Cinque Terre
GT 049. Ofícios e profissões: memória social, identidades e construção de espaços de sociabilidade
Fernanda Valli Nummer (UFPA) - Coordenador/a, Maria Cristina Caminha de Castilhos França (IFRS) - Coordenador/a
Este Grupo de Trabalho está em sua 4ª edição e as discussões têm trazido uma enriquecedora diversidade de questões associadas a temas como memória, sociabilidade e identidade no mundo trabalho. De forma mais ampla, os debates entre sociologia e antropologia sobre ofícios e profissões têm aprimorado as discussões sobre as diversidades culturais reveladas por cada participante ao relatar sua experiência de trabalho de campo. Recursos metodológicos utilizados nas etnografias diante da multiplicidade de estudos têm também proporcionado aprendizados diversos. Em 2015, publicamos o primeiro livro, resultados destas discussões: “Entre ofícios e profissões: reflexões antropológicas”. Para 2018, serão privilegiados estudos etnográficos em que ofícios e profissões são analisados não apenas como funções sociais especializadas que as pessoas desempenham de acordo com as necessidades de outras, mas sim como uma das múltiplas dimensões das identidades dos sujeitos. Sejam dimensões concebidas ao longo das activitys produtivas ou sob processo educativo desenvolvido através da memória social das comunidades de saber, que resulta em transmissão e legitimação, e ambas sendo capazes de gerar esquemas de percepção e ação no mundo social. Nosso objetivo para a RBA é que os trabalhos aprovados e que tenham os textos completos enviados para o evento sejam pré-selecionados para um segundo volume do livro e que os debates que já foram gerados nas outras edições sejam representados nessa Reunião.
Resumos submetidos
A Construção das Feminilidades nos discursos das Agentes Penitenciárias do Instituto Penal de Campo Grande (IPCG)
Autoria: Daniel Attianesi de Lima
Autoria: Este work busca investigar o espaço de sociabilidade das agentes penitenciárias e as percepções delas sobre a relação entre identidade profissional e a construção de feminilidades no Instituto Penal de Campo Grande (IPCG). Essa proposta é parte de uma reflexão maior, presente na pesquisa de mestrado em desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (PPGAS/UFMS). No work desenvolvido no mestrado, o foco é a relação das masculinidades com violência entre os internos do IPCG. Dessa forma, me interessei pela construção das feminilidades das agentes penitenciárias a partir, tanto de sua profissão, quanto do local de work, ambos considerados hiper-masculinizados a partir do senso comum e até mesmo entre os próprios agentes penitenciários. A partir do work etnográfico, com a observação participante, conversas informais e entrevistas semiestruturadas, realizei idas semanais ao estabelecimento penal entre novembro de 2017 e abril de 2018. Busquei detalhar o cotidiano dessas vidas que por ali passam, as tessituras que constituem as identidades de gênero das agentes que ali estão, bem como seus agenciamentos em torno de diversas formas de construções das feminilidades e suas compreensões sobre as questões de gênero do próprio IPCG. Assim, essa proposta de comunicação realiza uma análise das percepções das agentes penitenciárias do IPCG sobre a relação entre as ideias de feminilidades e o work decorrente de suas profissões enquanto agentes, que estão presentes em suas narrativas e em seus imaginários. Entre os principais desafios dessa pesquisa, está a dificuldade da realização da pesquisa em um ambiente como a prisão. Nesse sentido, as primeiras questões do work buscam pensar o campo que a profissão de agente penitenciário ajuda a constituir. Para tanto, o socorro teórico é em Erving Goffman e Michel Foucault. Em um segundo momento, busca-se compreender como se dá a construção da identidade profissional dos agentes, a partir da obra de Pedro Bodê (2005) e como a profissão pode possuir um caráter estigmatizado, tal como os detentos possuem. Algo como certa “contaminação”, no sentido goffmiano, da identidade profissional dos agentes. Por fim, a partir das agentes penitenciárias, há uma discussão sobre a construção social das feminilidades, privilegiando os discursos de si, para si e em si, assim como as experiências desses sujeitos. Para tanto, serão utilizadas as ideias de gênero enquanto performance de Judith Butler.
Atendimentos, aprendizagem e sociabilidade- A esfera íntima do Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Pelotas-RS
Autoria: Mateus Cordenonsi Bonez
Autoria: O presente texto é parte de uma pesquisa de mestrado em Ciências Sociais e diz respeito a uma etnografia multisituada realizada em 2017 com mulheres trabalhadoras domésticas ligadas ao sindicato da categoria em Pelotas-RS. Minhas inspirações teórico-metodológicas balizaram um esforço investigativo para a compreensão do desenvolvimento de práticas cotidianas, mais especificamente, práticas cotidianas de resistência. Dentro disso, a observação participante direcionou-se para o cotidiano do sindicato, onde reuniões internas, atendimentos ao público e confraternizações revelaram um universo que apresenta práticas de resistência oriundas de uma relação indissociável existente entre militância, sociabilidade e família. Assim, apresento os atendimentos diários onde acontecem rescisões de salários, bem como diversas abordagens que ajudam muitas mulheres da região a se situarem em um local mais adequado para o alcance de direitos trabalhistas, sociais e políticos essenciais para o campo do serviço doméstico. Discorro também sobre o uso dos materiais gráficos para a comunicação e aprendizagem entre as diretoras sindicais. Os atendimentos mostraram que existe um work de cuidado que dita o ritmo de várias ações e revela a destreza e o esmero, com o uso do humor, das diretoras sindicais. Ao mesmo, este contexto revelou que muitas mulheres que buscaram contato para algum serviço do sindicato ainda vivem na informalidade, mesmo com a preocupação sindical e com as recentes conquistas por direitos. Também apresentaram-se como centrais para a comunicação e para a aprendizagem os panfletos em seus usos cotidianos. Eles formam um canal facilitador que, ao mesmo tempo em que contém uma narrativa ampla e nacional do movimento, ensinam e deixam mais claras situações, direitos, leis, oportunidades, dentre outras coisas, que rondam a atmosfera laboral e sindical do serviço doméstico brasileiro. Não somente em protestos ou em outras ações comuns aos sindicatos, mas também nos atendimentos e nas reuniões corriqueiras, a comunicação e o aprendizado via materiais gráficos se mostraram como práticas de resistência das diretoras de Pelotas. Por fim, o cotidiano do sindicato, com os atendimentos e as reuniões organizativas do grupo, apontou para um aspecto onde a família é, dentro de uma rede de sociabilidade e militância, crucial para a manutenção de diversas atividades. Eventos como almoços, bingos e jantares, sustentam-se somente devido ao papel da família nas relações de sociabilidade contidas na vida ordinária do sindicato. As relações de sociabilidade e a família das diretoras sindicais são condições para que se mantenham atividades básicas do sindicato e deslocam-se entre o lazer e o âmbito burocrático.
Enraizamentos, Crises, Durações: Etnografia dos ritmos temporais dramáticos da profissão ferroviária no Sul do Brasil
Autoria: Guillermo Stefano Rosa Gómez
Autoria: Neste texto apresento os trajetos e resultados de uma pesquisa antropológica sobre a memória coletiva do work ferroviário, realizada na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil, entre 2015 e 2018. A etnografia se fundamentou na interlocução com trabalhadores/as ferroviários/as aposentados/as e suas famílias e teve como enfoque interpretativo “narrativas do si mesmo”. A investigação integra o campo temático da Antropologia Urbana e da Imagem e da Antropologia do work e manteve, como principal problemática, a crise do transporte ferroviário no Brasil, que tem ápice na privatização da Rede Ferroviária Federal, ao longo da década de 1990. Sendo a memória a principal chave para entender esta drástica transformação, interessou-me as maneiras pelas quais os sujeitos fazem durar no tempo a relação de pertencimento com o mundo do work. Três eixos organizam um grupo de olhares sobre essas questões: a) Enraizamentos: discuto como se construíram os vínculos de proximidade dos e das trabalhadores/as com sua profissão, dando atenção especial às narrativas de inserção e as políticas institucionais de manutenção dos funcionários e de envolvimento do “mundo privado”, para a constituição de um “modo de vida” ferroviário. Também são importantes os elementos laborais subjetivos que perduram nas narrativas dos aposentados: o esforço físico do work braçal, as histórias do mundo rural tangenciando o urbano, a burocracia e a relação de proximidade com locomotivas são características que moldam a especificidade da ferrovia enquanto profissão e identidade. b) Crises: dado que o setor ferroviário brasileiro foi sendo progressivamente descontinuado, com políticas nacionais de longa duração que priorizaram o transporte rodoviário, procurei conhecer como os sujeitos lidavam narrativa e cotidianamente com esse processo, que resultou em abandono ou remoção de diversas linhas férreas, constante redução de pessoal, falta de investimento para renovação de máquinas e ferramentas, etc. A crise se faz visível nas ruínas dos espaços de vida e work, no desemprego ou aposentadoria prematura, na desautorização pública da profissão. Busco demonstrar que os interlocutores, ao fazerem menção a esses elementos, mobilizam rítmicas particulares no ato de entretecer suas histórias, que denominei de “narrativas da crise”. c) Durações: no eixo final, exponho meu acompanhamento etnográfico de diferentes projetos exercidos pelos aposentados/as, visando a manutenção da memória coletiva ferroviária. Importaram tanto as singelas poéticas cotidianas dos acervos fotográficos pessoais e dos comentários e lembranças afetivas na internet como participações e protagonismos em exposições fotográficas, memoriais auto-organizados e em projetos universitários e do poder público.
Família, criatividade e prazer no ofício: etnografia da aprendizagem em uma marcenaria na Amazônia
Autoria: Luiz Francisco Loureiro, Luiz Francisco Loureiro, Universidade do Estado do Amazonas Ana Claudeise Silva do Nascimento, Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá Marilia de Jesus da Silva e Sousa, Instituto de De
Autoria: A marcenaria é a prática social que reúne técnicas e sistemas de significados dos marceneiros, artesãos que elaboram objetos de madeira. Meio da perpetuação e da renovação de grupos de praticantes e de técnicas empregadas, como sugerem J. Lave e E. Wenger, o aprendizado também é a progressão, da periferia para o centro, de indivíduos no interior destes grupos. Este artigo é resultado de um estudo etnográfico que buscou descrever e interpretar o aprendizado como meio de reprodução do ofício de marceneiro. A partir de questionamentos como quais são as características do contexto social de desenvolvimento da prática e como se dão as relações interpessoais nele desenvolvidas, foram observadas três jornadas de work de um grupo de marceneiros. O caso tomado como exemplo é o de uma oficina localizada no município de Tefé, Amazonas, localidade onde há tanto situações favoráveis ao exercício da prática – como a oferta de madeira de boa qualidade e a existência de grupos de praticantes bem estabelecidos – quanto situações desfavoráveis para sua sobrevivência – como o crescimento e a modernização do mercado moveleiro local e a falta de apoio aos artesãos. O grupo de praticantes observado é composto a partir da figura central do dono da oficina, um filho e um irmão seus, e um funcionário comissionado, configurando um sistema de relações simultaneamente familiar e profissional. A prática da marcenaria revelou-se marcada principalmente por uma forte característica familiar, pela centralidade da criatividade e pelo fato de ser considerada uma atividade que, a despeito da capacidade de geração de renda, dá prazer a seus praticantes. Através do aprendizado, aqueles artesãos, outrora ocupados em atividades distintas da marcenaria, adquiriram experiência e autonomia para o desenvolvimento de sua prática. O diálogo constante observado entre os praticantes evidenciou a importância da criatividade e dos improvisos, capacidades que podem ser adquiridas com a experiência ou no convívio com indivíduos mais experientes. Além disso, foi possível identificar o papel decisivo que tem o interesse, quer dizer, o engajamento na atividade, para a formação ou a progressão de indivíduos na prática da marcenaria. A reprodução social desta prática está, portanto, baseada no aprendizado. O que se aprende neste grupo de praticantes é, para além de técnicas, uma forte identificação com o ofício de marceneiro. O aprendizado proporciona a reprodução da marcenaria na medida em que fornece aos indivíduos grupos de praticantes nos quais circulam técnicas e são elaborados significados sociais para o ofício de marceneiro. Quer dizer, o reconhecimento dos indivíduos como praticantes da marcenaria e a compreensão de como esta prática é entendida pela sociedade.
Jogo de Titular: questões de gênero em memoriais acadêmicos de titularidade de antropólogas (USP/UNICAMP, 2000-2015)
Autoria: Wilton Carlos Lima da Silva
Autoria: As fontes primárias sobre a própria vida oferecem não só a dimensão das experiências pessoais de um sujeito em suas ações cotidianas, em um relato verídico, mas também se apresentam como uma representação do indivíduo e de seus contextos que devem ser entendidos para além do contraste verdade-mentira ou exatidão-inexatidão, mas como uma tipologia dos gêneros, uma perspectiva específica, reflexo de situações de construção das representações de si e do mundo, estratégias de autorrepresentação e autofiguração, afirmação de identidades e de outras dimensões que se constroem na escrita de si. O estudo das narrativas de vida de educadores tem sido abordado por uma extensa diversidade de entradas e terminologias de pesquisa, sintoma de uma flutuação terminológica em torno das histórias e relatos de vida, biografias e autobiografias que refletem a riqueza e a dificuldade de se expressar distintas vivências e temporalidades. Buscamos estudar a partir de memoriais acadêmicos, entendidos enquanto relatos críticos da trajetória cultural e intelectual de um docente universitário, exigido em concursos públicos de progressão de carreira como um exercício de rememoração, representando tanto a memória individual de uma pessoa no interior de uma carreira profissional como parte da memória institucional do ensino superior no país. O tipo de escrita autorreflexiva que caracteriza o memorial, mesmo delimitada pelas determinações burocráticas dos editais que buscam a homogeneização, a racionalização e a formatação da narrativa autobiográfica, se traduz em rico material para uma investigação qualitativa capaz de oferecer bases para reflexões sobre os ethos discursivos de cada campo profissional, as práticas da profissão docente, os relacionamentos intragrupos (com os pares), as relações intergrupos, envolvendo o diálogo com instâncias administrativas educacionais e com os alunos em sala de aula e em orientações diversas, entre outros aspectos. Selecionamos como fontes, para a presente comunicação, memoriais de titularidade de antropólogas da USP e da UNICAMP, que foram aprovadas em tais concursos entre 2000 e 2015, na busca de identificar marcadores discursivos sobre a questão de gênero em tais trajetórias, nas quais destacam-se tanto o explicitar como o calar sobre relações familiares, maternidade, corporalidade, entre outras dimensões da carreira acadêmica feminina. Indiferente à narrativa eufórica ou constrangida, cartesiana ou hermenêutica, quantitativa ou qualitativa, curricular ou vivencial, no interior de certas estruturas e tradições (misóginas) no campo intelectual-acadêmico, os memoriais são um rico material para a compreensão de quem somos através da percepção de como nos tornamos o que somos e quais seriam nossas possibilidades de vir a ser.
Mulheres de cultura e tempo: autoetnografia e ego-história nos memorias acadêmicos da Universidade de São Paulo (2000 – 2015)
Autoria: Rafaela Duarte Vieira
Autoria: SUMO Os memoriais acadêmicos são documentos de caráter institucional solicitados pelas universidades brasileiras para o ingresso na instituição ou progressão na carreira docente. O principal objetivo desses documentos ao serem elaborados é apresentar os principais fatos da vida universitária de quem os escrevem, sendo que alguns narradores utilizam um discurso dotado de maior subjetividade enquanto outros enfatizam as dimensões objetivas em sua escrita. O objetivo é caracterizar formas de autonarrativa que identifiquem tanto a condição feminina na construção da memória pessoal e profissional de tais professoras, como também referenciais do campo intelectual em que se situam e que torne possível caracterizar tais narrativas como exemplos de autoetnografia e de ego-história.
O garimpo é bom, mas é muito perigoso
Autoria: Carlos de Matos Bandeira Junior, Rubens Elias da Silva
Autoria: Esta pesquisa é um estudo etnográfico iniciado em 2016 na cidade de Santarém-Pará e suas reflexões guiam-se pela memória social e trajetórias de vida de nove ex-garimpeiros que aturam por décadas na exploração aurífera em garimpos da Amazônia brasileira. O estudo possui o objetivo de refletir como a atuação no work de exploração de ouro imprimiu sentidos na vida desses trabalhadores, bem como, elaboram essas percepções no tempo presente já na idade de velhos. Percebeu-se nos discursos que a construção memorial desses senhores é ambivalente. Ao mesmo tempo em que se referem ao tempo de ação no garimpo com saudade da liberdade, da autonomia do work, da alimentação caçada na mata, da vida nos baixões, das farras com mulheres nos cabarés das corruptelas, do vigor físico da juventude, também discorreram sobre uma vida solitária e o medo do perigo advindo tanto pelo work reconhecidamente extenuante quanto pela elevada violência que produzia a sensação de que a qualquer momento poderia se ter a vida ceifada. Identificou-se também via a expressão garimpeiro manso e garimpeiro brabo que o domínio dos saberes nos processos de work marca diferenciações simbólicas de prestígio entre os trabalhadores e indicam lugares de atuação distintos na hierarquia de atuação da faina garimpeira.
O ofício teatral do União e Olho Vivo: memórias e práticas no contexto urbano
Autoria: Ana Paula Parodi Eberhardt
Autoria: O presente work é fruto dos desdobramentos da dissertação “União, Olho Vivo e Pé Ligeiro”: estudo etnográfico das memórias e duração das práticas do Teatro Popular União e Olho Vivo na Cidade de São Paulo/SP”, defendida neste ano na UFRGS. Na pesquisa para a dissertação acompanhei as atividades deste grupo de outubro de 2016 à fevereiro de 2018. Para este GT, trago um enfoque sobre o ofício teatral praticado por este grupo. A trajetória de mais de meio século do “Olho Vivo” abrange uma série de fenômenos sociais que vão desde sua criação, durante a Ditadura Civil Militar no Brasil, passando pela consolidação de uma identidade nacional do Teatro Brasileiro, criações de políticas públicas voltadas para as artes, a profissionalização do work teatral, a consolidação da televisão e de uma forte indústria cultural de São Paulo como polo artístico do país. Trata-se da consolidação deste campo artístico no país (BOURDIEU, 1996) e da discussão simbólica e política a respeito da cultura popular e da identidade nacional brasileira (ORTIZ, 2006). É também o momento em que o Estado aparece como agente privilegiado de difusão cultural. Caudatário do movimento de teatro engajado dos anos sessenta, este grupo se insere na discussão crítica a respeito da mercantilização da arte, e se posiciona de forma antagônica às relações capitalistas de work. Pretende-se aqui abarcar uma reflexão sobre as memórias de dois senhores- fundadores deste grupo e ainda atuantes-, sobre os impactos que o crescimento da cidade de São Paulo trouxe aos seus works no âmbito artístico e as estratégias por eles utilizadas para transformar as relações de work no interior desta trupe. Através de suas práticas podemos perceber a aderência a uma determinada visão de mundo, buscando uma percepção sensível da realidade social, tecida e compartilhada com integrantes mais jovens, conformando uma experiência de duração deste oficio no mundo moderno contemporâneo.
Ofício de artesãs em uma Unidade de Conservação na Amazônia: aprendizado, coletivização de saberes e engajamento feminino
Autoria: Marilia de Jesus da Silva e Sousa, Ana Claudeíse Silva do Nascimento Ronisson de Souza Oliveira
Autoria: Na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, localizada entre as bacias do Médio Rio Negro e do baixo Japurá, as artesãs do grupo Teçume D´Amazônia confeccionam um variado repertório de artesanatos feito com uma fibra vegetal denominada de “tala de cauaçu” (Calathea lutea), uma forma de se referir ao caule da planta que é usado para confecção dos artesanatos. “Teçume” é a maneira que as mulheres se referem ao ato de tecer fibras vegetais e transformá-las em artefatos domésticos e artesanato decorativos. Em tempos pretéritos que antecederam a produção atual de artesanatos, as partes da planta mais utilizadas pelas comunidades eram as folhas, o “braço ou capas” e o talo. Ambos empregados especificamente na feitura de artefatos para uso doméstico. As folhas eram usadas na cobertura das casas e para “empalhar” a farinha nos paneiros; um processo antigo que auxiliava na armazenagem e conservação da farinha de mandioca. Este estudo tem o objetivo de examinar e discutir como mulheres agricultoras engajaram-se coletivamente na produção de artesanato de cauaçu e, num rico processo de resignificação de saberes assumem a identidade de artesãs e uma nova posição política. Vamos descrever um contexto de ação coletiva construída nos últimos 16 anos, cuja atuação está pautada no engajamento e mobilização das mulheres tanto para reavivar uma atividade, como para fazer o uso comercial de um recurso natural sem muita importância no contexto local. Com as talas de cauaçu, as mulheres resignificaram saberes e passam a elaborar um novo contexto produtivo nas diferentes fases da cadeia operatória de produção de artesanato. A atividade tornou-se uma fonte de renda para as mulheres e foi criado um ambiente de sociabilização de saberes e aprendizado coletivo feminino envolvendo várias gerações de artesãs. Num processo de trocas de conhecimentos, as mulheres criam um espaço de experimentação, desenvolvem técnicas de coleta e beneficiamento da fibra e confeccionam um repertório de artesanatos que são inseridos no mercado regional e nacional. A pesquisa tem caráter etnográfico, cujos métodos consistiram na observação participante, registros em diários de campo, entrevistas abertas com 22 mulheres e registros fotográficos das várias etapas da cadeia operatória. Eventos de coleta do cauaçu também foram acompanhados. A atividade agregou, além da renda para às mulheres, prestígio e reconhecimento local de um work que floresceu a partir do engajamento e da ação coletiva das mulheres. Essa atuação coletiva possibilitou a formação de uma comunidade de saberes em que artesãs agricultoras desenvolvem um processo de observação, criação de hipótese e experimentações e compartilham conhecimentos em uma comunidade de prática que foram apropriados e resignificados.
Pintor ou designer popular: a etnografia de um ofício através do acervo fotográfico de Edson Meirelles
Autoria: Suiá Omim
Autoria: O fotógrafo carioca Edson Meirelles produziu (entre 1972 e 2004) um acervo fotográfico composto por mais de 20 mil cromos cujo o principal objetivo é alavancar uma vasta documentação de expressões pictóricas populares coletadas em diferentes cidades do Brasil. O que o fotógrafo-pesquisador conceitua como pintura ou design popular consiste em uma grande diversidade de pinturas feitas à mão – letras, palavras, tipografias, desenhos, grafismos abstratos e figurativos – situados em muros, placas, cartazes, murais, estabelecimentos comerciais, barracas de festas populares, painéis de circo, ônibus de espetáculos de ilusionismo, parques de diversão, carrocinhas de ambulante, etc. Para além de construir uma extensa coleção fotográfica apropriando-se das diversas expressões plásticas populares ainda pouco conhecidas e estudadas, o work de pesquisa do fotógrafo e colecionador possibilita a investigação antropológica sobre uma concepção “modernista” de Brasil, que questiona e reformula a noção de arte popular, valorizando as criatividades, agências, intencionalidades e poéticas destas produções pictóricas. A categoria pintor ou designer popular foi utilizada por Meirelles para descrever uma atividade manual de pintura que – embora heterogênea em suas formas, propósitos e usos nas diferentes regiões do Brasil contemporâneo – delimita um ofício específico, que implica técnicas, talentos, conhecimentos e reconhecimentos, que o distingue de outros ofícios como: o pintor de paredes, o pintor de quadros, o artista plástico, o designer, o artista gráfico. O presente artigo propõe-se a demostrar através da etnografia as especificidades e diversidades destas atividades que configuram o ofício de pintor ou designer popular. Trata-se dar visibilidade às habilidades deste ofício, enfrentando a tarefa de qualificar o máximo possível de formas, estilos e finalidades destas obras anônimas. Pode-se apreender das fotografias do acervo que tal ofício abarca tanto pintores autodidatas, quanto pintores de murais reconhecidos em seu meio como especialistas e transmissores. As pinturas colecionadas pela fotografia de Meirelles estão embasadas em uma “política visual” da arte que busca deslocar objetos, ações, tecnologias, agências e habilidades dando-lhes uma ordem, distinguindo-os em segmentos temáticos, estudando os usos das cores, os contextos das pinturas (planos abertos) e as imagens-sínteses (decupagens), produzindo recortes das variadas superfícies cobertas com tinta, e, também, realizando retratos de alguns pintores e letristas em atividade. Por fim, vale ressaltar que as pinturas feitas à mão têm sido, frequentemente, substituídas pelas impressões gráficas (plotters, banners) o que torna o acervo um registro inédito da memória social de um ofício em extinção.
Profissão Médica e Esferas de Atuação: Uma investigação etnográfica sobre os médicos e seus espaços de sociabilidade profissional em Sergipe
Autoria: Igor da Silva Salmeron
Autoria:

O presente work, se caracteriza como sendo um desdobramento de uma pesquisa mais ampla, especificamente, uma Dissertação de Mestrado, à qual visou analisar os médicos e seus espaços de sociabilidade profissional. Para tal empreitada, nos guiamos pelos estudos acerca da Antropologia da Teatralidade, Sociologia das Elites e dos Grupos Profissionais. Tal investigação nos auxilia na possibilidade de compreensão das relações entre medicina e política no que tange as ações dos médicos que ocupam cargos de direção em suas áreas de especialização, não deixando de observar os recursos que acabam sendo reconvertidos e investidos na atuação e edificação da carreira médica, e suas conversações com os jogos políticos no estado de Sergipe. Tratando-se, portanto, de uma inquirição analítica dos princípios e dos critérios de seleção da elite de uma determinada profissão que se define, não somente, pela titulação escolar. Nosso universo de análise incide em grupos no interior da medicina sergipana que ocupam o topo de “estruturas de autoridade ou de distribuição de recursos” em seus órgãos de representação profissional. A presente proposta poderá inspirar novos estudos sobre grupos profissionais no Nordeste adotando como referência a investigação etnográfica referente à sociabilidade que se delineia sobre os universos das profissões, mais especificamente, o universo da medicina.

Saberes silenciados: o ofício de parteira em comunidades quilombolas do Alto Vale do Jequitinhonha.
Autoria: Silvia Regina Paes, Ramoci Leuchtenberger
Autoria: Dona Onísia não sabe ao certo sua idade e também não registra com precisão o número de crianças que ajudou a vir ao mundo. Sempre viveu na roça, onde criou seus onze filhos e onde participa da criação de suas netas e netos. Exerceu o ofício de parteira durante quarenta anos na comunidade quilombola Ausente, no Alto Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais. As dificuldades que a vida lhe impôs estão expressas nas dores que sente nas costas, na pele trincada pelo sol e no modo realista com que encara a vida. Na natureza busca as plantas que usa para benzer e realizar as “simpatias” que a fazem capaz de conduzir nascimentos e interromper doenças. As entrevistas realizadas com Onísia nos dias que passamos conversando junto ao fogão a lenha resultaram na história de vida da parteira. A narrativa foi complementada pelas perspectivas de outras mulheres em papéis sociais que se relacionam com os fatos focalizados, num exercício de confrontação interna das informações conseguidas através de múltiplas abordagens. A história de vida da parteira é o fio condutor deste work, que nos leva a observar como a transmissão e a legitimação do ofício da parteira está intimamente relacionada com a aceitação de um saber feminino intrínseco ao “ser mulher” e a valorização do conhecimento que mulheres possuem sobre si mesmas, seus corpos e ciclos. Parteiras e gestantes quilombolas são mulheres de um mesmo território, classe social e inserção étnico-racial e estabelecem entre si relações de cuidado que vão além do aspecto biológico enfatizado na medicina tecnicista, relações permeadas por valores culturais e sociais e aspectos psíquicos e emocionais. Onízia caminha pelas trilhas da comunidade apontando adultos e crianças e repetindo: “esse menino alí, fui eu quem cortou o umbigo”. É tratada com deferência por todos, apesar de já não exercer o ofício. Aprendeu a ser parteira com a avó, mas não transmitiu para ninguém seus saberes na arte do partejar e suas netas nem mesmo sabem que por muitos anos assistiu os nascimentos na comunidade e nas redondezas. O silenciamento dos seus saberes é resultado de séculos de desvalorização da sabedoria feminina e destruição de conhecimentos empíricos ancestrais, impostos às culturas tradicionais do mundo inteiro pela idéia de desenvolvimento da expansão colonial européia. O atual movimento pela humanização do parto e nascimento surge como a redefinição das relações humanas na assistência, um chamado para a compreensão da condição humana e dos direitos humanos. Detentoras de um saber ancestral desprezado pela ciência positivista e androcêntrica, parteiras tradicionais possuem a chave para a humanização do parto em seu modo de cuidar: o sentimento de identificação com a parturiente e a disposição para serví-la e atender suas necessidades.
Trajetórias de Trabalhadoras na Fundação de Economia e Estatística: jogos de memória e transformações urbanas
Autoria: Manoela Laitano Chaves
Autoria: Essa recente pesquisa é parte do projeto Memória do work do Banco de Imagens e Efeitos Visuais, a criação de um museu virtual, sob orientação da Profa. Ana Luiza Carvalho da Rocha e pretende abordar questões das transformações urbanas e do mundo do work sob o enfoque da etnografia da duração (ECKERT & ROCHA, 2013). O tema é o processo de extinção de fundações por parte do poder público estadual (RS) e o seus efeitos na memória do work de cargos e funções associadas a essas instituições. O objeto da pesquisa é a etnografia das memórias do processo de fechamento da FEE/Fundação de Economia e Estatística Emanuel Hanser-RS, instituída em 1973, tendo por missão acervar documentos, informações e pesquisas de natureza sócio-economia do Estado, e que, desde pelo menos os anos 40, o mesmo prédio sediado na Av. Duque de Caxias, centro de Porto Alegre, já abrigava os departamentos de estudos estatísticos do Estado. O foco é a condição de gênero no mundo do work e, neste sentido, procura dialogar com as trajetórias de trabalhadoras mulheres que estão vivendo essas transformações. A pesquisa de campo, tendo por base pesquisas de acervo e realização de entrevistas não diretivas (THIOLLENT, 1986) pretende registrar, no formato de crônicas etnográficas, as representações sociais das mulheres que atuaram na instituição acerca do seu tempo de extinção.
“ODOR DE ROSAS”: família, cidade, work e memória da PHEBO em Belém
Autoria: Fernanda Valli Nummer, Dra. Fernanda Valli Nummer (UFPA) Dr. Carlos Alberto Batista Maciel (UFPA)
Autoria: Essa é a primeira parte de um projeto que pretende resgatar a memória da empresa PHEBO na cidade Belém, no bairro do Reduto a partir de entrevistas apoiadas em suportes de memória, com pessoas que tiveram suas vidas indiretamente relacionadas a referida fábrica. O objetivo do work é identificar a materialidade e a subjetividade do significado de uma fábrica que ainda existe no centro de uma grande cidade, mas que não pertence mais a paraenses. Nessa primeira parte da pesquisa, estamos construindo a origem da fábrica e de parentesco dos portugueses que chegaram a Amazônia nos anos 30 do século XX em busca de work numa fábrica de chapéus artesanais e de tabaco. O Sr. João da Silva Santiago é o ego desta relação foi o primeiro a chegar a Belém, era tio de Sr. Antônio da Silva Santiago e pai de Sr. Mário da Gouveia Santiago e Sr. Silvio Gouveia Santiago, estes três últimos conhecidos por fundar a PHEBO. Sobre a empresa, o Sr. Silvio Gouveia Santiago não ficou muito tempo, voltou logo a Portugal, não casou nem teve herdeiros. O Sr. Antônio da Silva Santiago foi pai de três mulheres e o Sr. Mário da Gouveia Santiago de cinco mulheres. Estas mulheres, uma filha de Sr. Antônio, e três do Sr. Mário são fontes do estudo das dinâmicas das redes familiares que se construíram em torno da fábrica enquanto referência de uma base identitária da classe alta de Belém, dotada de um ethos compartilhado, em que percebe-se valores como: o eixo Rio-São Paulo são mais valorizados em termos de acesso a bens e serviços, inclusive o estudo; as escolhas políticas, tendem a ser de direita; as amizades políticas regionais são muito valorizadas; a auto afirmação e a individualização de seus membros é vista como uma conquista individual; a solidariedade intrafamiliar acionada em relação “aos de fora”; as marcas de cor negativadas; as relações com os empregados da casa são antigas e duradoura, sendo que as empregadas domésticas já são senhoras e moram na casa; entre outras. A fábrica aparece na memória destas mulheres como fonte de renda, já que seus maridos é que trabalhavam na fábrica, a exceção de D. Sônia que morou com a família em São Paulo para gerenciar a filial de lá. De início, buscávamos uma “memória transgeracional”, Halbwachs (1990), pois as primas têm uma diferença de idade, cerca de 10 nos, e vieram para o Brasil em momentos diferentes de desenvolvimento da fábrica e certa “memória compartilhada”, Ricoeur (2007), o que não aconteceu até o momento, uma vez que elas recorrem a uma cunhada para lembrar de datas e momentos importantes da fábrica. O que reforça uma hipótese de que ser “dona” da PHEBO lhes trazia status, mas que os assuntos da empresa eram assuntos “de homem”.
"Memórias, disputas de sentido e transformações sociais: as estratégias e trajetórias dos ex-trabalhadores da VARIG dez anos após sua venda".
Autoria: Madiana Valéria de Almeida Rodrigues
Autoria: As reflexões que irei apresentar aqui expressam parte do esforço que venho desenvolvendo no sentido de compreender, a luz da antropologia, questões concernentes ao universo dos ex-trabalhadores da aviação civil, suas trajetórias, projetos e estratégias de vida, após fechamento daquela que foi a maior empresa de aviação que o Brasil já teve. Tem como foco de interesse empírico os ex-funcionários da VARIG, tanto aposentados, quanto os que ainda estavam na ativa na época de seu fechamento, que, em sua maioria, estão sediados nas cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Buscou-se investigar quais os fenômenos de transformação ocorridos na trajetória desses trabalhadores. Nesse sentido, sua importância se faz necessária, pois permite definir uma perspectiva para a descrição e análise dos fatos, além das razões de ordem histórica, na medida em que depois do leilão da empresa, os movimentos em favor da empresa e dos direitos dos trabalhadores passaram rapidamente ao esquecimento geral. O esquecimento, no caso, pode revelar indícios de uma interpretação dos acontecimentos e de uma atitude ideológica geral diante da “naturalização” das perdas trabalhistas em curso no Estado. Consideramos, portanto, o fechamento da VARIG como paradigmático na história da aviação civil no país. Sobretudo, no que concerne aos trabalhadores, suas identidades, formas de sociabilidade, e sua orientação em face ao Estado e às empresas, assim como, às formas de organização possíveis do trabalhador na conquista de seus projetos de vida. Nesse sentido, consideramos padrões culturais, junto com Kluckhohn e Geertz, como projetos para a vida. A metodologia partiu de uma abordagem de caráter qualitativo, envolvendo, entrevistas com ex-trabalhadores e com membros dos Sindicatos e órgãos representativos. Os passos metodológicos incluíram também um levantamento documental nos sindicatos e na imprensa sobre o desmantelamento do grupo, as consequências na vida profissional, o desemprego, o work informal e a história das suas relações de alteridades. A pesquisa, portanto, se insere nos estudos vinculados a problemática do work e busca avançar na construção de um campo de análises sobre a memória, a dimensão identitária e as transformações sociais vividas pelos trabalhadores. Como salientou Leite Lopes (2011), com relação aos trabalhadores industriais, de símbolo de progresso, mudança e transformação social, os ex-trabalhadores da VARIG passaram a ser objeto de memória. O enfoque, igualmente, responde à necessidade de incorporar o estudo da memória como chave para a compreensão dos processos de transformação acelerada que vêm atravessando a sociedade e cultura brasileiras.
A concepção dos Institutos Federais e seus atores sociais: a história narrada por trás da história
Autoria: Silvia Schiedeck, Profª Drª Maria Cristina Caminha de Castilhos França
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Essa comunicação versa sobre a educação profissional no Brasil de forma geral, tendo como princípio de que esta sempre esteve a serviço do pensamento hegemônico e do capital. Revela-se dessa forma, uma vez que a sua oferta se direcionava a uma formação instrumental específica, cujo objetivo era mão-de-obra rápida para atender ao mercado. A partir de 2004, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a educação profissional passou por uma transformação: com a promulgação do Decreto nº 5.154, mais de 18 leis, decretos e outros atos legais foram efetivados para que em dezembro de 2008 fossem criados os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFs) e instituída a Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica com a Lei nº 11.892. Esta mudança buscou romper com mais de 100 anos da dicotomia entre instrução profissional e educação geral, investindo na formação de um indivíduo integral e alterando os processos educativos para que se tornassem ações efetivas para acesso do trabalhador ao mundo do work. Compreendemos nesta pesquisa que o ensino por si só não pode ser considerado o único responsável por mudanças na sociedade, mas que atua como um dos fatores fundamentais para a superação da dualidade entre a educação para o mercado de work e a educação formadora das elites. Nosso objetivo com esta pesquisa é registrar por meio de entrevistas em suporte audiovisual, as narrativas memoriais dos atores sociais que definiram as políticas da educação profissional durante o período de 2004 a 2008. Para citar alguns destes atores: os políticos Fernando Haddad e Eliezer Pacheco, os teóricos da educação Gaudêncio Frigotto, Lucília Machado e Maria Ciavatta, entre outros. Interessamo-nos em identificar suas motivações, as articulações que foram necessárias, os conflitos políticos e teóricos, suas lembranças e suas memórias dos atos que culminaram na criação dos IFs. O registro destas memórias permitirá preencher espaços, lacunas e ausências que aparecem quando analisamos a própria história linear documental. Para a análise de dados obtidos nas entrevistas, empregaremos teorias oriundas dos eixos temáticos que tratam sobre memória social, coletiva e política, esquecimento, identidade, narrativa histórica e temporalidade. A metodologia escolhida está fundamentada na etnografia e técnicas específicas deste método como observação participante com entrevista semiestruturada, diário de campo e rede de contatos, buscando recriar as relações entre a fundamentação teórica e os dados produzidos/empíricos, esclarecendo e completando os espaços da dinâmica social histórica investigada. O produto educacional resultante desta investigação será um documentário, que ficará disponível para ser utilizado em espaços formais e não formais de ensino.