MR 010. Como fica a prática de pesquisa, escrita e ensino das antropólogas depois da maternidade?

Coordenador(es):
Rosamaria Giatti Carneiro (UnB)

Participantes:
Flávia Ferreira Pires (UFPB)
Marina Fisher Nucci (IMS/ Uerj)
Elaine Müller (UFPE)
Debatedor/a:
Rosamaria Giatti Carneiro (UnB)

Assiste-se no Brasil um movimento crescente de questionamento da prática científica de mulheres que se tornam mães: os seus limites, as desigualdades de gênero e o seu não reconhecimento cientifico e político. Essa onda crítica tem recebido o nome de "Parent in Science" e tem ocupado em larga medida mais as ciências duras do que as ciências humanas. Impulsionadas por tal movimentação e por nossas agendas de pesquisa, interessa-nos nessa mesa-redonda refletir sobre a prática da antropologia depois e/ou com a maternidade. Em que medida a pesquisa e a escrita da antropólogas, que se tornam mães, se transforma a partir dessa experiência pessoal? Como os filhos afetam a pesquisa de campo e a escolha temática de seus objetos de trabalho? De que modo a maternidade é tratada e pensada no interior da antropologia brasileira? O que nos contam os estudos clássicos da antropologia mundial e a história da antropologia brasileira sobre a maternidade e antropólogas? Partindo de questões como essas, pretendemos explorar o encontro da prática antropologia e da maternidade através dos prismas pessoal, epistemológico, investigativo e político.

Resumos submetidos
Gestontas? Analisando [e sendo interrompida enquanto isso] discursos científicos e leigos sobre mudanças cerebrais na gestação e maternidade
Autoria: Marina Fisher Nucci (IMS/ Uerj)
Autoria:

Em works anteriores no campo da antropologia da ciência, analisei pesquisas sobre diferenças cerebrais entre homens e mulheres, chamando atenção para o entrelaçamento entre conhecimento científico e estereótipos de gênero. [interrupção 1: a bebê quer mamar] Há poucos meses, enquanto amamentava minha caçula e planejava o retorno da licença maternidade, me deparei com um post em rede social que dizia “Se tornar gestonta é normal! O cérebro muda com a gravidez”, e que citava um estudo científico que “provava” a diminuição de capacidades cognitivas na gravidez. [interrupção 2: ajudar filha mais velha na tarefa escolar] Assim, meu objetivo será refletir sobre a categoria “gestonta” através da análise de posts e estudos citados, investigando noções sobre maternidade e gênero acionadas. [Este era o objetivo inicial – agora precisarei falar também sobre escrever e pesquisar com interrupções]

Maternofobia: como fica a antropologia em tempos de pandemia e pandemônio?
Autoria: Elaine Müller (UFPE)
Autoria:

O ambiente acadêmico reproduz um sistema de opressão que tenho chamado de maternofobia, que relaciona desigualdades, preconceitos, dificuldades de acessibilidade e de ascensão social que impactam negativamente na carreira de mulheres mães. A maternofobia se expressa na deslegitimação de temas de pesquisa relacionados ao parto e maternidade, na teorização que despreza o que mães tem a dizer sobre suas experiências de maternagem, na valoração desigual de homens e mulheres que cuidam, na ausência estrutural de formas de suporte ao work acadêmico de pessoas que maternam. Para as mulheres mães acadêmicas, o período da pandemia se tornou um pandemônio e isso nos informa o quanto a maternidade opera como um marcador social da diferença, que coloca a necessidade de um olhar interseccional para ser compreendida e para pautar demandas por políticas públicas.

O que a maternidade fez comigo?
Autoria: Flávia Ferreira Pires (UFPB)
Autoria:

As crianças são essenciais para a reprodução social. É fundamental refletir sobre o cuidado dispensado às novas gerações e reafirmar o “pacto geracional”. Quem cuida das novas gerações? Há um ônus no Brasil para as famílias com filhos, que pesa sobremaneira nas costas das mães. A maternidade opera junto com outros marcadores sociais da diferença. Ela não se dá de forma unívoca. Está atravessada pelos pertencimentos de classe social, raça, etnia, gênero, preferência sexual, presença ou ausência paterna, número e idade dos filhos, cidade de moradia, disponibilidade de rede de apoio. Esse texto é construído a partir da minha experiência: mãe de duas meninas, divorciada, 41a, professora universitária, pesquisadora, renda elevada, branca, com funcionária doméstica. Sou uma mulher que só tomou conhecimento do machismo ao se ver na obrigação de criar sozinha sua prole.