GT 29. Diálogos nas fronteiras: a Educação e a Escola como objetos de investigação na Antropologia.

Coordenador(es):
Sandra de Fátima Pereira Tosta (UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto)
Gilmar Rocha (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Sessão 1
Debatedor/a: Anderson Tibau (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Sessão 2
Debatedor/a: Tânia Dauster Magalhães e Silva (PUC-RIO - Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro)

Os debates entre Antropologia e Educação vem sendo realizados desde os anos de 1990 em fóruns científicos no Brasil e no exterior, tendo como referências pesquisas que apresentam as várias possibilidades e desafios da produção científica em perspectiva interdisciplinar e comparada. Uma proposição é clara na delimitação destes debates, qual seja, a de entender o fenômeno da educação não apenas em termos escolares, mas como um processo que remete às aprendizagens nas culturas. Eventos tais como IUAES, RBA, RAM, ALA, têm acolhido estes debates por meio de gts, mesas redondas, simpósios etc. Num rápido balanço das abordagens contempladas nestes eventos e nas publicações que circulam no meio acadêmico, destacam-se: usos da etnografia na pesquisa educacional, o ensino da antropologia para não antropólogos, escola, diferença e diversidade cultural, educação indígena e as pedagogias diferenciadas. Contudo, uma dimensão ainda pouco explorada diz respeito à seguinte problematização: quando antropólogos elegem como tema de investigação questões relacionadas à educação, de que modos isto se configura? Uso de metodologias do tipo estudo de caso, história de vida etc, além da etnografia, e, teoricamente, quais os autores que deram suporte ou dialogaram com o campo? Assim, este GT objetiva reunir antropólogos do Brasil e do exterior que pesquisam fenômenos educacionais a fim de promover uma ampla exposição e debate visando o aprofundamento da compreensão destes diálogos interdisciplinares.

Palavras chave: Antropologia; Educação; Escola
Resumos submetidos
Concepções de problemas entre estudantes de uma escola pública
Autoria: Mario Pereira Borba (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Autoria: Neste ensaio apresento âmbitos do work de campo que realizei ao longo de um ano e quatro meses em uma escola pública do Rio de Janeiro. Nessa etnografia abordei mobilizações de cuidado e atenção em torno da concepção de problemas de estudantes com comportamentos não conformes ou perturbadores, dentre eles automutilação e situações diagnosticadas como Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. Abordo esse universo discutindo especialmente minha entrada no cotidiano de um Núcleo de Apoio a Pessoas com Necessidades Específicas, por onde comecei e desenvolvi boa parte desse campo na escola. A partir desse núcleo, discuto as percepções dos estudantes sobre “ter um problema” e sobre os encaminhamentos e desdobramentos que eram prescritos nesse contexto. Percorro, portanto, os modos como esses problemas são concebidos, os espaços e momentos onde eles aparecem em destaque, entremeados por tentativas de compreensão e atribuições de responsabilidades.
Desafios teóricos e metodológicos na análise das histórias de vida de alunos em processo de alfabetização.
Autoria: Tatiana Arnaud Coutinho Cipiniuk (UFF - Universidade Federal Fluminense)
Autoria: A temática que abarca antropologia e educação quando direcionada à pesquisa etnográfica, no chão da escola, traz desafios aos seus pressupostos teóricos- metodológicos. Alguns desses desafios apresento como proposta de debate face a pesquisa que realizei com alunos afiliados em instituição de educação pública na modalidade de educação de jovens e adultos (PEJA) para alunos em processo de alfabetização tardia. A opção pela metodologia que corresponde ao exame das histórias ou relatos de vida foram um desses desafios. Por essa configuração escolhi sete itinerários de alunos num universo de 97 com o propósito de sistematizar as condições de possibilidade de relativas objetivações de intenções e de ações práticas, todas direcionadas em função da convivência com a ordem letrada. Nesta configuração optei, como aporte metodológico, a utilização de entrevistas livres, isto é, diálogos regulados pelas próprias experiências dos alunos, sem controle de tempo e espaço determinado. Nesse processo, a relação entre pesquisador e pesquisados tomou dimensões específicas que acabaram por influenciar indiretamente na forma como alguns entrevistados aderiram à pesquisa. Essa relação contribuiu para que fosse possível deslocar o objeto do discurso antropológico para a condição de sujeito do discurso possibilitando assim uma real interlocução com os alunos em suas sociabilidades no espaço escolar e fora dele. Apesar das vantagens que a análise das histórias de vida propõe considero que essa abordagem possui algumas armadilhas, dentre elas, o risco de representar as considerações dos pesquisados como uma ideia em linha reta. Assim, o ponto central deste work é colocar em debate as consequências teóricas e metodológicas que a experiencia etnográfica traz às pesquisas tão emergentes no campo de saber da antropologia bem como da educação.
Discutindo relações raciais na formação docente e na Residência Pedagógica
Autoria: Cleyde Rodrigues Amorim (UFES - Universidade Federal do Espírito Santo), Yamilia de Paula Siqueira
Autoria: Neste work discutimos a importância da abordagem antropológica nos processos de formação docente para trabalhar com as questões étnico-raciais na educação, e em especial no ensino da disciplina Sociologia, que abrange as temáticas das Ciências Sociais no ensino básico. Para tanto partimos de pesquisa e das intervenções envolvendo a diversidade e a educação das relações étnico-raciais bem como a relação entre pesquisadoras/residentes pedagógicos (estudantes de ciências sociais)/ professores e estudantes do ensino médio, no período de agosto/2018 até o momento. E também apresentamos os resultados dessa interação, do desenvolvimento da pesquisa e das intervenções envolvendo a formação.
Etnografia de uma lei: o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena
Autoria: Tamires Cristina dos Santos (UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos)
Autoria: A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), promulgada em 20 de dezembro de 1996, que estabelece diretrizes educacionais nacionais para os conteúdos dos currículos da rede de ensino das escolas públicas e privadas do território brasileiro, foi alterada pela Lei n° 10.639/2003, e posteriormente pela Lei n° 11.645/2008, estabelecendo respectivamente a obrigatoriedade do estudo e do ensino da História e da Cultura, Afro-Brasileira, Africana, e dos Povos Indígenas para a Educação Básica. Essa pesquisa etnográfica procurou estabelecer um diálogo entre os diferentes agentes que, de forma direita ou indireta, fizeram parte do processo que configurou a Lei n° 11.645/2008. A partir do work de campo realizado na SECADI/MEC junto aos seus Técnicos em Assuntos Educacionais e Consultores, dos documentos coletados no Ministério da Educação, e das conversas com Lideranças Indígenas, procurou-se apreender os diferentes discursos que são mobilizados no entorno da lei.
Muito além de uma “escola de referência”: etnografia em uma escola pública no Rio de Janeiro
Autoria: Flora Moana Mascelani Van de Beuque (PPGSA UFRJ)
Autoria: A comunicação visa apresentar os resultados parciais de uma etnografia realizada em uma escola pública da rede municipal do Rio de Janeiro, considerada uma “escola de referência”. Localizada em um bairro da zona norte da cidade, atende cerca de 400 crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I. Entre maio e dezembro de 2019 estive envolvida em atividades cotidianas de observação-participante no local. Interessante ressaltar que o objeto dessa pesquisa se delineou a partir de elementos que surgiram na conversa com meus interlocutores: o fato de ser um espaço muito procurado para matrícula e considerado de “referência” no contexto das demais escolas públicas. Neste work busco refletir sobre os sentidos, relações e práticas sociais e culturais que circulam em torno da construção desta "escola de referência", considerando a participação de diferentes atores sociais (como equipe, responsáveis e alunado), com distintas posições no contexto institucional e também no social e cultural mais amplo. Segundo alguns interlocutores, principalmente adultos, esse “título” estaria relacionado ao bom desempenho da escola no exame nacional de avaliação escolar, à relação de proximidade estabelecida entre a equipe da escola e as famílias, à oferta de aulas extras (como xadrez), entre outras qualidades. Pretendo, então, refletir sobre os valores que dão sustentação à ideia de que essas são características importantes numa escola no processo de socialização das novas gerações. Para muitos interlocutores, parece central a eficácia na capacitação acadêmica e disciplinar dos alunos dentro dos códigos sociais mais hegemônicos da sociedade mais ampla. Para muitos responsáveis, uma instituição como essa é sinônimo de poder garantir “um futuro” às suas crianças. Durante o work de campo, no entanto, fui entendendo que outros valores também eram vinculados à instituição. No decorrer da pesquisa encontrei múltiplas camadas de sentidos atreladas à escola. O passado de “luta” da escola era apontado por alguns integrantes da equipe e por responsáveis como uma marca positiva. Para muitas crianças, por sua vez, a "brincadeira" ocupava um lugar de centralidade na qualificação do espaço. A diversidade existente no corpo escolar também se revelou uma chave importante para entender as dinâmicas sociais; como a instauração de tempos acadêmicos e afetivos menos produtivistas com a participação das crianças com “necessidades especiais”, ou no caso de uma menina que lutou para combater uma situação de racismo enfrentada com colegas de turma, ou de um menino que participa de uma Escola de Samba mirim e “vive batucando” na escola. Essas e outras questões me fazem pensar nas muitas redes e sentidos que constroem uma “escola de referência”.
Notas para uma Antropologia da Educação a partir de Anísio Teixeira
Autoria: Marcus Bernardes (UNIFG - Centro Universitário Fg)
Autoria: O presente work é um fragmento de uma pesquisa mais ampla, ainda em curso, envolvendo as contribuições políticas e teóricas do educador Anísio Teixeira e suas relações com a Antropologia da Educação. Além de uma profícua produção teórica que remonta dos anos 1920 até o seu precoce falecimento em 1971, a biografia de Anísio se estreita com vários momentos importantes da história da educação brasileira. Os dados aqui analisados remetem, principalmente, a três estudos de Anísio Teixeira que abarcam diferentes décadas da sua vida, são eles: Aspectos Americanos de Educação (1928), Educação não é Privilégio (1957) e seu último escrito Cultura e Tecnologia, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos em 1971. Como os dados são textos, este work se inspira na proposta de uma etnografia do texto, tal como empreendida por Custódia Selma Sena (2013). Outra categoria metodológica relevante é a redução sociológica que se refere a uma atitude metódica que visa descobrir os pressupostos referenciais (de natureza histórica e política) nas obras indicadas de Anísio que contribuiriam para um quadro maior da Antropologia (RAMOS, 1958). Neusa Gusmão (2009) ao abordar os entrelugares ocupados pela Antropologia e Educação no Brasil, destaca a necessidade de estabelecer relações teóricas e metodológicas entre as áreas. Este artigo tem o objetivo de investigar possíveis caminhos para refletir sobre uma Antropologia da Educação a partir de Anísio Teixeira. A crítica da Antropologia da Educação nos faz pensar o quanto é urgente uma reflexão dos processos educativos. Da educação infantil à pós-graduação. Dos currículos às dimensões culturais das salas de aula. Das políticas públicas às comunidades escolares, seus atores e representações. Do etnocentrismo e epistemicídio nos currículos, escolas e universidades. Dos enfrentamentos dos mais diversos tipos de desigualdades (gênero, racial, classe, sexualidade, etc). Sobretudo, na Educação Básica, uma reflexão dialética dos conteúdos antropológicos trabalhados pela Sociologia Escolar e como a Antropologia pode fornecer pesquisas fundamentais para uma outra compreensão do espaço escolar. Nos debrucemos sobre a obra política e teórica de Anísio Teixeira no sentido de compreender um pouco da história da educação no Brasil, as dificuldades e enfrentamentos da época e as lições que podem ser observadas para pensar o fluxo do agora. As lições históricas pesam uma reflexão que tensiona a todo instante os limites e as potencialidades dos argumentos. Conheçamos os nossos e nossa história para que ela não se repita como farsa.
Pensar a Educação e Escola na Antropologia Brasileira
Autoria: Weslei Lopes da Silva (UEMG - Universidade do Estado de Minas Gerais)
Autoria: Esta proposta busca evidenciar os resultados da pesquisa “Diálogos nas Fronteiras: a educação como objeto de investigação na antropologia brasileira” (2016), desenvolvida pelo grupo de pesquisadores do EDUC (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação e Culturas), financiada pela Fapemig e pelo CNPq E que teve como objetivos fundamentais identificar e analisar a produção de teses e dissertações concluídas em Programas de Pós-graduação em Antropologia a partir dos anos de 1990 no Brasil, cujo intento foi o de entender de que modos as questões educacionais foram incorporadas e tratadas teórica e metodologicamente nestas pesquisas e, contiguamente, compreender as condições de desenvolvimento do campo interdisciplinar na interface Antropologia e Educação. De cunho qualitativo e quantitativo, e de natureza bibliográfica, a investigação analisou o conteúdo de 11 teses e 30 dissertações que tematizam educação e escola, inventariadas junto o portal da Capes. A análise dos dados foi fundamentada nos princípios do método “hermenêutico-dialético”. Pôde-se depreender que, ainda que a produção acadêmica no Brasil na área de Antropologia em diálogo com a educação/escola haja crescido nos últimos anos, pouco ainda tem sido realizado nessa interface, o que nos leva a reconhecer a necessidade de um maior investimento nesse campo, que poderia contribuir para a compreensão mais abrangente da educação e para o desenvolvimento de estratégias em prol da superação dos desafios que este setor, em geral, e a escola em particular, apresentam na contemporaneidade.
Permacultura, agroecologia e aprendizagem para estudantes do Ensino Médio
Autoria: Pedro Gabriel Ferraz Gama (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: O work toma como ponto de partida os cursos de permacultura e agroecologia, oferecidos a jovens de escolas públicas de Ensino Médio no Rio de Janeiro como parte de seu currículo escolar, para investigar de que forma elementos previstos e não previstos nas práticas pedagógicas influem em processos de aprendizado que ali se desenrolam. Os cursos integram o projeto Escola Permacultural, uma das frentes de work do Instituto PermaculturaLab, e tomam como base os princípios da Permacultura para tratar de temas como sistemas de produção e consumo, gestão de resíduos, manejo da terra, água, saneamento, cuidados com a saúde e bem-estar físico e mental. As aulas são planejadas visando realçar as conexões e a interdependência entre esses diferentes temas e incentivar a formação de uma reflexão crítica sobre desafios socioambientais contemporâneos. As estratégias pedagógicas envolvem a intervenção dos estudantes no ambiente escolar, sendo a principal delas voltada para a implementação e manutenção de um sistema agroflorestal no terreno da escola. Com as aulas propostas, os professores buscam oferecer a estudantes o que chamam de um "laboratório vivo" em que é possível viver e experimentar os conteúdos tratados nas disciplinas do currículo básico. Por meio de observação participante das atividades do projeto em quatro turmas de duas escolas na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, a pesquisa investiga a relação entre aprendizado e elementos como os corpos de professores e estudantes, o ambiente em que estão inseridos, a organização para a execução de diferentes tarefas, as situações experimentadas e as relações estabelecidas a partir das aulas. A investigação é orientada por noções como a de "aprendizagem situada", de Jean Lave – em que a aprendizagem é tomada como parte das práticas cotidianas, que envolvem sempre movimento, engajamento e mudança – e a de "currículo oculto", que chama atenção para o caráter nem sempre explícito dos conteúdos e valores a serem ensinados e aprendidos em instituições educativas. Busca-se analisar como elementos dos contextos escolares pesquisados configuram-se com veículos ou obstáculos para diferentes aprendizagens.
Seria o internato escolar uma "instituição total"? Algumas notas preliminares sobre adolescentes que moram e estudam em uma escola
Autoria: Hildon Oliveira Santiago Carade (IFBAIANO - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano)
Autoria: A presente comunicação pretende analisar a conexão entre sociabilidade juvenil e modos de escolarização, através do relato da experiência de estudantes, na faixa entre 13 e 17 anos de idade, em regime de internamento de uma instituição pública de ensino. O internato escolar é uma modalidade de aprendizagem que disponibiliza ao ingressante residência e refeições. Devido ao fato de o estudante permanecer institucionalizado, residindo, pois, no próprio local onde é escolarizado, a literatura sobre a temática - produzida, basicamente, por psicólogos e pedagogos - tende a caracterizar estes estabelecimentos de ensino como sendo "instituições totais", categoria criada por Ervin Goffman, com feições disciplinares, nos termos de Michel Foucault (em semelhança aos hospitais, às fábricas e às prisões). Tal abordagem tem privilegiado o entendimento do modo de funcionamento dessas instituições, demarcando os seus efeitos na produção da subjetividade daqueles que delas se beneficiam. Assim, quase sempre são apontados vínculos ocultos entre os fins educativos do internato escolar e a produção de uma violência simbólica contra os internos, aproximando as suas experiências com a dos sujeitos reclusos em prisões ou mesmo em hospitais psiquiátricos. Entretanto, conforme nos aponta Paula Sibilia, em se tratando de uma tecnologia de época, datada da era moderna, que assistiu a ascensão do capitalismo, o internato escolar, e a escola em termos gerais, parecem estar hoje em descompasso com a produção das subjetividades contemporâneas. A sociedade atual implora por corpos visíveis e conectados às onipresentes redes digitais, enquanto que o modelo de internação, e a própria tecnologia escolar, são calcados na formatação de um sujeito introspectivo e ensimesmado. Assim, a pergunta que guia esta análise é a seguinte: se, por um lado, as vivências e sociabilidades tipicamente juvenis tais como, o primeiro beijo, a perda da virgindade e as lógicas de amizade e inimizade entre galeras e grupos, e, por outro, o acesso às novas tecnologias da informação, não seriam elementos preponderantes para o desvirtuamento do caráter de “instituição total” do internato escolar? Em outras palavras, ainda faz sentido compreender esta modalidade de ensino através de categorias mais apropriadas à sociedade disciplinar? Para responder tal questionamento, o olhar desse escrutínio se dirige para os corpos e as subjetividades para cuja moldagem o internato escolar fora concebido na modernidade; este olhar, posteriormente, se encaminhará para as versões atuais desses corpos e subjetividades, a partir de notas preliminares colhidas através da observação participante, que seriam dados iniciais de pesquisa sobre juventude e vida escolar.
Tecnologias digitais e envelhecimento: reflexões sobre a terceira idade
Autoria: Edilza Maria Medeiros Detmering (UFPB - Universidade Federal da Paraíba), Ítalo Rômany de Carvalho Andrade
Autoria: O presente artigo, que apresenta dados iniciais de pesquisa conduzida no Doutorado em Antropologia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), analisa como as tecnologias digitais podem afetar as relações sociais de um grupo da terceira idade no espaço educacional, por meio da relação mídia e envelhecimento. Tendo como objeto de estudo os alunos e as alunas do Curso de Francês do Núcleo de Estudo e Pesquisa da Terceira Idade (NIETI) da UFPB, a proposta é de compreender as complexidades e demandas da pessoa idosa, a fim de tecer algumas reflexões que possam futuramente contribuir com as discussões acadêmicas em torno do que é ser terceira idade no cenário atual. Busca-se entender, também, como o curso de língua francesa em pauta repercute na construção da identidade de pessoas idosas. Como percursos metodológicos, foram utilizadas conversas informais e observação participante, além de algumas entrevistas semiestruturadas. Dentro do arcabouço teórico, há diálogos com autores e autoras da sociologia, antropologia, comunicação e educação, dentre os/as quais Campelo (1996), Debert (1999), Goldenberg (2002) e Stepansky (2012). Os resultados iniciais levam à compreensão de que as tecnologias digitais modificam as práticas sociais da terceira idade, conformando-se como instrumentos que afetam e contornam os relacionamentos afetivos, nos anseios por uma interação com outros grupos, e ainda na busca de pertencimento a um espaço socioeducacional.
Uma abordagem antropológica das políticas públicas de enfretamento à violência na escola municipal do Recife
Autoria: Warna Vieira Rodrigues (Secretaria de Educação)
Autoria: Esse work se inscreve numa linha de reflexão que explora o uso da pesquisa etnográfica com objetivo de analisar o processo real das políticas públicas de enfrentamento à violência na escola da Rede Municipal de Ensino do Recife. As ações do Estado acontecem em múltiplos níveis de ação e decisão, em todas essas instâncias percebemos que se por um lado temos a lógica e intenções de ações do Estado na perspectiva de intervir numa realidade social, por outro lado, temos saberes, práticas e autonomia frente a essas intervenções que são postas a partir das múltiplas interpretações e estratégias estabelecidas pelos atores sociais envolvidos no cotidiano da escola. Portanto, a forma como esses atores pensam e agem sobre isso, seu impacto e implicações, são as dinâmicas do processo real. As observações iniciais realizadas contribuíram na composição do cenário da pesquisa etnográfica. O circuito das dinâmicas das discussões e ações de combate à violência no espaço escolar políticas públicas seguem uma certa representação espacial. O campo de foi enquadrado em três esferas específicas: a Escola, o Conselho escolar e a Secretaria de Educação e as Secretarias parceiras. As primeiras observações e entrevistas foram realizadas na escola indicada pelos técnicos como uma unidade preocupante, portanto, unidade com maior número de ocorrências de programas, projetos e ações de enfrentamento à violência. Além do espaço escolar, foram realizadas pesquisa etnográfica nos espaços onde estão previstas atividades de enfrentamento à violência escolar: formação para professor e gestor; eventos com estudantes; palestras com pais, reuniões com os agentes do governo, entre outras. As primeiras análises dos dados provenientes das situações no ambiente escolar e das entrevistas com os atores sociais de diversas instâncias da Secretaria de Educação apontam para uma decalagem entre o conceito de violência forjado pelos agentes estatais, posto nas políticas públicas, e os fenômenos sociais denominados e identificados como violência na escola pelos atores sociais. Se uso está atrelado a um sistema de classificação hierárquica e de atribuição de valor negativo na identificação de bairro da cidade onde as escolas estão localizadas. No cotidiano da escola, a violência é uma construção social, passível de negociação, fazendo parte do processo de sociabilidade humana. Pois, não se trata de pensar em relações sociais estáticas, mas de considerá-las sempre em desenvolvimento, nem tampouco considerar ações sociais como individuais, o indivíduo se encontra inscrito em uma rede de relações nas quais reconfiguram conceitos complexos como o de violência e escola.
Viver no meios dos brancos: os Awá, encontros imprevisíveis e a escola
Autoria: Josy Marciene Moreira Silva (UNICAMP - Universidade Estadual de Campinas)
Autoria: Este work tem por objetivo realizar uma reflexão acerca dos argumentos que levam a escola para as aldeias Awá, dos desejos expressos pelos Awá sobre a necessidade da escola e da construção de relações com não índios a partir da vivência escolar. Os Awá são falantes de uma língua da família Tupi-Guarani, habitam a porção oriental da Amazônia, mais precisamente localizados no noroeste do estado do Maranhão, entre as bacias do Rio Pindaré e Gurupi. Até os anos 1970, não possuíam aldeias permanentes e, organizavam-se em pequenos grupos, formados por uma ou duas famílias nucleares, dispersos sobre um território também ocupado pelos povos indígenas Tenetehara e Ka’apor. Antes do contato com a FUNAI e de sua fixação em aldeias não praticavam qualquer tipo de horticultura, possuindo um tipo de economia nômade e coletora que dependia de espécies vegetais oriundas das atividades de grupos horticultores vizinhos. Seu aldeamento foi justificado pelo órgão indigenista, especialmente, pelo fato de terem sido “alcançados” por projetos de desenvolvimento tais como, o início da exploração de minério no Pará e a construção da Estrada de Ferro Carajás, e pelo crescimento populacional na região, que se iniciou nos anos 1950, resultando na diminuição das áreas de mata e, consequentemente, dos seus espaços de caça e coleta. Seus encontros com não índios e o estabelecimento de relações com órgãos governamentais e ONG’s fazem parte da nova situação em que vivem. Assim, busco pensar, inspirada por Ana Tsing (2015), os encontros imprevisíveis que levaram os Awá à situação atual e as transformações mediadas por esses encontros. A experiência escolar entre os Awá teve início nos anos 2000, sendo mediada pelo CIMI, e será aqui pensada como um dos espaços onde a situação de contato e os encontros imprevisíveis emergem. Considerando que somos tocados pelas indeterminações que tornam a vida possível e atingidos por diversos fluxos que nos formam a partir de processos de contaminações (TSING, 2015), quero pensar o caso dos Awá e a sua experiência escolar, considerada como espaço para aprender coisa de branco, como um meio para “acostumar-se”, sendo esse um processo necessário para viver perto dos brancos, é preciso saber sobre eles e domesticar seus modos para viver perto deles. Desse modo, a escola se assentou entre os Awá e passou a fazer parte de seu cotidiano.
Antropologia, Escola e a "Inclusão": Uma etnografia das Práticas e Políticas em Inclusão Escolar de pessoas com deficiência no contexto do Ensino Público regular
Autoria: Jéssica Nunes da Silva (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Autoria: A pesquisa aqui desenvolvida tem por tema a Educação Inclusiva e a Inclusão Escolar de pessoas com deficiência e/ou classificadas dentro do escopo das Necessidades Educacionais Especiais/Específicas (NEE’s) no contexto da Educação Básica, mais especificamente no Ensino Público regular. O objetivo do work é compreender, através da etnografia, os sentidos e desdobramentos do conceito de Inclusão na escola, através da análise sobre a materialização das diretrizes legais que definem a inclusão escolar: desde as políticas até as práticas visualizadas em campo. Para tal, além de uma revisão da legislação correspondente, foi realizada uma etnografia dos processos de inclusão escolar na EMEM Emílio Meyer, escola regular da rede municipal de Porto Alegre que conta com a oferta de Ensino Médio. Na imersão em campo, foram analisados os serviços de apoio à inclusão mobilizados pela escola, quais sejam: 1) Atendimento Educacional Especializado (AEE); 2) Sala de Inclusão e Recursos (SIR); 3) Programa de Apoio à Inclusão da PMPA e 4) Projeto Piloto de Inclusão, idealizado e desenvolvido pelo SOE em parceria com a SIR. As reflexões advindas desta análise foram percorridas de modo sequencial, a partir de três eixos temáticos: iniciando pelas Políticas de Inclusão que compõem o discurso oficial e a estrutura normativa pertinente, passando pelos desdobramentos práticos e pela reflexão acerca dos efeitos sociais dessas políticas, até sua culminância na compreensão de alguns dos sentidos associados ao conceito de inclusão no contexto da escolarização formal. Além da etnografia, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com docentes, profissionais do AEE, estagiários de apoio e responsáveis pelo Projeto Piloto. A revisão bibliográfica foi orientada no sentido de aprofundar o debate em antropologia e educação, constituindo a base para a reflexão crítica proposta a partir dos desdobramentos etnográficos e material obtido em campo. Ao final, conclui-se que a institucionalização de ferramentas direcionadas às práticas inclusivas na escola afetam em diversos níveis os discursos, sociabilidades e concepções por parte de toda a comunidade escolar. Assim, a presença destes estudantes na escola regular e o aparato em termos de recursos e narrativas associadas ao conceito de inclusão, demanda que se tenha um olhar crítico a respeito destes processos e destas políticas. Possibilitando mobilizar, a partir do conceito de Inclusão e suas implicações, uma gama mais ampla de saberes, de práticas e de entendimentos acerca dos processos educativos em suas diversas formas, finalidades e formulações, aqui, com ênfase em especial nos processos de escolarização formal.
Conscientização Identitária de Mulheres Negras no Ensino Médio e Magistério em Florianópolis
Autoria: Giovanna Barros Gomes (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina), Professora Doutora Miriam Pillar Grossi
Autoria: O pôster situa a pesquisa, intitulada “Conscientização Identitária de Mulheres Negras no Ensino Médio e Magistério em Florianópolis”, sendo fruto do work de conclusão de curso realizada no curso de graduação em Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, que foi realizada com bolsa de Iniciação Científica junto ao Núcleo de Identidade de Gênero e Subjetividades (NIGS). Em que se envolveu estudantes negras de ensino médio que participaram de projeto de Iniciação Científica do Ensino Médio do NIGS e estudantes mulheres do terceiro ano de formação em Magistério em escola pública da Grande Florianópolis. Utilizando a metodologia de "escrevivência" proposta por Conceição Evaristo, os objetivos da pesquisa foram de entender as trajetórias de estudantes negras no ambiente escolar, buscando compreender como suas vivências de violências racistas e sexistas as levam à conscientizarem-se de sua identidade enquanto mulheres negras e a produzir reivindicações no espaço escolar e resistências em diferentes aspectos de suas vidas.