MR 025. Neoliberalismo, Estado e direitos: aproximações a partir de grandes corporações

Coordenador(es):
Graciela Froehlich (UnB)

Participantes:
Rosana Maria Nascimento Castro Silva (IMS-UERJ/DAN-UnB)
Bianca de Jesús Silva (Unicamp)
Natacha Simei Leal (Univasf)
Debatedor/a:
Thais Regina Mantovanelli da Silva (UFSCar)

Presentes de modo geralmente suplementar ou secundário em diversas etnografias contemporâneas, as grandes corporações, formadas por conglomerados empresariais multinacionais, apresentam-se como objeto de interesse crescente em trabalhos antropológicos. A fim de adensar reflexões baseadas em pesquisas que identifiquem e problematizem as articulações e os efeitos das relações entre grandes empresas e políticas estatais, esta mesa se propõe a colocar no centro de suas reflexões a atuação de corporações de diferentes ramos no Brasil. Para o debate, nos concentraremos em trabalhos etnográficos sobre a atuação de empresas dos ramos da produção de carne, de medicamentos e de extração de minérios. Tais setores anunciam movimentações financeiras em ordens bilionárias: o minério de ferro e a carne despontam na lista dos líderes das exportações brasileiras; enquanto indústrias farmacêuticas multinacionais identificam o Brasil como grande mercado potencial para a realização de pesquisas. Propomo-nos, portanto, a entender modos dinâmicos de funcionamento e produção de lucro desses setores, suas diversificadas articulações com o Estado e suas políticas de mitigação de possibilidades de vida e direitos de populações locais, esforçando-nos, finalmente, a pensar tais estratégias, alianças e discursos no horizonte analítico proporcionado pela noção de alternativas infernais (Stengers & Pignarre, 2005).

Resumos submetidos
Das Políticas da Carne. Notas etnográficas sobre Estado e Mercado Agropecuário no Brasil.
Autoria: Natacha Simei Leal (Univasf)
Autoria:

Em 2017 uma operação da Polícia Federal deflagrou que um grande conglomerado empresarial comercializava carne adulterada. Tal fato, um “escândalo” segundo a imprensa nacional e estrangeira, produziu alguns efeitos: 1) reduziu o valor de mercado da “maior empresa de proteína animal do mundo”; 2)lançou dúvidas sobre a reputação de uma indústria que, segundo produtores rurais, empresários e políticos, é parte do “esteio” da economia brasileira. Mais ainda: explicitou a intrínseca aliança entre Mercado, Estado e Política Eleitoral no Brasil. Pela descrição da trajetória de um grande conglomerado empresarial, esta comunicação pretende produzir uma etnografia sobre aspectos da consolidação e ascensão da indústria da carne nacional. Anseia, assim, descrever um certo projeto político e econômico, indissociável de mecanismos de circulação de influências entre entes públicos e privados.

Desastres ligados à grande mineração - Os casos dos rompimentos das barragens da Samarco e da Vale
Autoria: Bianca de Jesús Silva (Unicamp)
Autoria:

Os rompimentos das barragens de rejeitos de mineração da Samarco em 2015 e da Vale em 2019, localizadas em Minas Gerais, causaram uma série de desdobramentos para as regiões atingidas, devido ao espalhamento dos rejeitos nos rios Doce e Paraopeba. Os materiais compensados nas minas foram carrearados para outras localidades o que gerou diversos problemas socioambientais. Os desastre tem mais em comum do que o estado nos quais os rompimentos ocorreram, as empresas fazem parte de uma complexa rede de mineração. Dessa forma, busca-se orientar as discussões sobre os rompimentos a partir das mudanças propostas por setores diversos das sociedade após o rompimento da barragem em 2015. E a partir da exposição dessas propostas refletir sobre os processos no qual o neoliberalismo se insere enquanto um produtor de desastres no caso da mineração.

Lógicas neoliberais, éticas experimentais: reflexões sobre a pesquisa farmacêutica com seres humanos no Brasil
Autoria: Rosana Maria Nascimento Castro Silva (IMS-UERJ/DAN-UnB)
Autoria:

Na competição pela atração de estudos clínicos de laboratórios farmacêuticos multinacionais, o Brasil tem despontado como local de interesse por razões como: haver aqui grupos populacionais com diferentes doenças, sujeitos procurarem os experimentos como uma alternativa de tratamento e as autoridades demonstrarem disposição em tornar o ambiente regulatório mais amistoso para as empresas. Acrescentam-se as recentes ações de grupos de pessoas com doenças raras, reivindicando normativas éticas mais favoráveis aos laboratórios farmacêuticos, com o objetivo de garantir o afluxo de pesquisas nas quais sua participação pode ser condição de sobrevida. Esta comunicação busca refletir sobre as economias de risco desenhadas entre precariedades no acesso à saúde, empreendimentos experimentais e desafios vivenciados por sujeitos cujas vidas estão visceralmente articuladas ao mercado.