GT 79. Sexo e o Dom: Etnografias das trocas afetivo-sexuais/comerciais

Coordenador(es):
Thaddeus Gregory Blanchette (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Adriana Gracia Piscitelli (Unicamp)

Sessão 2
Debatedor/a:
Ana Paula da Silva (UFF - Universidade Federal Fluminense)

Existe uma ambiguidade fundamental que se encontra na base das relações heterossexuais normativas engendradas, que revela-se na suposta natureza antagônica das trocas comerciais afetivo- sexuais e as relações afetivo- sexuais baseadas na reciprocidade. Nas culturas ocidentais em geral, essas duas formas de relações afetivo- sexuais tendem a ser entendidas como completamente diferentes e/ou separadas umas das outras (a teoria das “esferas separadas”), ou são configuradas como duas manifestações do mesmo fenômeno básico (a teoria “nada é diferente”). Como Viviane Zelizer aponta, porém, na vida vivida, a interação entre elas é complexa e ambígua. Nesse tipo de relação humana, onde as lógicas econômicas coincidem, se misturam, e até se co- constituem com lógicas morais e afetivas (e vice-versa), mas onde a prostituição e o amor são hegemonicamente entendidos como esferas separadas contraditórias, o “Ensaio Sobre o Dom”, de Marcel Mauss revela-se como valiosa contribuição para entender as (in)diferenças entre as várias formas de labuta/troca sexual e emocional. Nosso GT vai contemplar etnografias que exploram as complexidades e ambiguidades das trocas sexuais/afetivas, buscando desconstruir os dois modelos acima descritos. Preferencialmente daremos destaque para os trabalhos que situam essas trocas como fatos sociais totais dentro de cenários mais amplas de ação e valores, ilustrando a dialética entre a agência humana e as estruturas socioculturais em que essa é embutida.

Palavras chave: Relações sexuais/afetivas; Mercado de sexo-casamento; Relações de dom
Resumos submetidos
A jovem abençoada: intercâmbios afetivo-sexuais-materiais na África do Sul
Autoria: Thais Henriques Tiriba (USP - Universidade de São Paulo)
Autoria: Nessa apresentação percorrerei o chamado fenômeno blesser na África do Sul. Trata-se de um arranjo intergeracional no qual homens de mais recursos se engajam em intercâmbios afetivo-sexuais-materiais com mulheres mais jovens. Tais arranjos são objeto de meu projeto de doutorado em andamento no qual, tomando como pano de fundo as dinâmicas históricas, sociais, econômicas e culturais que viabilizam e tornam desejável esse gênero de relacionamento, tenho por objetivo localizar as especificidades do caso sul-africano dentro da conjuntura mais ampla dos debates acerca das novas afetividades (digitais) na contemporaneidade. O termo blesser, nome dado aos homens que se engajam nesses relacionamentos, foi disseminado nas redes nos últimos anos. O termo advém da hashtag #blessed, comumente utilizada no mundo de língua inglesa junto a imagens postadas nas redes sociais. A compreensão usual acerca do fenômeno é que blessers se fariam valer de seu lugar de maior status social para oferecer a jovens mulheres bens materiais em troca de favores sexuais. Está bem documentado que na África do Sul, bem como em outros lugares no continente, as relações afetivo-sexuais e de aliança se constituem e conformam redes de obrigações e dependências que se dão por meio dos intercâmbios de sexo, work, afeto e ajuda material. Esse é um sistema de troca segundo o qual o ato de dar presentes ou dinheiro, de um homem a uma mulher, expressa e constitui um laço emocional e obriga a receptora a alguma forma de reciprocidade, usualmente sexual (G’SELL, 2016). A denominação blesser e as caracterizações desses relacionamentos como parte do blesser phenomenon ou da sugar daddy syndrome são, entretanto, recentes. Esses termos vêm sendo encontrados amplamente na grande mídia e nas redes sociais nos últimos anos e os arranjos aparecem em conversas cotidianas e em debates sobre gênero e sexualidade nas instituições de ensino e pesquisa. Argumenta-se pela correlação entre esses relacionamentos e o aumento do contágio de HIV/AIDS entre jovens mulheres. Enquanto entidades cristãs apelam para que o termo blesser volte aos lugares de prece, na grande mídia e no senso comum a compreensão do fenômeno é colocada em termos altamente morais: homens subornando jovens que se vendem por crédito para celular, champagne e tranças. Nessa apresentação vou perseguir as compreensões acerca dos arranjos que são meu objeto na África do Sul acompanhada pela análise do romance “The blessed girl”, de Angela Makholwa, publicado em 2017. O texto é narrado em primeira pessoa pela bela Bontle Tau, uma jovem na cada dos vinte anos que saiu das townships para buscar uma vida de luxo em um dos distritos mais exclusivos de Johanesburgo.
Da casa à casa de família: Circulação de jovens mulheres por entre casas no Baixo Tocantins (PA)
Autoria: Aline Godois de Castro Tavares (UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora)
Autoria: A Amazônia foi se constituindo como entidade discursiva ao passo dos diferentes projetos coloniais que incidiram sobre a região. Sua população e seus processos históricos foram lidos ora pela chave do exótico, ora pela chave das deformações decorrentes da experiência colonial. Impera no imaginário sobre a região uma constelação de temas – os problemas da Amazônia - que possuem grande apelo social e que articulam em grande medida visões estanques e endógenas sobre os processos locais. Destaca-se dentro desses temas o chamado work Infantil Doméstico, um conceito pouco preciso e que simplifica as diferentes formas de circulação de jovens mulheres nas regiões amazônicas. Essa apresentação, num sentido contrário, busca analisar a circulação de jovens mulheres por diferentes casas na região do Baixo Tocantins (PA) como uma economia doméstica local que escapa das dualidades publico/privado, família/terceiros, work mercadoria/work afetivo familiar. A circulação de jovens por entre casas é a principal forma de mobilidade feminina naquela região e é através desses trânsitos que as mulheres acessam diferentes projetos e constroem novos espaços – muitas vezes conflituosos – de ação. Busco analisar os sistemas de trocas e de prestações empreendidos nessa circulação a partir da teoria da Dádiva (Mauss, 2002), entendendo a constituição de uma economia doméstica que tece redes e sistemas de reciprocidades locais. Esses trânsitos são marcados por desigualdades em termo de gênero, classe e cor, que são reelaboradas ao longo dos trânsitos dessas jovens por entre as diferentes casas onde circulam.
Dádivas materiais e relações sexuais: reflexões junto a mulheres de Nampula e Ilha de Moçambique
Autoria: Helena Santos Assunção (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: O presente work busca trazer uma reflexão acerca dos temas das relações afetivo-sexuais e sua relação com as dádivas materiais em um contexto não-ocidental, a partir de afirmações de amigas e interlocutoras que pensam o sexo em contextos matrimoniais como "serviço", e que ensinam as mais jovens as artes da sedução, práticas vaginais e técnicas sexuais em rituais que antecedem o casamento. A pesquisa é baseada em works de campo realizados em 2015, 2017 e 2019 (totalizando 14 meses) nas cidades de Nampula e na Ilha de Moçambique (região norte de Moçambique), entre mulheres que se identificam como macuas ou macuas naharrás, e que realizam ritos de iniciação femininos conhecidos como mwali. Procuro compreender essas práticas a partir das próprias categorias nativas, que valorizam a expertise sexual, em detrimento de abordagens mais universalistas que entendem os ensinamentos dos ritos de iniciação como parte da submissão feminina e da reprodução do patriarcado. Nesse sentido, questiono o que pode acontecer com a própria noção de "work" ocidental quando pensada à luz do que essas mulheres colocam como um "serviço" feminino (um 'serviço' que deve ser pago, com presentes, especialmente capulanas [tecidos], ou dinheiro). Busco dialogar com autoras que pensam os temas do gênero e da sexualidade em contextos africanos, como Oyéronkè (1997), Amadiume (1997), Arnfred (2004, 2011, 2015), Helle Vale (2004), Haram (2004), para pensar também junto com as mulheres com as quais realizei a pesquisa de campo. Também interessa ter acesso, através das discussões do GT, a works que refletem sobre as trocas afetivo-sexuais em contextos ocidentais e não-africanos, com o intuito de cruzar reflexões e comparar diferentes situações etnográficas.
Garotos de progama brasileiros em Lisboa: trânsitos, desejos e negociações nas economias sexuais em contextos transnacionais
Autoria: Guilherme Rodrigues Passamani (UFMS - Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Marcelo Victor da Rosa Jônatas Stritar Alaman Tatiana Bezerra Lopes
Autoria: Este work tem por objetivo investigar, por meio de um viés etnográfico, uma rota de prostituição de homens de Mato Grosso do Sul para Lisboa. Problematizaremos as experiências de um interlocutor base em sua cidade de origem, bem como suas primeiras estratégias no âmbito do work sexual, quando já se delineia a prostituição, em contexto transnacional, como um projeto. Em seguida, atentaremos para os os diferentes territórios onde a prostituição se desenvolve em Lisboa, bem como as expectativas sobre os brasileiros, uma suposta racialização do desejo, ou seja, as particularidades do mercado do sexo local.
Notas sobre o mito da “mãe preta” na literatura antropológica, e romantização da maternagem compulsória de bebês brancos por mulheres negras
Autoria: Andreza Carvalho Ferreira (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: A capa da revista Veja do dia 22 de novembro de 2017 trouxe a imagem de uma mulher negra com uma criança branca em suas costas. A composição da cena faz alusão ao período escravocrata. Além disto, na própria capa há uma legenda para a foto que descreve e informa: “escrava na Bahia, 1860”. A foto parece ter sido captada de forma brusca, talvez sem permissão, e a protagonista da foto não tem nome. Logo abaixo da foto, em preto e branco, há a manchete da edição especial, onde se lê a frase “Como é ser negro no Brasil”. Esta capa parece fazer nítida alusão ao “mito da mãe preta”. Mito também evocado e reificado por cientistas sociais e antropólogos que observaram e descreveram questões multirraciais da conformação do Brasil a partir de cosmologias dos brancos, apesar de não reconhecerem isto em suas análises. A partir de dois textos que inicialmente se propõe antagônicos sobre o mito da mãe preta, mas que não se afastam das ideias de sensualidade e disponibilidade de um estereotipado corpo da mulher negra, pondero sobre expectativas de trocas em relações interétnicas. Analiso os textos “Mãe preta, tristeza branca: processo de socialização e distância social no Brasil” de Luiz Tarlei de Aragão (1990) e “O Édipo Brasileiro: A dupla negação de gênero e raça” de Rita Laura Segato (2006). Em ambas narrativas parece existir uma projeção cordial da intimidade em contextos que talvez nunca sejam realmente acessíveis ao pesquisador ou pesquisadora, mas que creio ser de interessante diálogo com o tema do GT. Aspiro, a partir das contribuições de Viviana Zelizer e Patricia Hill Collins apontar outras possibilidades de negociações da intimidade, que não sejam definidas apenas por imagens controladas. Por fim, também almejo observar como outras ambiguidades, além das presentes em relações heterossexuais, como em relações inter-raciais, constituem o “work doméstico/atividades de cuidado” de mulheres negras - na falta de termos melhores para maternagem negra compulsória de crianças brancas - que foram e são fatos sociais totais, apesar de nem sempre serem reconhecidos como tais.
Profissional da sexualidade, do corpo ou do sexo? - Delimitações técnicas, de intencionalidade e monetárias na determinação do terapeuta tântrico.
Autoria: Natália de Oliveira Maia (FGV)
Autoria: A terapia tântrica é uma prática que vem ganhando visibilidade na mídia e nas redes sociais, no contexto brasileiro, na última década. Terapêutica sincrética pautada em conhecimentos orientalistas, como aquilo que denominam de neo-tantra, e teorias terapêuticas, como a reichiana. Prática que apresenta como uma de suas técnicas centrais a massagem tântrica, objetivando uma mobilização energética tendo em vista a cura por meio do alcance da iluminação ou êxtase místico. Êxtase possibilitado, em grande medida, pelo manuseio do corpo como um todo, incluindo as partes entendidas como erógenas, e pela obtenção de orgasmos. Dessa forma, as técnicas corporais desempenhadas nos contextos tântricos, enquanto ações tradicionais eficazes, revelam as ambiguidades e ambivalências que aproximam a prática de profissões como a massoterapia e a prostituição. Utilizando como base a etnografia que realizei ao longo dos anos de 2017 e 2018 em eventos e práticas tântricas, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro, bem como as entrevistas realizadas com pessoas inseridas no universo do tantra em vista ao desenvolvimento de minha dissertação de mestrado, verso sobre os marcadores operacionalizados no estabelecimento da distinção profissional anteriormente apresentada. Assim, o presente work demonstra, baseado em Viviana Zelizer (2009), como intencionalidade quanto desejo sexual e cura do cliente, ressignificação de técnicas e práticas sexuais e pretensão de ganhos monetários funcionam como fatores cruciais na determinação não só do terapeuta tântrico, mas de uma interação enquanto uma sessão de terapia tântrica. Nesse sentido cabe apontar que, ainda que no discurso de meus interlocutores, à transação econômica se atribua uma valoração diminuta e até mesmo condenável, na prática ela é determinante para a atuação profissional enquanto terapeuta. Idealmente, então, uma menor intencionalidade atrelada a um ganho econômico e ao sexo em si, parece fazer parte do delineamento da posição de terapeuta e, a medida que essa intencionalidade aumenta, passa-se pelas categorias profissionais massagista e profissional do sexo. Vale destacar que essas três categorias se distinguiriam, por assim dizer, quanto a seu objeto de atuação. O terapeuta teria seu foco na sexualidade (mesmo que a acessando através do corpo) e na cura, o massagista no corpo e o profissional do sexo no sexo (ou seria melhor dizer no desejo sexual). Por fim, ressalto ainda como gênero, pensado a partir de um modelo heteronormativo de papeis, opera de forma determinante nos perigos de confusão profissional e abuso sexual que tal prática pode suscitar. ZELIZER, Viviana. Dinheiro, poder e sexo. Cadernos pagu, v. 32, p. 135-157, 2009.
Subjetividades sexuadas: configurações sexo-afetivas de mulheres heterossexuais, urbanas, de classe média do Recife. (pesquisa em andamento)
Autoria: Adriana Ledezma Blanchart (upfe)
Autoria: Desde uma perspetiva feminista e mobilizando elementos chaves da analítica queer (Butler, 1999, Preciado, 2008, de Lauretis, 1985) pretende-se realizar uma pesquisa das dinâmicas de poder e de significado das relações sexo-afetivas de um grupo representativo de mulheres heterossexuais da classe média, urbana, do Recife. À partir de uma série de entrevistas semi-estruturadas a um total de 7 até 9 participantes de 25 à 35 anos, se aprofundará na experiência de gênero dessas mulheres. A cis-heterossexualidade será assim entendida como uma categoria social indissociável dos processos políticos da ordem cultural ocidental, e se buscará conhecer como é que ela molda suas vivências, projetos pessoais e laços sociais. Por outro lado, tendo em conta as reivindicações feministas da segunda onda sobre uma sexualidade “livre”, considera-se que a sexualidade feminina encontra-se ainda inscrita de maneira complexa, nas polarizações morais da boa mulher/ má mulher, reproduzidas nas figuras da mãe/virgem de um lado e a figura da puta pelo outro, as quais complexificam-se ainda mais nas dinâmicas de consumo das nossas sociedades neoliberais. Deste modo, entendemos nesta análise a chamada revolução sexual como um dos diversos discursos sobre a sexualidade feminina que informa a formação do sujeito mulher. Dentro dessa narrativa, se considera que à partir da segunda metade do século, ocorre no ocidente uma mudança radical dos valores morais. Do estrito controle da sexualidade feminina, a revolução sexual deu um passo à uma sexualidade feminina denominada livre e omnipresente nas identidades genéricas, especialmente na moda e no ideal da beleza feminina. Nesse sentido, ela está o tempo todo em competição com outras narrativas sobre a conduta sexual das mulheres. (FOUCAULT, 1996; PARKER, 1998). Meu argumento é de que as mulheres heterosexuais da classe média do Recife constróem ativamente uma subjetividade sexual permeada por esta lógica de feminilidade, que é por sua vez constantemente vigiada e controlada (FOUCAULT, 1996) dentro das lógicas específicas da sociedade brasileira local e informada pelos privilégios de classe nesta mesma lógica. À partir das narrativas de mulheres jovens, heterosexuais, urbanas, de classe média, busco compreender como estes elementos se entrelaçam e informam as experiências e os ideais que direcionam os seus relacionamentos com os seus amantes homens e as suas consequências sociais, onde informados pela analítica queer, definimos “gênero” como um efeito do discurso, e o “sexo” como um efeito do gênero. Em consequência, o gênero e a sexualidade constituem um “processo de estruturação de subjetividade em vez de uma estrutura de relações fixas”. (MORRIS, 1995, p. 568)
Tensões, conflitos e relações: Conexões de gênero, família e work entre garotas de programa em Teresina-PI
Autoria: Marcos Paulo Magalhães De Figueiredo (UFPI - Universidade Federal do Piauí)
Autoria: O presente work é uma pesquisa ainda em construção que visa investigar os intercâmbios entre relações de poder e gênero no segmento do work e da família de mulheres que tem na prostituição sua fonte de proventos. Um primeiro contato com o campo da pesquisa na tradicional zona do meretrício teresinense, o entorno da Rua Paissandu ocorreu ainda no segundo semestre de 2017 durante a construção de um work monográfico. Naquele momento a proposta era analisar como garotas de programa produziam e serviam-se culturalmente de seus corpos inseridos na prostituição. Contudo, durante a pesquisa de campo os filhos, companheiros e outros parentes da rede extensa de parentesco sempre apareciam em suas narrativas, histórias bem como seu cotidiano. A proposta em um primeiro momento é perceber como os discursos produzidos sobre a prostituição construíram paulatinamente a exclusão da esfera familiar da prostituta a partir de Rago (2008; 2014), Engel (2004) e Bacelar (1982). A ideia é contrastar o discurso do modelo hegemônico e abstrato de família (FONSECA, 2007; GOLDANI 1993.; ARIÉS, 2017) e contrasta-los com a etnografia entre mulheres prostitutas na cidade de Teresina – PI. Esses contrastes serão analisados através dos intercâmbios produzidos nas oposições eixo casa/work diz respeito á comunicação das formas como mulheres prostitutas experienciam e conciliam sua vida laboral e doméstica em seu cotidiano bem como suas relações familiares. O segundo seria o eixo ativo/passivo visa compreender as relações de gênero e poder que experienciam mulheres prostitutas bem como discutir o impasse da imagem da mulher prostituta construída ora como pura e simples vítima do patriarcado ou como uma ameaça hiper sexualizada. Por fim, pretende-se esboçar algumas considerações sobre a pesquisa através do work de campo realizado nos meses de fevereiro e março de 2020.
Afeto, negociação e prazer: as relações homoeróticas masculinas nos Diários de Tulío Carella
Autoria: Emerson Ian Souza Soares (UNEB - Universidade do Estado da Bahia)
Autoria: Resumo: “Orgia: os diários de Tulio Carella” caracteriza-se pela narração intimista sobre as vivências de Carella, um argentino, professor convidado da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), na cidade do Recife, entre 1960 a 1962. Envolto em um ambiente totalmente diferente ao seu habitual e da mesma forma desconhecido para si, Carella experimenta a sensação de liberdade e ao mesmo tempo solidão, ambas impulsionando o imaginário afetivo/sexual do estrangeiro recém-chegado ao Recife. A partir disso o problema de pesquisa que norteará o work foi: como a negociação do afeto, entre homens, é narrado na obra “Orgia”? Desta forma, tem como objetivo geral compreender as representações das relações homoeróticas narradas, entre homens, na obra e o seu processo de negociação. Para entender as relações homoeróticas relatadas, buscou-se fazer um estudo empírico, de caráter descritivo e analítico, onde o campo de investigação é a própria Orgia, analisada sob o método da análise de conteúdo (BARDIN, 2011), para isto, utilizou-se a análise documental, a categorização/codificação, a contextualização da produção e sucintamente o processo de recepção da obra como técnicas de geração e análise dos dados. A partir deste processo de investigação, observou-se que tais relações possivelmente podem ser influenciadas por fatores externos, que movimentam o imaginário do autor e seus encontros homoeróticos respectivamente, tais como o clima recifense, a cidade enquanto espaço e os corpos negros que rondam o estrangeiro, além disto, é perceptível que Carella usa dos marcadores sociais, estrangeiro e branco como artefatos que auxiliam o estabelecimento de vínculos afetivos com os homens locais.
O cliente (não) é quem manda: um estudo sobre o processo de adequação de clientes a uma boate de prostituição em São Luís do Maranhão
Autoria: Paulo Victor Paixão da Silva (UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso)
Autoria: Esse work é fruto de um campo exploratório, realizado entre março 2018 a abril 2019, em uma boate de prostituição feminina, onde trabalhei e morei. A boate fica em São Luís do Maranhão e é direcionada a um público masculino de alto poder aquisitivo,nela ocupei diferentes cargos, trabalhei como caixa do bar, estoquista e secretário. Observei como o comportamento dos clientes se distinguia a partir dos seus graus de familiaridade com a boate e que, de forma geral, o controle das dinâmicas internas é de outros agentes, em especial da gerente do salão de festa e das mulheres que fazem programa na boate. Chamaram minha atenção episódios em que novos clientes protagonizavam idas frustradas à boate, nos quais nem chegavam a conversar com as mulheres. Isso ocorre por esses clientes terem pré-noções sobre como um estabelecimento de prostituição funcionaria e que quando confrontados com as reais dinâmicas da boate levam a momentos de tensão. Comparo com a experiência de clientes regulares da boate, que já integrados às dinâmicas do salão de festa, chegam a tentar manipular as regras, tentando conseguir descontos nos programas ou não pagando taxas da boate. discuti o tema em conversas informais com a gerente do salão de festa, os garçons, o DJ e algumas das mulheres que fazem programa na boate, interlocutores que entendo serem figuras centrais para o funcionamento da boate e a integração dos clientes às dinâmicas do salão de festa. Como o acesso ao mercado do sexo se apresenta como parte constituinte de uma masculinidade hegemônica, entendo que a ideia de prostituição está presente no imaginário social até de pessoas que não tem acesso ao mercado do sexo. a necessidade de apresentar virilidade e ter acesso a uma diversidade sexual aparecem como motivos para a busca por mulheres que fazem programa. Muitos homens procuram serviços sexuais como forma de se reafirmar dentro de um ideal de masculinidade. Portanto, espaços como a boate se tornam importantes espaços para a socialização masculina. Meu campo o desenha como um espaço complexo que, ao mesmo tempo, coloca o homem em uma posição de poder, como consumidor, é um cenário conduzido por mulheres: a dona, a gerente e as mulheres que fazem programa lá. Essa é uma pesquisa em andamento para a minha dissertação de mestrado.