GT 66. Poder, diferença e transformação na África Contemporânea

Coordenador(es): 
Melvina Afra Mendes de Araújo (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Paulo Ricardo Muller (UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul)

Os estudos africanos no Brasil vêm se consolidando a partir da organização de grupos de pesquisa, GTs em congressos de Ciências Sociais, Antropologia e História e seminários, assim como pela publicação de livros e dossiês em revistas sobre o tema. A Antropologia, de modo especial, vem se dedicando à compreensão de disputas em torno da construção social da contemporaneidade a partir da diversificação e complexificação de olhares sobre processos e narrativas constitutivas de diferentes contextos socioculturais africanos. Visando criar mais uma possibilidade de diálogo entre pesquisadores que se debruçam sobre temas concernentes ao continente africano, acolheremos trabalhos de viés etnográfico, teórico e/ou histórico que pensem questões referentes aos aspectos políticos, simbólicos e práticos que permeiam processos sociais e históricos de diferenciação e de articulação entre diferentes configurações de poder “tradicional” e estatal, colonial e pós-colonial, religioso e secular, institucional e informal, etc.

Palavras chave: Estudos africanistas; antropologia política; alteridade
Resumos submetidos
A formação de uma nova elite nativa queniana
Autoria: Melvina Afra Mendes de Araújo (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Autoria: Fatores tais como a permanência junto à população aprisionada em aldeias criadas pelos britânicos no contexto do Estado de emergência decretado com o objetivo de extinguir a guerrilha Mau Mau, bem como a prestação de serviços educacionais e de saúde, tiveram por consequência o estabelecimento de posições e a constituição de uma determinada imagem dos missionários da Consolata perante a população kikuyu. As posições – sejam elas religiosas, políticas ou relativas ao trato humano – tomadas por esses atores possibilitaram a tessitura de um certo modo de se relacionar com os kikuyus e com os agentes coloniais, alçando esses missionários à posição de formadores de parte da elite nativa que viria a ocupar importantes posições nos campos políticos, intelectuais e econômicos do Quênia pós independência. Nesse sentido, pretendo analisar, neta comunicação, práticas relacionadas à formação desses nativos a partir da documentação produzida pelas missionárias da Consolata que trabalharam nas missões quenianas nos anos 1950 e 60.
Construções identitárias e nacionais na Guiné-Bissau: o caso dos Fulas de Gabú
Autoria: Érico de Souza Brito (UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo)
Autoria: Esta comunicação pretende apresentar um debate sobre a construção da nação na Guiné-Bissau com foco na etnia mais numerosa daquele país, os Fulas. A partir de um contexto em que grande parte dos Fulas lutou ao lado dos portugueses durante a luta de independência da Guiné-Bissau, foi derrotada, sofreu a imposição de uma identidade nacional e, apesar disso, parece transitar por várias esferas de governo, interessa compreender as relações, alianças, disputas e demais práticas que configuram a etnicidade e nacionalidade entre os Fulas de Gabú. O processo de construção da nação guineense se iniciou antes da independência (declarada em 1973, e reconhecida em 1974) e se estende até os dias de hoje. Dentro deste processo, a questão étnica surge como um fator de peso na construção das alianças e nas ocupações de cargos de poder dentro da estrutura do Estado. Neste complexo processo político, pretendo debater, a partir de uma pesquisa bibliográfica e etnográfica, quais elementos identitários e/ou relações são acionadas pelos Fulas e em que circunstâncias, ou seja, como este processo de construção nacional influencia a autoidentificação dos Fulas e como estes se inserem também dentro deste projeto de construção nacional. A etnografia desta pesquisa foi realizada durante cerca de três meses na cidade de Pitche, que se situa no setor administrativo de mesmo nome, e que se encontra em uma região próxima às fronteiras com a Guiné-Conacri e com o Senegal. Isto faz desta área uma região de muita circulação de pessoas, sobretudo de Fulas que vêm destes dois países e que também se somam aos chamados Fulas de Gabu, que são os Fulas que habitam esta região da Guiné-Bissau. Assim como a nacionalidade guineense vai sendo construída ao longo do tempo, da mesma forma a etnicidade é uma construção que não necessariamente tem sua origem em períodos longínquos do tempo. O intuito desta apresentação será também apresentar alguns dados coletados em campo que mostram como se dá a construção identitária pelos Fulas de Gabú, levando-se em conta que a etnicidade não é algo cristalizado no tempo, mas sim uma constante negociação entre os atores.
Gênero, Poder e Política em Guiné-Bissau Independente
Autoria: Peti Mama Gomes (UFPA - Universidade Federal do Pará), Peti Mama Gomes, Doutoranda em Antropologia Social no Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Bolsista da Coordenaç
Autoria: A república da Guiné-Bissau, foi a primeira das colônias portuguesas na África, a conquistar sua independência oficializada em setembro de 1974. Após esta data, iniciou-se o rumo político de um “novo Estado”, isto é, um estado deixado totalmente nas mãos do povo guineense. O país, desde então - independente e administrado por dirigentes políticos guineenses, teve ao longo suas primeiras aberturas multipartidárias em 1994, o que foi chamado por uma das intelectuais guineenses Monteiro Cande (2013) de “nascimento do novo Estado” com um sistema de partido único PAIGC. No entanto, a mais recente literatura contemporânea da inserção de mulheres na estrutura do Estado em Guiné-Bissau, tem o seu enfoque direcionado a discussões sobre a sua participação e inclusão em todas as esferas de tomada de decisão desde a primeira constituição da República. Assim, esta comunicação será, portanto, resultado de análise e abrangência do alcance sócio-político-ideológico da estrutura do Estado nacional guineense “reconstruído” pós independência a partir das primeiras eleições multipartidárias (presidenciais e legislativas) que tiveram lugar em três de julho de 1994. A premissa é de que, mulheres estão fracamente inseridas e envolvidas nas estruturas do Estado guineense por desempenharem um papel fundamental em outras esferas privadas (familiar, redes comunitárias, associações, cooperativas, dentre outros espaços sociais) uma vez que são responsáveis pelas atividades econômicas "informais" no país. Entre as indagações que nortearão nossa pesquisa (que está em andamento), podemos sintetizar a partir da ideia de que há outras fontes ou tipos de poder em que as mulheres exercem suas forças. Afinal, um grupo de mulheres que se responsabilizam por mais de metade de economia nacional através das suas atividades diárias, pode sugerir que as mesmas sejam ausentes em outros lugares, como no caso das instituições públicas – Estado. Portanto, compreender neste caso a construção social da contemporaneidade do estado nacional guineense busco inspirações na antropologia e com ela ir além da compreensão das narrativas dos contextos socioculturais na Guiné-Bissau.
Lobolo gay: repensando o bridewealth a partir de casais homoafetivos austro-africanos
Autoria: Francisco Paolo Vieira Miguel (UNB - Universidade de Brasília)
Autoria: O brideweath ou o lobolo – como é chamado nas culturas machangana do sul de Moçambique – é uma instituição já amplamente discutida na literatura antropológica. De uma forma geral, trata-se de um conjunto de rituais que consistem na oferta de uma série de presentes pelo noivo à noiva e à sua família. As razões sociológicas que subjazem a entrega de tais presentes, no entanto, sempre foram alvo de um intenso debate antropológico. Para alguns, os presentes seriam uma espécie de compra de uma mulher e sua prole pelo marido e seu grupo social; para outros, tratar-se-ia de uma compensação recebida pela família da noiva pela perda de sua capacidade de produção alimentícia e reprodução biológica; para outros ainda, o lobolo teria razões múltiplas, algumas delas contextuais, individuais e subjetivas. De qualquer forma, se, como afirma hegemonicamente a etnologia africanista, o lobolo é uma instituição social que tradicionalmente estabelece direitos de patrilinearidade entre as famílias de um homem e de uma mulher, como interpretar antropologicamente o fenômeno de uma cerimônia de lobolo que se realiza entre dois homens que decidem viver maritalmente e que nem sempre almejam o estabelecimento de uma linhagem própria? Ao me deparar com tal fenômeno em minha pesquisa de doutorado em Moçambique, vi-me forçado a refletir sobre as premissas heteronormativas que informam as teorias antropológicas sobre o parentesco africano, em grande medida imaginados desde há muitas décadas como voltados, eminentemente, à reprodução. Nesse sentido, sem abandonar os avanços da etnologia africanista, uma nova reformulação antropológica precisa emergir para dar conta do fenômeno contemporâneo dos casamentos gays e do lobolo entre homens africanos, que começam cada vez mais a ganhar visibilidade no continente.
Masculinidade como posição de sujeito em uma etnografia entre homens cabindas
Autoria: Paulo Ricardo Muller (UFFS - Universidade Federal da Fronteira Sul)
Autoria: Nesta comunicação buscarei refletir sobre o papel da masculinidade como posição de sujeito encetadora da situação etnográfica da pesquisa que embasou minha tese de doutorado sobre os conceitos de tradição e pós-colonialidade em Cabinda, província do norte de Angola. Não se trata de uma amostra ou condensação de resultados expostos na tese, mas de um desdobramento da análise destes resultados a partir de questionamentos à pesquisa referenciados nos estudos de gênero e nos estudos feministas. Emprego a noção de posição de sujeito baseando-me nas análises de Wendy Holloway e Henrietta Moore sobre os “investimentos” que sujeitos fazem em formas que consideram mais satisfatórias de reconhecimento por seus interlocutores. Por situação etnográfica entendo, grosso modo, o conjunto de relações que o pesquisador estabelece com pessoas, lugares e ideias no processo de inserção em um determinado contexto sociocultural, condicionando-o ou, de certa forma, direcionando-o a enxergar e problematizar determinadas questões, e outras não, a respeito daquele contexto. Partindo do pressuposto de que a situação etnográfica é construída mutuamente entre pesquisador e interlocutores, busco, com esta reflexão, identificar correlações entre alguns elementos da descrição etnográfica da pesquisa em Cabinda e diferentes modos de construção de masculinidades descritos pelo referencial antropológico e dos Estudos Africanos.
Notas sobre fotografia, política e cultura durante a Revolução Moçambicana (1975-1986)
Autoria: Gustavo Fernandes dos Santos (UFPR - Universidade Federal do Paraná)
Autoria: Ao conquistar a independência após dez anos de luta armada de libertação nacional, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) garantiu a hegemônia política necessária para impôr seu projeto revolucionário de construção de uma nação socialista ba África austral. Neste contexto, a imagem foi instrumentalizada como arma ideológica, capaz de massificar a transmissão de informações, ideologias e políticas da Frente, atravessando a diversidade e as complexidades sócio-culturais da sociedade moçambicana. A estatização da imprensa, a criação de um centro de formação de fotógrafos e a organização de exposições nacionais de fotografia por parte do governo permitiram o florescimento de uma geração de fotógrafos empenhados na tarefa de construirnuma nova imagem para Moçambique e seu Povo, em contraste com as representações coloniais. Este artigo busca proporcionar um refinamento do problema de pesquisa para o prosseguimento de minha pesquisa de mestrado sobre as políticas de representação fotográfica do período da guerra civil moçambicana, travada entre 1976 e 1992. O objetivo é mapear trajetórias e relações sociais de fotógrafos profissionais atuantes no referido contexto, atraídos pelo projeto modernizador e revolucionário da Frelimo, partindo da trajetória do influente fotojornalista Kok Nam e se estendendo para outros profissionais relacionados, como Moira Forjaz, José Cabral e Daniel Maquinasse. O work constrói seus dados etnográficos através do diálogo entre as trajetórias e histórias de vida destes fotógrafos com suas produções, de maneira a apreender um conhecimento sobre os processos sócio-históricos de Moçambique durante o período de construção e crise do projeto de Estado-Nação identificado com o governo de Samora Machel e a consequente guerra civil que assolou o país entre os anos de 1976 e 1992. O estudo se propõe também a refletir sobre as potencialidades da análise das fotografias, de seus contextos de produção e das trajetórias dos fotógrafos como meio de abrir possibilidades heurísticas para diversificar abordagens sobre a história moçambicana em alternativa ao "Roteiro de Libertação" enfatizada como história oficial e fonte de legitimidade política pela Frelimo na contemporaneidade.
Pensamento Pan-Africanista, Cultura Nacional e Políticas Culturais Pós-Independência na República de Guiné
Autoria: Laís Cabral Neckel (estudante)
Autoria: O presente work busca apresentar a relação do pensamento e discurso político sobre cultura nacional presente nos processos de independência e pós-independência da República de Guiné por meio das políticas culturais como estratégia de fortalecimento de uma identidade nacional, assim como a busca pela promoção das expressões culturais de Guiné. Para tal, discute-se a atuação política cultural de Ahmed Sékou Touré em relação ao movimento pela libertação de Guiné. O work se direciona na relação de Sékou Toure no pensamento e atuação anticolonialista em Guiné enquanto colônia da França por meio do pensamento pan-africanista característico de seu governo, seus envolvimentos, relações e ações no pensamento de uma África anti-colonial. A notável difusão das expressões culturais de Guiné e o reconhecimento destas no cenário internacional africano e intercontinental europeu-americano são também resultados de políticas adotadas no campo cultural no período do mandato de Sékou Touré, as quais apresentam específicas relações no que diz respeito ao pensamento anti-imperialista adotado na época em busca a promoção de uma cultura nacional. Acentua-se, desta forma, a participação de Fodéba Keita nesse movimento, assim como sua importante atuação como artista e fundador do que veio a se tornar a companhia nacional de dança de Guiné, Les Ballets Africains, fundado em 1950. A expansão intercontinental das expressões culturais do país se deu não apenas enquanto resultado imediato, como ocorreu com a repercussão dos Les Ballets Africains na Europa e Estados Unidos, mas também por meio de atuações individuais de guineenses que se formaram enquanto profissionais na percussão, dança e canto nos anos de mandato de Sékou Touré, estes que hoje são atuantes nos mais diversos países da Europa às Américas.
Uma história do processo social do cacau biológico na Ilha de São Tomé e Príncipe
Autoria: Joyce Silva dos Santos Drumond Linhares (UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro)
Autoria: Esse work é uma análise da configuração social da produção agrícola, principalmente do cacau, na Ilha de São Tomé e Príncipe (República Democrática de São Tomé e Príncipe, país insular localizado no Golfo Guiné). Com inspiração nos estudos que tem o poder como foco de escolas disciplinares filosóficas, históricas e antropológicas (Michel Foucault, Benedict Anderson, Eric Wolf, Sidney Mintz), o work pretende analisar criticamente o desenvolvimentos histórico desde o colonialismo ao momento presente em que vive a ilha relações de cooperação internacional que introduziram novas técnicas de produção e novas formas de comercialização, o selo biológico que está inserido na cadeia do mercado internacional de comércio justo. O cacau, fruto que chegou no século XIX na ilha, atravessa a história dos sãotomenses, constituindo-se como elemento importante na organização social do país. Mesmo não sendo um fruto nativo da ilha, está presente nos traços arquitetônicos, na literatura e no imaginário como parte da identidade da ilha e lembrando uma época de riqueza, mas também de concentração, segregação e exploração, evocando tristes memórias, como já relatado por vários autores. Na pós independência (1975), o cacau foi considerado por um longo período um produto decadente na ilha em comparação aos tempos áureos em que o país chegou a ser o maior exportador de cacau do mundo, mas ainda assim se manteve e mantêm como o principal produto de exportação dos ilhéus. A base econômica da ilha de São Tomé e Príncipe é extremamente estreita, isso é pouco diversificada e insuficiente na produção de bens e serviços. É a agricultura uma fatia importante, contribuindo com cerca de 20% do PIB nacional e sendo o cacau o principal produto exportado. Em 1987, a partir de um acordo com o Banco Mundial, o governo da ilha cria um Programa de Ajustamento Estrutural (PAE), que teve diversos efeitos sociais, como greves e paralisações das estatais agrícolas, agravamento de desequilíbrios econômicos internos e externos. Isto levou ao governo a rever suas políticas de distribuição de terras (que na pós independência nacionalizou as terras criando empresas estatais em cada roça), elaborando um Projeto de Privatização da Terra e de Apoio ao Desenvolvimento do Pequeno Produtor (PPADPP). O PPADPP vai trazer uma nova estrutura agrária, novos atores sociais, e fará parte de um processo de reposicionamento dos produtores de cacau no mercado ecológico (comércio justo) que começa a se constituir. Novas técnicas de cultivo do cacau serão introduzidas na ilha a partir do Programa Nacional de Apoio à Pequena Agricultura Familiar PNAPAF (1995 – 2003) que vai ter apoio de ongs internacionais, associações locais e do governo sãotomense.
“Estar virando”: proposições etnográficas de variações da diferença em Cabo Verde.
Autoria: Natalia Velloso Santos (Consultoria)
Autoria: Este work é fruto da pesquisa desenvolvida ao longo do doutorado em Antropologia, realizada a partir das experiências compartilhadas com os integrantes de uma associação comunitária, a Associação Pilorinhu (AP), situada na periferia da cidade da Praia, capital de Cabo Verde. O grupo surgiu em 2013 a partir da iniciativa de jovens moradores do bairro de ocupar o prédio de um antigo mercado abandonado e, desde então, cuida da manutenção do espaço e oferece diferentes cursos e atividades voltados principalmente para as crianças e outros jovens. As análises aqui apresentadas estão focadas nas reflexões dos integrantes da AP a partir de sua autoidentificação enquanto cabralistas e pan-africanistas. Uma perspectiva fundada na compreensão de que o projeto anticolonial iniciado pelos líderes das independências dos países africanos foi interrompido, seja pelo assassinato desses líderes, seja pela efetivação de um novo modelo de colonização (neocolonialismo). A busca pela conexão com o continente africano e com o pensamento de Amílcar Cabral é uma forma de dar continuidade à independência cabo-verdiana que, do ponto de vista de jovens moradores da periferia, ainda precisa se completar e corre o risco de retroceder. A proposta aqui é contrapor essas visões às teorias que reivindicam a noção de mestiçagem enquanto origem de uma singularidade da sociedade cabo-verdiana, tendo em vista a criação de uma unidade nacional. Como sugere o sociólogo cabo-verdiano Gabriel Fernandes (2002), o processo de construção de uma identidade individual e coletiva em Cabo Verde foi protagonizado pelas elites ou pelos grupos que aspiravam a ascensão social a partir do reconhecimento desta identidade. Segundo o autor, as diversas fases desse debate, desde os primeiros anos da colonização, sempre foram atravessadas por um processo por ele denominado de “diluição da África”. O ancoramento desse processo foi a narrativa da existência de um estatuto específico para os cabo-verdianos, fruto da ação do estado colonial que fomentava uma distinção em relação à população dos demais países africanos. A hipótese do work é que as formas de (re)conexão com a África colocados em prática pelos integrantes da AP parecem deixar de lado o paradigma da unidade de uma identidade fixa, associada às narrativas coloniais, para afirmarem processos de identificação mais próxima à lógica das variações, ou modulações. A expressão que dá título ao work é uma reflexão a partir deste tema. Pretende-se, portanto, através da contraposição entre as narrativas do campo intelectual e as teorias dos integrantes do grupo, pensar acerca de suas contribuições sobre processos contemporâneos de identificação e diferença que se atravessam na sociedade cabo-verdiana.