira Santos (UFRRJ - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro)
Gláucia de Oliveira Assis (UDESC - Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina)

Sessão 1
Debatedor/a: Daniel Granada da Silva Ferreira (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)

Sessão 2
Debatedor/a: Maria Catarina Chitolina Zanini (ufsm)

Sessão 3
Debatedor/a: Sidney Antonio da Silva (UFAM - Universidade Federal do Amazonas)

Desde 2006, esse GT tem buscado refletir sobre as diferentes dimensões e contextos das mobilidades. No século XXI a chamada "crise migratória", o processo de securitização nas fronteiras, a intensificação dos deslocamentos, ganharam uma relevância e urgência significativas que refletem a complexidade dos conflitos de várias naturezas presentes na mobilidade humana. Nesse contexto, homens, mulheres e crianças em movimento categorizados como migrantes, refugiados, deslocados ou pessoas em mobilidade, buscam na migração (com maior ou menor grau de escolha e/ou de protagonismo) um caminho para seus projetos em busca de melhores condições de vida do que têm na sua região ou país de origem. A proposta deste GT é acolher trabalhos que busquem analisar os processos e políticas migratórias considerando que raça, gênero, classe e outros marcadores impactam na compreensão dos processos, no diálogo intercultural e nas interações com a sociedade de acolhimento. Compreender as interações cotidianas e as lógicas classificatórias que são acionadas em função dos processos migratórios, de como os migrantes são categorizados e das novas configurações societárias contemporâneas. O GT propõe a partir de um diálogo interdisciplinar da Antropologia com outros campos, acentuar as trocas de metodologias e experiências de pesquisa nos estudos migratórios, promovendo um aprofundamento em relação às abordagens habituais e acrescentando novas possibilidades para o enfoque antropológico da questão.

Palavras chave: Migração; Mobilidades; deslocamentos
Resumos submetidos
"De Lá Pra Cá": experiências diaspóricas de baianas e baianos para região da Grande Florianópolis.
Autoria: Tatiane Silva Cerqueira Santos (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina)
Autoria: O work a que venho apresentar aqui nesse espaço acadêmico é referente à minha pesquisa de mestrado: uma etnografia sobre baianos e baianas que vivem na Grande Florianópolis. A minha proposta de pesquisa buscou conhecer as narrativas de baianos e baianas que migraram para Santa Catariana, especificamente, para a região da Grande Florianópolis. Com a intenção de responder às seguintes perguntas: por que migraram para o Sul do país? Como vivem na cidade e são acolhidos pelo estado receptor? Assim faço uma comparação entre as capitais atlânticas Salvador e Florianópolis, traçando uma breve contextualização da população negra nestes locais.Proponho um debate acerca dos aspectos diaspóricos que envolvem as migrações internas no Brasil, contextualizando-os em diálogo com a questão da identidade e as práticas da colonialidade. Dessa forma, apresento as formas de organização e circulação dos baianos em diferentes espaços de mobilidade na Grande Florianópolis, como o bairro Bela Vista, em São José que foi denominado pelos meus interlocutores de uma segunda Bahia que pode ser vista e percebida. A partir das construções e encontros de elos dos baianos por meio da religiosidade, comidas típicas baianas e suas relações com a vizinhança. Esta experiência etnográfica de ver, sobretudo de perceber uma segunda Bahia no sul do país me aproximou das vivências diaspóricas dos trabalhadores e trabalhadoras migrantes na Grande Florianópolis.Procuro entender como eles vivem diariamente as questões de hostilidades em Florianópolis, por exemplo, racismo, xenofobia e violência institucional em um contexto, onde encontramos um movimento que reforça a separação entre o Sul e o Nordeste.
Deslocamentos e narrativas: lei anti-imigração de Trump
Autoria: Camila de Jesus Reis e Silva (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: A intenção deste work é refletir acerca das narrativas capazes de fabricar sujeitos, criando este "outro", ao qual são atribuídos significados e valores. Para tal, proponho analisar a lei anti-imigração promulgada pelo presidente Donald Trump no dia 27 de janeiro de 2017, cujo nome oficial é Ordem Executiva para proteger a Nação da entrada de terroristas estrangeiros aos Estados Unidos. A ideia é, portanto, debater os deslocamentos através da narrativa, do documento. Inspirada pelas ideias de Luís Roberto Cardoso de Oliveira (2010) acerca das diferenças metodológicas entre o Direito e Antropologia, este exercício etnográfico é uma tentativa de compreender a relação desta lei com os aspectos mais universais do sistema social no qual ela se encontra - metodologia antropológica -, compreendendo que a Ordem Executiva não é apenas um pedaço de papel imparcial inserido em regras jurídicas gerais - perspectiva do direito -, externas, mas, sim, uma lei que, através de sua singularidade, nos possibilita refletir sobre a ordem geral da sociedade, ou seja, sobre os migrantes.
Diáspora estudantil: um estudo histórico e antropológico entre estudantes e professores guineenses e cabo-verdianos nas universidades brasileiras.
Autoria: Aline Cristina Laier (pesquisadora), Fernando Gaudereto Lamas
Autoria: A proposta deste work é abordar a complexa situação de jovens estudantes que saem de seus países de origem para cursar o ensino superior no Brasil. A princípio, este processo se deu por iniciativas individuais e familiares de segmentos mais abastados de Guiné-Bissau e Cabo Verde. Entretanto, a migração destes estudantes ampliou-se significativamente após serem abarcados, em meados da década de 1990, pela política do governo brasileiro de fomento a educação para países em desenvolvimento, que disponibiliza bolsas de estudo através dos Programas Estudante Convênio – Graduação (PEC-G) e o Programa Estudantes Convênio – Pós-graduação (PEC-PG), beneficiando estudantes oriundos de parte do continente africano, como os Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Durante a pesquisa evidenciou-se que “migrar para cursar o ensino superior” é para estes sujeitos algo além da perspectiva da aquisição de conhecimento profissional e técnico, pois faz parte das aspirações que possuem em viver o que chamaram de uma “experiência completa” e tudo que ela pode fornecer ao estudar fora de sua terra natal, em universidades estrangeiras Além disso, compõe o imaginário destes sujeitos anos de embate com a ex-metrópole e os seus “heróis” das lutas pela independência, que, de maneira semelhante, empreenderam a migração universitária para Portugal, e lá puderam ter acesso às discussões teóricas e políticas que fervilhavam nos anos da Guerra Fria, assim como questionar de forma mais enfática o poder colonial português. Estes que se tornaram os principais nomes da independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau – houve uma frente de luta conjunta entre esses dois países – se tornaram, também, símbolos da diáspora estudantil e das possibilidades de “liberdade” e desenvolvimento para seus respectivos países. Nessa perspectiva, o presente work pretende abordar uma nova fase da diáspora estudantil de guineenses e cabo-verdianos. Através de entrevistas com estudantes, intelectuais e professores que constituem essa nova geração, pode-se observar a ênfase, em suas narrativas, do papel que possuem na “construção do seu próprio continente”, desmistificação dos pré-conceitos sobre a África e seus países, assim como denunciar que o “subdesenvolvimento” atual é fruto do espólio das grandes potências que não findou com a derrocada do imperialismo. Deste modo, buscamos reconhecer as vozes de estudantes, professores e pesquisadores africanos no Brasil, que vivenciam e vivenciaram a diáspora universitária como temática de seus estudos e também em suas trajetórias pessoais e acadêmicas, de modo a elucidar o papel que atribuem ao potencial emancipatório da mobilidade acadêmica que protagonizam e seu impacto na educação de seus países, seus conterrâneos e suas famílias.
Direito do estrangeiro no Brasil: acesso à justiça e direitos sociais
Autoria: Thays dos Santos Pinto (UFF), Mirian Alves de Souza
Autoria: Pretendemos apresentar uma reflexão sobre o direito do estrangeiro no Brasil, explorando o acesso à justiça e a direitos sociais, no contexto da Nova Lei de Imigração. A partir de work de campo desenvolvido na unidade de saúde pública HEMORIO e na Polícia Federal do Rio de Janeiro (2020), a proposta abordará os principais desafios de um estrangeiro no Brasil para ter acesso à justiça e a direitos sociais. O direito fundamental à saúde é garantido a estrangeiros? Que tipo de documento deve ser apresentado para o atendimento na rede pública de saúde? Existe alguma condição para que o pedido de refúgio seja feito? Estes desafios serão analisados considerando o discurso de funcionários da Polícia Federal, que fazem o atendimento a estrangeiros nas delegacias especializadas, e, especialmente, a partir de narrativas de estrangeiros de diferentes nacionalidades e em situações migratórias diversas (turistas, refugiados, solicitantes de refúgio, estudantes e etc), que passaram pela rede de atendimento do HEMORIO. Nesse sentido, a proposta focaliza práticas burocráticas de acesso à saúde e à justiça para estrangeiros no Rio de Janeiro, problematizando a categoria estrangeiro como uma “ampla rubrica legal ou descritiva” (MALKKI, 1995), que inclui uma diversidade de sujeitos, analisados a partir de outras dinâmicas de poder intersecional (LOKOT, 2018).
Entre cabelos e "papos de salão": Experiências migratórias e sociabilidades entre mulheres africanas imigrantes no centro de São Paulo.
Autoria: Elisa Hipólito do Espírito Santo (USP - Universidade de São Paulo)
Autoria: Tendo em vista que o atual panorama das migrações sul-sul internacionais para o Brasil deve ser compreendido levando em conta os seus desafios teórico-metodológico, principalmente ao que se refere à complexidade da diversidade de sua composição populacional, e partindo de Joan Scott (1998) ao pensar em “sujeitos constituídos mediante a experiência”, o objetivo desse artigo, fruto de uma pesquisa de mestrado em andamento, é analisar as experiências de deslocamentos de mulheres africanas imigrantes que trabalham em um salão de beleza no centro da cidade de São Paulo. Interessa- se investigar como, entre manipulações capilares e “papos de salões”, emergem ressignificações e novas noções locais dos marcadores sociais da diferença de raça, gênero e nacionalidade. Assim como redes de sociabilidades e de ajuda, com o intuito de compartilhar informações e estratégias de permanência no país e lidar com as privações e discriminações sofridas relacionadas a esse status.
Expatriadas brasileiras em Paris: problematização de um projeto migratório aprovado pelo RH
Autoria: Solange Riva Mezabarba (Senai Cetiqt)
Autoria: Este work tem como objetivo refletir sobre mulheres executivas expatriadas que foram designadas por suas empresas para viver em Paris. Trata-se de uma pesquisa iniciada em 2015 com um grupo de brasileiras enviadas a Paris por suas corporações. “Expatriado/a” é uma categoria nativa que expressa a prática de algumas empresas de enviarem ao exterior seus executivos por um período de tempo pré-estabelecido, e cujo processo é iniciado pela chefia imediata e aprovada com o pacote de benefícios pelo RH (departamento de recursos humanos). Uma empresa é um microcosmo que opera redes de significados próprios, e é caracterizada, em sua maioria, pela hierarquia. O convite para a expatriação, em muitos casos, pode ser interpretado como promoção, ou pelo menos, um degrau a ser galgado em direção a um nível gerencial superior. Nesse sentido, há valorização da experiência internacional, conferindo prestígio ao funcionário expatriado em relação aos seus pares que permaneceram no país de origem. Há, portanto, uma subordinação do indivíduo à organização empresarial, onde identificamos o holismo e uma estrutura hierarquizante que influencia, em alguma medida, na ideia de um projeto migratório genuinamente individual. A decisão de aceitar a proposta de expatriação é da executiva, mas como observam as interlocutoras do work etnográfico, as empresas costumam sancionar veladamente executivos que recorrentemente recusam a oferta de sair do país de origem, tornando o “convite” uma coerção. O dilema feminino é que, ao mesmo tempo em que soa profissionalmente atrativa uma vida transnacional, há fortes entraves à concretização desses deslocamentos ou projetos que podem, à primeira vista, parecer conflitantes com, por exemplo, o desejo de consolidar um projeto de família. Ao tomar a sociedade hindu como objeto de estudo, Louis Dumont coloca em primeiro plano um sistema hierárquico que compõe uma sociedade holística e relacional. Escapar das determinações que o agente social empírico deve assumir nesse sistema só é possível pela morte ou pela renúncia. A renúncia caracteriza o que Dumont chamou de “indivíduo-fora-do-mundo”, um sujeito que, voluntariamente, se descola do mundo holístico. Gilberto Velho reconhece nas modernas sociedades industriais individualistas as instâncias “desindividualizadoras”. O campo em Paris sinaliza para um projeto profissional individual tomado a partir de um sistema organizacional hierarquizado que está atrelado a uma instância desindividualizadora. As mulheres que foram enviadas a Paris por suas empresas são parte de um projeto de suas corporações, e embora haja uma narrativa individualista, elas se encontram inseridas na estrutura narrativa que se estabelece no interior das suas corporações.
FRONTEIRA SUL E OPORTUNIDADES: mobilidade humana venezuelana para o Brasil e os atores envolvidos nas redes de acolhimento
Autoria: Simone Tavares da Silva (IFAM - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas), Prof. Dr. José Exequiel Basini Rodriguez Cel André Vicente Scafutto de Menezes
Autoria: Este estudo tem como objetivo compreender a mobilidade humana na contemporaneidade na modalidade de refúgio e imigração internacional realizando uma discussão sobre o deslocamento fronteiriço de venezuelanos para o Brasil e os atores envolvidos no processo de acolhida. Trata-se de um fenômeno social recente, visto que a Venezuela foi um país que historicamente recebeu muitos imigrantes e que não tinha muita tradição de emigração. No entanto, a crise econômica, política, social e humanitária implicou na saída de milhares de venezuelanos em busca do mínimo social para a sua sobrevivência. Os países limítrofes se tornaram rotas de fugas, porém diante do aumento da tensão entre os governos de Colômbia e Venezuela foi gerado um conflito diplomático que acarretou no fechamento da fronteira no ano de 2015. Essa medida resultou em um cenário, no qual a fronteira brasileira passasse a receber um número de imigrantes venezuelanos inédito, tendo como porta de entrada as cidades de Pacaraima e Boa Vista em Roraima seguindo posteriormente para Manaus, capital do Amazonas. Diante do considerável número de imigrantes desde o inicio da crise, o governo de Roraima solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o fechamento da fronteira brasileira, argumentando que os serviços de saúde e segurança estavam em colapso devido a grande demanda. Em resposta ao pleito o STF decidiu pelo indeferimento, evidenciando as obrigações decorrentes de tratado internacional do qual o Brasil é signatário como a Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951, apontando também para o próprio ordenamento jurídico brasileiro como a Lei 9474/97 que normatiza as condições de refugiados. Vale ressaltar que o conceito de fronteira extrapola o sentido geográfico, apesar de ser relevante, devemos pensá-la como um conceito polissêmico, pois essa categoria apresenta vários aspectos como social, político, cultural dentre outros. A imigração coloca desafios aos países receptores no que tange ao acolhimento e a garantia de direitos e a inserção sociocultural. A resposta humanitária organizada pelo governo brasileiro foi denominada “Operação Acolhida” tendo como missão cooperar com as agências governamentais das diferentes esferas (união, estado e município), agências das nações unidas, instituições religiosas, Organizações não Governamentais e sociedade civil organizada, no que se refere às medidas de assistência emergencial aos imigrantes venezuelanos em situação de vulnerabilidade socioeconômica e muitas vezes em risco social. Assim, em março de 2018 foi determinado ao Exército Brasileiro o estabelecimento da força-tarefa logística humanitária para o estado de Roraima, tendo sua atuação pautada por um tripé de ações: ordenamento da fronteira, abrigamento e interiorização dos imigrantes.
Migração e ressignificações de vidas e refúgios
Autoria: Isanda Maria Falcão Canjão (UNICEUMA - Universidade do Ceuma), Anne Caroline Nava Lopes
Autoria: A migração, transnacional contemporânea, é um fenômeno recente em São Luís do Maranhão. Nos últimos meses, entretanto, é possível identificar com frequência a presença de famílias inteiras de venezuelanos (adultos, idosos e crianças) na referida capital. Fugindo de uma crise no país de origem, os imigrantes ressaltam que estão em busca de work e de melhores condições de vida. Porém, em virtude das dificuldades de serem incorporados ao mercado formal/local, diversos grupos vêm engendrando uma dinâmica de sobrevivência peculiar: estão em vários semáforos e paradas de ônibus pedindo esmola. Toda essa visibilidade na cidade, implica uma polissemia de emoções e significados que se entrelaçam e ao mesmo tempo se distinguem a partir de inúmeras narrativas e visões de mundo entre o grupo do “nós” e os “outsiders”. O presente estudo leva em consideração as fronteiras simbólicas que compõem esse contexto, os limites de pertencimento, tensões, empatias e estranhamento.
Mobilidade de haitianos em contexto de mudanças nas políticas migratórias no México
Autoria: Domila do Prado Pazzini (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Autoria: Em 2016, milhares de haitianos cruzaram o México com o objetivo de chegar na fronteira norte e entrar nos Estados Unidos. Com base nos levantamentos que pesquisadores fizeram em albergues e centro de acolhida de migrantes, por volta de 90% dos haitianos que chegaram em Tijuana entre os anos de 2016 e 2017 saíram do Brasil e os outros 10% estavam vivendo em outros países da América do Sul. “O caminho” é o termo utilizado para se referir ao trajeto realizado por esse grupo de migrantes e corresponde a uma rota por terra que perpassa dez países da América Latina. Em 2019, a quantidade de haitianos chegando no México é menor quando comparada com 2016, no entanto, este grupo que chegou na fronteira Sul do México em 2019 se deparou com outros métodos de recepção de migrantes por parte do governo mexicano, em especial os confinamentos em centros de detenções. Este texto tem como objetivo mostrar as mudanças nas políticas migratórias do México que vem ocorrendo nos últimos anos bem como os impactos das políticas norte-americanas neste país e como essas modificações vem afetando os planos migratórios dessa população haitiana em mobilidade e como vão se agenciando num contexto de fechamento de fronteiras.
O crescimento da direita e do discurso anti-imigratório no mundo e seus reflexos no Brasil a partir das narrativas de migrantes haitianos e senegaleses
Autoria: Janaina Santos de Macedo (UFSC)
Autoria: O mundo tem presenciado nos últimos anos o crescimento de um movimento de diversos espectros da direita, que une o neoliberalismo na economia com o conservadorismo nas demais áreas. Entre as pautas reunidas por estes grupos que vem se espalhando por diversos países, é muito forte o discurso anti-imigratório. Discurso este que, acompanhado por ações e políticas que se materializam na construção de muros e fechamento de fronteiras contribui para o fortalecimento do preconceito e do racismo. Nesta comunicação pretendo problematizar este panorama e analisar o impacto deste cenário para migrantes negros no Sul do Brasil, região construída com base na exaltação da imigração europeia e na invisibilização da população negra. Parto das narrativas de pessoas vindas do Haiti e do Senegal bem como de outros países caribenhos e africanos naquilo que constitui as migrações Sul-Sul e busco seguir suas trajetórias e compreender seu protagonismo no atravessar de múltiplas fronteiras.
O que se come hoje? Ítalo-brasileiros na Itália e suas dinâmicas alimentares
Autoria: Maria Catarina Chitolina Zanini (ufsm)
Autoria: Esta proposta tem por objetivo refletir acerca das “negociações alimentares” que são vivenciadas por ítalo-brasileiros na Itália. Por meio de pesquisa etnográfica que vem sido realizada entre/com ítalo-brasileiros na Itália desde 2012, observa-se o quanto as comensalidades e a apropriação de “novos” gostos alimentares são impactantes na vida cotidiana destes. Por meio de um cálculo racional e afetivo entre custos e benefícios, novas e antigas “formas de comer” se apresentam. Assim, observa-se que, seja no interior de grupos familiares ou individualmente, a comida que se define como cotidiana ou como “especial” é negociada nas possibilidades advindas do processo migratório, seja em termos de custos, de tempo de preparo, de obtenção de ingredientes, entre outras. Pretende-se, por meio desta proposta, refletir acerca de algumas destas dinâmicas.
Saúde global, razão humanitária e biolegitimidade: a saúde em contexto de "crise humanitária migratória"
Autoria: Igor de Assis Rodrigues (SUS)
Autoria: A inquietação disparadora das reflexões em tela inicia-se durante visita de campo às cidades de Boa Vista e Pacaraima (RR), ocasião na qual foi possível realizar visitas guiadas pelos abrigos e postos de fronteira da Operação Acolhida das Forças Armadas Brasileiras. A operação possui caráter de “ajuda humanitária” para os imigrantes venezuelanos que adentram o Brasil pela fronteira seca em Pacaraima. O cenário de “crise humanitária” agrega em torno das Forças Armadas diversos órgãos do aparato administrativo e burocrático brasileiro, organizações internacionais humanitárias, ONGs humanitárias e organizações civis de variadas tipologias. A presença de variadas instituições na assistência em saúde global pode ser denominada como multi-institucionalismo, marca contemporânea das ações em saúde presente em diversos contextos, inclusive nos de fluxo migratório intenso. No âmbito da gestão de corpos migrantes, a presença de vários atores não é fenômeno recente, a despeito de sua intensificação com a saúde global. Uma características relevantes nesse fenômeno para a promoção de ações é a razão humanitária, sentimento de compaixão determinante da legitimidade das políticas e práticas em saúde para diversas populações. Sob esse sentimento moral, os trânsitos e corpos são categorizados e administrados pelo governo humanitário por meio da linguagem da proteção. A economia moral dessas políticas traduz uma compaixão pelo sofrimento individual, na qual o fundamental é a humanidade comum presente no reconhecimento da vida, ou melhor, nas alterações físicas do corpo, processo este chamado de biolegitimidade. Os direitos dos sujeitos são mais bem acessados quando a fisiologia já não se apresenta saudável, valorizando a vida do corpo em padecimento em detrimento das outras dimensões (políticas e subjetivas) da população. Os corpo doentes geridos, que se emparelham com o corpo universal biomédico, sobrepõe outras maneiras de pensar o corpo e o adoecimento, tamponando a diversidade cultural dos grupos acessados pelas intervenções de lógica humanitária. A diferença cultural transfigura-se em meros ornamentos pouco determinantes das intervenções em saúde implementadas sob o pretexto de salvar o corpo doente, a vida humana e razão humanitária englobante na cena terapêutica.
Trajetórias migratórias de mulheres bolivianas em São Paulo: um olhar interseccional
Autoria: Eugenia Brage (CEM USP)
Autoria: Nos últimos anos a feminização das migrações, tem se tornado um tema de relevância nas Ciências Sociais em geral e na Antropologia em particular, permitindo a problematização dos deslocamentos de mulheres que, durante anos, haviam permanecido à margem nos estudos sobre migrações. Nesse contexto, as pesquisas tem permitido colocar o gênero como categoria central nos estudos migratórios, recuperando as diversas estratégias e trajetórias migratórias das mulheres, bem como as implicações do gênero nesses deslocamentos e as consequências das desigualdades estruturais que pesam sobre eles, tanto nos locais de origem quanto nos locais de destino, onde essas desigualdades se reproduzem. Além disso, as perspectivas feministas da interseccionalidade aplicadas ao estudo dos processos migratórios possibilitaram pensar o gênero em interseção com a etnia e classe social, entre outros marcadores sociais que criam e perpetuam desigualdades sociais, tornando visível, ao mesmo tempo, a atuação das mulheres nas agendas migratórias globais e regionais. Baseado nesses referenciais, o presente work tem como objetivo reconstruir as trajetórias migratórias de mulheres bolivianas residentes em São Paulo, focalizando nas suas experiências em tanto mulheres imigrantes e analisando como essas intersecções –e outras- se jogam nas interações com os serviços públicos. A reconstrução das trajetórias migratórias, a través da análise das narrativas dessas mulheres, permite visualizar aspetos mais amplos da vida dessas mulheres, relativos ao seus mundos cotidianos, redes sociais e formas de organização social, em articulação com os serviços públicos. O resultados que se apresentam fazem parte de uma pesquisa etnográfica sobre itinerários terapêuticos e assistenciais de mulheres bolivianas desenvolvida numa Unidade Básica de Saúde localizada na região central de São Paulo assim como outros equipamentos públicos que essas mulheres frequentam.
transnacionalização da igreja brasileira Batista BRASA para a Inglaterra: uma análise sobre negociações de valores e poder num espaço transnacional
Autoria: Mariana Reinisch Picolotto (uf)
Autoria: Este work versa sobre o processo de transnacionalização da igreja brasileira Batista BRASA. Uma igreja que desde seu nascimento tem “um chamado” para enviar missionários para a Europa. Na busca para a realização da sua predestinação, ela formou uma parceria com uma igreja batista inglesa, chamada Open Gate Church, na cidade de Bognor Regis, Inglaterra. A partir desta parceria mais de cem missionários da BRASA e de igrejas amigas, na região da grande Porto Alegre, foram enviados para Bognor Regis. Neste processo, estratégias para permitir a circulação de imigrantes foram criadas, como uma escola de língua de inglesa. O grande número de brasileiros presentes na pequena igreja inglesa desencadeou uma série de ações e reações as quais afloraram disputas de poderes, de conhecimentos e de ressignificação de bens simbólicos neste espaço transnacional. Dado o exposto, busco discutir de que forma ocorre os modos de atuação de ingleses e brasileiros em um cenário que aos poucos se torna uma arena de negociação de valores e jogos de poder; como os sujeitos são atravessados pelo cenário religioso inglês, que ao mesmo tempo é tão similar e tão diferente; a forma como as interações sociais entre ingleses e brasileiros se desenvolveram; e como os sujeitos são interpelados por agentes e micropráticas de poder. Os dados para a realização desta pesquisa foram coletados a partir do work etnográfico realizado em Bognor Regis, Inglaterra.
Uma multidão de “encaminhamentos”: controvérsias sobre categorias, papéis e atuações na gestão do fluxo migratório venezuelano em Manaus-AM e Boa Vista-RR
Autoria: Iana dos Santos Vasconcelos (UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos), Sandro Martins de Almeida Santos Cristina Rivas
Autoria: Os fluxos de venezuelanos entrando e saindo do Brasil provocam cada vez mais debates em torno de sua presença e distribuição pelo país, despertando diferentes respostas governamentais e do terceiro setor. O empreendimento do acolhimento e da interiorização busca disciplinar a estadia e o movimento dos/as estrangeiros/as em solo nacional. E a crescente presença de organismos internacionais induz à persecução de objetivos e protocolos padronizados. Por outro lado, a interiorização autônoma protagonizada pelos/as venezuelanos/as e uma certa resistência ao confinamento seguem desafiando as práticas institucionais incipientes. Os deslocamentos venezuelanos para Boa Vista e Manaus provocam outras mobilidades. Observamos, nos últimos anos, a chegada de instituições nacionais e internacionais na criação de uma infraestrutura que anteriormente não fazia parte da realidade local, como escritórios de organizações internacionais, criação de abrigos, Centros de Referências para migrantes, entre outros. As instituições e sujeitos que já compunham a dinâmica das cidades adquirem novas prioridades de atuação: simultaneamente, a disputa pelo protagonismo e por alianças incertas com os poderes recém instalados. Cada instituição, local, nacional ou internacional, traz consigo um aparato normativo e um corpo conceitual com base no qual oferece seus atendimentos, gerando uma multiplicidade de entendimentos sobre a situação dos/as venezuelanos/as bem como produzindo diferentes “encaminhamentos”. Aqui chamamos a atenção para o uso indiscriminado desse termo “encaminhamento”, empregado de forma imprecisa pelos agentes de acolhimento, sempre que desejam apontar para alguma tomada de decisão, direcionamento ou proposta de resolução de problemas. As controvérsias pelas categorias e os diferentes encaminhamentos ensejam duas grandes mobilizações. De um lado, os agentes e instituições que percebem o fenômeno migratório como um problema, acusando uma pressão sobre as políticas públicas de segurança, saúde, educação, etc. Do outro, aqueles/as que defendem o acolhimento dos recém-chegados/as invocando um pensamento humanista-cristão. O ponto que une as duas vertentes, apesar das distintas formas de “encaminhamento”, é a captação de recursos para a realização de suas atividades fins, sejam elas vinculadas a medidas restritivas ou de recepção desses migrantes. O artigo apresenta notas etnográficas sobre as diferentes formas de atuação dos sujeitos e instituições envolvidos na gestão do acolhimento de migrantes venezuelanos/as no norte do Brasil, destacando as contradições e semelhanças entre os diferentes “encaminhamentos” oferecidos.
Migração de Retorno: O Ser-Diáspora na Sociedade Haitiana
Autoria: Jálisson Carvalho de Souza (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: Nesse artigo abordo o fenômeno da Imigração Haitiana no Brasil; o objetivo desta pesquisa foi analisar a tática de migração de retorno dos imigrantes haitianos em tempos de crise econômica, tendo como fator analítico os sentidos socioculturais da diáspora haitiana. O artigo se estrutura em quatro partes: (i) explicito a metodologia e as técnicas de pesquisa adotadas; (ii) introduzo o contexto do fenômeno da imigração haitiana no Brasil, evidenciando a cultura de imigração e a diáspora haitiana, apresentando suas principais formas de entrada, causas e contexto desses imigrantes no mercado formal de work brasileiro; (iii) abordo a construção da desigualdade no Haiti a partir de uma perspectiva sócio-histórica, evidenciando os fatores que tanto influenciam nos processos migratórios e permitem compreender as principais causas da desigualdade nesse país sob a ótica da estratificação das categorias de raça e classe, assim como a dependência política, econômica e cultural do Haiti em relação aos países do Norte global, e dessa forma, discutir sobre os sentidos sociais da categoria diáspora na sociedade haitiana e os vários significados que esta simboliza; e (iv) apresento os resultados da pesquisa, obtidos através da análise de dados provenientes de um grupo focal – que contou com a presença de sete participantes de nacionalidade haitiana, duas mulheres e cinco homens – onde observou-se os aspectos diaspóricos e as questões referentes ao retorno e circularidade de suas respectivas condições enquanto imigrantes.
Os paradoxos dos estudantes de São Tomé e Príncipe como outsiders em Portugal: identidades, línguas e situações sociais.
Autoria: Natalia del Cueto Simas (estudante), Gimanilsy Neves Luiz Augusto Sousa Nascimento
Autoria: O estudo tem como propósito, analisar sociologicamente situações sociais de sujeitos outsiders no âmbito da política de internacionalização da educação em Portugal e sua relação com os discursos da lusofonia. O foco analítico central são os alunos santomenses que imigram para Portugal, sua ex-colônia, em busca de consolidar uma formação acadêmica qualificada que venha suprir as lacunas estruturais dos processos educacionais largamente fragilizados em seu país de origem. Para tanto, se faz necessário compreender um conjunto de fatores correlacionados, tais como identidades, línguas, posição política para empreender hipóteses que possam rastrear o perfil desses alunos. Para coleta de dados, recorremos às principais metodologias e ferramentas das ciências humanas, tais como participação direta, elaboração de mapas de trajetórias, assim como utilizaremos o banco de dados do Instituto Politécnico de Bragança no sentido de alinhar dados quantitativos e qualitativos. Nossas hipóteses partilham para orientações que vislumbrem casos distintos para situações similares. Nesse sentido, almejamos compreender os paradoxos vivenciados e apresentados pelos alunos santomenses na dinâmica interconectada das identidades, das línguas e das situações sociais intrínsecas aos outsiders africanos em Portugal.