MR 011. Corpo, biotecnologia e re-configurações da Natureza

Coordenador(es):
Jane Araújo Russo

Participantes:
Jane Araújo Russo
Fabíola Rohden (UFRGS)
Marcos Castro Carvalho (UFRGS)

A discussão proposta nessa mesa redonda se insere na interseção entre os estudos sociais da ciência e da tecnologia e a discussão mais tradicional da antropologia do corpo e da medicina. Assistimos à atribuição de um valor cada vez mais positivo à concepção de uma natureza pré-social dos corpos combinada a uma busca de aprimoramento ou mesmo treinamento de tal natureza. Desse ponto de vista, a oposição usual entre o que é natural e o que é artificial mostra-se pouco produtiva, ao mesmo tempo em que os sentidos de ambos os termos são reconfigurados. Nosso objetivo é, ultrapassando a mera afirmação da construção social do corpo, pensar como se dá, a partir da difusão das biotecnologias e outras formas de intervenção corporal, a construção propriamente material de si (e do próprio corpo). Pretendemos discutir como, de um lado, uma pretensa “volta” a modos de ser mais naturais pode necessitar de diferentes graus de adestramento e, de outro, como a disponibilidade de artefatos biotecnológicos (aí incluídos novas substâncias e novos compostos bioquímicos) contribui para a “volta” a uma nova natureza, re-configurada e aprimorada, nem por isso vista como menos natural. Buscaremos discutir tais questões, trazendo os aportes de uma antropologia da ciência articulada aos temas tratados no âmbito da antropologia do corpo.

Resumos submetidos
A nova maternidade nas redes sociais: a ciência do afeto
Autoria: Jane Araújo Russo
Autoria: O que chamo aqui de nova maternidade conjuga um conjunto de cuidados comportamentais e corporais da mulher durante e depois da gestação aos quais se acoplam cuidados com o bebê. Os argumentos usados em defesa da nova maternidade se apoiam fortemente em pesquisas científicas. A mulher deve se dedicar intensamente ao seu filho porque a ciência confirma que tal comportamento tem como resultado a criação de um sólido vinculo afetivo com a criança, fundamental para a produção de um adulto saudável e feliz. A ciência é, assim, chamada a sustentar a importância do afeto e da dedicação maternas para o bom desenvolvimento da pessoa. Busco – através da análise de orientações dirigidas a mães postadas em redes sociais – demonstrar como a forte responsabilização da mulher pela saúde mental e física do filho se articula à visão da maternidade como uma experiência afetiva radical e transformadora.
Corpo, gravidez e tecnologia: visualidades e materialidades na produção da “pessoa fetal”
Autoria: Marcos Castro Carvalho (UFRGS)
Autoria:

Partindo do contexto contemporâneo de intensa circulação de imagens médico-científicas tanto em recintos laboratoriais, quanto em contextos clínicos e também no espaço público, realizaremos um sobrevoo etnográfico em torno da produção e engajamento com imagens fetais, em especial aquelas produzidas através da tecnologia de imageamento ultrassônico. Acompanhando uma rede de cientistas e obstetras envolvidos na confecção e elaboração de modelagens tridimensionais virtuais e físicas de corpos fetais, o intuito principal aqui é debater a inserção de novas tecnologias biomédicas na produção de uma pessoa fetal expandida por meio de artefatos, produzindo novas metáforas e fronteiras entre interior e exterior corporal, dilemas na relação corpo gestante-corpo fetal, diagnósticos pré-natais e delimitações de “anomalias” fetais, novas modalidades de gestão da gravidez e políticas da reprodução.

Subjetividades sintéticas: processos de materialização de si via biotecnologias de intervenção cirúrgica estética
Autoria: Fabíola Rohden (UFRGS)
Autoria:

A análise das cirurgias estéticas, prática de crescimento acentuado no Brasil, evidencia novas percepções acerca do que seria natural ou artificial e mesmo dos modelos ideais a serem buscados. Intervenções como o implante de próteses de silicone nos seios ou a realização das chamadas cirurgias estéticas íntimas são, muitas vezes, justificadas pela ideia de se aprimorar sempre, de autoinvestimento e de que, para além de resultados naturais, o que se espera mostrar é uma versão melhorada de si, por meio de contornos corporais adquiridos via variadas adições ou composições protéticas. Nesta direção, proponho discutir a noção de subjetividade sintética, para dar conta desses processos corporais-subjetivos de materialização do/a sujeito/a, possibilitados por novas sínteses com as biotecnologias disponíveis, e que não deixam de reatualizar diferenças de gênero, etnia e geração, entre outras.