Como sabemos, o estado moderno formou-se sobre a base de uma forma de conhecimento baseada em números e quantificações, políticas públicas foram desenhadas a partir de conhecimentos estatísticos, lutas sociais envolveram a inscrição numérica do reconhecimento de direitos e da existência de novas categorias sociais (renda, moradia, acesso a alimentos, saúde, terra, segurança, gênero e raça, entre tantas outras). Do ponto de vista das quantificações, o espaço publico não é apenas uma ideia abstrata e normativa, mas um espaço historicamente, tecnicamente estruturado e limitado que permite o acesso a informações por meio da consistência e da permanência, política e cognitiva, de objetos que podem ser sempre questionados. Nos últimos anos, não só no Brasil, assistimos a um desmonte sistemático das quantificações públicas, à intervenção de órgãos de produção de números e ao questionamento da veracidade do conhecimento. A batalha pela definição do real (associada ao fake e à chamada pós verdade) ganhou caráter estratégico e encontra-se no coração da disputa sobre o futuro da democracia. O objetivo desta Mesa Redonda é propor uma intervenção neste debate colocando em evidencia a contribuição dos antropólogos, cientistas sociais e outros intelectuais tanto para o conhecimento sobre os processos de produção dos números públicos, quanto sobre as possibilidades de intervenção nas novas modulações da esfera pública nas quais as guerras de números são travadas na contemporaneidade.