Cinque Terre
SE 04. Estudos Etnográficos em Educação
Rodrigo Rosistolato (Universidade Federal do Rio de Janeiro) - Coordenador/a, Neusa Maria Mendes de Gusmão (Universidade Estadual de Campinas) - Participante, Amurabi Pereira de Oliveira (Universidade Federal de Santa Catarina) - Participante, Nalayne Mendonça Pinto (UFRRJ) - Participante, Ceres Karam Brum (UFSM) - Participante, Tânia Dauster Magalhães e Silva (PUC-Rio) - Participante, Nazareth Salutto (Universidade Federal Fluminense) - Participante, Guillermo Vega Sanabria (Universidade Federal de Viçosa) - Participante
Antropologia e Educação são áreas que têm desenvolvido diálogos frutíferos tanto no Brasil quanto no cenário internacional. Há, como em qualquer zona de fronteira, uma série de debates e embates sobre a relação entre as duas áreas. Discute-se até mesmo se o ideal seria pensar em uma antropologia da educação, em que os fenômenos educacionais seriam tratados como “objetos” da investigação antropológica; ou se deveríamos trabalhar com a noção de antropologia e educação, reconhecendo as especificidades de cada área e pensando a partir de uma abordagem interdisciplinar. Discussões semelhantes ocorrem quando pensamos a pertinência e a eficácia de etnografias em contextos educacionais. Existem argumentações plenamente reconhecidas no campo educacional sobre uma suposta impossibilidade de realização de etnografias em educação. Por outro lado, antropólogos que trabalham com pesquisa educacional defendem veementemente tanto a viabilidade quanto a pertinência de etnografias sobre os processos educacionais. Ao considerar esses debates e disputas presentes na produção de conhecimento sobre a educação, o Simpósio tem dois objetivos. O primeiro é fomentar o diálogo e a troca de experiências entre pesquisadores que têm realizado estudos etnográficos em educação. O segundo, discutir questões teóricas e metodológicas relacionadas às etnografias em contextos educacionais, enfatizando a pertinência e a eficácia da etnografia enquanto forma de produção de conhecimento sobre a educação.
Resumos submetidos
As casas do Brasil na Europa: apontamentos sobre antropologia, etnografia e educação
Autoria: Ceres Karam Brum
Autoria: O nome Casa do Brasil remete às residências estudantis que foram construídas na década de 1950-60 com o objetivo de fomentar a formação internacional dos pesquisadores brasileiros. Essas casas se constituem em monumentos responsáveis pela disseminação de imagens modernistas do Brasil na Europa. Seus principais expoentes são a Maison du Brésil de Paris e a Casa do Brasil de Madri. Por seu turno, o nome "Casa do Brasil", desde a década de 1990, vem sendo utilizado para nomear associações que apoiam imigrantes brasileiros na Europa como demonstram as Casas do Brasil de Lisboa e Munique. Este work deseja refletir sobre essas casas como “territórios educacionais brasileiros" na Europa a partir de um percurso de pesquisa que articula os desafios da realização de um work de pesquisa histórico e etnográfico que coteja as relações entre antropologia, etnografia e educação.
Da apologia da diversidade à diversidade de conflitos: ensino de antropologia, etnografia e desafios didáticos em novos cenários políticos
Autoria: Guillermo Vega Sanabria
Autoria: A discussão retoma o mote de que o objetivo do ensino de antropologia é desconstruir, relativizar, desnaturalizar ou problematizar o senso comum (dos outros). Além de ter se tornado um chavão, esse mote privilegia uma versão apologética e virtuosa do nosso work como professores. Daí que as reflexões sobre o ensino da disciplina pouco contemplem a dificuldade, o fracasso e, sobretudo, o conflito, uma noção tão cara às análises antropológicas clássicas. Longe de negar o potencial benefício do ensino da disciplina, trata-se aqui de ponderar suas possibilidades e limites, à luz dos desafios colocados aos professores de antropologia por realidades escolares específicas. A reflexão sobre e a prática da etnografia tanto podem contribuir para os estudantes entenderem o que é antropologia “na prática” quanto pode ajudar o professor da disciplina a conhecer a realidade em que faz seu work.
É possível realizar etnografias em educação ? (teoria e método numa experiência de ensino, pesquisa e orientação)
Autoria: Tânia Dauster Magalhães e Silva
Autoria: Esta apresentação pretende afirmar a relevância e a possibilidade de realização de etnografias na área de educação. A argumentação fundamenta-se numa experiência de work iniciada no final dos anos 80, estendendo-se durante a primeira década do século XXI, situada no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da PUC-Rio. Em relação a esta área (Antropologia e Educação ou Antropologia da Educação) considero que existe um imenso desgaste no uso do termo "etnografia", tendo em vista interpretações que banalizam e reduzem seu potencial como prática de investigação do ofício antropológico, basicamente um modo de conhecer, uma epistemologia, que incorpora teoria e prática. Isto significa que não basta fazer work de campo, observações, entrevistas e registros num "caderno de campo" para se ter uma etnografia.
Infância, Experiência e Etnografia na Educação Infantil
Autoria: Nazareth Salutto, Anelise Monteiro do Nascimento Nazareth Salutto
Autoria: A mesa apresenta e discute parte dos resultados de uma pesquisa realizada no campo da educação que teve como objetivo investigar a experiência da infância de crianças matriculadas em instituições educacionais. O campo empírico foi construído a partir do banco de dados referente à observação em vinte e uma instituições de Educação Infantil de um grande centro urbano. O referencial teórico, com base nos estudos da sociologia e da antropologia da infância, articula esses dois campos que se dedicam ao conhecimento das crianças e suas culturas. Assim, ao eleger as crianças como sujeitos de investigação, este artigo pretende dar visibilidade ao que elas produzem em interação quando optamos pela etnografia como estratégia metodológica.
Intercorrências: fazeres etnográficos na antropologia e na educação
Autoria: Neusa Maria Mendes de Gusmão
Autoria: Intercorrência é entendida no presente texto como série de alternativas que se apresentam no fazer etnográfico de diferentes pesquisadores. A discussão apoia-se no fato de que as escolhas teóricas possibilitam uma diversidade de resultados, porque são dependentes dos princípios e das ferramentas adotadas no fazer científico. Quais são tais princípios e ferramentas? Quais suas possibilidades e quais seus limites? Tais perguntas orientam a releitura de três dossiês com a temática antropologia da educação e tem por objetivo demonstrar os caminhos trilhados por antropólogos e pesquisadores em educação quando adotam a etnografia no âmbito de suas pesquisas.
Notas de pesquisa sobre dimensões dos conflitos, moralidades e interações em espaços escolares
Autoria: Nalayne Mendonça Pinto
Autoria: A proposta será apresentar resultados da pesquisa realizada em espaços escolares sobre a percepção dos alunos e docentes em situações de conflitos e violências. Importa considerar as narrativas e experiências relatadas pelos atores; como operam formas de classificação e modos de justificação das crises, disputas e desvios. Os jovens apontam a escola como local da diversidade, e assim espaço privilegiado para a exposição das diferenças. Observa-se o uso da linguagem acusatória, do insulto moral e da ‘zoação’ como instrumentos para produção dos conflitos e violências. No mesmo sentido os docentes relatam como situações corriqueiras são estopim para brigas verbais e casos de violência física. Assim, importa olhar a sociação em escolas como espaço de disputas produzindo sociabilidades, onde dispositivos morais da ‘zoação’ são potencializados como gramáticas da sociabilidade juvenil.
Uma etnografia do ensino por meio de arquivos
Autoria: Amurabi Pereira de Oliveira
Autoria: Pensar a etnografia nos remete, quase que inevitavelmente, ao sentimento de "estar lá", de realizar um work de campo "a la Malinowski". Compreendo, no entanto, que a etnografia pode ser realizada de outras maneiras, sendo possível pensarmos uma etnografia do arquivo. Nas pesquisas que tenho realizado nos últimos anos tenho buscado revisitar a história da antropologia a partir de outra perspectiva, não partindo das grandes obras, mas sim das rotinas de ensino e de aprendizagem desta ciência, o que é realizado essencialmente por meio de uma etnografia de arquivo. No presente work busco analisar as possibilidades de pensarmos uma etnografia do ensino a partir de arquivos, tomando como fio condutor os "cadernos de aula" do antropólogo catarinense Oswaldo Cabral (1903-1978), que fundou a primeira cátedra de antropologia cultural em Florianópolis.