A sociedade do Hawaii foi teorizada nos anos 1920 como modelo de pluralismo étnico, harmonizando hawaiianos, japoneses, chineses, portugueses, filipinos, porto-riquenhos, haole, etc. Na sua base está porém a história violenta da plantação de açúcar, com espoliação e dizimação da população indígena e sua agricultura, importação de diferentes contingentes de migrantes, e manutenção de uma força de work dividida por nacionalidades. Em contraste com as plantações coloniais de poder europeu e work escravizado africano, o Hawaii tinha soberania indígena, paulatinamente ocupado e convertido ao açúcar, em que o work dependeu de grupos migrantes que se estabeleceram em hierarquias com flexibilidade e porosidade peculiares, gerando um sistema de racialização que submerge, mas não desaparece, na celebração das identidades étnico culturais dos descendentes de migrantes-colonos.

Procuro identificar os mecanismos de reprodução das relações de exploração específicas que resultaram na apropriação extrema da individualidade corporal de mulheres trabalhadoras domésticas nas Ilhas Maurícias, que se originaram no sistema da plantação e que são às vezes contornadas pela reapropriação de si-mesma no “work por mim-mesma”, segundo a expressão da língua crioula. Apoio a minha análise sobre a compreensão que as próprias mulheres dão à sua própria dominação e do sentido que elas dão à escolha da saída parcial ou total do mercado do emprego. Esta exploração empírica resultará numa proposta de análise do processo de racialização atual, que enfoca a reprodução muitas vezes ocultada das relações de produção baseadas na apropriação/desapossamento de pessoas no presente, e sobre a centralidade da resistência dos sujeitos subalternos no desdobramento das técnicas de dominação.

Nesta comunicação analiso como hierarquias raciais foram criadas, reconfiguradas e reforçadas nos anos imediatos à emancipação na Guiana colonial, em 1833-1834. Busco analisar como os discursos coloniais acerca de movimentos de trabalhadores de distintas origens para além das plantações de cana-de-açúcar – nomeadamente, a compra coletiva de plantações por afro-guianenses e o estabelecimento de redes comerciais de madeirenses – tornaram-se instâncias fundamentais de racialização desses grupos. Trata-se de pensar, em paralelo, a própria racialização de certas ocupações laborais.

Uma pesquisa coletiva sobre diferentes grupos sociais que compunham a plantation nordestina da segunda metade do século XX vinha sendo realizada havia uma década quando a irrupção de um ciclo de greves protagonizada por trabalhadores canavieiros fez os pesquisadores voltarem-se para a compreensão das características de tais conflitos entre o final dos anos 70 e as décadas seguintes. Tais conflitos assumiram diferentes formatos, desde as greves até a ocupação de terras. A oportunidade de um projeto interuniversitário recente, focalizando a comparação entre práticas sindicais de operários metalúrgicos da Grande São Paulo e as de trabalhadores rurais canavieiros do Nordeste, veio propiciar a retomada e a renovação da compreensão da persistência da plantation, de suas formas de dominação e de seus conflitos internos em condições socioeconômicas e políticas transformadas.