MR 020. Interfaces entre Gênero e Ruralidade no fazer etnográfico
Coordenador(es):
Elisa Guaraná de Castro (PPGCS/UFRRJ)
Participantes:
Graziele Dainese (UFF)
Yara de Cássia Alves (usp)
Rodica Weitzman (ISPN)
Debatedor/a:
Elisa Guaraná de Castro (PPGCS/UFRRJ)
As pesquisas sobre as questões de gênero no meio rural enfrentam alguns desafios éticos e sociais no fazer etnográfico que merecem ser tratados com maior sistematicidade. Tratando de temas que circulam entre a intimidade do espaço doméstico, das relações familiares, da percepção sobre os corpos, da construção das subjetividades e, por outro lado, a expressão social dessas marcas no espaço público, o/a pesquisador/a se depara com limites no alcance de sua investigação. Envolvido/a pela teia social que elabora e atualiza a lógica das relações de gênero, o antropólogo, sobretudo a antropóloga, se torna um dos elos dessa engrenagem o que delimita fronteiras e impõe interdições na seu trânsito social e espacial.
Essa mesa visa aprofundar a reflexão, a partir de experiências etnográficas, sobre esses limites e suas implicações nas pesquisas sobre questões de gênero em universos sociais rurais. Pretende-se identificar esses limites e as diferentes possibilidades de respostas e de estratégias traçadas no esforço de viabilizar o fazer etnográfico e o desenvolvimento de seu objeto de pesquisa. Até que ponto e como esse envolvimento incide sobre o conhecimento que se produzirá orientando-o para ou desviando-o de certos temas e questões? Quais as dimensões políticas desse processo em que o/a antropólogo/a é também um ator solidário às demandas de transformação das relações sociais de gênero do grupo social que estuda?
Resumos submetidos |
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Criação como processo político feminino: Reflexões a partir de casas e famílias quilombolas do Vale do Jequitinhonha- MG Autoria: Yara de Cássia Alves (USP) Autoria:
O objetivo desta apresentação é analisar os modos políticos de criação de filhos entre quilombolas de quatro comunidades rurais do Vale do Jequitinhonha- MG, destacando a ação das mães como centrais para a produção de família. A partir de múltiplos processos de conhecimento e fabricação dos corpos dos filhos, as mulheres em questão desenvolvem técnicas apuradas de observação, escrutínio que permite aproximações com diferentes membros familiares. Nesse processo, a casa se destaca como um espaço de pesquisa e observação atenta, onde a criação dos filhos mobiliza o parentesco por meio da memória ao mesmo tempo que produz “modos” familiares específicos. Portanto, ao longo do tempo, essas mães compartilham o conhecimento acumulado sobre cada filho, fabricando reputações individuais e familiares. |
Estar com as mulheres: o que faz o gênero em uma pesquisa com camponesas? Autoria: Graziele Dainese (UFF) Autoria:
A partir de um estudo com mulheres camponesas, pergunto: se ser mulher coloca como condição de pesquisa o estar com mulheres, como se constróem essas relações e o que se produz a partir delas? A proposta é problematizar o debate das influências do gênero em tais pesquisas, a exemplo dos limitesdo acesso das pesquisadoras às relações, espaços e práticas da vida comunitária, principalmente, aqueles que envolvem os homens (e o que está implícito aqui é a dimensão supostamente limitada da vida das mulheres do campo). Penso que se o gênero se impõe à pesquisa, sua análise deve evitar pré-noções sobre ser mulher pesquisadora e ser mulher camponesa e estar atenta às generificações produzidas e o que elas produzem. Por sua vez, as generificações apontam para a construção de perspectivas, que não devem ser tomadas como mais limitantes do que quaisquer outros pontos de vista etnográficos. |
Limites e possibilidades dos trânsitos efetivados: espaços e práticas marcados por relações sociais de gênero no fazer etnográfico Autoria: Rodica Weitzman (ISPN) Autoria:
Reflito sobre a opção de costurar uma etnografia que joga luz nas identidades de gênero,tanto da “mulher” pesquisadora quanto dos/as seus interlocutores/as, explorando de que modo a “generificação” da prática e narrativa etnográfica interfira nas relações construídas no campo.Focalizo uma pesquisa que ressalta as trajetórias de mulheres agricultoras no âmbito da organização sócio-política e das práticas agrícolas, analisandoas repercussões dos seus deslocamentos por espaços marcados pelas diferenciações de gênero dentro e fora da propriedade rural – cozinha, quintal, roçado, rua.Inspirada em algumas abordagens feministas pós-modernas, sublinho a agência de minhas interlocutoras nos seus trânsitos por lugares permeados por relações assimétricas, além de analisar, de forma minuciosa, as dimensões políticas dos meus modos de “afetar” e “ser afetado/a” por diversas interações sociais. |