Longe de serem homogêneas e convergentes as representações sobre os indígenas no Brasil estão marcadas por regimes de memória bem diferentes e por construção de alteridades até mesmo antagônicas. Enquanto muitas narrativas e imagens assumem explicitamente o ponto de vista do colonizador e fazem uma apologia dos conquistadores, outras pretendem instaurar uma visão positiva dos indígenas, seja falando deles como ancestrais ilustres (como o indianismo), seja adotando uma atitude fraterna e supostamente protetora (como o rondonismo). Em paralelo está em emergência um novo regime de alteridade, em que os indígenas assumem um lugar de fala e focalizam a personagens indígenas contemporâneos, trazendo a tona aspectos silenciados da tutela e dimensões originais de um projeto político distinto. Uma releitura crítica da trajetória de personagens indígenas do passado permite ter uma visão completamente diferente do processo de “nation building”, identificando disputas sobre alteridades e direitos assim como processos de construção de desigualdade e governança. Repensar o protagonismo que os indígenas exerceram no passado ou exercem no tempo presente impulsiona uma revisão profunda das interpretações sobre a nação brasileira e os seus outros, trazendo novos desafios ao exercício da antropologia.