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- GT 040. Fronteiras, saúde, gênero e sexualidade: conexões, deslocamentos e alteridades corporais, espaciais, temporais
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GT 040. Fronteiras, saúde, gênero e sexualidade: conexões, deslocamentos e alteridades corporais, espaciais, temporais
Guilherme Rodrigues Passamani (UFMS) - Coordenador/a, José Miguel Nieto Olivar (Faculdade de Saúde Pública USP) - Coordenador/aO GT visa aglutinar pesquisas que reflitam sobre fronteira, saúde, gênero e sexualidade a partir de contextos espaciais, temporais ou corporais imaginados como marginais, fronteiriços ou minoritários, ou que remetam a problematizações, conexões laterais ou transformações acerca de centros ou arranjos majoritários. Nesse marco relacional, interessa pensar as experiências de sujeitos e grupos sociais a partir da intersecção com outras categorias de diferenciação: etnia, região/procedência, geração, classe, escolarização, orientação sexual, religião, raça/cor. Estamos atentos, também, a questões como trânsitos, deslocamentos, circulação, fluxos migratórios e processos de (des/re)territorialização e fronteirização, relacionados com agenciamentos de saúde, de gênero e sexualidade. Além de pesquisas sobre "mobilidades", são bem-vindas pesquisas que abarquem a construção social do desejo, do cuidado, do adoecimento e do gênero em “outros geográficos”, “entre-cidades”, "zonas” e contextos rurais, priorizando aqueles lugares que estão atravessados pela sua nomeação como fronteiras, margens ou periferias. O GT tem o intuito de melhor compreender as multiplicidades de formas e sentidos da saúde (processos de adoecimento, cuidado e morte), do gênero e da sexualidade, em articulação com processos territoriais "menores".
Resumos submetidos |
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"Doenças de bicho": cosmopolítica da gestação, parto e e pós-parto entre as mulheres Autoria: Vanderlúcia da Silva Ponte, Maria Madalena dos Santos do Carmo
Thaynã do Socorro Santiago Galvão dos Reis Autoria: O presente estudo analisa a cosmopolítica (VIVIEIROS DE CASTRO, 2018; LATOUR,1992) da gestação, parto e pós-parto entre as mulheres Tenetehar-Tembé, procurando compreender as práticas de auto atenção (MENÉNDEZ,2003) e agência dos não humanos no corpo da mulher nessa fase da vida. É uma relação que se produz em perspectiva (VIVIEIROS DE CASTRO, 2006), em que humanos e não humanos agenciam e dão sentido aos processos de adoecimento e cura. Trata-se de um estudo etnográfico com ênfase nas narrativas orais (mitológicas, ritualísticas e outras) da cosmologia indígena, que procura compreender, por meio do diálogo entre história e antropologia, como essas narrativas produzem e reproduzem processos indenitários e territorialidades. Com base nesse estudo compreende-se que as noções de saúde e doença são, em grande parte, provocadas por entidades não humanas ligadas aos sobrenaturais ou aos espíritos dos mortos, e que para maior controle no corpo da mulher, as parteiras e pajés lançam mão de elementos da natureza, da cantoria, rezas, entre outros elementos, para curar e controlar os danos causados por esses sujeitos, tendo no corpo ( e principalmente no sangue) o lugar especifico para a aplicação de determinadas terapias, que no geral visam prevenir doenças do corpo, da mente e da alma.
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"Tem babado novo no Insta": Um olhar sobre o circuito Drag de Santa Maria, sul do Brasil. Autoria: Rafaela Oliveira Borges Autoria: Ainda persistem no que concerne às questões em torno do corpo, gênero e sexualidade, perspectivas que consideram a identidade de gênero marcada pela identidade sexual. São perspectivas essencialistas que pensam sexo, gênero e a sexualidade em uma sequência lógica, imutável e dada como natural. Em sentido contrário, argumento em pesquisa de mestrado, que esta relação limita o entendimento sobre as diversas formas de viver as corporalidades, os gêneros e as sexualidades. Além disso, promove o apagamento de sujeitos que contrariam a ordem heteronormativa. Logo, as/os artistas Drag Queens constituem o tema de estudo desta pesquisa. Busco compreender as experiências de Drag Queens na cena Drag de Santa Maria - RS. A experenciação Drag e a cena que constituem são pensadas em um contexto on/off-line; perpassando a investigação pela cena Drag da cidade e pelos usos que são feitos das mídias digitais - Facebook, Instagram e Youtub - pelo grupo pesquisado, como uma continuação online do contexto off-line de experimentação da cena Drag. Para isso, atualmente, desenvolvo o empreendimento etnográfico. Ressalto que através de perspectivas da antropologia urbana e digital venho mapeando a cena Drag abarcando esferas da vida pública desses/as artistas, suas práticas e como interagem com os espaços urbanos e as mídias digitais na constituição de um circuito Drag. Destaco a problemática atual, no qual há uma grande escassez de locais para "performar" na cidade, sendo que as Drags locais tem empreendido em demonstrar suas performances nas mídias digitais e ampliam o circuito Drag local para cidades vizinhas, trabalhando como DJ's e “performers”. Assim, evidencio a característica da cena Drag local, em que há muitas Drags, porém angariando espaço para a arte Drag. Ainda, a produção de um corpo Drag – "transformation", termo nativo para o ato de montar-se Drag – corrobora em reflexão sobre corpo e gênero. Assim, através de perspectivas pós-estruturalistas, dos estudos queer, de gênero e sexualidade e da antropologia do corpo, busco refletir sobre o deslocamento da ordem heteronormativa através da fabricação de um corpo Drag, salientando o caráter construído das dimensões de gênero e sexualidade através de instâncias socioculturais. Ademais, o corpo é pensado enquanto base de existência da cultura, tornando-se a experiência sociocultural, o corpo no mundo, como corporificada. Ademais, enfoco que as pesquisas que tomam como tema a experiência Drag, partem de grandes centros urbanos. Nesse sentido, saliento a escassez de estudos sobre experiências Drag e transgênero em cidades interioranas e de médio porte, como Santa Maria e região. Com efeito, relaciono a experiência Drag Queen, refletindo sobre corpo e gênero, ao espaço urbano da cidade em um contexto on-offline.
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A cor da relação: corpo e afetividade de mulheres negras em um bairro de Natal/RN Autoria: Amanda Raquel da Silva Autoria: Este work apresentará resultados de uma pesquisa de mestrado que busca etnografar e analisar as experiências erótico-afetivas de mulheres negras brasileiras, mais precisamente residentes na cidade de Natal/RN. Me interessa explorar de que forma a expressão dos afetos e a construção de relações erótico-afetivas estão relacionadas com a dimensão racial. As interlocutoras da pesquisa são mulheres negras residentes num bairro considerado periférico na cidade, entre cinquenta e setenta anos de idade. Logo, esse work trará à tona um aspecto que não tem sido frequentemente tratado em estudos que tomam como cerne o tema da raça no Brasil, a afetividade. Com isso, o work reconhece que também a construção subjetiva das relações afetivas carrega as marcas da história de dominação e subalternização das pessoas negras no país, mas reconhecemos pouco que as escolhas sexuais e os arranjos erótico-afetivos também são parte desse processo histórico. Sendo eu, mulher negra jovem trabalhando na função de Agente Comunitário de Saúde, cargo criado pelo Sistema Único de Saúde como tentativa em melhorar as condições de saúde de comunidades consideradas carentes; se torna inevitável um contato maior com populações negras, maioria populacional de tais localidades. A aproximação com as interlocutoras da pesquisa se deu através das minhas visitas como ACS, quando frequentemente são as mulheres que trazem demandas e preocupações acerca da saúde própria e de seus familiares. Assim, a dimensão da saúde tornou-se fundamental na pesquisa, não apenas como porta de entrada para iniciar as conversas, mas como eixo ao redor do qual muitas dos relatos afetivos dessas mulheres são organizados e explicados. Apesar do foco inicial das conversas ser as situações de saúde, aos poucos essas se aprofundaram em temas afetivo-sexuais de suas trajetórias, desde juventude até os momentos atuais. Assim, sexualidade e recorte etário se tornam também marcadores chaves de análise, o que também demanda um olhar atento e cuidadoso sobre as dimensões do envelhecimento. Ainda, algo que aparece em campo é a frequência de discursos que podem demonstrar uma “hiperginecologização” dos corpos dessas mulheres, quando ao falarem sobre suas trajetórias afetivas utilizam como ponto de partida a condição de saúde reprodutiva de seus corpos.
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Antropólogos em serviço de saúde: descrição da atuação prática em um serviço de saúde mental para refugiados e imigrantes Autoria: Alexandre Branco Pereira Autoria: A atuação de antropólogos em serviços de saúde não é algo usual, ao menos no Brasil. Se é possível apontar para uma profusão de pesquisas realizadas em hospitais, o work prático de antropólogos nesses ambientes costuma ser raro. Esse work pretende discutir a atuação prática de um antropólogo em um serviço de saúde mental especializado em imigrantes, refugiados e surdos localizado na cidade de São Paulo, descrevendo as dificuldades inerentes à invenção - teórica e prática - de um exercício pouco imaginado da antropologia, pensando e propondo formas de "transformar o dado em cuidado". Além disso, pretende-se também discutir as bases epistemológicas na qual o serviço em questão repousa, problematizando a razão de o espaço para a antropologia em serviços de saúde se abrir justamente em serviços de saúde mental, em geral, e especializado no atendimento de imigrantes, refugiados e surdos, em específico.
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Assédio sexual no espaço público: quem está falando? As experiências dos corpos em trânsito das mulheres negras periféricas Autoria: Bruna Dos Santos Galichio Autoria: Este work tem por objetivo investigar como as mulheres negras da periferia experienciam as categorias de diferenciação gênero, raça, sexualidade e classe social em seus trajetos pela cidade de São Paulo, ao serem interpeladas por práticas que estão sendo reivindicadas como assédio sexual, dentro de uma economia moral contemporânea. Dessa maneira, parte-se da tentativa de conhecer que termos são utilizados pelos próprios sujeitos e compreender quando é possível falar em violência ou dano moral. A noção de diferença como experiência torna-se chave para compreender os modos de dar sentido não só ao que está sendo chamado de assédio, mas ao corpo.
Raça e classe também aparecem em disputa dentro de um cenário de produção negra e periférica, que está discutindo a importância de se afirmar a partir desses marcadores e, ao mesmo tempo, interpela quem tem legitimidade para fazê-lo. Nesse sentido, o discurso sobre o colorismo produz e é revelador da tensão entre o reconhecimento e pertencimento racial de um lado e, de outro, das experiências raciais cotidianas dos sujeitos.
Dentro desta perspectiva, pretende-se problematizar um suposto imaginário que articula raça e sexualidade para trazer à tona os lugares dos corpos negros e suas experiências. Da mesma maneira, busca-se tensionar fronteiras do significado de violência, presente em algumas práticas e ausente em outras, compreendendo os modos dos sujeitos experienciá-las e de negociar com as categorias raça e sexualidade.
Outra perspectiva do campo sugere a ameaça do assédio como mecanismo de controle do corpo feminino. Aqui, articulado com o marcador de classe, pode revelar um território que é mais propício a obscurecer a violência, seja pela iluminação precária, pela existência de terrenos baldios ou, por exemplo, pela necessidade de caminhar longos trechos a pé. Assim, busca-se compreender as implicações sociais nos cotidianos das mulheres negras periféricas, no que diz respeito ao acesso à cidade e à cidadania em decorrência dessa ameaça. Dito de outro modo, em que medida as mulheres deixam de aceitar certo work, ou a fazer tal curso, ou a ir naquele parque, ou a alugar tal casa em determinada rua e em que medida elas podem negociar com esses riscos ao fazerem suas escolhas.
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Cara (maduro) ou coroa: reflexões em perspectiva interseccional sobre homossexualidade, gênero e envelhecimento em áreas centrais e periféricas do Rio de Janeiro Autoria: Alexandre Gaspari Ribeiro Autoria: O work pretende apresentar as primeiras reflexões teóricas envolvidas em minha pesquisa, iniciada em 2018 para obtenção do título de doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (PPCIS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O estudo tem como foco principal as relações entre homens com práticas homossexuais e homoafetivas, moradores e/ou frequentadores da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), de áreas consideradas “centrais” e “periféricas”, e que se enquadram na chamada “meia-idade” – faixa etária que, embora elástica e imprecisa, estaria localizada entre os 40 e os 60 anos. Por se tratar de uma análise relacional, o levantamento também irá abordar homens “jovens”, com idade inferior a esse marco temporal, que mantêm relações sexuais e/ou afetivas com homens mais “velhos”.
A pesquisa intenciona tratar como outras categorias sociais de diferenciação operam para aproximar ou distanciar os sujeitos daquilo que é considerado “ser velho”, sobretudo por se localizar em uma faixa etária que, em tese, ainda estaria fora da “terceira idade”. Por isso, aspectos como corporeidade, gênero, classe social e raça/cor da pele ganham grande importância para uma análise em perspectiva interseccional.
Metodologicamente, o estudo englobará, além de revisão bibliográfica e acréscimo de novas perspectivas teóricas, pesquisa etnográfica qualitativa, em campos físico – espaços de sociabilização de homens homossexuais “de meia-idade” e “jovens” localizados na RMRJ – e virtual – comunidades em meio eletrônico destinadas a aproximar não apenas homossexuais “maduros”, mas estes e homens “jovens” (netnografia).
Também pretende-se usar como ferramentas de apoio as redes sociais, como o Facebook, o Instagram, o Whatsapp e outras que possam surgir como fontes de informação. Tais canais também são úteis para a manutenção de contatos e a realização de entrevistas.
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Desigualdades, Redes de afeto e Políticas Afirmativas no Refúgio LGBT+ Autoria: Nathalia Antonucci Fonseca Autoria: O presente artigo tem por objetivo apresentar uma discussão sobre o projeto LGBT+movimento, que trabalha pela incidência, sensibilização e articulação de redes de afeto que facilitem a integração, acolhimento e expressão da pessoa LGBTI+ migrante e refugiada no Rio de Janeiro. A discussão se fundamenta na crítica da categoria de não-humanos, a partir da primeira e segunda desigualdades apontadas por Rousseau. A fim de discutir a ambiguidade da categoria frente a prática recorrente de inferiorizarão de certos grupos sociais, em destaque a população LGBTI+. Em seguida, é proposto uma revisão do work de Gabriel Tarde para fomentar a discussão da formação de redes de afeto entre pessoas em movimento. Por fim, o artigo narra a experiência do encontro com um grupo de pessoas refugiadas venezuelanas LGBTI+, em um abrigo para refugiados na cidade de Boa Vista, em Roraima. O encontro ocorreu durante work de campo realizado para avaliação da situação da migração venezuelana com intuito de gerar maior visibilidade a questão nos meios acadêmicos.
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Entre a moral e o marginal: um estudo sobre o conflito urbano face a ocupação de migrantes venezuelanas em atividade de prostituição em um bairro de Boa Vista – RR. Autoria: Amanda Karine Monteiro Lima, Francisco Alves Gomes. Autoria: Trata-se de um estudo sobre a prática corporal enquanto artifício profissional, fixado em um cenário marginal, que atravessa as fronteiras do debate em torno da sexualidade e alcança o estigma acarretado pelo julgamento moral em razão da ocupação de mulheres venezuelanas em atividade de prostituição no bairro Caimbé, situado na zona oeste da cidade de Boa Vista – RR. Em decorrência da crise política, econômica e social vivenciada na Venezuela, muitas mulheres migraram para o Brasil e encontraram na prostituição a oportunidade de melhor remuneração dentre as escassas vagas de work disponíveis para se manterem e sustentarem seus entes que no país vizinho sofrem com a extrema miséria. Todavia, essa ocupação vem gerando intensos conflitos entre prostitutas e moradores do bairro face aos preconceitos com a atividade exercida pelas migrantes. Nesse sentido, objetiva-se entender as implicações dominantes que balizam o conflito político e interpelam o espaço urbano, bem como analisar o processo de invenção do “outro”, sob a perspectiva dos agentes sociais envolvidos e examinar os efeitos das “heterodesignações” atribuídas à mulher venezuelana, na condição de alteridade. Assim sendo, esse estudo inicia-se via análise de dados obtidos a partir da pesquisa bibliográfica em seguida, realiza-se o diálogo entre a literatura acumulada com os dados obtidos por meio da observação participante mediante o work etnográfico realizado no período de março a junho de 2018. O work de campo foi realizado a partir de incansáveis estadas em uma zona estratégica, representada pelo ponto de referência denominado Tacacá da Sol, local de intensa transitoriedade, frequentado pelos moradores mais antigos, visitantes de outras regiões e prostitutas quando não estão em atividade. Portanto, a priori, é possível perceber que as narrativas sobrepujadas pelo discurso higienista atinente ao moralismo majoritário, conserva-se, em uma disputa que invalida alteridades e discrimina práticas de um contingente heterodesignado por serem mulheres, prostitutas e venezuelanas circunscrita num campo de debate heterogêneo.
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Entre a onça pintada e a sucuri, o carnaval e o futebol: nacionalidade, travestilidade e reconhecimento na fronteira Brasil-Bolívia Autoria: Tiago Duque Autoria: O objetivo aqui é discutir parte dos resultados de uma pesquisa sobre normas e convenções de gênero e sexualidade na fronteira Brasil-Bolívia, iniciada em 2014. A cidade de Corumbá (MS), tida como a Capital do Pantanal, é conhecida por festividades culturais, cívicas e religiosas. Através de etnografia (online e off-line), envolvendo entrevistas semi-estruturadas, analisei o envolvimento e a participação de efeminadas nessas festividades, desde o planejamento à execução. Efeminadas aparece como um termo êmico destinado a homens gays, travestis ou mulheres transexuais. Pretendo analisar a presença de uma travesti em especial, tanto no “Amistoso da Diversidade” (jogo de futebol entre efeminadas de Corumbá e Ladário, uma cidade vizinha) como no Carnaval de 2015. Esta interlocutora fantasiou-se de onça pintada para ir desfilar na Passarela do Samba e foi fazer um show artístico com uma enorme cobra de pelúcia na partida de futebol. A onça pintada e a sucuri são animais hipervalorizados na região, não somente porque atrai turistas, valorizando a cidade, como também por fazer parte da cultura local. A travesti parece incorporar esses elementos como espécies de próteses de gênero (PRECIADO, 2002) tipicamente nacionais, indo além de um farmacopoder transnacional (PRECIADO, 2018). Juntamente com a performance feminina, materializa um corpo (BUTLHER, 2008) travesti risível, mas não abjeto, merecedor de aplausos, nos dois eventos. O carnaval e o futebol são marcas de nacionalidade. Eles, associados ao reconhecimento das efeminadas na cidade, via a participação das mesmas nessas atividades, no discurso dos interlocutoras/es, apresentam-se como uma diferenciação fronteiriça entre Brasil (sem preconceito) e a Bolívia (preconceituoso). Ainda que os dados apontem para a violência contra efeminados na cidade, a percepção de que Corumbá é uma cidade sem preconceito é bastante marcante na região. Ocorre o oposto quando se referem ao país vizinho. Nesse sentido, a análise aponta para os elementos que contribuem com essa percepção em relação a cidade quando comparada com o outro lado da fronteira. O riso, acompanhado de aplausos, seja no carnaval ou no amistoso, associado a objetos de “desejo dos turistas” e supervalorizados pelas/os moradoras/es, como a onça e a cobra (RIBEIRO, 2015), compõem o quadro de significados que possibilitam a agência da travesti em questão. Entre outras coisas é possível concluir que, mesmo em contextos de violência diante de experiências de gêneros dissidentes e sexualidades disparatadas, a diferença não necessariamente é um elemento depreciador (BRAH, 2006). Ao invés disso, serve para pensar as normas e convenções dos contextos fronteiriços de constituição de uma nacionalidade valorizada diante de um outro depreciado.
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Envelhecimento, adoecimento e cuidado nos territórios militarizados do Rio de Janeiro Autoria: Camila Pierobon Moreira Robottom Autoria: As dinâmicas do cuidado que envolvem idosos, doentes mentais e cuidadores têm sido invisibilizadas nas pesquisas das áreas de humanidades e biomédicas (Woodward 2012; Kleinman 2015). A invisibilidade se agrava quando consideramos a vida diária de doentes e cuidadores em contextos de guerras, de deslocamentos forçados, de epidemias e/ou de extrema pobreza (Kleinman et al. 2016). Neste texto eu vou apresentar os resultados de minha etnografia em habitações populares na cidade do Rio de Janeiro, situadas em um território controlado por grupos de tráfico de drogas. Destacarei como uma mulher - moradora de um território militarizado vive o cotidiano ordinário em meio a combates armados, riscos e ameaças intermitentes sobre os habitantes - desenvolveu práticas e “éticas do cuidado” (Laugier 2015) como responsável pela sua mãe, idosa e portadora de alzheimer avançado. A análise da ética do cuidado colocada em prática por Leonor será desenvolvida na sua relação com a baixa renda familiar, a precariedade da casa e dos serviços de infraestrutura. Assim, num primeiro grupo de questões, eu quero apresentar o que significa cuidar de uma pessoa idosa e portadora da doença de alzheimer em situações de pobreza e em territórios militarizados. Num segundo grupo de questões, eu pretendo problematizar a temporalidade através do envelhecimento e da duração da doença de alzheimer no corpo e na mente de Dona Ana, a partir dos efeitos produzidos na subjetividade e no corpo de Leonor. Para trazer essas questões, eu pretendo mostrar como as doenças mentais foram absorvidas na vida diária, como passaram a fazer parte do cotidiano e se combinaram com outras doenças e com os enfraquecimentos corporais crescentes como cataratas, câncer e pneumonia, no caso de Dona Anna, e com o prolapso genital e o glaucoma presentes no corpo de Leonor. Eu pretendo trabalhar como operou o adoecimento do cuidador e como se hierarquizaram os cuidados e os corpos. Para esta discussão, eu pretendo trazer os conflitos familiares e as desigualdades de gênero que colocaram Leonor como a única responsável pelo cuidado com a mãe. As questões que levantei acima serão trabalhadas de forma entrelaçadas e nos ajudarão a entender como se coadunam na vida diária doença mental, cuidado, pobreza, gênero, família, corpos e subjetividades em uma metrópole como o Rio de Janeiro.
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