Presente em obras seminais da teoria antropológica, o estudo das emoções vem, desde os anos 1970-1980, se constituindo em uma área autônoma de pesquisa. Dois conceitos fazem nesse percurso um trabalho teórico crucial: “construção cultural” – advogando a diversidade das emoções em contextos históricos ou culturais distintos – e “micropolítica” – apontando para a relação entre as emoções e os quadros de poder e hierarquia que configuram o tecido social. Diversas temáticas se entrelaçam a estes dois conceitos, tais como a relação entre corpo, autoestima e emoção; o lugar das emoções em fenômenos da vida pública, tais como a política, as instituições e o mundo do trabalho; e as dimensões moral e temporal da vida emocional. As investigações reunidas neste Simpósio exploram diversos veios para a análise do papel das emoções na vida social e formulam objetos de reflexão que se tangenciam de várias maneiras, ao mesmo tempo temáticas e teóricas. Incluem a análise de experiências institucionais/profissionais diversas, tais como os cientistas, tanto em sua relação com as políticas de avaliação científica (com as gramáticas emocionais por elas suscitadas) quanto em relação com a identidade e o passado nacionais; as mulheres policiais, com ênfase na relação entre medo, violência e gênero; a articulação entre emoções, gênero e classe social em contextos de precariedade laboral; e as pontes entre justiça, moralidade e emoção no caso do trabalho doméstico.
Palavras-chave: emoções; subjetividade
Coordenador(es):
Maria Claudia Pereira Coelho (UERJ)
Sessão 1
Participante(s):
Maria Antónia Pereira de Resende Pedroso de Lima (ISCTE-IUL / CRIA)
Ana Spivak Lhoste (CIS CONICET IDES)
Maria Claudia Pereira Coelho (UERJ) Debatedor/a:
Jane Araújo Russo
Sessão 2
Participante(s):
Mariana Sirimarco (UBA-Conicet)
Sílvia Bofill-Poch (Universitat de Barcelona)
Waleska de Araujo Aureliano (UERJ) Debatedor/a:
Claudia Barcellos Rezende (UERJ)
6 - Trabalho para Simpósio Especial
Trabalho para Simpósio Especial
De "vítima" a "empoderada": disputas em torno das noções de "autoestima" e "beleza" na experiência do câncer de mama
Waleska de Araujo Aureliano
Nesta comunicação apresento uma análise comparativa entre dois sites brasileiros de mulheres que tiveram câncer de mama ainda jovens para analisar como cada uma delas aciona em seus projetos as categorias de “beleza” e “autoestima" no deslocamento da imagem da “vitima” do câncer para a de uma mulher “empoderada”, articulando (ou não) tais noções com outros marcadores como idade, cor/raça e identidade de gênero. Nesse processo, ora são reforçadas concepções convencionais do que seja a “beleza feminina”, ora se contesta o que consideram ser padrões heteronormativos de corpo e beleza. Por fim, chamo atenção para o modo como a doença também provocou transformações ligadas ao mundo do trabalho para essas duas mulheres, permitindo uma “profissionalização” pela via do ativismo em saúde e/ou o direcionamento de sua formação profissional para o engajamento nesse ativismo.
Palavras-chave:
Trabalho para Simpósio Especial
Direito, emoções e moralidades: empregadas domésticas perante o sistema de justiça na Espanha
Sílvia Bofill-Poch, Raúl Márquez Porras
Esta comunicação faz parte de um estudo mais amplo sobre o acesso à justiça para mulheres imigrantes na Espanha que trabalham no setor do emprego doméstico. Analisamos como a falta de proteção jurídica sofrida pelas trabalhadoras em termos de emprego se estende à esfera judicial, violando o direito fundamental de acesso à justiça. Na linha dos recentes trabalhos antropológicos sobre litígios judiciais que analisam a articulação entre as dimensões jurídica e moral da lei, mostramos os pressupostos morais que estão subjacentes às narrativas judiciais, bem como os antecedentes socioculturais (preconceitos, estereótipos...) que influenciam a práxis judicial. Aqui a linguagem das emoções –medo, desprezo, gratidão... – mostra-se muito relevante para iluminar a dinâmica de exclusão a que as trabalhadoras estão sujeitas, bem como as estruturas desiguais que sustentam o sistema de cuidados.
Palavras-chave:
Trabalho para Simpósio Especial
Miedo a todo. Violencia policial contra mujeres policías (Argentina)
Mariana Sirimarco
Este trabajo se sitúa en un tipo particular de casos dentro del espectro de la violencia que sufren, institucionalmente, las mujeres policías en Argentina: aquellos que encarnan en las diversas modalidades del acoso, el abuso y la violencia sexual. Se trata de un escenario recurrente: una encuesta nacional indica que un 18,5% de las policías ha pasado por tales experiencias. Este texto interroga las inscripciones de esas violencias en los cuerpos (físicos, psíquicos, emotivos), para posicionarse puntualmente en una de sus manifestaciones: el miedo. ¿Qué especificidades adquiere, este sentimiento, en las tramas institucionales con que se teje la violencia sexual contra las mujeres policías? ¿Cómo se vincula con el ejercicio del poder policial? ¿Cómo se relaciona, finalmente, con la administración -formal e informal- de derechos, garantías y tareas profesionales?
Palavras-chave:
Trabalho para Simpósio Especial
Os Pesquisadores e o Turbilhão: políticas de avaliação científica e gramáticas emocionais
Maria Claudia Pereira Coelho, Helena Bomeny
Este trabalho analisa as gramáticas emocionais suscitadas pelo impacto das políticas de avaliação científica sobre o cotidiano da produção de conhecimento. Insere-se no rol dos estudos socioculturais das emoções que examinam seu papel em fenômenos da vida pública, entre elas os universos profissionais e institucionais. A análise se baseia em um conjunto de treze entrevistas com pesquisadores das Ciências Exatas sobre suas trajetórias, com destaque para parcerias/rivalidades, momentos de gratificação/frustração e experiências com a avaliação científica. Como eixo principal que orienta a análise dos dados, está a clivagem entre competição e cooperação que marca as atuais políticas de avaliação científica no Brasil. O foco da análise recai sobre um conjunto de sentimentos – admiração, vergonha, humilhação, desprezo – que têm em comum a relação inextricável com a construção da autoestima.
Palavras-chave:
Trabalho para Simpósio Especial
Vergonha, humilhação e sobrevivência: emoções, práticas e moralidade no período da austeridade em Portugal (2011-15)
Maria Antónia Pereira de Resende Pedroso de Lima
Recorrer às instituições estatais e não governamentais foi uma solução para viabilizar a subsistência durante o período de austeridade em Portugal (2011-15), que implicou, no entanto, processos de exposição pública das privações que promoveram sentimentos de humilhação e vergonha com impacto profundo na identidade pessoal. Com base em trabalho de campo realizado em Portugal (2012-14) esta comunicação irá debater o impacto das políticas de austeridade nos quotidianos das pessoas mas também na sua percepção de si e na experiência da existência quotidiana. Analisarei as dimensões subjectivas e experienciais da austeridade a partir de duas perspectivas: 1) os modos colaborativos desenvolvidos para superar as adversidades e diminuição das condições de vida; 2) os sentimentos de falhanço, angústia, incerteza e raiva que cresceram durante o período de austeridade.
Palavras-chave:
Trabalho para Simpósio Especial
“Si no hay un reactor CANDU sería preferible no avanzar con China”. Sobre como la nostalgia atraviesa una controversia tecnológica en materia nuclear.
Ana Spivak Lhoste
En 2014 Argentina firmó con China un convenio para construir su cuarto reactor nuclear. Dicha construcción, de tecnología CANDU, la haría una empresa local. La elección de esa tecnología se apoyaba en dos argumentos: el uso del mismo combustible que los otros reactores y la búsqueda autonomía tecnológica. Ahora bien, tras la crisis de 2018, el convenio se reformuló en otro que preveía la compra de un reactor chino de otra tecnología.
Esa decisión desplegó cuestionamientos basados en la discontinuidad del patrón tecnológico que suponía la reformulación. Parte de ellos estuvieron orientados por una disposición nostálgica. Pese a que la nostalgia fue tratada como compartida, sus discursos singulares lejos de suponer una deformación del pasado constituyen una práctica de memoria. Este artículo aborda esa práctica, y aquello que ella nos informa, sobre esta controversia tecnológica.