MR 017. Etnografia e pós-verdade

Coordenador(es):
Kleyton Rattes Gonçalves (UFC)

Participantes:
Leticia Maria Costa da Nobrega Cesarino (UFSC)
Piero de Camargo Leirner (UFSCar)
Rafael Antunes Almeida (UNILAB)
Stelio Marras (IEB/USP)

A categoria “pós-verdade” emergiu em 2016 para qualificar um conjunto de comportamentos que se tornaram visíveis durante as campanhas para o Brexit e para as eleições presidenciais norte-americanas. Tais práticas, ou bem foram caracterizadas pela produção de formulações que ignoravam os assim chamados “fatos”, ou se valiam do que se nomeou de “fatos alternativos”. Embora o campo da antropologia conte com uma discussão sobre as categorias de farsa, mentira, paranoia, contrainformação e conspiração, a universalização das práticas de “pós-verdade” atualmente catalisou a produção de novas etnografias. Tais pesquisas se voltam para coletivos antivacina, terraplanistas e outras ressonâncias da crise na ciência e no sistema de peritos; negacionistas climáticos e a nova geopolítica no Antropoceno; fake news, desinformação e outros aspectos da política (neo)populista; mídias digitais e a reconfiguração da esfera pública; cyberwars e operações psicológicas. Muitos destes se enquadram naquilo que S Harding nomeou de “alteridades repugnantes”, o que impõe desafios para a realização da pesquisa considerando que suas assunções colocam em questão princípios sobre os quais a antropologia, como uma disciplina acadêmica, está embasada – tanto no que concerne aos seus compromissos epistemológicos, como éticos. Esta mesa redonda pretende endereçar tais desafios, de modo a produzir reflexões sobre alteridade e práticas de conhecimento que produzem e (des)estabilizam verdades na contemporâneidade.