MR 036. Sobre Viver nas Ruínas: Diálogos sobre Antropologia e Sustentabilidade

Coordenador(es):
Thiago Mota Cardoso (UFAM)

Participantes:
Karine Lopes Narahara (IFCS/UFRJ)
Emmanuel Duarte Almada (UEMG)
Rafael Palermo Buti (Unilab)
Debatedor/a:
Pedro Castelo Branco Silveira (Fundação Joaquim Nabuco)

Diante dos desafios suscitados pela ideia de vivermos no “Tempo das Catástrofes” (STENGER, 2015) e no "Tempo das Perturbações" (TSING, 2019), povos e comunidades espalhados pelo planeta vêm engajando estratégias de cuidado e enfrentamento desde seus territórios. Os modos de viver e habitar desses coletivos devem nos servir para reposicionar o debate sobre a questão ambiental, a sustentabilidade e o futuro do planeta. A mesa pretende colaborar com essa discussão oferecendo etnografias sobre modos de habitar a terra e a água, ressurgir paisagens e retomar territórios em contextos de precarização e arruinamento de lugares e mundos. Trata-se de trazer à tona os engajamentos criativos e as perspectivas situadas diante das finitudes impostas pelas cadeias agro-industriais e neo-extrativistas no Antropoceno. A mesa propõe também refletir sobre questões que transitam entre antropologia, ecologia e outras disciplinas preocupadas com a questão ambiental: modos de habitar, ecologia politica, natureza e cultura, construção de paisagens, manejo ambiental e conflitos socioambientais.

Resumos submetidos
Bateia, balsa e baixão: garimpeiros tradicionais depurando diretos nas ruínas do Rio Doce (MG)
Autoria: Emmanuel Duarte Almada (UEMG)
Autoria:

O rompimento da Barragem de Fundão em Mariana (MG), em novembro de 2015 fez desabar um mar de rejeitos sobre os territórios de vida do Rio Doce. Humanos, plantas, animais, algas e todos os viventes ribeirinhos viram seus mundos destruídos pelo crime da Samarco/Vale/BHP Billiton. Dentre as comunidades afetadas estão os garimpeiros tradicionais de ouro, que desde o século XVIII construíram uma longa história de alianças com o rio. Em meio ao conflito ambiental instaurado, os/as garimpeiros/as acionaram sua “tradicionalidade” como meio de luta pela garantia de direitos. Neste work, por meio de uma etnografia com o coletivo de garimpeiros, buscamos refletir sobre a vida nas ruínas do Rio Doce, em que estes sujeitos depuram dos rejeitos, novos modos de existência e fazem emergir, dessa paisagem em desastre, os mundos soterrados e rompidos pela colonialidade e poder do capital organizado.

Manguezais nas Margens do Petróleo em Três Atos: movimento das águas, silenciamento das vozes, engajamento dos povos
Autoria: Rafael Palermo Buti (Unilab)
Autoria:

Na Baía de Todos os Santos, manguezais são locais de extração petrolífera. Foi nas margens e no interior dessas florestas conectadas às águas que se iniciou, nos anos 1940, a exploração de petróleo comercial no Brasil. O que implica dizer que o (mal) encontro entre manguezal e petróleo produz não somente lugares arruinados pelas infraestruturas petrolíferas, mas modos de habitá-los pelas muitas vidas que o conformam. Tomando como elementos as águas que correm, as vozes silenciadas e os engajamentos dos/as pescadoras/es artesanais, a presente comunicação pretende descrever e refletir sobre os efeitos dos arruinamentos nas paisagens e nos modos de habitar o manguezal; os mecanismos de silenciamento e negação das catástrofes por parte da Petrobrás e do poder público; e os engajamentos locais, emergentes e criativos contra contaminação e em defesa das vidas conectadas pelas águas.

Os “desastres ambientais” e a máquina de morte do Ocidente
Autoria: Karine Lopes Narahara (IFCS/UFRJ)
Autoria:

A “crise ambiental” vem nitidamente se mostrando cada vez menos como algo da ordem do extraordinário, de forma que temos vivido num mundo marcado por uma verdadeira “ecologia do desastre” (Krenak, 2019). Cada vez menos nos perguntamos se algum “desastre ambiental”, de pequenas ou grandes proporções, irá ocorrer, mas sim quando ele irá ocorrer. Nesta apresentação, tendo como base principal a teoria construída por Ani (1994) sobre o “Asili” ocidental, argumento que as chamadas “questões ambientais” são parte inerente da estrutura do Ocidente. Seguindo a autora, demonstrarei como esta estrutura se reproduz entre um padrão de comportamento (“utamaroho”) e um padrão de pensamento (“utamawazo”) que têm como base a distinção entre sujeito e objeto, que desdobra em um afastamento humano do restante do mundo, o que permite transformar tudo (pessoas inclusive) em “recursos”.