MR 041. As múltiplas relações entre saúde, espaço e poder: de violências históricas a biologias situadas

Coordenador(es):
Cristina Dias da Silva (UFJF)

Participantes:
Rita de Cássia Maria Neves (UFRN)
Sílvia Maria Ferreira Guimarães (UnB)
Cristina Dias da Silva (UFJF)
Debatedor/a:
Carlos Guilherme Octaviano do Valle (UFRN)

Este grupo de trabalho tem como foco os contextos atuais de produção de etnografias nas quais as categorias de saúde, espaço e poder se encontram sobrepostas e relacionadas de múltiplas formas. Pretende-se discutir a etnografia como um problema epistemológico e político, referindo-se mais especificamente à produção de imagens e textos sobre o outro e suas consequências para o tipo de antropologia que estamos a produzir. Assim, num plano específico, o grupo de trabalho é uma proposta de debate inspirado em pesquisas que dialogam com violências históricas, como as tematizadas por Veena Das, defensora de uma antropologia social capaz de problematizar o lugar do outro em nossos estudos e por Margaret Lock, através do seu conceito de biologias situadas, por meio do qual as violências historicamente produzidas aparecem como relatos de uma biologia situada, ou seja, uma corporalidade que sintetiza experiências históricas de longo prazo. Serão bem-vindos trabalhos inspirados nessas autoras, bem como aqueles que através de suas etnografias abordam a relação entre saúde, espaço e poder.

Resumos submetidos
Guerra de mapas, guerra de narrativas: poder e produção de dados sobre o Covid-19 no campo da saúde indígena.
Autoria: Rita de Cássia Maria Neves (UFRN)
Autoria:

Nesse work analisaremos o Estado e a forte produção de significados conferidos as políticas da vida e da morte, problematizando-as a partir dos conceitos de biopoder, biopolitica e necropolitica no contexto da pandemia do Covid-19. A partir desse eixo discutiremos como, em situação de pandemia, são acionadas e confrontadas diversas narrativas colocando em evidência a dimensão política de produção dos dados pelo Estado, pela sociedade civil e mais diretamente pelos povos indígenas e suas organizações sociais nas produções de narrativas e estratégias de sobrevivência. Etnograficamente trataremos dos indígenas do Nordeste e de forma mais específica dos indígenas do Rio Grande do Norte que durante anos tiveram suas identidades étnicas questionadas e que no atual contexto de pandemia são acirradas as negligências no campo das políticas públicas de saúde e de atenção diferenciada.

Sofrimento, morte e resistência em tempos de covid, o que nos dizem as mães Sanöma/Yanomami sobre a pandemia
Autoria: Sílvia Maria Ferreira Guimarães (UnB)
Autoria:

No Brasil, a pandemia da covid escancara o racismo estruturante que move os serviços de saúde, especialmente com mulheres indígenas. No início da pandemia no estado de RR, no mês de maio, três bebes Sanöma/Yanomami faleceram. No mês anterior, em abril, outro bebê morrera e não fora entregue a sua mãe. Quatro corpinhos desaparecidos e a liderança Sanöma teve que seguir um itinerário entre hospitais, CASAI e DSEI para saber sobre o ocorrido. Somou-se à violência dos corpos retidos pelo serviço, o não compartilhamento de decisões, de conhecimento e de cuidado com suas mães. O racismo que marca a existência dessas mulheres dizia que elas não eram dignas de diálogo, de respeito e cuidado por parte do Estado brasileiro. Este work pretende discutir esse caso, a violência sobre mulheres indígenas e a importância de redes de apoio em tempos de práticas genocidas agudizadas pela pandemia.

Uma crise
Autoria: Cristina Dias da Silva (UFJF)
Autoria:

A política de saúde indígena brasileira experimenta diversos gargalos e problemas estruturais em sua gestão cotidiana, ainda que sob os auspícios da Política Nacional de Atenção à Saúde Indígena e suas premissas da atenção diferenciada. Para discutir a atual situação de pandemia vis-à-vis o contexto histórico enfrentado pelos povos indígenas em relação à assistência em saúde, elegi dois eixos principais nesta apresentação: 1) a articulação de saberes como estratégia ambígua para uma política de afirmação de direitos, 2) a crise “permanente” na saúde indígena como símbolo de uma gestão das precariedades que historicamente estruturam o campo de relações interétnicas, e no qual a pandemia de Covid-19 não é exceção à regra.