GT 57. Migrações e Deslocamentos

Coordenador(es):
Natália Corazza Padovani (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Angela Mercedes Facundo Navia (UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

Este GT, proposto no âmbito do Comitê Migrações e Deslocamentos da ABA, visa reunir trabalhos que reflitam sobre diferentes “regimes de mobilidades”. Migrações e deslocamentos são objeto de processos de diferenciação vinculados a assimetrias e “localizações sociais”. Categorias como “permanência e mobilidade” são tensionadas nos processos de governamentalidade voltados para quais sujeitos e populações podem/devem permanecer e/ou mover-se. Exílios, expulsões e deslocamentos forçados são contrastados com imaginários sobre turismo e cosmopolitismo. Migrações e deslocamentos, assim, podem ser analisados frente ao modo como “viagens” e “refúgios”, por exemplo, diferenciam pessoas frente a categorizações de raça, gênero, sexualidade, classe, nacionalidade, geração, entre outras, as quais enredam práticas e normativas de segurança e proteção dos territórios e estados nacionais. Nos interessam trabalhos que examinem a produção de mobilidade/imobilidade, circulação/contenção, legalidade/ilegalidade; e/ou processos de subjetivação e a incidência de marcadores sociais na delimitação de fronteiras territoriais e sociais. A intenção é abranger pesquisas realizadas a partir de temas voltados para as várias formas de deslocamentos e “regimes de mobilidades” através de fronteiras, que podem ou não ser transnacionais. Consideramos que o deslocamento entre fronteiras das cidades, bem como urbanas, ou “rurais e urbanas”, podem trazer elementos etnográficos e analíticos ao debate proposto.

Palavras chave: Deslocamentos; Regimes de Mobilidades; Fronteiras
Resumos submetidos
"Ganhar" e "perder" casa: as (i)mobilidades de mulheres nas periferias paulistas
Autoria: Isabela Vianna Pinho (colégio objetivo são carlos), Fernanda Mallak
Autoria: Este artigo se propõe a relacionar dois processos distintos de “ganhar” e “perder” casa. Seja através de políticas de habitação social ou de ordens de despejo, o estado se faz presente no cotidiano de sujeitos e territórios específicos. A partir de duas pesquisas etnográficas em espaços e contextos diferentes, as autoras visam refletir sobre as (i)mobilidades de mulheres pobres no Brasil. No primeiro caso, a etnografia foi realizada em 2018 no bairro Eduardo Abdelnur, na cidade de São Carlos/SP. Quase mil moradias foram entregues em abril de 2016 pelo programa Minha Casa, Minha Vida faixa 1. O bairro está localizado em territórios considerados às margens da cidade, segregados geograficamente, dada a distância e dificuldade de acesso às centralidades e à malha urbana consolidada do município. Com isso, os “regimes de mobilidade” se transformaram. Se, de um lado, “ganhar” a casa assegura minimamente que mulheres não passem por deslocamentos forçados e que não migrem com frequência; de outro, prejudica (ou até inviabiliza) o deslocamento cotidiano, como para trabalhar e levar os filhos nas escolas. No segundo caso, a etnografia foi realizada entre 2018 e 2019 em Mogi das Cruzes/SP, no bairro Jundiapeba. Neste território 61 famílias “perderam” suas casas em uma ação de reintegração de posse solicitada pela Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista. A situação representa uma trama de interesses e conflitos em torno da impossibilidade de permanência das moradias no entorno das torres de transmissão de energia. Com o olhar para as manifestações de poder do estado, temos de um lado a implantação de infraestrutura no bairro, do outro, um processo judicial para a remoção das moradias “irregulares” com a justificativa do risco, sem nenhuma perspectiva de atendimento habitacional. A lógica estabelecida nas remoções intensifica as mobilidades e transitoriedades entre o próprio bairro, mas também para outros territórios. Esta situação, produzida pelo próprio estado nas margens, condiciona às famílias a serem migrantes do próprio país de origem pela ilegalidade a que estão sujeitas, marcados pela insegurança e constante transitoriedade. A impossibilidade de fixação para uma parcela significativa da população, parece representar também a quebra constante dos espaços vividos, envolvendo as relações sociais, culturais e laços afetivos com o território. O que fica claro é que a cada remoção e mudança do seu espaço vivido, há uma forma de violência e privação de suas escolhas. O artigo visa analisar os possíveis efeitos de ações do estado, como os descritos, no cotidiano de mulheres pobres. De que formas essas trajetórias se encontram diante das (im)possibilidades de circulação e contenção, de permanecer ou mover-se no “ganhar” e “perder” a casa?
As redes de apoio nas experiências migratórias de haitianas(os): uma etnografia no sul do Brasil
Autoria: Larissa Cykman de Paula (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Autoria: O work proposto abordará as experiências migratórias de haitianas e haitianos que residiam na cidade de Porto Alegre entre os anos de 2014 e 2016, quando da realização da etnografia que culminou na dissertação de mestrado defendida em 2017 e atualmente segue novos desdobramentos no âmbito do campo da pesquisa da tese de doutorado em andamento. Partindo das experiências observadas em campo, problematizo acerca das distintas redes de apoio existentes, destacando as redes referentes ao projeto de oficinas do Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados (GAIRE) do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (SAJU) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e as redes relacionadas aos espaços religiosos. A nomenclatura ‘apoio’ apareceu em diferentes momentos durante o campo nas falas das(os) migrantes, referindo-se a relações com pessoas que se propunham a atuar apoiando migrantes em diferentes aspectos nas suas vidas cotidianas. Além deste sentido êmico, o termo apoio é utilizado também ao destacar que estas são redes de apoio e de solidariedade. Ou seja, são redes que se estabelecem a partir de relações que são de afeto, em um entendimento da alteridade a partir das contribuições de Saillant nas quais perceber-se afetado seria uma forma de ação através dos espaços de encontro. Nessa perspectiva, essas redes de apoio podem ser compreendidas como uma espécie de resistência presente na experiência migratória haitiana, ressaltando o engajamento e a agência das(os) migrantes na participação das redes e também no sentido de as redes apoiarem o ato migratório, facilitarem a inserção local ou ainda, na falta de redes estabelecidas, dificultarem a inserção e o acesso a direitos básicos. É por isso que ao se pensar em redes de apoio, estas não são tidas como fixas e facilmente observáveis. A partir desta contextualização, abordo as trajetórias de mulheres migrantes haitianas num contexto transnacional, partindo das suas experiências no Brasil e destacando as redes transnacionais e as redes femininas de apoio existentes. Este work dialoga com os debates sobre os fluxos transnacionais, da mobilidade e circulação de pessoas partindo das contribuições de Sayad a respeito da relação e indissociabilidade entre imigração e emigração, de Sousa Santos e Hall sobre a relação entre o local e o global, de Sassen acerca da conceituação dos circuitos globais e de Piscitelli acerca das interseccionalidades ao destacar os múltiplos marcadores identitários, como etnicidade, gênero e classe, presentes nas experiências destas mulheres haitianas. Desse modo, analiso as diferentes dinâmicas e relações de poder existentes ao longo destes fluxos migratórios, apontando para as especificidades vivenciadas pelas mulheres e destacando seus processos de autonomia.
Desafios e perspectivas de uma viagem ao Senegal: notas de uma etnografia multissituada
Autoria: Frederico Santos dos Santos (UPF - Universidade de Passo Fundo)
Autoria: A cidade de Passo Fundo, na região norte do estado do Rio Grande do Sul, desde 2010, tem se tornado rota do fluxo migratório dos senegaleses, especialmente daqueles que integram a irmandade muçulmana muridiyya, fundada por Cheikh Amadou Bamba. Objetivo deste work é compreender a construção dos deslocamentos feitos ao longo do work de campo, entre Passo Fundo, Porto Alegre e São Paulo, levando em conta como os interlocutores constroem suas estratégias financeiras, burocráticas, afetivas e familiares viajar ao Senegal, permeada pela crença no fundador da irmandade muridiyya, Cheikh Amadou Bamba. No orçamento de uma viagem ao Senegal estão presentes dois fatores importantes que implicam na possibilidade da visita e no tempo de permanência: a) como manter as remessas feitas ao longo do ano, sob pena de criar um conflito nos arranjos familiares, tendo em vista que não estarão trabalhando; e b) levar presentes aso familiares e amigos representando seu sucesso na migração.
Entre a comunidade e a cidade: deslocamento e trajetórias sociais de mulheres indígenas na cidade de Boa Vista/RR
Autoria: Nathalia Bianca da Silva Martes (UFRR - Universidade Federal de Roraima), Melina Carlota Pereira
Autoria: Tendo em vista que o contexto urbano da cidade de Boa Vista, capital de Roraima, possui uma presença significativa de indígenas de diversas etnias, o presente work tem como objetivo mostrar as experiências sociais de mulheres indígenas que passaram por processos de deslocamento entre suas comunidades localizadas na Guiana para o Brasil, fixando residência em Boa Vista e construindo suas trajetórias pessoais e coletivas. Os dados coletados partem das entrevistas realizadas com mulheres indígenas das etnias Macuxi e Wapichana, que saíram de suas comunidades de origem por diversos fatores, dos quais se destacam a busca por educação, work e melhores condições de vida. São mulheres que vivem na capital roraimense desde a década de 1980/1990, e que narram experiências vividas entre o deslocar e o viver dentro do contexto urbano, destacando a chegada à cidade e a inserção no work doméstico, bem como a entrada no espaço de vivência coletiva e participação em associações indígenas que estimulam a reprodução de manifestações culturais. Estando elas na cidade, faz-se necessário aprender a viver de acordo com as regras desse novo espaço, passando por transformações das relações de gênero, onde coube a elas se adaptarem, superando a barreira da língua, o preconceito e as poucas e mal renumeradas oportunidades de work. No entanto, as práticas da comunidade ainda persistem na cidade e o ir e vir entre comunidade/cidade é estimulado pelo apoio de parentes. Diante desse contexto, dentre algumas questões que elas reivindicam para conseguir no meio urbano estão o acesso à educação e à saúde diferenciadas, bem como obter os mesmos direitos dos indígenas que moram nas comunidades, além de ter sua identidade de gênero reconhecida dentro do contexto urbano.
Entre Maranhão e Pará: Movimentos, trânsitos e circularidade de maranhenses em Parauapebas/PA
Autoria: Leonardo de Oliveira Cruz (UNESP)
Autoria: A partir da década de 1960, o sudeste paraense, Amazônia oriental, torna-se cenário para a implantação de empreendimentos como hidrelétrica, mineração e rodovias. No contexto da mineração, na década de 1980, o município de Parauapebas é criado, passando a sediar a Mina de Ferro Carajás, além de está situado nas proximidades do antigo garimpo de Serra Pelada, portanto, as relações sociais na cidade são marcadas por fluxos migratórios de diferentes lugares, sobretudo do estado do Maranhão. Ao analisar estes fluxos observa-se a importância cada vez mais marcante de mobilidade inter-regional e a intensificação da circularidade de maranhenses entre Parauapebas e a cidade de origem. Tais tendências expressam novos processos em curso, como a reestruturação produtiva dos centros urbanos, novas formas de ocupação das áreas de fronteira a partir de novos modelos exportadores, entre outros. Este novo paradigma também sugere um aumento da complexidade das estratégias dos migrantes para enfrentarem estas novas contingências. Neste contexto, são apontadas outras categorias de análise do fenômeno da migração, entre elas a de circularidade, abordando a intensificação do ir e vir dos migrantes entre os seus locais de origem e destinos. Diálogos com maranhenses em Parauapebas me permitiram perceber forte relação com seu local de origem e certa alternância. Estes movimentos ressignificam o que poderia ser denominado de migração de retorno neste contexto, pois o retorno não é definitivo, e quando ocorre, há sempre a expectativa da reemigração, caracterizando assim a circularidade de pessoas entre um e outro estado. Situações de desemprego em Parauapebas, tratamento de saúde próximo a familiares e investimentos são alguns dos fatores que permitem que o retorno por temporadas curtas ou mais duradouras (alguns meses) seja uma alternativa utilizada por parte dessa população. A manutenção de uma solidariedade familiar e social, o investimento em terras ou bens imóveis na região de origem, e o apoio financeiro acidental aos que ficaram organizam e fazem possível o retorno do migrante, mas não definitiva. É importante mencionar que esta discussão se refere, no caso em estudo, ao entendimento da manutenção de laços culturais, afetivos e econômicos com a terra de origem, relacionada à movimentação geográfica de população, mas não implicando necessariamente em um fluxo migratório orientado para o retorno em termos demográficos.
Etnografia viajante: Reflexões teóricas e metodológicas sobre as viagens independentes das mulheres pela América do Sul
Autoria: Ester Paixao Correa (UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte)
Autoria: Este work é parte do projeto de tese de doutorado que busca no cruzamento dos deslocamentos – culturais, espaciais e temporais – os processos de subjetivação (ORTNER, 2007) das mulheres viajantes independentes diante do mundo globalizado e dos fluxos globais (APPADURAI, 1998). É parte de uma reflexão (auto) etnográfica (STRATHERN, 2014; BOURDIEU, 2005) sobre a experiência da viagem independente das mulheres viajantes latino americanas. Nesse sentido, pretendo abordar a respeito das agências e das diversas estratégias que essas viajantes articulam para construir suas rotas e experiências de viagem, assim como as formas de aprendizados mediados pelas aventuras de uma viagem (sozinha ou acompanhada de outras mulheres). Assim, proponho duas abordagens neste artigo; uma teórica que busca refletir sobre a relação entre viagens, subjetividades e mulheres, tendo como fomento os encontros e diálogos com outras mulheres viajantes independentes e/ou mochileiras. A outra abordagem é etnográfica, para isso, parto da metodologia de pesquisa multissituada (MARCUS, 1995; HANNERZ, 2003), na qual seguindo as rotas das mulheres viajantes, embarquei em um “mochilão etnográfico” durante três meses por 4 países da América do Sul, entre outubro/2019 e janeiro/2020. Nesse sentido, a reflexão metodológica gira também em torno dos desafios de fazer uma etnografia em trânsito, ou uma etnografia viajante, em um contexto no qual a América do Sul fervilha em conflitos sociais. Para este artigo, discutirei sobre algumas categorias de viagens e viajantes (CLIFFORD, 2000), baseando-me nas experiências vividas como pesquisadora, mochileira e mulher viajando sozinha - com baixo custo. Uma pesquisa localizada (ABU-LUGHOD, 2000) que parte dos próprios aprendizados na estrada, dos relatos de viagens, das redes e conexões que se formaram mediadas por esse estilo de vida e dos diálogos com outras sujeitas “viajeras”. Por meio da qual foi possível apreender sobre hábitos culturais, modos e projetos de vida, perspectivas e visões de mundo, contextos políticos e sociais, além dos diversos conhecimentos que fazem das viagens um aprendizado para a vida.
Memórias do deslocamento compulsório: estudo sobre a saudade em Breu Branco e Tucuruí/PA
Autoria: Jorge Augusto Santos das Mercês (UFPA), Fábio Fonseca de Castro
Autoria: Realizamos a pesquisa em questão durante curso de mestrado do primeiro autor em Sociologia e Antropologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA) entre os anos de 2015 e 2017. O work de campo que lastreia a presente etnografia aconteceu em períodos intermitentes entre os anos supracitados nos municípios de Breu Branco e Tucuruí, localizados, ambos, às margens do rio Tocantins, no sudeste do estado do Pará. Destaca-se que a fronteira entre tais municípios é produto do evento que provocou o deslocamento compulsório dos nossos interlocutores nesta pesquisa, fronteira esta que se faz pela ponte que coincide com a barragem da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHE-Tucuruí), ligando e separando, ao mesmo tempo, Tucuruí e Breu Branco como também, enquanto barragem, liga e separa as temporalidades dos atingidos. Nossa intenção no período fora compreender a memória acerca do deslocamento compulsório provocado pela implantação da UHE-Tucuruí para os habitantes dos municípios em foco que vivenciaram, em primeira pessoa, aquele evento. Nossa etnografia, orientada por princípios fenomenológicos, embasou-se em observação participante e entrevistas semiestruturadas que revelaram a diversidade da experiência mnemônica narrada, evidenciando certa dinâmica entre estruturas cognitivas e padrões narrativos presente na relação entre forma e conteúdo de Simmel (1991; 1999). De tal modo, a experiência de falta, de dor pela ausência de um passado anterior ao deslocamento compulsório, demarca o acesso a uma plataforma locucional socialmente reconhecida e produzida, preenchida por narrativas que indicam um determinado horizonte de compreensão no qual as sociações se produzem. No caso em estudo, poderíamos dizer que a forma social presente em Breu Branco e Tucuruí se constitui como um trauma centrado na perda e na desilusão com a espera pela compensação de danos provocados pelo deslocamento compulsório – entendida localmente sob o signo de uma promessa –, enquanto os conteúdos se constituiriam como enunciados de saudade, memória, reminiscência e comparação entre vivências anteriores e contemporâneas. Nos padrões narrativos que preenchem a forma social da saudade, percebe-se uma plataforma locucional marcada por uma sugestão de dor e perda, possivelmente em função dos referentes perdidos no evento para a autoimagem, da imagem feita do outro e da autoimagem projetada no outro. Nesse padrão de sociação percebe-se um padrão narrativo marcado pela dor, enunciada como trauma e por meio da descrição de perdas que constituem uma experiência própria, projetada por quem a enuncia como uma experiência individual.
Migrações e deslocamentos de LGBTQI+: refúgios motivados pela identidade de gênero e ou práticas afetivo sexuais
Autoria: Antonio Claudio Ribeiro da Costa (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Autoria: Este work é parte da pesquisa que está sendo realizada no mestrado acadêmico do PPGJS/UFF. Pretende-se descrever o processo de refúgio de refugiados e solicitantes de refúgio LGBTQI+, a partir de uma perspectiva multi-sited (Marcus 1995). A pesquisa focaliza pessoas que fundamentam seu pedido de refúgio em razão de sua identidade de gênero e ou orientação sexual no Rio de Janeiro, Brasil, e em Madrid, Espanha. A proposta de paper aborda pessoas que fundamentam seu pedido de refúgio em razão de sua identidade de gênero e ou práticas afetivo sexuais. Casos nos quais a orientação sexual e a identidade de gênero não fazem parte do processo migratório, do ponto de vista do direito, também serão considerados. Pretende-se ainda contribuir para a produção acadêmica, ampliando o quadro no qual são apresentados os refugiados e migrantes LGBTQI+, explorando sua diversidade cultural, os seus diferentes status socioeconômicos e histórias pessoais. Nesse sentido, consideramos outras dinâmicas de poder interseccional e a categoria refugiado como uma “ampla rubrica legal ou descritiva” que inclui uma pluralidade de sujeitos (MALKKI, 1995).
Parir para evitar fronteiras: turismo de parto no contexto do regime de controle global de mobilidade
Autoria: Svetlana Ruseishvili (UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
Autoria: O deslocamento de mulheres com intuito de realizar atividades reprodutivas é um tema insurgente nos estudos migratórios. As modalidades mais bem pesquisadas desse fenômeno são deslocamentos para o tratamento de fertilização ou para o parto. Esse último, intitulado comumente de turismo de parto, tem entrado na pauta midiática e política dos países norte-americanos devido ao crescente número de mulheres, sobretudo chinesas e russas, que se deslocam para parir para que seus filhos adquiram a nacionalidade desses países. No Brasil, a migração das mulheres grávidas, principalmente no âmbito das migrações Sul-Sul, tem sido interpretada como uma forma de regularização no país com intuito de permanecer nele. No entanto, o turismo de parto diz respeito à mulheres que escolham um país para parir, sem pretensão de se estabelecer nele e, sim, para obter o passaporte para o seu filho. No presente work, discuto o turismo de parto das mulheres russas que vem para o Brasil para parir seus filhos. Aponto que a principal motivação dessas mulheres para um deslocamento tão longo e custoso não é o parto em si, mas a possibilidade de obter o passaporte brasileiro para seus filhos e por meio dele acessar também a nacionalidade para toda a família. A capacidade reprodutiva se torna, assim, um dispositivo criativo e exclusivamente feminino de acesso à mobilidade, já que o passaporte brasileiro dispensa vistos para muitos países do norte global. Observo, por fim, a necessidade de compreender teórica e empiricamente estratégias de acesso à mobilidade dos sujeitos em função de sua posição específica no regime dual da mobilidade que “normaliza a mobilidade de alguns viajantes, ao mesmo tempo que criminaliza e emprisiona os empreendimentos de outros” (Glick-Schiller; Salazar, 2013).
Quem não tem caneta vai para onde?
Autoria: Luana Braga Batista (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: Este artigo é fruto das discussões realizadas na disciplina de Antropologia dos Campesinatos no Brasil que ocorreu no Museu Nacional- UFRJ, no segundo semestre de 2019, ministrada pelos professores John Cunha Comerford e Dibe Ayoub, com colaborações de Luzimar Pereira (UFJF) e Carmen Andriolli (CPDA UFRRJ). Proponho fazer uma reflexão sobre o conceito de migração dentro do universo camponês, no qual pesquiso e possuo diálogo com a dissertação de mestrado, cujo meu principal interlocutor (Durreis) relata ter feito várias viagens e participado de momentos importantes da história do Brasil. O objetivo deste work é debruçar sobre a questão da migração e/ou deslocamentos para compreender se migra, por que migra? Quando se torna um migrante? E como essa discussão foi travada, pensando o êxodo rural e um possível fim do campesinato brasileiro que não aconteceu. Durante o campo, conheci algumas pessoas que saíram de estados do Sudeste e foram para Bahia, as quais não se consideravam migrantes, tratando-se de uma palavra dissonante de seu vocabulário. Diziam “Eu vim pra cá estudar” ou “Consegui uma boa oferta de emprego, gosto do clima e do povo daqui, resolvi ficar”, Durreis, assim como essas pessoas, todas as vezes que saiu da Bahia para outros estados, como Goiás, Brasília e São Paulo, diz não ser migrante. Precisou sair várias vezes da Bahia, primeiro para casar, depois para conseguir a terra e, mais adiante, para conseguir recursos para a produção da terra, considerando-se a si próprio como um peão de trecho, mas nunca como um migrante. Em uma de nossas entrevistas o questiono se ele se via como um migrante nessas andanças e me responde que não, diz que sempre foi baiano e nunca um migrante. Por esse motivo e outros é que busco descrever esses processos para elucidar como eles são construídos para além do senso comum que a ciências sociais construiu em torno da migração. Pensando o conceito de modo diferente do qual ele é apresentado dentro da sociologia e da economia, a partir da crítica a migração feita por Palmeira e Almeida (1977), problematizando o que o conceito traz junto, para assim poder pensar chegadas, partidas, direções, deslocamentos e corpos no trecho. Produzindo assim, análises diferentes do modo realizado por Woortmann (2009). O autor não pensa o camponês em oposição à migração. O que se ganha utilizando a tipologia quando os próprios nativos não se reconhecem como migrantes? O uso da migração como reprodução do campesinato empobrece a obra do autor. Destarte, é preciso pensar essas relações de movimentos para além de fenômenos dados como migração. Deve-se compreender o que está além, atravessando ao mesmo tempo que construindo essas mobilidades.
Retorno como “dívida moral”? A experiência de pesquisadores brasileiros em mobilidade internacional
Autoria: Leonardo Francisco de Azevedo (UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora)
Autoria: O presente work, parte de uma investigação de doutorado, pretende analisar a experiência de mobilidade internacional de pesquisadores brasileiros que, financiados por agência de fomento nacional através de bolsas de estudo, realizaram doutorado no exterior. Baseando-se nas entrevistas realizadas com pesquisadores que concluíram seu doutorado completo em uma instituição estrangeira - tanto os que retornaram e trabalham atualmente no Brasil quanto aqueles que estão construindo suas carreiras no exterior -, pretende-se analisar de que maneira a obrigatoriedade de retorno e permanência no Brasil pelo mesmo período da estadia em outro país, imposta pelas agências de fomento nacionais, são vivenciadas por esses sujeitos. Discursos em torno de uma “dívida moral”, “contribuição” e “obrigação” com a sociedade brasileira surgem na narrativa desses sujeitos sobre suas próprias experiências. Sendo muitas as dificuldades enfrentadas por vários deles no processo de reinserção acadêmica e profissional no sistema universitário brasileiro, após anos no exterior, acionam esse discurso seja para sustentar o projeto de retorno ao Brasil, seja para destacar as dificuldades encontradas no retorno e a posterior decisão de construir uma carreira internacional. Pretendemos, portanto, explorar as diferentes facetas dessas experiências, explorando de que forma tal obrigatoriedade do retorno se configura, na experiência concreta desses sujeitos, como um “contra-dom”, fazendo com que esses atores incorporem, em suas próprias vidas, o discurso da obrigatoriedade da retribuição pelo que “receberam” da sociedade brasileira, através de suas bolsas de estudo no exterior.
Trabalhadoras (es) em Movimento: Imigrantes nos Comércios Populares na Cidade de São Paulo
Autoria: Ana Lídia de Oliveira Aguiar (USP - Universidade de São Paulo)
Autoria: Os mercados “populares” na cidade de São Paulo podem ser compreendidos a partir do entrecruzamento de diversas práticas de work, economias, movimentos de pessoas, mercadorias, tecnologias e políticas securitárias. É neste cenário em que se inserem migrantes de diversas nacionalidades, atuando como trabalhadoras (es) ambulantes, os quais precisam lidar com as dinâmicas políticas locais de gestão e controle da cidade e com os processos globais de circulação de pessoas e mercadorias. Esta pesquisa tem por objetivo analisar os processos de construção dos mercados populares na cidade de São Paulo a partir das dinâmicas das mobilidades urbanas promovidas pelos migrantes e suas mercadorias no exercício do comércio, bem como busca compreender como as práticas desses atores no espaço urbano é constantemente (re) construída nas fronteiras do formal/informal, legal /ilegal. A partir da circulação de mercadorias, pessoas, gestão de controle da cidade etc. compreende-se a mobilidade dos mercados, onde os movimentos de trabalhadoras (es) ambulantes, especialmente imigrantes, aparecem como elementos constitutivos de fluxos, de circulações e bloqueios locais na produção da cidade. O esforço empreendido busca pensar como os migrantes constroem os mercados em movimento que redefinem as dinâmicas urbanas. Ou seja, procuro analisar a relação entre mercados, dinâmica urbana e migração em processos locais e globais. Nesse sentido, leva-se em conta como os movimentos engendram diversas escalas na produção do espaço urbano e no exercício do work, considerando as relações assimétricas de poder as quais as (os) migrantes estão inseridos. Para o desenvolvimento desta pesquisa, utiliza-se uma etnografia a partir do jogo de escalas nos comércios centrais da capital paulista, para entender como presença migrante configura e reconfigura a dinâmica dos mercados "populares" como parte de um processo global do capitalismo contemporâneo.
Trânsitos, geografias e organismos na migração venezuelana
Autoria: Ireri Ceja Cardenas (estudos)
Autoria: A migração venezuelana cresceu exponencialmente nos últimos anos devido à crise política e econômica naquele país; existem mais de 4,9 milhões de venezuelanos como migrantes, refugiados ou solicitantes de asilo. A maioria dessas pessoas viaja centenas e até milhares de quilômetros pela América do Sul, por vários dias e até semanas, cruzando mais de uma fronteira nacional e diferentes geografias. Nestes trânsitos, as paisagens são transformadas, o corpo é exposto a diferentes temperaturas e alturas, passa por diferentes experiências. O que as histórias dessas pessoas que elas se movem nos dizem, a maioria delas precariamente? Como o tempo e o espaço são vivenciados nessas experiências? Que relações são estabelecidas nesses espaços provisórios? Este work é uma tentativa de discutir antropologicamente o movimento de uma maneira que expanda o arcabouço teórico da migração, em seus vínculos com o corpo. Além disso, é uma tentativa de resgatar experiências, como as corporais, que geralmente são extintas nas discussões sobre migração internacional.
Uma aporia da proteção: o “refúgio LGBTI” no Brasil entre a transparência e a invisibilidade
Autoria: Lucas Odilon dos Anjos Noel da Silva (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: O presente artigo tem como objetivo analisar mecanismos de produção e gestão de populações ditas vulneráveis no Brasil contemporâneo a partir de um caso em especifico: o dos/as “refugiados/as LGBTI”. O termo aparece aqui entre aspas por se tratar de uma categoria êmica, ou seja, essa é a nomenclatura utilizada oficialmente pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) para se referir às pessoas cis-hétero dissidentes que são reconhecidas como refugiadas no marco do Direito Internacional de Refúgio e passam, portanto, a estar sob o mandato de proteção dessa agência internacional. Muitas solicitações de refúgio de pessoas cis-hétero dissidentes, aceitas ou não pelo governo brasileiro, acabam se mascarando em outros critérios de inclusão previstos pela Lei de Refugio brasileira e sendo analisadas somente à luz desses, mesmo que tais sujeitos tenham enfrentado aspectos de perseguição “LGBTIfóbica” em suas vidas. Historicamente, essa invisibilidade estatística, agravada pela ausência de dados oficiais do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare) acerca das solicitações de refúgio, impôs desafios à pesquisa sobre as/os “refugiadas/os LGBTI” no Brasil. No entanto, acontecimentos recentes sugerem que pode haver uma mudança em curso nesse cenário. Em fins de 2018, o Conare anunciou, em conjunto com o Acnur Brasil, o lançamento de um levantamento inédito sobre as solicitações de refúgio com base em orientação sexual e identidade de gênero no país cujos resultados foram disponibilizados em uma plataforma online aberta à consulta pública. A hipótese que levanto nesse artigo é a de que o movimento de aparente abertura e interesse específico pela causa LGBTI por parte dos atores centrais do refúgio pode servir como uma entrada privilegiada para refletir mais profundamente sobre as tecnologias de governo que operam na produção e gestão de populações imigrantes pobres em território nacional. Para tanto, descrevo como ideias, retóricas e práticas mais amplas dos processos de formação de Estado e construção de nação no Brasil se combinam na produção de um grupo vulnerável – os/as “refugiados/as LGBTI” – que passa então a ser pensado como necessitando de tipos específicos de intervenção. Aqui, uma perspectiva etnográfica permite concluir que a recente atenção dada pelo Conare e pelo Acnur Brasil aos “refugiados LGBTI” pode se tornar um objeto fundamental para investigar as brechas no discurso oficial de êxito que ronda o universo institucional do refúgio no Brasil. Expandindo criticamente os horizontes de pesquisa, o artigo contribui para avançar discussões correntes sobre como a temática de gênero e da sexualidade vem se transformando em um importante componente dos regimes de (i)mobilidade e produção de fronteiras na contemporaneidade.
“Quando sair dessa cadeia, não posso mais voltar”: facções, afetos e migração nas trajetórias de adolescentes alagoanos rumo a outro bairro e outras cidades do centro-sul e regiões de fronteira.
Autoria: Fernando de Jesus Rodrigues (UFAL - Universidade Federal de Alagoas), Adson Ney Amorim
Autoria: A partir de dois percursos de interlocução que abrange grotas, favelas, quebradas, unidades de internação em Maceió e cidades do interior de Alagoas, além de viagens de ônibus semiclandestinos a cidades do interior do Mato Grosso, perguntamos sobre experiências e sentidos de transformação da vida entre adolescentes em periferias urbanas. Focamos em vivências sintetizadas em ideias como "tenho de mudar de vida" e "vou pra outro lugar". Tais sentidos mostraram-se entrelaçados a outros. De um lado, à reconfiguração de “oportunidades” de work para seus parentes como trabalhadores formais/informais em indústrias extrativas tais como mineração e extração de borracha, ou no agronegócio, como a cana-de-açúcar, milho, soja e café ou, ainda, em redes de serviços como vendedoras e empregadas domésticas em cidades e zonas rurais do Centro-sul e regiões de fronteira. De outro, às mudanças em redes criminais e nas formas de regulação dos conflitos atreladas a expansão de alianças faccionais como polos de governo em periferias urbanas de pequenas e médias cidades. Tais redes são referidas através de símbolos de afeição e repulsa a pessoas mapeadas como do "CV", "PCC" e "neutros". Acompanhamos, a partir de etnografia colaborativa e multissituada, como a alteração nas redes criminais conhecida nativa e externamente como "ruptura da aliança entre o CV e o PCC", em 2016, desencadeou forças de evacuação em "favelas" e "quebradas" em escala massiva. Uma face do fenômeno foi os rompimentos traumáticos de laços entre amigos, parentes e vizinhos, expressas em acolhimentos e combates vividos com a intensidade e afoiteza de recém convertidos. Tais lugares, a partir de então, seriam zoneados por referências àqueles que correm com o CV, com o PCC ou com os neutros, figurando experiências de territorialização da vida como confinamento, embutidas na ideia de "ilha", lugar do qual não se pode sair tranquilamente sem riscos. Outra face foi a intensificação de migrações de pessoas de Maceió e cidades do interior de Alagoas para cidades no sudeste, centro-oeste e norte do Brasil. Em meio a mobilização de familiares para que o adolescente "mude de vida", parentes e conhecidos são mobilizados para promover um deslocamento de um jovem e um ideal de mudança de trajetória. Este assume diferentes feições e direções. Nesta exposição buscamos abordar os ideais de mudança no fundamento de cursos migratórios e de regimes de mobilidades, associados tanto a redes de empregos de baixo valor – no crime, na informalidade e em novas formalidades – quanto amparados nas tramas afetivas – de parentela, de amor e de amizades – em redes de cidades pelos “sertões” do Brasil, a partir de Alagoas.
“Um olhar atento para a população refugiada”: análise de uma publicação da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro sobre experiências de sucesso em refúgio e saúde
Autoria: Ana Carolina Santos da Costa Maia (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro), Rogerio Lopes Azize (IMS/UERJ)
Autoria: A presente comunicação traz resultados de uma pesquisa cujo objetivo geral perguntava-se sobre a existência e, em caso positivo, sobre o desenho de uma política de saúde para os refugiados e migrantes no Rio de Janeiro por parte da Secretaria Municipal de Saúde, pensando fluxos migratórios mais recentes. De forma mais específica, aqui nos propomos a analisar um documento publicado em maio de 2017 e intitulado “Recomeço”, que narra a experiência da Atenção Primária em Saúde (APS) na construção de um fluxo de atendimento que fosse sensível à chegada de refugiados em regiões específicas da cidade, realidade que desde 2014 tem sido endereçada de forma especialmente sensível pelos níveis central da administração municipal. O documento traça uma narrativa da resposta dos níveis centrais da administração do município a partir de provocações de algumas unidades básicas de saúde, que, ao final de 2014, demandavam estratégias para lidar com uma população que apresentava algumas características específicas, por vezes desafios ao formato de organização das equipes de saúde da família, como a dinâmica territorializada. “Recomeço” é uma narrativa otimista sobre as possibilidades da APS lidar com fluxos de refugiados, constituindo neste sentido um documento paraprotocolar (que pode nortear as práticas em outras unidades de saúde), apesar da sua aparência de peça publicitária; em registro paralelo, temos ali um conjunto de representações que parecem idealizar perfis de refugiados, de profissionais de saúde e do próprio funcionamento do sistema único de saúde. De alguma forma, está em jogo nestas representações um certo ideário de nação que persiste no Brasil. Qual o estatuto das imagens apresentadas neste documento, como esta experiência é performada graficamente, como se articula uma narrativa de sucesso em um documento que, de alguma forma, presta contas de uma iniciativa pouco visível, localizada, dentro de um sistema de saúde que se pretende universal são algumas das questões que enfrentamos nesta comunicação.
A motivação e as perspectivas para o futuro do imigrante brasileiro qualificado do Vale do Silício
Autoria: Thais Fonseca Cruz (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: A migração brasileira para os Estados Unidos não é um fenômeno recente, e os principais fluxos datam seu início na década de 80. Tradicionalmente, as pesquisas de autores como Sales (2005), Martes (2000), Margolis (1995) e Lins Ribeiro (1998) sobre a imigração brasileira no país teve enfoque no fluxo para as regiões de Massachusetts e Flórida. Em geral, os brasileiros emigram por permanecerem além do tempo permitido por vistos de turismo. A tendência das ocupações segue uma divisão de gênero, sendo os works desenvolvidos por homens relacionados a construção civil ou motoristas de aplicativos, enquanto para mulheres são a limpeza de casa ou serviços de babá. Entretanto, este não é o único fluxo de brasileiros entre os países, e a migração qualificada, ou seja por vínculos profissionais e institucionais, já é um fenômeno consolidado. Assim, muitos brasileiros, nesta situação, já possuem qualificação e suas expectativas se relacionam as oportunidades profissionais, não sendo necessariamente relacionado a um retorno financeiro. Uma característica desse tipo de imigração é a dinamicidade, por ser, muitas vezes, uma mobilidade temporária. Algumas das trajetórias profissionais podem ser descritas pelo conceito de empreendedorismo imigrante. Enquanto os estudantes brasileiros se diversificam entre estudantes de graduação, pós-graduação e intercambistas. Esta pesquisa evidencia as percepções destes imigrantes brasileiros para um dos principais centros de inovação tecnológica do mundo, o Vale do Silício. O objetivo é, portanto, analisar tanto as motivações e aspirações profissionais quanto às perspectivas para o futuro, incluindo uma discussão sobre o Brasil. Ao total, foram 10 entrevistas em profundidade com imigrantes brasileiros na região do Vale do Silício, trabalhando na mesma área de formação do Brasil ou estudando e ambos com permissões legais para tais atividades. A amostra foi selecionada por conveniência, utilizando-se a técnica de bola de neve. A pesquisa foi desenvolvida durante um programa de mobilidade estudantil na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Além desta metodologia principal, também foram realizadas observações de eventos do grupo. E, por fim, 2 entrevistas de controle com brasileiros imigrantes de mesmo perfil, residentes de outras regiões dos Estados Unidos. O estudo serve como base para uma pesquisa maior sobre o tema a ser desenvolvido na monografia de final de curso, considerando as perspectivas do mercado de work brasileiro e o potencial de atração do Vale do Silício como um centro de inovação tecnológica.
Post-Conflito na Colômbia: Agroecologia e Re-Campesinisação no município do Cairo no estado do Vale do Cauca.
Autoria: Alejandro Escobar Hoyos (UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte), O work de pesquisa conta com um documentário feito na comunidade do cairo o qual narra os acontecimentos do deslocamento forçado, o docume
Autoria: Colômbia nos mostra como um povo que viveu uma guerra interna, violência e deslocamento segue adiante. A partir de 1960 foram criados vários grupos armados ou guerrilhas como as FARC-EP, o ELN e o EPL que se opunham às políticas governamentais e aos projetos do Estado. O panorama do confronto armado piorou nas décadas seguintes ao surgimento de grupos paramilitares de extrema direita, vinculados também aos cartéis do narcotráfico. Entre 2012 y 2016, se apresentou uma Mesa de diálogo entre o governo da Colômbia e as FARC-EP, onde os acontecimentos que afeta ao povo refletiram uma diminuição e um alívio humanitário em muitas zonas do país, onde se tem a presença histórica e o controle deste grupo armado. Mas depois de afirmar acordo de paz em novembro de 2016, o que se viu foi uma deterioração da situação humanitária com a reaparição dos deslocamentos massivos, assassinatos de líderes sociais, comunitários, ativistas ambientalistas e defensores de direitos. Entre o primeiro de janeiro de 2016 e vinte de maio do 2019, 837 líderes sociais e defensores de direito humanos e ex-combatentes de FARC-EP foram assassinados no território nacional colombiano. O conflito histórico deixou até setembro de 2018 mais de oito milhões de pessoas deslocadas, sendo o país com mais deslocados internos no mundo.Inclusive antes da assinatura dos acordos de Paz, desde 2006, o governo nacional tinha implementado diferentes programas e iniciativas para garantir a restituição de terras para a população deslocada que já somava milhões de camponeses, negros e indígenas. No município do Cairo no Estado do Vale do Cauca, por exemplo, houve um interessante processo de re-campesinisação que já tem dez anos e que foi implementado com grupos de famílias que foram deslocados forçadamente de diferentes estados da Colômbia. Essa experiência é uma das iniciativas que, a pesar dos seus inconvenientes, é bem-sucedida. É o processo de Re-campesinisação dos deslocados na comunidade do Cairo é de interessa para indagar e entender como foi o processo de “voltar ao campo”, e as dinâmicas que se derivaram no novo convívio entre famílias antes desconhecidas entre si. Re-campesinisação e entendido como o processo de luta social por maior autonomia e sustentabilidade e que, no caso da comunidade estudada, tomaram a agroecologia como bandeira do processo produtivo. Assim, também é de interessa analisar de que forma as práticas agroecológicas são parte de uma proposta de sociedade defendida por essas famílias e sua contribuição na defensa de territórios e comunidades tradicionais na busca por soberania e segurança alimentar. Nesse sentindo, é importante entender a relação dos camponeses com a terra e a historia de vida do acontecido com o deslocamento forçado e violência interna na Colômbia.
Torturas, deslocamentos forçados & Povos Indígenas: a Ditadura Militar e os registros do Relatório Figueiredo
Autoria: Paulo Victor Neri Cardeal (CNPq)
Autoria: Neste work, analisam-se as práticas de tortura e a política de deslocamentos forçados acionada pelo Estado brasileiro em face dos Povos Indígenas no período da Ditadura Militar (1964-1985), tendo como referência os escritos do Relatório Figueiredo (RF), conjunto documental produzido em pleno período ditatorial (1967) que reúne evidências concretas das irregularidades cometidas pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI) – órgão responsável pela política indigenista entre 1910 e 1967 -, bem como de remoções forçadas e extermínio de comunidades indígenas inteiras por ação ou omissão da referida agência estatal. Busca-se analisar, pois, as ações das elites economicamente interessadas e do Estado brasileiro em relação àqueles que sempre foram entendidos como um entrave ao progresso, uma vez que se tinha por objetivo a liberação dos territórios indígenas para o Capital por meio da prática de deslocamentos forçados, precarização dos corpos etnicamente diferenciados, torturas físicas e psicológicas e imposição do work escravo. Tal reflexão se dará, também, considerando uma microanálise das relações cotidianas de poder e dos efeitos sociais destas violências.
Transnacionalização da prostituição masculina: um estudo a partir de um site online de classificados
Autoria: Jônatas Stritar Alaman (UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Guilherme Rodrigues Passamani
Autoria: No presente work, são analisados, a partir de um site de classificados online, os movimentos realizados por garotos de programa brasileiros, que migraram para Portugal para se inserir no mercado do sexo local. Também discutiremos os processos de exotização contextuais, seus espaços possíveis de manipulações de marcas atribuídas aos brasileiros e a lógica presente nas economias sexuais da Europa. Com base em observações a partir de um viés etnográfico, no site viphomens.net, e posterior contato com os rapazes que ali se anunciam, procuramos discutir os modelos presentes de anúncios, bem como as lógicas referentes a esse modo de prostituição. Os resultados obtidos revelam as tensões presentes em seus trânsitos constantes entre regiões de Portugal e países da Europa, as categorias de diferenciação em que estão enredados, bem como as articulações possíveis entre gênero, sexualidade, cor/raça e nacionalidade em cenários matizados por relações de poder, configuradas a partir de diferenciações históricas entre o Norte e Sul global, que funcionam como um marco na transnacionalização da prostituição.
“Familiarizando o estranho”: a função do professor em programas de língua de acolhimento.
Autoria: Lara Noronha Xavier (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: A presente pesquisa possui dois objetivos principais. Primeiramente, visa compreender como a língua de acolhimento é apresentada para os migrantes. Posteriormente, o foco é o de entender as dinâmicas de afeto estabelecidas entre professor e aluno e como elas são projetadas tanto dentro quanto fora de sala de aula. Para entender o português como língua de acolhimento, é necessário compreender seu funcionamento e sua necessidade para a comunidade migrante. Para isso, serão utilizadas Barbosa e Ruano (2016) e Grosso (2010), que apresentam as bases dessa modalidade de ensino, assim, a diferenciando tanto simbolicamente quanto metodologicamente da língua estrangeira. Grosso (2010) afirma que as relações construídas entre professores e alunos ultrapassam as barreiras profissionais, assim, criando laços de afetividades entre ambos. Dessa forma, o professor pode ser tornar uma pessoa com a qual o migrante irá contar suas experiências, seus sucessos e suas dificuldades, sendo papel do docente o ajudar a compreender a nova vivência no país de acolhida e apresentar a cultura do país receptor para esse indivíduo. Ao pensar na experiência do professor dentro dos projetos de acolhimento, Almeida Filho (1993), questiona as dimensões do ensino de línguas e quanto os professores estão ou não preparados para esse tipo de relação com seus alunos. As responsabilidades e expectativas neles colocadas são de grande importância nesse processo de acolhimento. E se a resposta dos docentes não for positiva qual mudança ocorrerá no processo de acolhimento? Por fim, tendo como base o colocado por Grosso (2010) sobre as relações entre professores e alunos, e com o intuito de compreender essas conexões construídas dentro dos projetos de acolhimento. Serão inseridos ao debate autores da transnacionalidade tais como Schiller, Basch e Blanc (1995) e Cavalcanti e Parella (2013), assim, visando entender as relações dos indivíduos em mobilidade não apenas com relações afetivas e familiares vindas de seu país de origem, mas também construídas no país de acolhimento.