MR 014. Diálogos Sobre Aspectos Da Socialidade Dos Povos Ciganos No Brasil

Coordenador(es):
Edilma do Nascimento Jacinto Monteiro (UFRN)

Participantes:
Martin Fotta (Academia de Ciências Tcheca)
Juliana Miranda Soares Campos (UFMG)
Cleiton Machado Maia (UERJ)
Debatedor/a:
Mirian Alves de Souza (UFF)

A existência de pessoas ciganas sempre foi realidade no Brasil e no mundo. Temos acompanhado nas últimas décadas, transformações sobre os debates em relação aos ciganos no contexto brasileiro. Após anos de silenciamento sobre a presença desta população no Brasil, vimos uma crescente ebulição após o evento do dia 24 de maio de 2006, sucessivas ações marcam a presença destas pessoas como sujeitos nacionais. Considerando que às ações governamentais deram um novo olhar as populações ciganas do país, observamos uma crescente quantidade de pesquisas, colocando o tema cigano no centro de novas produções no espaço público, na mídia e nas instituições acadêmicas. 
A visibilidade alcançada pelos povos ciganos nesse período promove um crescimento contínuo na articulação sobre direitos desta população. Apresentamos perspectivas antropológicas sobre experiências distintas da vida cigana no Brasil, buscamos expandir os debates sobre diferentes contextos de povos ciganos na atualidade. O entrelaçamento das temáticas variadas das pesquisas que propomos envolve também, o cruzamento de experiências dos pesquisadores. Articularmos assim, dentro de uma proposta do exercício antropológico, a variabilidade de existências presente em territórios nacional. Destacamos questões tangenciais a socialidade na interface da educação, território, economia, modos de existência entre outros temas, que são eixos potenciais para compreender as relações entre/dos ciganos no Brasil.

Resumos submetidos
A Crise, o Estrangeiro e o Estado
Autoria: Martin Fotta (Academia de Ciências Tcheca)
Autoria:

Começo com uma reflexão sobre o livro, “O Tempo É Chegado” (2001) do Euclides Neto. Para entender novos alinhamentos e mudanças na posição social dos ciganos que esta coleção capta, recorro ao ensaio de Georg Simmel sobre o Estrangeiro (1908). Nos estudos romanis esse ensaio tem sido repetidamente usado para explicar o lugar social dos ciganos. Defendo que, a conceitualização hegemônica do estrangeiro, comum nas ciências sociais, é de utilidade limitada. Mas os aspectos da formulação original de Simmel são perspicazes. O estrangeiro não é uma essência, mas uma forma de interação, que está presente em todas as relações humanas. Isso permite identificar uma forma emergente do pensamento sobre desenvolvimento e diferença no Brasil, e que coloca o Estado em uma posição central e, ao redefinir o comum de maneira específica, afeta a forma como os ciganos, sua pertença e a vida, são vistos.

O Dia Nacional do Cigano na Gruta de Santa Sara Kali: ciganos, religião e espaço público no Rio de Janeiro
Autoria: Cleiton Machado Maia (UERJ)
Autoria:

Nesta apresentação apresento o evento em comemoração ao Dia Nacional do Cigano e ao Dia de Santa Sara Kali que ocorreu na Gruta de Santa Sara Kali, no Parque Garota de Ipanema, na Zona Sul da cidade do Rio de Janeiro. Pretendo dar ênfase a esse evento em específico por ser a comemoração de maior visibilidade que ocorre na cidade do Rio de Janeiro e por seu um ritual que incorpora elementos cívicos, religiosos e culturais ciganas. O evento ocorre desde o ano de 2006, quando no mesmo ano foi instituído o dia 24 de maio, o dia de Santa Sara Kali como Dia Nacional do Cigano no Brasil. Acompanhei o evento durante alguns anos, mas deterei a minha análise aqui no evento ocorrido no ano de 2017, objetivando dar ênfase a como Mirian Stanescon performatiza e ressignifica durante o ritual que realiza na praça, símbolos étnicos, cívicos, religiosos e culturais.

Relações de gênero e lideranças mulheres nos acampamentos calons mineiros
Autoria: Juliana Miranda Soares Campos (UFMG)
Autoria:

A diferença entre o lugar do homem e da mulher é estrutural para os ciganos na bibliografia disponível no Brasil e no mundo. Entre os calons mineiros em que realizei minha pesquisa, o universo das calins (as mulheres ciganas) se concentra, sobretudo, no interior da barraca e no cuidado com os filhos; enquanto os homens se ocupam das principais catiras (negócios), são considerados os chefes de família e de turma, e estão em contato mais frequente com o mundo gajon (não cigano). Nos últimos anos, no entanto, acompanho o surgimento de lideranças mulheres, responsáveis pela mediação entre as demandas políticas dos seus acampamentos e o Estado. A presente comunicação é uma tentativa de discutir a recente ocupação pelas calins de espaços antes predominantemente masculinos, e dos efeitos desses rearranjos entre as práticas e o modo cigano de diferenciação dos papéis de gênero.