GT 24. Construções biográficas como narrativas do protagonismo indígena

Coordenador(es):
Ana Flávia Moreira Santos (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais)
Rita de Cássia Melo Santos (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)

Há algumas décadas o debate sobre protagonismo e “agency” vem se destacando na Antropologia, sobretudo em relação às populações indígenas. Se, por um lado, propostas vinculadas a esse movimento resultaram em uma mudança de perspectiva nos modos como essas coletividades são pensadas, por outro persiste uma dificuldade em compreendê-las como parte integrante e fundamental das múltiplas formações políticas brasileiras existentes nos períodos colonial, imperial e republicano. A outrificação e a externalidade desses grupos continuam a ser etnografica e teoricamente produzidas, muitas vezes contrariamente à sua própria colocação política. Trata-se, em muitos casos, da manutenção de um certo exotismo, que teima em subsistir na Antropologia. Este GT pretende, ao inverso, reunir trabalhos que permitam apreender o protagonismo indígena em diferentes tempos e escalas, por meio de biografias e de modalidades associadas a essa forma narrativa (trajetórias, relatos autobiográficos, histórias de vida, etnobiografias). A escolha pelo gênero biográfico busca destacar os múltiplos trânsitos dessas populações, reconstruindo seus horizontes de possibilidade e ação a partir de situações concretas, presentes e passadas. Às contribuições teóricas do campo da Antropologia somam-se as reflexões da História, da Sociologia, dos Estudos Literários, num esforço de promover uma compreensão mais ampla do protagonismo indígena.

Palavras chave: protagonismo indígena; antropologia histórica; biografias
Resumos submetidos
A Cobra e o Maracá encantam: Memórias e vivências de Suzana – Mulher Karipuna do Amapá
Autoria: Ana Manoela Primo dos Santos Soares (UFPA - Universidade Federal do Pará), Suzana Primo dos Santos
Autoria: Esta pesquisa é tecida com base em diálogos entre duas mulheres do povo Karipuna do Amapá, uma que vem se dedicando a pesquisas de antropologia em diálogo com seu povo de origem e a segunda que vem se debruçando sobre as questões da "cultura material" dos povos indígenas no espaço do Museu Paraense Emílio Goeldi. Em meio a este contexto a primeira autora traz alguns recortes iniciais da pesquisa de mestrado que desenvolve através do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), sendo está uma reflexão construída em conjunto com as memórias de sua mãe, a segunda mulher mencionada, pois, uma parte fundamental da dissertação tratará sobre a trajetória de vida dela. A história de Suzana Primo dos Santos Karipuna (66 anos) está vinculada a história da aldeia Santa Isabel (aldeia Karipuna – Terra Indígena Uaçá – Oiapoque – Amapá), território este fundado por seus pais no ano de 1940, assim como esta vinculada ao espaço do Museu Goeldi, onde se tornou a primeira mulher indígena a ser funcionaria desta instituição e em consequência disto a primeira a atuar dentro da Reserva Técnica de Etnografia Curt Nimuendajú. Suzana também é pajé e é considerada como tal por ser gêmea, possuindo o “dom de sonhar”. Também é uma “antiga”, e as antigas, em nosso povo, são as mulheres idosas, importantes detentoras de conhecimentos, correspondentes às narrativas; à língua; aos pequenos e grandes processos rituais; ao xamanismo; a arte; as relações com o território, com os bichos, as plantas e com os/as parentes/as. Suzana em sua trajetória, traz aspectos que explicam a formação de territórios indígenas, questões sobre a presença indígena em museus na Amazônia brasileira, sobre o xamanismo Karipuna e sobre como a figura das mulheres mais velhas e seus conhecimentos compõem e auxiliam na preservação do território, das memórias, assim como do bem-viver Karipuna. A metodologia para a constituição da pesquisa esta pautada na oralidade; no que é concernente aos relatos biográficos e autobiográficos; e em diálogo com a antropologia e o campo da literatura indígena.
Afirmação étnica através de histórias de vidas indígenas Pankará, Semiárido pernambucano
Autoria: Edivania Granja da Silva Oliveira (IF SERTÃO PE)
Autoria: A proposta deste artigo é destacar as histórias de vidas das principais lideranças, partícipes no processo de mobilização para afirmação da presença indígena na Serra do Arapuá e adjacências, relacionando com as dinâmicas de construção da identidade étnica dos Pankará imbricados nos ambientes que habitam, evidenciando as relações socioambientais, as redes e fluxos de trocas culturais com outros grupos étnicos habitantes no Sertão do São Francisco. As histórias de vidas foram registradas conforme metodologia da História Oral, concebidas como fontes através das memórias dos indígenas Pankará. Buscamos compreender os relatos de vida exercitando reflexões sobre os acontecimentos, acionados para compor a “história” do entrevistado, “considerada como história em relação ao espaço social no qual se realizam não é em si mesma um fim” (BORDIEU, 2006, p. 189). Para tanto, foram acionadas as memórias dos Pankará da Serra do Arapuá: a Cacica Dorinha, os pajés, Manoelzinho Caxeado, Pedro Limeira e João Miguel. As lideranças, Luciete Lopes e Manoel Gonçalves (Nenem). E Cacica Lucélia Leal, Pankará Serrote dos Campos, na perspectiva de uma história indígena discutida a partir das interpretações dos conhecimentos sobre a flora, fauna, os sentidos e significados atribuídos ao rio São Francisco e as nomeações dos indígenas para os diversos aspectos da Natureza, numa tentativa de exercitar a história dos Pankará nas dinâmicas de ocupação relacionadas às relações parentais e ambientais que são importantes na afirmação da identidade étnica dos indígenas. Portanto, a trajetória de vida compõe aspectos da individualidade, construção social e biológica. Então, tentamos compreender as narrativas das vidas dos Pankará como afirmação da identidade na Serra do Arapuá imbricados nos processos mobilizadores para o reconhecimento étnico, nas garantias de direitos e no acesso à terra.
As mulheres Indígenas Apinajé e a Política: Protagonismo e Cacicado.
Autoria: Welitânia de Oliveira Rocha (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: A temática a ser investigada a partir de deste artigo tem conexão com interesses de pesquisa desenvolvidos entre 2013 e 2016, período em que realizei pesquisa de campo entre os Apinajé, participando de atividades na Escola Indígena Tekator, na associação Pempxá e em eventos culturais em diferentes aldeias do território. Foi a partir do estabelecimento de parcerias com as mulheres Apinajé que iniciei minha pesquisa sobre a presença das mulheres na política interna ao grupo. Portanto, a investigação aqui levantada é parte de uma reflexão que teve início ainda no período da graduação, na qual, em consonância com a pesquisa de campo construí uma pesquisa etnobiografica, sobre uma Cacica do povo Indígena Apinajé, com objetivo de perceber através de sua trajetória como se constitui a função da chefia entre as mulheres dessa etnia. works anteriores como os realizados por Roberto DaMatta (1976); Reginaldo Gonçalves (1980); Curt Nimuendajú (1983) e Odair Giraldin (2000), ancoravam-se na afirmativa de que a chefia entre os povos Macro- Jê era majoritariamente masculina. No entanto, dados etnográficos de Rocha (2001, 2008), já apontavam para o surgimento do interesse das mulheres pela política, mostrando que as mulheres Apinajé estavam atentas as necessidades de articulação política, bem como para importância de fazerem parte do processo de luta de seu povo. Diante disso, foi possível perceber como as mulheres Apinajé contemporâneas estavam se inserindo na organização política das aldeias, sobretudo, na ocupação da função de cacique. Dados da pesquisa revelaram que existem entre as mulheres Apinajé requisitos e caraterísticas que marcam seu prestígio social e configuram-se como mecanismo para entrada feminina na estrutura política de seu povo. Dentre os quais destaco: a mobilização para o work; as relações de parentesco; os conhecimentos culturais e as redes de relações políticas. Todos estes elementos levaram me a perceber que a chefia feminina já acontecia antes mesmo da ocupação da função de Cacica, tendo em vista a forte participação das mulheres em articulações políticas demonstradas por meio das histórias de contato interétnico presentes na etnografia (ROCHA, 2001) e apontadas pelas lideranças femininas, quando evidenciam a importância da existência de uma representação feminina na organização política. Diante disso, através do mapeamento e análise de outras aldeias em que a chefia é feminina, procuro analisar o protagonismo político das mulheres Apinajé dentro e fora do território, com o objetivo de perceber o percurso dessas mulheres até a chefia, tendo como foco a trajetória das cacicas Joanita, da aldeia Areia Branca; Graça, da aldeia Bacabinha e Djé da aldeia Macaúba.
Cacique Guiragibe: entre o silenciamento e o protagonismo indígena no século XVI
Autoria: Valclecia Bezerra Soares (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)
Autoria: A história do Brasil se estrutura a partir de pontos de referências que exaltam as imagens dos colonizadores em detrimento das populações indígenas. Discursos produzidos pela historiografia, pelos monumentos, estruturas de edifícios dos séculos passados, em sua maioria, ressaltam feitos de “grandes” personagens que teriam sido responsáveis por expedições, batalhas, conquista e expansão de territórios. Esses discursos produzidos construíram lugares de memória e lugares de esquecimento atualizados ao longo dos séculos, desempenhando diferentes funções sociais. Dentro das narrativas contadas pela história, foram realizadas buscas por vestígios dos povos indígenas em especial do cacique tabajara Guiragibe que viveu no século XVI, para, a partir desses fragmentos, construir uma narrativa que possa apontar para a presença indígena na “conquista” da Paraíba. Ao mesmo tempo, levando em conta a dificuldade de encontrar informações, demonstrar o silenciamento a que esses grupos foram submetidos. Partindo do levantamento bibliográfico sobre a História da Paraíba e da identificação da presença indígena como elemento central em sua formação, esse work busca compreender a trajetória do cacique Guiragibe e sua relação com o contexto em que viveu e as alianças e conflitos na Paraíba entre a segunda metade do século XVI e início do século XVII. A pesquisa contou com poucas informações, mas com registros recorrentes sobre a presença de Guiragibe no primeiro século da colonização, com alianças com portugueses e com os Potiguaras, nas expedições de expansão do território, em construções de fortificações e engenhos etc. A dificuldade de encontrar informações sobre os povos indígenas no geral e sobre lideranças específicas, mesmo que essas apareçam constantemente nos registros, é sintomático do processo de silenciamento e apagamentos desses grupos. O objetivo desse work é proporcionar um espaço para novas interpretações das narrativas “oficiais” que possibilitem a compreensão dos povos indígenas no Brasil, em especial na Paraíba, como sujeitos ativos, cujas ações foram não só indispensáveis para concretização do projeto colonizador, como também foram pautadas a partir de interesses políticos desses grupos, utilizando-se das alianças como estratégia para fortalecimento contra seus inimigos.
Catolicismo e escrita como tradições de conhecimento entre os Xakriabá: a trajetória de Manoel de Oliveira Fernandes
Autoria: Amanda Jardim da Silva Rezende (UFMG)
Autoria: As memórias sobre a trajetória de uma família extensa da aldeia Barreiro Preto, localizada no território indígena Xakriabá (São João das Missões-MG), com recorrência mencionam um ancestral comum: Manoel de Oliveira Fernandes. As narrativas sobre Manelão, como geralmente é citado, o descrevem como exímio rezador, juiz de paz e escrivão. Estima-se que seu nascimento tenha ocorrido por volta de 1890 e veio a falecer em 1961. Considerado não indígena e tendo nascido em Brejo do Amparo, antigo distrito do município de Januária-MG, Manelão passa a residir entre os Xakriabá após ter se casado com a indígena Caetana Muniz da Silva. Vale observar que antes da homologação da Terra Indígena, ocorrida em 1989, era comum o estabelecimento de não indígenas junto a seus cônjuges indígenas, muito embora a identidade não fosse uma questão em voga. Qual seria o protagonismo de Manelão em tal contexto? Explorar a biografia e a agência atrelada a esse personagem é relevante devido ao fato de a ele ser atribuída a presença do catolicismo nas aldeias Barreiro Preto e Sumaré I. Conta-se que, devido a inexistência de igrejas e sacerdotes no território quando era vivo, Manelão celebrava e organizava em sua própria casa cultos, novenas, rezas do terço, dentre outros, e reunia dezenas de pessoas para ouvir os ensinamentos bíblicos. Por dominar a leitura e a escrita, tendo sido escolarizado em Brejo do Amparo (algumas fontes apontam que sua formação se deu em uma escola dominicana), ele conduzia as rezas utilizando um livro que encontra-se sob posse de um de seus afilhados, José de Souza Freire (conhecido como Seu Zé do Rolo, nascido em 1940). Muitas dessas rezas foram aprendidas por Seu Zé quando frequentava a casa de Manelão. Seu Zé, diferente de seu padrinho, diz pouco conhecer a escrita e a leitura, considera-se semi-analfabeto e conta que aprendeu as rezas através da oralidade, do assuntar e da memorização, ou seja, acionando outro regime de conhecimento para assegurar a existência desse patrimônio religioso. Ademais, conta-se que a Manelão é atribuída a sabedoria de um juiz de paz, pois a presença do mesmo era solicitada para apaziguar relações conflituosas, tendo sua atuação sido reconhecida dentro e fora da terra indígena. Além disso, os relatos apontam que, pelo seu domínio da escrita, Manelão também era escrivão, redigia cartas a serem entregues para parentes que haviam se deslocado (temporária ou permanentemente) para fora do território. Tais elementos biográficos retratados nas narrativas indicam que o protagonismo ocupado por ele se deu principalmente por ser uma pessoa escolarizada, algo incomum na terra indígena durante a época em que viveu.
Joel Braz sobre "O work nas fazendas é o que nossos velhos sabem Contar"
Autoria: Alessandro Santos da Cruz (UFMG)
Autoria: Este work pretende um trazer um pouco do modo como as pessoas eram tratadas no período em que faziam work nas fazendas de cacau dentro e próximo ao Território de Barra Velha, e de como esses fazendeiros tomaram posse do território. Sobre esse contexto realizei uma pesquisa junto a uma das lideranças que sempre esteve frente a retomadas a partir do ano 2000: Joel Braz. Quando indaguei dizendo que pretendia fazer uma entrevista sobre a presença indígena nas fazendas a resposta tornou explicita e reavivou a maneira de entender melhor esse processo. As primeiras palavras da liderança foi: “O work nas fazendas é o que nossos velhos sabem Contar”. É sobre esse assunto que pretendo tratar nessa comunicação oral.
Manoel Novais Tuxá, o Cacique da aldeia Tuxá Kiniopará – Ibotirama – Bahia
Autoria: Reginaldo Cordeiro dos Santos Junior (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais), Amanda de Jesus Souza dos Santos – Bacharel em Direito PUC-MG / Graduanda em Ciências Socioambientais pela UFMG
Autoria: Nascido em 07 de março de 1947 no município de Rodelas – Estado da Bahia, casado com Antônia Cruz Silva, pai de quatro filhos, o cacique Manoel Novais se tornou liderança ainda em Rodelas - BA com o advento da construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica. Diante de todas as injustiças vividas por seu povo frente a obra desenvolvimentista da UHE, que já dava como certa e líquida a inundação do território da velha Rodelas (Aldeia Mãe do Povo Tuxá), cacique Manoel Novais, em 1986, juntamente com 96 famílias da velha Rodelas seguiram rumo a Ibotirama – BA e lá fundaram a aldeia Tuxá Kiniopará. A conquista do território Kiniopará Tuxá se deu através de muitas lutas contra a empresa Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Um homem de espírito forte e protegido, como cita seu grande braço direito, o senhor José Sebastião da Silva. Uma liderança de coragem, que não cedia ao rogo dos poderosos para que cessasse a luta e que não mandava recado, como cita a maioria de seu povo em Ibotirama. Estas são partes introdutórias da saga Tuxá de Kiniopará representada por Manoel Novais que hoje, acamado, recorda, com emoção, suas lutas, amizades, conquistas e reencontros, como o reencontro emblemático com o Grande Mestre Roque Tuxá na década de 90, que ao chegar na aldeia Kiniopará beijou o chão dizendo em alto e bom tom que aquele território era o verdadeiro território Tuxá. Histórias que se cruzam e permeiam emoções, sentimentos, lutas, vitórias, afetos e alegrias fazem parte desse contexto de narrativas biográficas que estamos produzindo sobre os/as grandes lideranças do povo Tuxá, em diálogo com o projeto “Os Brasis e suas memórias: os indígenas na formação nacional” coordenado pelo professor João Pacheco de Oliveira UFRJ.
Maricota Apinajé: uma etnobiografia de uma mulher-patrimônio
Autoria: Lilian Castelo Branco de Lima (UEMASUL)
Autoria: Este work se dedica a apresentar a etnobiografia da indígena: Maricota Apinajé, uma mulher-patrimônio, reverenciada por todos de sua comunidade como uma detentora de saberes e fazeres que são considerados como uma riqueza de seu povo, uma protagonista que a muitas gerações tem “pego” vidas, no seu ofício de parteira, trançado experiências e comercializado um patrimônio material: côfos, esteiras, colares, saias, cujo valor vai agregando dinheiro e tradição, uma artesã que incorpora no seu saber-fazer elementos de outros povos com os quais convive/conviveu. Uma cantora que ressoa a voz de uma gente, canta a vida e a morte dos Apinajé, canta lutas e vitórias. Vale dizer que este artigo é um recorte da tese defendida pelo Programa de Pós-Graduação em Antropologia da Universidade Federal do Pará, cuja construção se deu lançando mão da metodologia da pesquisa etnográfica, em especial, em um abordagem etnobiográfica e etnofotográfica, guiadas pela teorização da protagonista dessa narrativa: Maricota, uma mulher de muitos saberes e inquestionável valor para os Apinajé. Uma liderança.
Memórias contadas e recontadas: refletindo a construção de histórias de vida a partir da biografia de Xicão Xukuru
Autoria: Kelly Emanuelly de Oliveira (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)
Autoria: Esta apresentação objetiva trazer elementos para reflexão das possibilidades de construção e apropriação de pesquisas baseadas em histórias de vida, tanto pela academia, quanto pelos grupos pesquisados. Para tanto, usaremos como base a biografia Mandaru: a história de vida do cacique Xicão Xukuru produzida como work de conclusão de curso em 2001 e reeditada posteriormente, em 2018, como artigo. A proposta é analisarmos como, a partir da criação e revisão desta narrativa em dois tempos (2001 e 2018) podemos perceber como a memória coletiva elabora e reelabora elementos de relevância, que enaltecem ou deixam de lado alguns fatos relacionados à história de vida. Xicão foi uma das mais importantes lideranças indígenas do país, sendo assassinado em 1998 por conta da luta por direitos indígenas. A opção de captação do percurso do cacique foi direcionada a um conceito de história de vida que procura compreender, a partir da biografia de um personagem, a comunidade na qual este insere, mais que apenas destacar os traços pessoais deste indivíduo. Dessa forma, procurei compreender, através da história de vida de Xicão Xukuru, o percurso de fortalecimento do povo Xukuru do Ororubá. O povo Xukuru do Ororubá tem 12,343 indivíduos com o território de 27.555 hectares situado nos municípios de Pesqueira (maior parte) e Poção, ambos no estado de Pernambuco, Brasil. Esse povo passou por um conflituoso processo de reivindicação territorial que foi iniciado no final da década de 1980, quando 88% de suas terras estavam nas mãos de não-índios. Nesta época a maior parte dos índios trabalhava em fazendas de grandes latifundiários que ocupavam o território indígena. O processo moroso de regularização fundiária, que demorou 22 anos, levou a uma exacerbação da violência, com os assassinatos de índios e apoiadores da comunidade. O cacique Xicão se insere nessa história como peça chave no processo de mobilização e fortalecimento da identidade étnica do povo Xukuru. Entrando como liderança em 1986, em um período de reabertura democrática no país, ele foi apoiado por organizações não governamentais e entidades civis como o Conselho Indigenista Missionário (CIMI). No ano seguinte passou a ser cacique e desenvolveu todo um processo de organização e mobilização social no grupo, integrando as aldeias e fortalecendo rituais. O texto feito em formato de grande reportagem em 2001 foi reapresentado ao atual cacique, Marcos Luidson de Araújo, filho do cacique Xicão, para revisão após quase duas décadas. Este, em diálogo, nos solicitou que fossem revisadas algumas falas e com isso nos levou a refletir sobre a construção e reconstrução de memórias, e de como as histórias de vida são elementos criados em diálogo com o tempo de espaço em que são colhidas e/ou recolhidas.
MULHER INDÍGENA: A Trajetória Protagonista de Joênia Wapichana Deputada Federal de Roraima.
Autoria: Regiane Dionizio Lima (UFRR - Universidade Federal de Roraima), Marcos Antonio Braga de Freitas
Autoria: O protagonismo da primeira mulher indígena em um espaço de poder, que antes era totalmente caracterizado como machista, patriarcal e dominado por homens. A política foi – e continua sendo – um dos principais espaços, em que o feminismo mais lutou para diminuir as diferenças em relação a representatividade, comparada ao gênero. Hoje a política passa a sentir a presença e sensibilidade feminina, graças aos direitos garantidos de voto e participação por meio de políticas públicas e cotas. A Câmara dos Deputados Federais hoje conta com 238 mulheres eleitas em um total de 513 deputados federais, dentre elas está a primeira mulher indígena eleita a um mandato legislativo. Joênia Batista de Carvalho – Joênia Wapichana –, protagonista nas lutas dos povos indígenas na Câmara dos Deputados, sua história de vida é carregada por trajetórias que legitimam sua bandeira de luta pelas mulheres e povos indígenas. O protagonismo das mulheres indígenas no campo da política deve-se em partes as influências dos movimentos de mulheres (de modo geral), e pela temática de gênero, na busca de igualdade e equidade de direitos. Por tanto, o presente estudo traz como ponto de partida a trajetória de Joênia Wapichana, como um exemplo de liderança nas lutas de gênero, por meio da construção de narrativas e histórias de vida da primeira mulher indígena eleita Deputada Federal de Roraima.
Mulheres indígenas em movimento: vida na e fora da aldeia
Autoria: Augusto César Rocha de Alencar (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: Este paper pretende traçar a biografia de Leonice Tupari, liderança indígena do Estado de Rondônia e como sua vida se articula com a do movimento das mulheres indígenas. Leonice é uma figura central da Associação das Guerreiras Indígenas de Rondônia (Agir) que conta com a participação de mulheres de mais de 50 etnias de todo o estado. O work procura analisar de que modo a biografia de Leonice nos ajuda a compreender um pouco mais sobre o crescente protagonismo das mulheres indígenas na política, tanto institucional como não-institucional. Assim, pretende-se discutir a própria noção do que é fazer política por e para essas mulheres de modo que a dimensão do gênero é essencial para o debate proposto. O work pretende, neste sentido, refletir sobre a gestão da vida na e fora da aldeia, uma vez que Leonice, cuja vida serve de centro para as reflexões, consiste num caso interessante em que os papeis de liderança demandam também um arranjo particular de seu tempo.
O proceso de construção das biografias de Caciques Potiguara e Comadre Guerreira do Norte da Paraiba
Autoria: María Elena Martínez Torres (UFPB - Universidade Federal da Paraíba)
Autoria: O work presenta o proceso de construção de biografias dos caciques das aldeas Potiguaras do litoral norte do Estado de Paraiba feitos en conjunto con un grupo de estudantes do PPGA da UFPB, e presenta con detalhe a biografia da Comadre Guerreira, Maria Soares, ex-cacique da Aldea Lagoa do Mato. Partiendo de um work mas profundo com a historia de vida da Comadre Guerreira e sumando as pequenas biografias dos caciques, se construir um breve panorama da historia de vida destas lideranças indigenas do nordeste Paraibano. Seus retos, seus logros, os problemas enfrentados, sua participação na vida comunitaria mostra como sua agencia faz diferença na luta pelo fortalecimento dos povos Potiguara da regioão. Asimesmo, as biografias se suman ao projeto Os Brasis para sua divulgacão, e se presentam as experiencias k tiveron os estudantes como parte da sua formação em Posgrado.
Tiago Marques entre os Salesianos: estratégias de protagonismo
Autoria: Carla Fabiana Costa Calarge (UFGD - Fundação Universidade Federal da Grande Dourados)
Autoria: O objetivo desta comunicação é analisar a emergência do índio bororo Akirio Kejewu, conhecido como na literatura antropológica como Tiago Marques, em meio a presença missionária salesiana na região do atual Mato Grosso a partir de 1894. Os salesianos produziram uma extensa bibliografia, tanto de works catedráticos, como relatos do que era desenvolvido nas missões e Tiago é apontado como um dos grandes interlocutores dos missionários. Na pesquisa, parte da tese doutoral da autora, surgem outras impressões que rompem com essencialização da filosofia salesiana em sua prática. Analisamos a interação entre os missionários e os jovens meninos indígenas que foram acolhidos nas missões. Akirio, que mais tarde seria conhecido como professor Tiago Marques Aipobureu, nasceu por volta de 1898 e faleceu em 1958. Era do clã Bokodori, metade Ecerae, e é considerado pelos salesianos um dos maiores interlocutores da cultura bororo, mas não colaborou apenas com os missionários. Nos documentos ele é representado tanto como uma figura de resistência como um exemplo de “assimilação”. Herbert Baldus que esteve entre os bororo na década de 1930, faz um “diagnóstico” das consequências da justaposição do cristianismo e da religião tradicional a partir do caso de Tiago Marques Aipobureu. O mesmo caso de “bororo marginal” é discutido por Florestan Fernandes posteriormente, em 1945. As nuances dessa trajetória de vida e o protagonismo assumido por Tiago após o período inicial de educação, assumindo o papel de interlocutor ativo da produção sobre esse povo, são as problemáticas da pesquisa. Apesar das evidentes contradições, o que se observa é que existe um espaço de troca, em que os sujeitos colonizados assumem papel ativo e reelaboram diferenças étnicas, ainda que o contexto seja hierarquicamente desigual para os indígenas. Essa breve comunicação evidencia a condição de excepcionalidade de Akirio em relação aos demais indígenas bororo com que os salesianos mantiveram contato, mas também chama a atenção para outros interlocutores indígenas que emergem no contexto.
Trajetória de aluno Waiwai no ensino superior brasileiro: aprendizado, estigmas e afetos
Autoria: Roque Yaxikma Wai Wai (UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais), Diego Darlisson dos Santos Sousa
Autoria: Eu sou do povo Wai Wai que mora no norte do Pará, dentro da terra indígena TI Trombetas Mapuera. Nasci na aldeia Pomkuru que fica acima da aldeia Mapuera, onde eu moro hoje em dia. Cresci e quando eu completei sete anos eu comecei aprender a escrever minha língua materna na escola. Tinha apenas professor indígena. Mas assim mesmo eu continuava estudando, indo à escola até concluir ensino infantil. Nessa época meus pais se mudaram de outra aldeia para Mapuera. Lá comecei a estudar novamente na escola. Eu sempre estudava na educação indígena dentro da aldeia e na 5º serie comecei aprender língua portuguesa. Eu não gostava muito de aprender essa língua porque ela era muito diferente da nossa língua. Eu estava acostumado a estudar nossa língua desde criança. Entrei no ensino médio em 2011. Eu tinha muita dificuldade de entender e escrever na língua portuguesa. No final do ano 2013, meu irmão me avisou pra eu vir fazer prova do PSEI na cidade de Santarém. Eu não sabia e nunca tinha ouvido falar antes de universidade. Quando cheguei na cidade pela primeira vez achei muito lindo o lugar aonde eu vim estudar. Logo quando cheguei um dia não consegui dormir porque ouvia bastante barulho da cidade e não me acostumei. Passei na prova. Fiquei muito feliz por ingressar na universidade, apesar de não saber muito o que iria estudar. Quando eu entrei na UFOPA no começo do ano 2014, no curso de Antropologia, na sala eu não entendia nada oque professor estava explicando. Fiquei triste quando eu estava desse jeito, pensava em desistir do meu curso porque eu não compreendia achava que não ia entender nada da língua portuguesa. Continuei estudando com o intuito de acumular e produzir conhecimento e pensando na possibilidade de alguma forma ajudar meu povo como tradutor, docente, lutar junto aos direitos indígenas. A conclusão desse curso é uma vitória não somente para mim, mas para todos do meu povo Wai Wai. Vivemos atualmente diversos povos falantes de diferentes línguas e culturas. E interessante para entender relações entre as sociedades indígenas. Eu quero abordar as histórias sobre as flautas Wai Wai e flautas de outros povos que moram rio Trombetas, mas sinto que ainda tenho imensa dificuldade com o estudo dos brancos (karaiwa yehcamhokatopo poko) eu como falante de língua portuguesa. Lutei cinco anos dentro da Ufopa, para aprender a entender junto aos acadêmicos não indígenas, ouvia, olhava as discussões dos colegas sobre os texto mas não entendia nada quando os professores explicavam as obras dos autores. Passei todos os dias, semanas, assim sofrido. Depois de um ano encontrei dois amigos que se tornaram próximos e não apenas colegas de sala, que faziam o mesmo curso. Sempre eu me encontrava com eles, eles me explicam os textos.
Zé Zabel Perna-de-Pau: perspectiva histórico-antropológica sobre uma tradição oral tapeba
Autoria: Henyo Trindade Barretto Filho (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: Trata-se de (re)construir, a partir de testemunhos orais de índios e não índios e de algum repertório documental, a trajetória de um importante líder indígena do povo tapeba, que se destacou na primeira metade do século XX: José “da Isabel” Alves dos Reis, ou Zé Zabel Perna-de-Pau. Baseado no repertório conceitual e metodológico proposto por Vansina (1965) e inspirado em obras etnobiográficas (Albert, 2015) e na noção de “biografia social” (Werbner apud Santoyo, 2006), trato o conjunto de narrativas sobre Perna-de-Pau como uma tradição oral. Ao (re)construir a sua trajetória – características físicas e condutas pessoais, talentos e habilidades, redes de parentesco e de relações estabelecidas, estilo e alcance de liderança, e enraizamento territorial – pretendo expor aspectos importantes dos modos de vida tapeba e suas expressões territoriais na primeira metade do século XX, e certas dimensões de como se pensam como povo distinto e vivem no território que lutam para reconquistar.
“É as histórias da nossa raiz”: reflexões sobre narrativas (d)e trajetórias sateré-mawé nas cidades amazônicas
Autoria: José Agnello Alves Dias de Andrade (FGV-EAESP - Escola de Administração de Empresas de São Paulo)
Autoria: Nesta apresentação exponho algumas reflexões, realizadas em minha tese de doutorado, a partir de minha interlocução com indígenas Sateré-Mawé habituados a levar a vida entre constantes deslocamentos pelas aldeias e cidades na região amazônica. Trago à discussão alguns elementos a mim apresentados por meus interlocutores em suas narrativas relacionadas às trajetórias de distintos coletivos de parentes sateré-mawé, tomadas como parte do conjunto de experiências acionadas para a construção sua experiência vivida. As narrativas de meus interlocutores sobre os caminhos que levaram seus antepassados e a si próprios a “andar por aí” e a habitar as cidades, de modo geral, reencenavam trajetórias dando-lhes tons épicos, enfatizando o enfrentamento de situações de exploração, humilhação, preconceito, adoecimento e perseverando sobre condições de pobreza, fome, desabrigo e opressão. Frente a esta realidade inescapável, não seria difícil, portanto, realizar uma descrição destas trajetórias de vida focadas nos eventos e sentimentos que fizeram e fazem da vida destas personagens uma “luta”. Todavia não são tais episódios que dão o tom a estas narrativas, estando eles submetidos aos modos pelos quais seus personagens agiram de forma a dar continuidade a uma “caminhada” cuja continuidade era vista como um atestado da “força” do povo sateré-mawé e que lhes possibilitava, sem pestanejarem, reivindicarem para si a alcunha de “guerreiros”. Tal diferença de perspectiva, ênfase e enquadramento, que acredito dar o principal tom das narrativas históricas que meus interlocutores contaram, desdobram-se na percepção de que o tom implicado nessas narrativas presta-se, também, a alocar o foco da agência que leva de um evento a outro pairar sob as ações e intenções de seus personagens indígenas. Longe de qualquer sugestão de dirimir a importância de episódios de sofrimento experiênciados por meus interlocutores, ou de negar os efeitos de processos macro-políticos-econômicos característicos ao projeto colonialista de inserção das populações indígenas em posição subalternas na esfera das relações capitalistas - sendo sua migração para as cidades uma de suas atualizações -, imprimir às suas narrativas histórias está tonalidade enquanto fundamento seria escapar à sua própria apreensão do processo histórico em que estariam envolvidos, o que operaria um silenciamento do protagonismo que os Sateré-Mawé apontam reivindicar ao atribuírem sentidos – e objetivos - às transformações pelas quais se vêem passando ao se engajar de modo ativo – mesmo que às vezes tido como inescapável – com os agentes, coisas, saberes, paisagens e modos de ser/fazer que, a princípio, seriam característicos ao mundo dos brancos.
De subalternizados a protagonistas de sua própria História: Subsídios para uma educação das relações étnico-raciais
Autoria: Izadora de Souza Vieira (UFPB - Universidade Federal da Paraíba), Maria Clara Lima de Menezes, graduanda em Ciências Sociais (bacharelado) na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), voluntária, claraamenezess@gmail.com.
Autoria: O projeto Trajetórias Indígenas como caminho para educação das relações étnico-Raciais na Paraíba tem como proposta central fornecer subsídios para formação de estudantes de graduação da licenciatura, estudantes do ensino básico e demais integrantes da comunidade universitária. Além disso, busca produzir instrumentos educacionais para a reflexão do ser indígena e não indígena por meio dos quais seja possível desconstruir imagens romantizadas e distorcidas da realidade sócio-cultural desses grupos. Através da produção de biografias pretéritas de pessoas indígenas, pretende-se criar um conjunto de elementos que possibilitem a compreensão dessas populações a partir de escolhas político sociais e não por ideias montadas sob a égide de um idealismo cristalizado e colonial desses povos. Além disso, intencionamos a revisão das relações entre indígenas e não indígenas, construindo informações de natureza histórico cultural que permita apresentar não só a participação dos indígenas na história da Paraíba, mas a presença das populações indígenas no Brasil atual. Como resultado até o momento, temos 8 (oito) narrativas biográficas produzidas - Francisco Rodelas (Índio Rodelas), Pedro Poty, Felipe Camarão, Guiragibe, Antônio Paraupaba, Tibiriçá e Zorobabé. Adotamos a metodologia documental bibliográfica, identificando documentos históricos, dados quantitativos, narrativas e imagens. Os acervos documentais consultados estão localizados em instituições de memória da Paraíba, como o IHGPB (Instituto Histórico e Geográfico da Paraíba), o acervo Histórico da Paraíba, a Fundação Casa José Américo, como também, em acervos digitais, dentre eles, o projeto Resgate, os relatos de presidentes da Província e bibliotecas especializadas. A partir da construção de narrativas biográficas de lideranças indígenas, pretendemos construir imagens e informações que permitam compreender diversos momentos históricos e as alianças e conflitos estabelecidos entre diversos grupos, bem como oferecer uma leitura crítica dos materiais escritos e imagéticos que auxiliaram na reprodução de imagens deturpadas sobre os povos indígenas e que foram atualizadas ao longo do tempo, imagens que foram elaboradas e utilizadas para justificar a colonização e seus diversos instrumentos.
História e Memória do cacique João Grande/Nicué como potência de luta pela terra
Autoria: Guilherme Maffei Brandalise (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Clementine Marechal Iury Fontes dos Passos Maurício Salvador
Autoria: O cacique João Grande/Nicué foi uma liderança Kaingang/Coroado que até meados do século XIX defendeu o território conhecido hoje como Serra Gaúcha de diversas frentes colonizadoras. Sua biografia é diferente de outros caciques, como o Cacique Doble, considerado hoje pela maioria dos Kaingang como um “colaboracionista” por prestar serviços militares ao Império, prejudicando dessa maneira, a resistência de outros grupos indígenas. O grupo de João Grande foi atacado em 1853, e seus descendentes se espalharam por diversas aldeias. A partir do final do século XX, estes começaram a voltar para esses territórios, tendo na memória, a lembrança da resistência de Nicué fortalecendo e afirmando sua luta pela terra. Desde 2008, um grupo de descendentes do João Grande está reivindicando o território que antigamente abrigava a aldeia principal deste cacique. Esse grupo está hoje em um processo de retomada deste território que se encontra sob posse do Instituto Chico Mendes (ICMbio) e que recentemente foi colocado na lista de concessões para iniciativa privada por parte do Ministério do Meio Ambiente, o que torna sua luta ainda mais difícil e urgente embora tenha-se evidências materiais e imateriais da presença indígena na região desde tempos imemoriais. A partir de fontes documentais históricas e de relatos orais, pretendemos narrar a vida e a morte de João Grande na história da região, partindo de sua relação conflituosa com o Estado, que se encontra também presente na memória dos seus descendentes atuais. Esses elementos poderão nos ajudar a entender a apropriação dessa memória combativa como potência de luta e resistência notadamente na Terra Indígena Konhún Mág, em Canela, que encontra-se atualmente em disputa judicial. Utilizando os métodos da etnohistória, da antropologia histórica e da história oral, nosso objetivo é salientar a importância do protagonismo dos grupos Kaingang para a construção da região, relacionada hoje nos imaginários regionais como sendo de colonização italiana. Ficaremos atentos aos apagamentos da história indígena como fontes de legitimação de um discurso histórico eurocêntrico.