GT 41. Etnografia nas cidades e narrativas imagéticas
Coordenador(es):
Jesus Marmanillo Pereira (UFMA - Universidade Federal do Maranhão)
Cornelia Eckert (UFRGS)
As cidades em suas complexidades e contradições, suas transformações e suas crises, suas dinâmicas e diferenças são questões antropológicas que receberam importante atenção nos estudos etnográficos. Pesquisas que ao portarem atenção aos antagonismos, aos conflitos e segregações consolidam a prática antropológica e produzem um profícuo debate com base em etnografias urbanas. Elas sinalizam a desnaturalização de realidades sociais, violências, injustiças, discriminações, e disjunções que marcam tais cenários. Não raro, focalizam-se sobre as formas de sociabilidade, os códigos de emoções, as redes de solidariedade, os lugares de identidades e sobre os nós de memórias nos espaços e nos tempos vividos pelos citadinos, nas territorialidades de convívio ou de pertença. Ao atentarmos para estas produções, percebemos a recorrência à produção de narrativas imagéticas a partir de diferentes suportes como fotográficos, videográficos, fílmicos, sonoros, desenhos e performances. Produção que constitui a estética e estilística da etnografia, e que circula em outras formas relacionadas à pesquisa antropológica: exposições fotográficas, mostras fílmicas, expressões artísticas, audições, em redes sociais online e na web. Buscamos pesquisas que reflitam sobre o urbano, a partir de etnografias que dialoguem com tais representações imagéticas, que apontem para as relações de poder, configurações no campo de pesquisa, memórias e a complexidade das urbes nos diferentes contextos, locais e global.
Resumos submetidos |
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A espetacularização do skate de rua: estratégias em torno de uma prática citadina Autoria: Giancarlo Marques Carraro Machado (UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros) Autoria: A prática do skate de rua historicamente tem sido considerada um problema para as governanças urbanas paulistanas. Muito já se tentou para reduzir os conflitos que ela acarreta no cotidiano da cidade de São Paulo, desde a sua proibição até a criação de projetos de lei e frentes parlamentares a fim de regulamentar a sua realização. Diante disso, pode-se considerar que há, com efeito, uma notável dificuldade por parte de diversos agentes políticos em assimilar, por vias institucionais, as pretensões ambivalentes repercutidas por aqueles que fazem parte do universo do skate. No entanto, malgrado tal dificuldade, é importante reconhecer que também há algumas iniciativas desenvolvidas em tempos recentes que vêm buscando novas alternativas frente às ações político-urbanísticas já realizadas que se centraram apenas na esportivização da uma forma de citadinidade. Também na contramão dessa dificuldade, há ainda um corpo de agentes ligados ao mercado e aos meios de comunicação hegemônicos que já percebeu que a citadinidade skatista, embora muitas vezes incompreendida, tem potencial para ser incorporada conforme determinadas demandas econômicas. Não é de hoje, então, que o skate de rua vem se tornando uma fonte de lucro para investidores. Muitas experiências contestatórias de seu universo, inclusive, estão sendo cooptadas e vendidas como produtos para um público composto não apenas por skatistas, mas também para uma grande massa de simpatizantes de sua prática. Assim sendo, a citadinidade, apesar de muita combatida, também vem sendo instigada e remodelada para atender a diversas finalidades, sejam elas comerciais, midiáticas, esportivas e político-urbanísticas. O objetivo da apresentação é analisar, a partir de etnografias realizadas para fins de minha tese de doutorado (Machado, 2017), como as “maneiras de fazer” (Certeau, 2009) a cidade, as quais são taticamente acionadas pelos skatistas, estão sendo cooptadas por uma série de agenciamentos que intentam impulsioná-las de forma um tanto estratégica e utilitarista. Almeja-se problematizar os impactos que a espetacularização da citadinidade – considerada como uma consequência dessa cooptação, a qual pode ser, inclusive, consumida – causam no cotidiano dos espaços urbanos e nos gerenciamentos que deles são feitos a ponto de empreender novas imagens para a cidade.
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Alvorada do remo: memória, cidade e imagens. Autoria: Cristhian Fernando Caje Rodriguez (UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina) Autoria: O work que se segue elabora uma reflexão sobre os processos de construção de narrativas sobre a memória e a história do remo em Florianópolis, capital do estado de Santa Catarina, a partir da introdução e do incentivo desse esporte durante a primeira metade do século XX. Para tal, foi analisada a exposição fotográfica intitulada "A História em 100 anos. Homenagem a todos que dignificaram as cores riachuelinas", construída, musealizada e exposta nos salões do centenário Clube Náutico Riachuelo, pelos próprios riachuelos durante o ano de 2015. Essa exposição se insere dentro de um conjunto de atividades comemorativas pelo centenário da fundação do clube, como homenagem à agremiação esportiva mais antiga do estado, que se mantém ativa atualmente. Percebemos que ao narrar uma história das imagens, a partir desse acervo, reconstitui-se, ainda que parcialmente, aspectos da visualidade de um tempo regido pela experiência do olhar. Valorizando os aspectos produtivos dessas imagens, como uma outra forma de ver e mostrar a cidade de Florianópolis. Dotando as fotografias de "agência", nos permitiu, conhecer uma história avessa a aquela que os remadores contam.
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Auto-representação feminina: intenções sobre uma análise da produção fotográfica contemporânea em Maceió/AL, sob marcadores raciais e de gênero Autoria: Tayná Almeida de Paula (Universidade Federal de Alagoas) Autoria: O presente projeto, inserido na linha de pesquisa PRÁTICAS CULTURAIS, IMAGEM E MEMÓRIA, do Programa de Pós Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal de Alagoas (PPGAS/UFAL), pretende refletir sobre as possibilidades de construção de uma análise sobre a autorrepresentação de mulheres na produção fotográfica contemporânea em Maceió/AL, sob marcadores raciais e de gênero. Tendo em vista o atual processo de consolidação pelo qual a “fotografia alagoana” passa, seja através do engajamento de coletivos fotográficos ou do início de um reconhecimento de profissionais da área nacional e internacionalmente, nota-se na cena fotográfica um movimento reivindicatório crescente, a partir de inciativas individuais e coletivas, sobre a representação fotográfica de mulheres objetificadas sexualmente nas produções oriundas do cisheteropatriarcado. Nesse sentido, uma vez que no campo profissional da fotografia as mulheres ou não tiveram acesso, ou tiveram seus nomes reduzidos, omitidos e negligenciados, o projeto prevê situar o problema das assimetrias de raça e gênero neste campo, especialmente em Maceió, e refletir acerca deste movimento heterogêneo voltado a autoimagem, no qual as mulheres a partir de diferentes experiências e locais de fala, tem subjetivado e politizado o dano sofrido socialmente através de um fotoativismo e da construção de uma nova estética.
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Caminhadas exploratórias - um certo olhar Autoria: Aline Gama de Almeida (Instituto Nacional do Semiárido) Autoria: Um dos métodos iniciais da etnografia urbana é a realização de “caminhadas exploratórias” pelo espaço da cidade para reconhecimento e definição do campo. Nessas caminhadas, as camadas da cidade aos poucos se revelam. As pessoas com suas cores, formas e cultura; a arquitetura, suas linhas e sombras; os transportes, seus ruídos e rastros entremeiam a sensibilidade cultural e teórica do antropólogo que começa a definir sua narrativa da e na cidade.
Contudo, cada cidade requer um tipo de caminhada que também é determinada por quem os passos são dados. A atenção a esse exercício inicial, inaugurado por Robert Park e incorporado na rotina da antropologia urbana, partiu de dois processos de mudanças de residência do Rio de Janeiro para duas cidades do Semiárido brasileiro. Esses suscitaram indagações sobre o movimento que traça as perspectivas visuais que se delineiam logo após a esse método inicial e norteiam as pesquisas urbanas. Será, então, o plongée desses primeiros passos o foco da análise desse ensaio.
Esse trata de uma pesquisa inicial sobre o termo "caminhadas exploratórias" que revisita a antropologia urbana brasileira e demais autores que já discutiram o ato de caminhar na cidade. O intuito do work é refletir essa perspectiva visual a partir das peculiaridades desse espaço das cidades brasileiras. Nele se exercem diferentes formas de sociabilidade, mas também se materializam as nuances das fronteiras entre o público e o privado.
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Catumbi revisitado: uma reflexão etnográfica sobre a identidade social de um bairro a partir de movimentos urbanos no Rio de Janeiro Autoria: Debora Pereira Faria (UFF - Universidade Federal Fluminense), Debora Pereira Faria Autoria: Este work procura discutir sobre a identidade social do bairro do Catumbi, município do Rio de Janeiro, com base em três eixos principais: sua história; o movimento dos moradores do bairro ocorrido nos anos 1960 e 1970, que resultou em desapropriações e demolições na região; o Movimento de Trabalhadores Cristãos (ou ACO, Ação Católica Operária), sediado no bairro.
Abordarei o tema das intervenções urbanas sofridas pelo bairro ao longo dos anos, como a construção do túnel Santa Bárbara e da Linha Lilás, e suas consequências para a região e seus moradores. Uma delas é a oposição entre os moradores antigos e os moradores novos. Os primeiros têm receio de que seus costumes se percam com a vinda de pessoas de fora. Estes últimos chegam com seu próprio modo de vida e são cobrados pelos moradores antigos para que se adaptem ao modo de vida local. Esta nova situação é trazida pelas diversas intervenções por que o bairro passou, que levou também às demolições e expulsão de moradores antigos do bairro.
O Movimento de Trabalhadores Cristãos, MTC, é um movimento ligado à igreja, mas não é subordinado à instituição. Não é um movimento de massa. Inicialmente o MTC era ligado à paróquia através do pároco da igreja do bairro, Nossa Senhora da Salette, Pe. Mário Prigol, falecido em novembro de 2018. Agora, após sua morte, a relação entre o MTC e a igreja está se desfazendo. Padre Mário foi muito atuante no movimento de moradores e nas favelas do bairro, sendo muito bem quisto por todos.
Este estudo realiza por meio de work de campo (observação direta) e análise documental e se apoia ainda em outros três works sobre o Catumbi. “Catumbi, a rebelião de um povo traído”, de Guida Nunes, que trata do movimento de 1960 e 1970 como um caso de especulação imobiliária. O livro “Movimentos urbanos no Rio de Janeiro”, de Carlos Nelson Ferreira dos Santos, que trata do mesmo período, mas como um caso de formação de um movimento urbano. O livro “Quando a rua vira casa”, de Marco Antônio da Silva Mello e Arno Vogel, um estudo comparado sobre apropriação de espaços públicos para fins de lazer, realizado no fim dos anos 1970 e início dos anos 1980. Este último work muito contribui para a compreensão do modo de vida local e a sua defesa pelos então moradores no contexto das intervenções urbanas. Foram utilizados também alguns documentos aos quais tive acesso na igreja da Salette e que pertenciam a Pe, Mário, como um levantamento sócio-econômico feito pelos próprios moradores no início dos anos 1970 para impedir as desapropriações.
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Cinemas do interior: memórias compartilhadas na rede mundial de computadores Autoria: José Muniz Falcão Neto (UFPB - Universidade Federal da Paraíba) Autoria: Os cinemas no vale do mamanguape, região localizada no litoral norte da Paraíba, foram bastante presentes na vida dos interioranos durante décadas. Dois são os maiores e principais cinemas desta região que projetaram filmes em bítolas de 35mm, Cine Teatro Eldorado (1965-1989) e o Cine Teatro Orion (1944-1988), respectivamente, localizados nas cidades de Mamanguape-PB e Rio Tinto-PB, municípios compostos por indígenas Potiguara e pequenos trabalhadores rurais, que iniciam sua urbanização/modernização com a instalação da Fábrica de Tecidos Rio Tinto em 1917, a imigração de trabalhadores à Fábrica, construções de casas e prédios públicos e a entrada dos grandes cinemas com as imagens dos antigos filmes exibidos que apresentaram um novo mundo até então desconhecido por parte desta população. Apesar do fechamento destes antigos cines, os espectadores/moradores dessas duas cidades, revivem e rememoram as antigas experiências através de novos aparelhos (Tv's, computadores e celulares) e plataformas (Facebook), dando continuidade as suas memórias cinematográficas, apresentando as influências do cinema e dos antigos filmes nas suas vidas cotidianas. Partindo da pesquisa de mestrado intitulada Etnografia das memórias cinematográficas no vale do mamanguape-PB (2019), este artigo abordará uma das metodologias adotadas no work com as memórias coletivas (HALBWACHS, 2003) e os cinemas (HIKIJI, 2012; CANEVACCI, 1990), as recepções fílmicas dos antigos espectadores e trabalhadores dos Cines Orion e Eldorado. Assim, portanto, discutirei o sub-capítulo intitulado Memórias compartilhadas, apontando a netnografia (HINE, 2004) trabalhada na coleta fotográfica e na captura de print's dos antigos filmes e comentários postados na plataforma Facebook relacionados aos antigos filmes e os antigos cinemas. O objetivo é demonstrar o rendimento do conceito de mimesis (BENJAMIN, 1996, 1955; TAUSSIG, 1993) na análise do compartilhamento das imagens dos antigos filmes na rede mundial de computadores. Nessa direção a etnografia das memórias associadas às salas de cinema leva também a refletir sobre o conceito de duração (ECKERT; ROCHA, 2001). Diferentes narrativas imagéticas surgem, assim, em meio à urbanização e modernização dessas cidades no século xx.
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Comunidade Visível: Práticas de Imagem e works da Memória no Poço da Draga [Fortaleza,Ceará,Brasil] Autoria: Felipe Camilo Mesquita Kardozo (UFC - Universidade Federal do Ceará), Profª. Drª. Glória Maria dos Santos Diógenes (Orientadora) - UFC/PPGS
Autoria: Como um narrador mobiliza seu dispositivo celular, suas redes digitais e seu acervo pessoal de fotos e filmes na configuração de uma constelação de imagens que lhes servirão de evidências, testemunhas, actantes, ferramentas de suas memórias na execução de narrativas sobre si, sobre seus espaços e sobre sua comunidade? Entendendo o fazer antropológico como filosofia com gente dentro (INGOLD, 1992), penso tais questões com moradores do Poço da Draga (Fortaleza, Ceará) - com seus jovens documentaristas e com os velhos contadores das histórias da comunidade, memorialistas de esquina como os chamo, ou ainda trabalhadores da memória. Mais interessado no que fazem com as imagens que já possuem do que em como as produzem, cunhei como ferramenta a noção de prática de imagem à partir de CERTEAU (2009) colocando-a entre os “works” da memória, como BOSI (1994) trata determinados esforços recordatórios. Vendo fotos e filmes junto de seus autores e vizinhos, minha trajetória no Poço toma emprestada um pouco da prática fotobiográfica de Fabiana Bruno (2010) e esboça traços de uma cartografia. Com isso, problematizo imagens e narrativas produzidas, arquivadas e compartilhadas por uma rede de relações de moradores de uma comunidade centenária na beira da orla turística de uma grande capital.
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Em cena os coletivos culturais suburbanos Autoria: Sandra Maria Corrêa de Sá Carneiro (UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro) Autoria: O objetivo mais amplo do estudo é pesquisar as ações e práticas de coletivos culturais que atuam na cidade do Rio de Janeiro. Compreendo estes coletivos como uma das modalidades mais expressivas dos movimentos sociais contemporâneos e, provisoriamente, podem ser entendidos como a organização de pessoas que lutam por interesses comuns e que reivindicam, principalmente, maior atenção do poder público face a precariedade de equipamentos culturais e de investimento público em cultura em determinados bairros da cidade do Rio de Janeiro. A partir de um mapeamento inicial, selecionei alguns coletivos que tem atuação mais expressiva nos subúrbios do Rio de Janeiro e que utilizam a categoria suburbano como marcador social. A ideia norteadora é mostrar como esses grupos fomentam formas de sociabilidade, reinventando esses locais a partir da realização dos diferentes eventos que promovem (rodas de choro, feira orgânica, produção de documentários, festas comemorativas de cunho religiosos ou não, etc.), procurando valorizar o sentimento de pertencimento a esses territórios e, sobretudo, romper com a forma estigmatizante com que esses espaços são representados. Parto da hipótese de que esse processo de apropriação do espaço público pelos coletivos parece apontar para o delineamento de novas formas de ser e estar na cidade, como resultado de experiências e práticas sociais de construção da cidade que se quer. Desta forma trata-se de pensar o cotidiano, a apropriação social do espaço na sociedade urbana como ações políticas e como parte de uma luta mais geral de acesso ao direito à cidade.
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Favela do Tranquilim: Narrativas orais e visuais de um trauma no urbano mossoroense Autoria: Raoni Borges Barbosa (UERN - Universidade do Estado do Rio Grande do Norte), Ângelo Gabriel Medeiros de Freitas Sousa (PPGCISH-UERN; BITS-UERN; GREM-UFPB) Autoria: Este work discute, desde uma abordagem em Antropologia das Emoções e Moralidades, as sociabilidades urbanas cotidianas de uma comunidade periférica de Mossoró-RN, oficiosamente conhecida como Favela do Tranquilim, a partir da elaboração de narrativas orais e visuais que problematizem sua cultura emotiva, seus códigos de moralidades e seus exercícios nativos de memórias de lugares de pertença e de reconhecimento. Nessa proposta de análise, interessa problematizar e discutir o urbano como lócus de processos intersubjetivos tensos e densos, de estilos de vida plurais e de múltiplas arenas públicas em disputa moral. Nesse sentido, o universo de pesquisa em tela, a Favela do Tranquilim, é problematizado como possibilidade de rememoração do trauma de sua realocação geográfica, bem como de sua remontagem emocional e moral e de sua reconfiguração simbólica. Estes processos traumáticos, de ruptura e de reinvenção de fachadas coletivas, devem ser etnografados enquanto narrativas orais e visuais densas que envolvem não somente a comunidade em questão, a Favela do Tranquilim, mas questões urbanas e públicas de forma ampla na cidade de Mossoró-RN.
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Identidades de gênero e práticas nos espaços citadinos de Belém - PA por pessoas trans Autoria: Gleidson Wirllen Bezerra Gomes (UFPA - Universidade Federal do Pará) Autoria: O objetivo deste estudo é apresentar uma narrativa imagético-fotográfica sobre a prática de espaços (CERTEAU, 2016) de Belém (PA) por pessoas trans. O texto, assim, integra as discussões da minha tese de doutoramento sobre a produção das subjetividades trans/identidades de gênero na relação com cidade. A narrativa que proponho trata-se de dois momentos organizados pela ONG Rede Paraense de Pessoas Trans (REPPAT), referentes aos atos em alusão ao Dia da Visibilidade Trans, 29 de janeiro. Os atos foram realizados nos anos de 2019 e 2020, tendo como foco a visibilização das vivências trans na cidade de Belém, a partir da ocupação de espaços públicos na capital paraense. Ou, como afirma Rafael Carmo, um dos interlocutores desta pesquisa e coordenador da REPPAT, é preciso que os corpos e vivências trans sejam vistos “em plena luz do dia”.
Ao partir da perspectiva de Simmel (2005) sobre a vida na grande cidade e da Antropologia Urbana, em parte herdeira do pensamento simmeliano (VELHO, 1978, 1980; PERLONGHER, 1984, 2008; ROCHA; ECKERT, 2013; SILVEIRA, 2016), interessa-me compreender aspectos da construção das identidades de gênero entre pessoas trans no trânsito pela cidade, ou ainda, nas táticas que constroem politicamente para pratica-la. Neste caso, destaco as ações da REPPAT enquanto grupo organizado de pessoas trans na luta pela visibilidade, a partir de suas agências nos espaços da cidade como formas de manifestação ético-estética na urbe amazônica.
A primeira narrativa que proponho aborda o ato-manifesto realizado na tarde dia 27 de janeiro de 2019 em frente ao Mercado de São Brás, no bairro de São Brás, com o tema “Ser Trans é resistência. Minha identidade é um ato político”. Neste ato a questão da identidade de gênero aparece como algo central para as pessoas trans. Já o ato ocorrido em 2020 foi denominado de II Piquenique Trans. O piquenique foi realizado num domingo, dia 26 de janeiro de 2020, na Praça da República, bairro da Campina, no centro da cidade, e o foco da ação foi a visibilidade das vivências trans. A escolha da Praça da República no domingo pela manhã foi justamente por ser o dia e horário de maior movimento naquele espaço público, com famílias, jovens e crianças. O objetivo das pessoas trans era mostrar às pessoas presentes na praça que aquele espaço também deve e pode ser praticado pelos(as) transexuais. Por fim, destaco que estes dois atos organizados pela REPPAT demonstram, de maneira pontual mas significativa, uma parte da luta das pessoas trans em Belém pela visibilidade e respeito às suas vivências. Trata-se de uma forma de luta assumida por essas pessoas quanto ao direito à ocupação de espaços públicos da cidade, com o objetivo de afirmar suas identidades de gênero como parte relevante das vivências no cotidiano da urbe.
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Identidades em interação: a representação artesã através de imagens. Autoria: Jonas da Silva Santos (SEDUC-MA), Jesus Marmanillo Pereira (UFMA) Autoria: Partindo da hipótese de o conhecimento a respeito das práticas e saberes (ROCHA E ECKERT, 2015) de um grupo de artesãos, na cidade de Imperatriz - MA pode constituir um interessante caminho para se refletir sobre processos identitários, constituídos a partir das interações cotidianas, o presente artigo busca trazer uma etnografia visual a respeito da Associação dos Artesãos de Imperatriz (ASSARI). Acreditamos que a produção identitária emerge a partir dos personagens da referida associação e de suas interações internas, e com outros grupos. Tornar-se, e ser, artesão é o motivo condutor para agir e passar saberes vinculados a identidade e ao pertencimento deste grupo social. Emanando desse processo uma conexão entre o Self e os papéis sociais ancorados aos grupos, que promovem a integração dos sujeitos a sociedade e mantém a estabilidade das associações. E assim, ao lutarem por espaços urbanos dão significados identitários aos lugares que ocupam reconfigurando o cenário. Dentro deste contexto, para a análise dessa mudança na paisagem, PEREIRA (2016) explica que o uso da imagem tem sido uma técnica constantemente aprimorada e utilizada pela sociologia e antropologia permitindo alcançar novas dimensões. A imagem possibilita compreender as relações sociais e é valiosa para a construção do texto, pois reativa a memória do pesquisador. Através de imagens que mostram a interação dos artesãos com o público e a dinâmica da utilização do ambiente urbano é possível compreender os conflitos e as negociações que reconfiguram o cenário.
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LAVIDOC: Reconstrução da memória do Bairro Santa Cândida em Juiz de Fora/MG Autoria: Carlos Francisco Pérez Reyna (UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora) Autoria: A história de uma cidade não é apenas composta por suas construções, mas principalmente por seus personagens e suas memórias. Construímos o sentido de pertencimento a partir de nossas lembranças, quanto mais forte for o reconhecimento da sociedade em geral em relação à sociedade de pertencimento, maior será a recorrência do indivíduo a estas lembranças para a composição de suas histórias de vida.
Esse é o pano de fundo para a apresentação deste primeiro relato de pesquisa do Laboratório de Antropologia Visual e Documentário (LAVIDOC) da UFJF. O work se vale das fotografias históricas e familiares conjugadas a relatos orais para reconstruir a trajetória histórica do bairro Santa Cândida em Juiz de Fora (MG). Dos bairros de Juiz de Fora, a comunidade de Santa Cândida é sem dúvida a quem tem um protagonismo no que diz respeito à produção e resistência cultural e política, religiosidade afro brasileira, movimentos sociais e questões étnico-raciais. Também conhecido como Candinha, o bairro tem origem no século XX, quando pessoas começaram a ocupar essa região a procura de emprego. Hoje, com uma população aproximada de 3.500 habitantes, em sua maioria negros, é composta por pedreiros, auxiliares de pedreiro e domésticas e faz deste bairro um lugar onde se tecem múltiplos saberes e conflitos. Com o aumento da violência a partir de 2003, por causa do tráfico, a comunidade vem criando novas narrativas para se reinventar diariamente.
Por tratar-se de um tema contemporâneo, ocorrido em um passado não muito remoto, a fonte oral como método, torna-se eficaz para rememorá-lo seja como atores ou testemunhas do vivido e descobrir a identidade narrativa de cada um deles (ECKERT & ROCHA 2010). Fotografia é Memória e com ela se confunde. Toda reconstituição ou reconstrução do passado, sempre é um processo de criação de realidades, pois cada ator social tem uma imagem mental do fato. A fim de favorecer estes conjuntos de experiências e dar evidência social, cultural e política para grupos então excluídos ou considerados menores no contexto da contemporaneidade, a fotografia, junto com a entrevista, são utilizados seja como “pontos de partida”, “desencadeadoras”, “molas inspiradoras” Samain (1995), seja como “ muletas de memória”, Von Simson (2002).
Referência bibliográficas
ROCHA, A. L. C. da, & ECKERT, C. (2010). Cidade narrada, tempo vivido: estudos de etnografias da duração. RUA, 16(1), 121-145.
SAMAIN, Etienne. 1995. "'Ver' e 'dizer' na tradição etnográfica: Bronislaw Malinowski e a fotografia". Horizontes Antropológicos, 2: 19-49.
SIMSON, Olga Rodrigues de Moraes Von. Memória e identidade sócio-cultural. In: GUEDES PINTO, Ana Lúcia. Campinas: Mercado das Letras: Faep/Unicamp: SP: Fapesp, 2002
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Lembranças viajantes de espaços poéticos urbanos Autoria: Wendell Marcel Alves da Costa (USP - Universidade de São Paulo) Autoria: Esta comunicação define as lembranças viajantes como atividades mentais de revisitação de imagens de experiências em cidades. Referem-se a práticas em espaços “comuns” da cidade, como becos, ruas, parques, avenidas, pontes e viadutos. Aqui, lembramos dos espaços poéticos urbanos, que são pequenos e cotidianos. Por meio de etnografias de rua, nossa pesquisa apresenta doze imagens de experiências vividas em temporalidades significantes, logo, abduzem sentidos afetivos e contra-afetivos em espaços poéticos urbanos. O referencial teórico é baseado nas contribuições de Gaston Bachelard e Gilbert Durand sobre temporalidades, espacialidades e imaginários. Dessa forma, mostramos a cidade como um lugar potencial para a imaginação simbólica das pessoas que praticam os espaços “comuns” e fabulam leituras oníricas na dimensão das lembranças viajantes.
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Memória, Cidade e Patrimônio: um estudo sobre a instalação do Instituto Zoravia Bettiol na antiga Casa dos Leões Autoria: Marina Bordin Barbosa (UFRGS) Autoria: A Casa dos Leões é um bem inventariado pela Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (EPAHC) da Prefeitura de Porto Alegre. No entanto, ela não possui um valor arquitetônico de patrimônio tombado, uma vez que não possui a rubrica de um arquiteto e ter sofrido algumas modificações ao longo de sua trajetória. Construída no final do século XIX, a casa permanece fechada desde que foi doada à Prefeitura em 1991. Em 2018, passa a ter o plano de futura sede do Instituto Zoravia Bettiol por meio de um termo de cessão de uso da Prefeitura. A diretoria do instituto tem buscado meios de financiamento para a reforma da edificação histórica que tem como objetivo a preservação, pesquisa e difusão do acervo da artista plástica porto-alegrense Zoravia Bettiol e oferecer cursos de formação artística, além de pesquisa e editoração. A instituição será um novo centro cultural sem fins lucrativos em uma região privilegiada pela cultura na cidade e visa popularizar as artes visuais e democratizar o acesso aos espaços culturais. Essa etnografia acompanha o processo de transformação da Casa dos Leões no Instituto Zoravia Bettiol junto aos atores envolvidos no processo. A associação do Instituto conta com o Núcleo de Antropologia Visual (NAVISUAL/PPGAS/UFRGS) para o resgate da memória coletiva da Casa dos Leões e seus entornos através da elaboração de uma exposição fotográfica e de um documentário etnográfico. Ao pensar os impactos que a instalação do instituto pode proporcionar à cidade, a pesquisa desvenda quem são esses atores envolvidos nos movimentos de preservação do patrimônio e defesa da cultura em Porto Alegre a partir da Casa dos Leões, a relação da cidade com o seu patrimônio e o papel da Antropologia Visual como uma ferramenta de articulação da universidade em contribuição à comunidade.
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Notas sobre um rolé de escuta ativa na feira de São Joaquim: uma etnografia sonora e fotográfica Autoria: Lucas Barreto de Souza (UFBA - Universidade Federal da Bahia) Autoria: Almejo a esboçar uma descrição da Feira de São Joaquim, em Salvador, Bahia, Brasil, e da diversidade que a caracteriza. Essa descrição é da configuração anterior às recentes mudanças ocorridas após inauguração da parte nova da feira, em 2016. No tempo, o work está localizado num período provisório, de transformações estruturais em São Joaquim. Importante apontar para o uso do “presente etnográfico”, conforme a definição de James Clifford, no primeiro capítulo do livro “A experiência etnográfica”, intitulado “Sobre a autoridade etnográfica”. Apresentar uma pequena mostra da memória histórica da feira, a partir da experiência de um frequentador interlocutor, conforme por ele expressa. Marcar inferências e inflexões surgidas ao longo do tempo transcorrido de convivência com os feirantes. Refletir e explorar a ideia do papel do gravador como elemento adicional na trama, instrumento mediador da relação pesquisadores – interlocutores. Contribuir para o desenvolvimento teórico das reflexões em torno dos conceitos de campo sonoro e paisagem sonora, discussão que relaciona e confronta ideias apresentadas pelos autores Carlos Fortuna (1998), Murray Schaffer (1994) e Tim Ingold (2012) de modo amplo, além de abordar algumas questões referentes ao corpus da pesquisa e ao lócus específico.
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O motel como fonte de produção imagética. Estética e imaginário urbano contemporâneo no Brasil (1969-2019) Autoria: Jérôme Souty (ehess) Autoria: Nascido na década de 1920, o motel norte americano se tornou um dos maiores símbolos do "american way of life" (mobilidade, modernismo, individualismo) e representa uma importante fonte de inspiração para a criação artística: no cinema, na pintura, na literatura...
O motel brasileiro se inspirou na matriz norte americana, mas também se diferenciou dela (o motel, no Brasil, é exclusivamente um "love hotel"), e se espalhou no pais a partir do final dos anos 1960. Apesar de ficar numa posição liminar e ambígua (seja no espaço ou nas representações) e de ser associado a um imaginário da transgressão, os motéis se tornaram, no Brasil, quase uma “instituição”: eles são onipresentes nas paisagens urbanas e suburbanas, nas práticas e no imaginário, e constituem uma indústria importante. A estética inicial carregada e ingênua (arquitetura inspirada e criativa, decorações temáticas, dimensão ainda artesanal do setor com organização familiar) sucedeu a partir dos anos 1990 e 2000, devido a racionalização e profissionalização do setor, uma estética mais estandardizada e inspirada por critérios internacionais (apelo do luxo, universo globalizado do consumo e do lazer, modernidade técnica).
-Nessa apresentação, contaremos a história da adaptação/reinvenção de um modelo sócio arquitetural entre América do Norte e Brasil através da projeção de uma série de imagens: fotos tiradas durante o work de campo, imagens publicitárias, outdoors, decorações internas, obras de arte, capa de jornais, imagens midiáticas...
-Um paradoxo que apontaremos é que o motel brasileiro, a diferença da sua matriz norte americana, quase não inspirou as artes visuais, o cinema autoral e a literatura nacional. No Brasil, o motel se tornou fonte de inspiração em registros diferentes: cenas de novelas, pornochanchadas (e depois indústria pornográfica), manchete de jornais da imprensa marrom, música popular brega ou sertaneja... Porém artistas visuais e performers contemporâneos começaram recentemente a se inspirar dos motéis nacionais.
-Discutirmos também o conceito de “imagem dialética” de Walter Benjamin aplicado ao motel como símbolo urbano e social.
Esse work baseia-se em pesquisas etnográficas em estabelecimentos cariocas e num work de campo e documentário (entre 2007 e 2015) na escala nacional, interrogando clientes, empregados e gerentes de motéis. Principal resultado dessa pesquisa, o livro "Motel Brasil, uma antropologia contemporânea" (Telha/Terceiro Nome) está sendo lançado em 2020. Nessa apresentação, assim como nesse livro, o motel é considerado como um posto de observação para a análise das mudanças sociais e culturais no Brasil do final dos anos 1960 até hoje: estética e imaginário urbano, consumo e lazer, relações de gênero, erotismo e sexualidade.
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Percursos, imagens e sentidos: etnografando os modelos insurgentes de habitar a cidade em Manaus Autoria: Camila Garcia Iribarrem (UFAM), Márcia Regina Calderipe Farias Rufino Autoria: Essa comunicação reflete sobre a experiência de etnografar sentidos e aspectos visuais nos recortes de imagens registrados em percursos de “flanerie” sobre as margens entrecortadas de igarapés na cidade de Manaus, que sustentam, entre as palafitas fincadas sobre seus leitos e encostas, a memória do processo histórico social de constituição da cidade. A “Veneza Amazônica”, como era conhecida a cidade flutuante que surgiu na área central de Manaus, foi destituída e precarizada na dinâmica de expansão urbana, fazendo com que seus moradores ocupassem bairros próximos recém constituidos. Essa lógica de urbanização que prevê uma cidade voltada para os interesses elitistas foi reforçada, nas últimas décadas, pelo modelo de colonização industrial imposto pela Zona Franca de Manaus e seu Pólo Industrial. Porém, insubmissas aos contornos urbanos das edificações industriais, apontam insurgentes as “favelas flutuantes,” que atravessam o distrito fabril da capital, compondo um cenário plural que desafia os modos de pensar o urbano. As habitações sobre as águas são territorialmente limitadas pelas indústrias situadas no Pólo Industrial, por extensas avenidas e bairros construidos por ocupações. Resistentes, insurgentes, as habitações refletem sons e cores em contraste com um quadro imagético que configura a percepção da urbanização contemporânea de Manaus, como uma cidade diversa que tem sido apropriada por populações que tem seu direito à cidade questionado. Nessa cidade identificamos a relação das/os moradoras/es com os igarapés enquanto cursos dágua que inicialmente serviam para a pesca, lavagem de roupas, banho e, atualmente, transformaram-se em território de moradia e sociabilidade, o que não exclui outros usos – depósito de dejetos, lazer para as crianças, meio de circulação na época das chuvas. São áreas consideradas de risco e objeto de um programa de saneamento promovido com o intuito de realocar seus habitantes em outras áreas da cidade como solução para a falta de planejamento urbano. Narrar essa cidade significa transitar entre os vários territórios e sentidos no ir e vir da população pelos igarapés de Manaus como áreas sempre possíveis de habitar.
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Reduzir a complexidade na avaliação da diferença urbana. O papel dos materiais imagéticos na familiarização com a cidade e nas narrativas de sucesso entre residentes urbanos recém-chegados Autoria: Tilmann Heil (KU Leuven) Autoria: Como os recém-chegados consomem e produzem materiais imagéticos para entender a complexidade urbana do Rio de Janeiro e representar seu próprio lugar dentro dela? Desde 2014, tenho trabalhado com recém-chegados espanhóis e senegaleses no Rio de Janeiro, online e offline. Interessado em suas formas de entender e avaliar as múltiplas hierarquias sociais intersectantes que atuam no espaço urbano, este work explora o papel dos materiais imagéticos que meus interlocutores consumem e compartilham em suas plataformas de mídia social, como o Whatsapp e o Instagram. Como os olhares que estes materiais fornecem são, na melhor das hipóteses, parciais, defendo que os recém-chegados lançam mãos de fontes imagéticas para reduzir a complexidade que eles encontram na vida quotidiana nos vários espaços urbanos em que circulam e que, de outra forma, seria esmagadora. Rastreio teoricamente a capacidade do material imagético em reduzir a complexidade ao visualismo ocidental que se perpetua no predomínio do visual sobre outras actividades perceptivas. Argumento que esses materiais imagéticos atuam em dois momentos-chave para reduzir complexidade: primeiro, ao tomar os passos iniciais de busca de orientação em um novo lugar, e, segundo, ao comunicar seletivamente a própria trajetória através do tempo e do espaço dados.
Na primeira parte do artigo, investigo o consumo de material visual à chegada dessas pessoas. Ao analisar dois exemplos, as representações visuais da "cidade maravilhosa" e da violência e do crime, exploro a primeira capacidade redutora das fontes imagéticas que reforçam os estereótipos problemáticos. Em seguida, contextualizo esses exemplos em narrativas que mostram como as pessoas sentiram a necessidade de superar essas reduções para realmente viver. Na segunda parte, interrogo a produção de novos materiais imagéticos, a fim de comunicar a realização exitosa da vida desejada. Grande parte da luta e das dificuldades é filtrada. Esta segunda capacidade redutora emerge da discussão de dois outros casos etnográficos: o da documentação fílmica de eventos religiosos senegaleses e o das transmissões pessoais no Instagram dos espanhóis.
A minha análise mostra como os materiais imagéticos tornam as complexidades urbanas mais acessíveis à medida que mascaram a complexidade que poderia sobrecarregar os recém-chegados. Ao mesmo tempo, esses recém-chegados contam com a mesma capacidade das fontes imagéticas para, eventualmente, contar suas histórias igualmente seletivas de vida urbana. Ambas as reduções contribuem para a avaliação da diferença urbana e das hierarquias de poder e das condições estruturais de raça, classe e gênero e suas interseções, nas quais essas hierarquias se baseiam.
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Urban Sketchers - Natal/RN e a cidade através do desenho. Autoria: Emanoel Aquila Bezerra de Souza (UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte) Autoria: Refletindo sobre o papel do desenho como linguagem de descrição e apresentação do conhecimento, o presente artigo visa abordar questões referentes ao universo dos Urban Sketchers, movimento internacional que desenvolve encontros para promover o desenho de locação. Entre as questões aqui apresentadas, se destacam as maneiras como os desenhadores constroem sua percepção sobre aspectos contidos na paisagem urbana, assim como a noção de trajeto percorrido entre os encontros que fazem com que os integrantes construam uma relação de proximidade com as memórias e com os patrimônios de determinados locais na cidade de Natal/RN.
O grupo natalense iniciou sua atuação no ano de 2013, quando o professor do Departamento de Arquitetura (DARQ) da UFRN, José Clewton, foi convidado pelo fundador do USK Brasil a criar o coletivo local.
Em Natal vêm se estabelecendo uma parceria entre o coletivo e a Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através de projetos de extensão, tais como o “Ribeira Desenhada” (2018), e o mais recente “Cidade Alta Desenhada” (2019), cada um desses foi realizado ao longo de um ano, coordenados por José Clewton, Eunádia Cavalvanti, Petterson Dantas e André Alves, essa equipe representa tanto o Departamento de Arquitetura (DARQ), enquanto professores do quadro efetivo, como também representam os integrantes do coletivo USK-Natal.
O USK-Natal é composto, em sua maioria, por arquitetos e estudantes universitários do curso de arquitetura, mas também existem interessados de outras áreas, como: artes, design, produção cultural, psicologia, etc. De forma geral, a proposta é incluir qualquer pessoa interessada em praticar o “desenho de locação” junto ao grupo.
Para a antropóloga Karina Kuschnir, “tornar-se um desenhador, neste universo, é uma jornada de autoconhecimento” pois, nos desenhos, os objetos são sempre objetos desenhados por alguém (2012). Para o André Alves, coordenador do coletivo potiguar, na notícia que marca o encontro de número cinquenta, ele afirma que o grupo está “desenhando as cidades do Rio Grande do Norte e os bairros da capital, um desenho por vez”. Para ele, todos os encontros são “momentos presenciais marcantes”, é quando praticam a percepção dos espaços urbanos e dos edifícios arquitetônicos, a partir do desenho de observação e locação.
Este artigo também traz imagens que retratam algumas etapas da produção dos desenhos produzidos pelo grupo em encontros dos Urban Sketchers pela cidade de Natal/RN, além de, através da imersão na dinâmica proposta pelo coletivo, desenhos sobre alguns prédios, monumentos históricos e momentos dos USK desenhando, produzidos pelo próprio pesquisador.
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Cidade e corporalidades dissidentes: notas antropológicas a partir de uma família LGBT da periferia de São Paulo Autoria: Ketti Maria Cardozo da Rosa (UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Autoria: Este pôster é um dos desdobramentos das investigações do projeto de pesquisa sobre a Família Stronger, coletivo LGBTQIA+ da periferia de São Paulo, coordenado pelo Prof. Vitor Grunvald (UFRGS), no qual participo, como pesquisadora de Iniciação Científica, pensando a relação entre a ocupação do espaço citadino e corporalidades dissidentes.
Ao atentarmos para as experiências de integrantes da Família Stronger, percebemos como violência sofrida nos espaços urbanos foi fundamental para se organizarem como grupo, constituindo, portanto, importante fator em sua forma de fazer família. De fato, foi a partir de dois casos de violência brutal contra integrantes de famílias LGBTs, uma delas da Stronger, que se produziu um visibilização e ocupação do espaço público por parte desses coletivos.
Ao recorrer ao material etnográfico e audiovisual produzido no âmbito do projeto mais amplo ao qual minha investigação está ligada, este pôster pretende elucidar alguns aspectos da relação entre cidade e corporalidades dissidentes, atentando para acesso diferencial ao “direito à cidade” que alguns sujeitos marcados por dissidências sexogenéricas, de classe e raça possuem.
Nesse sentido, pretendo argumentar que se, por um lado, a experiência na cidade aparece associada à violência sempre latente contra seus corpos, por outro, é também no espaço citadino que esses corpos encontram possibilidades de associação e vivência de suas identidades sociais.
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Ser pibe não é delito: Discursos sobre violência policial e estigmatização da juventude periférica nos muros de Buenos Aires Autoria: Luiza Fonseca de Souza (UPtime) Autoria: A partir de estudos de intervenções urbanas realizadas em estêncil e grafitti na cidade de Buenos Aires, na Argentina, pretendo com essa pesquisa explorar formas de se conhecer conflitos sociais presentes na cidade através do que é lido em seus muros. Tendo residido na capital argentina por cinco meses, realizando um período de mobilidade acadêmica na Universidad Nacional de San Martin, deparei-me em meus percursos diários com uma cidade marcada por uma variedade de slogans e desenhos que trazem sentidos políticos, desde reinvindicações por memória e justiça no período ditatorial, até discussões eleitorais, denúncias aos efeitos do neoliberalismo e violência estatal, mais especificamente discursos sobre brutalidade policial no período democrático. Nesse contexto, me atentei a fotografar discursos que denunciavam o estigma e a violência vivenciados pela população jovem e periférica da capital, reunidos na categoria pibe. A utilização dessa categoria possui, no contexto local, significados destoantes; desde uma forma de chamar a crianças até um uso pejorativo, quando associa jovens marginalizados a perigo e a delito. Analiso as intervenções urbanas como forma de responder a essa estigmatização quando se apropriam do termo pibe, transformam uma categoria cotidiana numa categoria política ao denunciar a contínua violência promovida pelo Estado enquanto se demanda justiça no espaço público, como desenvolve o slogan “Os pibes não são perigosos, estão em perigo.” Através dos slogans, busco compreender um contradiscurso que se fixa na cidade questionando a visão midiática, judicial e socialmente aceita de que os pibes, quando tratando-se especificamente de jovens, homens, frequentemente racializados e que vivem nas chamadas villas emergenciais, são possíveis sujeitos criminosos. O processo de significação de categorias que venho a analisar também se insere numa discussão mais ampla sobre formas de se fazer visível em contextos de marginalização e abre um debate sobre como categorias como vestimenta, questões de classe e raciais no contexto argentino trazem repercussões materiais, através da perseguição policial e casos denominados como gatillo facil. Venho a entender o presente work como um exercício de compreensão de significados locais em diálogo com um contexto global. Tratando-se de um tema que se propaga nas grandes cidades da América Latina, o uso de métodos repressivos pelas forças de segurança vinculadas a homens jovens em contextos de pobreza se torna um paradigma urgente. A imagem do pibe, desde sua estigmatização aos casos de violência institucional, até a recuperação do termo enquanto forma de autoafirmação e inversão da ideia de quem está sujeito a ser perigoso/estar em perigo, molda uma identidade e uma disputa por discursos.
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