MR 035. Sincretismos, africanismos e religiões afro-brasileiras no século XXI

Coordenador(es):
Mundicarmo Maria Rocha Ferretti (UFMA)

Participantes:
Marilande Martins Abreu (UFMA)
Juliana Loureiro Silva (PPGSA/UFRJ)
Mundicarmo Maria Rocha Ferretti (UFMA)
Debatedor/a:
Hippolyte Brice Sogbossi (UFS)

As religiões afro-brasileiras foram frequentemente encaradas por pesquisadores e devotos como sobrevivência cultural africana. Por outro lado, desde os tempos de Ninas Rodrigues, casas de culto afro-brasileiras têm sido classificadas como sincréticas e acusadas de introduzir em suas práticas religiosas elementos do catolicismo e da cultura indígena. Em consonância com essa visão, alguns terreiros têm sido apresentados como puros, autênticos, dignos de admiração e outros como “misturados” ou “degenerados”, o que os torna mais vulneráveis a discriminações e a perseguições de outras religiões e da Polícia. Embora assumindo formas diversas, o sincretismo foi responsabilizado pelo afastamento de muitos terreiros afro-brasileiros de tradições religiosas e de perda de identidade africana. No Tambor de Mina esse movimento contra o sincretismo assumiu proporções menores e terreiros antigos, considerados tradicionais, continuam entre os principais organizadores de “Festas do Divino”. Na Casa das Minas - terreiro daomeano fundado na primeira metade do século XIX, possivelmente por Nan Agontimé, a festa do Divino Espírito Santo é parte das obrigações para um vodum - a princesa Nochê Sepazim. Nessa Mesa Redonda pretendemos discutir, a partir de experiencias de terreiros diferentes, a relação entre sincretismo e africanismos e até que ponto o primeiro tem abalado a identidade africana dos iniciados e contribuído para o declínio dos terreiros envolvidos.

Resumos submetidos
Poder e diplomacia entre encantados, humanos e o Divino Espírito Santo.
Autoria: Juliana Loureiro Silva (PPGSA/UFRJ)
Autoria:

Em 2017, Mãe Severina da tenda de tambor de mina Nossa Senhora dos Navegantes, do quilombo maranhense de Santa Rosa dos Pretos, pagou sua promessa ao Divino Espírito Santo realizando uma grande festa e se coroando como imperatriz. Nessa oportunidade de acompanhar as etapas, a dinâmica e as simbologias do ritual, e, sobretudo, de acessar, através das narrativas da mãe de santo e de sua encantada, a trama que a levou a apelar ao Divino por uma “esmola de saúde”, nos é apresentado às relações de poder e diplomacia entre encantados, humanos e o Divino Espírito Santo. A partir do aprendizado a da exposição etnográfica enfocarei as simbologias e exegeses presentes que nos ajudam a repensar de novo as noções de sincretismo e africanismo e contribuir para o debate intrínseco aos estudos das religiões afrobrasileiras e que por motivações ideológicas necessita ser constantemente atualizado.

Sincretismo e identidade africana no Tambor de Mina do Maranhão
Autoria: Mundicarmo Maria Rocha Ferretti (UFMA)
Autoria:

A pesquisa em terreiros afrobrasileiros tem chamado atenção para a preservação de tradições religiosas africanas e para a existência de sincretismos com outras tradições culturais. Encarado frequentemente como imposição do colonizador, o sincretismo tem sido negado e ocultado em casas de culto de diversas denominações religiosas afro-brasileiras e muito se tem feito para a sua eliminação. Apesar do esforço para a sua eliminação, a presença de elementos provenientes do catolicismo e de outras tradições culturais não africanas continua forte e em muitos casos parece não abalar profundamente a identidade africana das casas de culto. Na Casa das Minas, considerada o terreiro de Mina mais tradicional, os voduns são devotos dos santos e as vodunsis, embora se orgulhem de sua origem africana e sejam apegadas às tradições herdadas de suas fundadoras, realizam ritos católicos em sua homenagem.

Sincretismo, tradição no tambor de mina: experiencias e vivências no terreiro de São Benedito/Justino
Autoria: Marilande Martins Abreu (UFMA)
Autoria:

O Tambor de Mina, religião de matriz africana originada neste Estado tem como modelo a Casa das Minas e a Casa de Nagô, terreiros que simbolizam um tipo específico de Mina: fundado e liderado por mulheres. Essa simbolização do Tambor de Mina foi se transformado à medida que a mina foi sendo assimilada a outras práticas rituais. Uma casa de mina fundada em meados do século XIX, o Terreiro de São Benedito/Justino, se organiza a partir de elementos que caracterizam os chamados terreiros tradicionais, mas, simultaneamente assimila inovações e estabelece sincretismo a partir de laços rituais com terreiros de Candomblé e Umbanda. Essa descrição indica algumas relações que se estabelecem a partir de elementos simbólicos e materiais do Terreiro de São Benedito/Justino, cuja história social expressa uma tradição sincrética e singular, como demonstra sua história, de luta e resistência.