MR 001. (Re)Definições de Gênero e processos de biomedicalização
Jane Araújo Russo (IMS-UERJ) - Coordenador/a, Fabíola Rohden (UFRGS) - Participante, Débora Allebrandt (UFAL) - Participante, Jane Araújo Russo (IMS-UERJ) - Participante, Maria Claudia Pereira Coelho (ICS/UERJ) - Debatedor/aEsta mesa redonda tem como objetivo discutir algumas das novas formas de intervenção biomédica relativas à sexualidade e à reprodução e suas interfaces com marcadores sociais da diferença, com destaque para a dimensão das relações de gênero. Pretende-se, dessa forma, fomentar o debate antropológico mais geral acerca das articulações possíveis entre a produção de variadas formas de conhecimento e de intervenção e seus efeitos no cotidiano, agregando diferentes perspectivas teóricas e campos de investigação empírica. Por meio de análises que se dedicam a compreender o impacto de novos recursos como a utilização de hormônios, distintos medicamentos e materiais genéticos, busca-se dar conta dos efeitos da disponibilização desses artefatos. A intenção é priorizar as interfaces entre ciências, tecnologias, sociedade e poder, tendo como foco as redes que envolvem desde a produção de conhecimentos e de tecnologias até suas repercussões relacionadas a novas formas de entendimento do sujeito em diversos cenários contemporâneos. Tais cenários abarcam o surgimento de distintas formas de (bio) sociabilidade e subjetividades, incluindo a apropriação “leiga” de conhecimento e tecnologia com o objetivo de auto-aperfeiçoamento, implicando diferentes modos de distanciamento, aproximação e utilização do discurso médico-científico.
Resumos submetidos |
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Entre óvulos e esperma: Agenciando gametas e noções de gênero na Reprodução Assistida(RA) Autoria: Débora Allebrandt Autoria: Há décadas, pesquisadores têm se dedicado a trabalhar as implicações, agenciamentos e tabus da ausência involuntária de filhos, comumente associada à terminologia da infertilidade. Um aparato tecnocientífico se centrou no corpo feminino como obstáculo e objeto de intervenção. Tomamos o advento da técnica ICSI (Injeção Intracitoplasmática de espermatozoide), em 1992, como um marco nos agenciamentos materiais da relação da RA com os corpos masculinos. Acreditamos que promessas da ICSI, associada ao estereótipo de eficiência de “apenas um” espermatozoide possam trazer insights sobre a construção de técnicas e protocolos voltados para a "infertilidade masculina". Analisamos artigos científicos produzidos desde 1992 na área da medicina reprodutiva e embriologia, buscando situar os fluxos de substâncias e plasticidades das técnicas observadas especificamente a partir da questão de gênero.
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Hormônios, procesos de transformação corporal e subjetivação Autoria: Fabíola Rohden Autoria: Este work discute a produção de subjetividades e transformações corporais que ocorrem a partir do uso de recursos biomédicos tendo como fio condutor o depoimento de uma usuária de implante hormonal. O caso ilustra a emergência de um novo tipo de “paciente-especialista-consumidor/a”, como tem sido descrito/a na bibliografia sobre os processos de biomedicalização da sociedade. Contudo, para além desta caracterização, permite avançar na problematização do estabelecimento de fronteiras predefinidas entre fatores apresentados como materiais ou discursivos. Considerando a narrativa da entrevistada, percebe-se que a subjetividade produzida é dependente da atuação do implante hormonal, ao mesmo tempo em que o implante exige uma série de investimentos para produzir os efeitos esperados. Isto remete à uma abordagem analítica que privilegie os diferentes processos de materialização implicados.
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Parto humanizado como exemplo de biossociabilidade: uma proposta de análise Autoria: Jane Araújo Russo Autoria: O parto como evento fisiológico para o qual o corpo feminino está naturalmente preparado é o núcleo a partir do qual se define o parto humanizado. É através do parto, como evento biológico fundante, que a mulher “vira” mãe. Uma concepção básica de natureza feminina (um corpo que “sabe” parir) aliada à crítica ao imperialismo médico/masculino constitui a base de uma afirmação do empoderamento da mulher que pare. A concepção subjacente do parto como evento natural e fisiológico está fundada em uma concepção mais abrangente de natureza tout court, à qual se opõe a cultura / biomedicina responsável pela repressão ao funcionamento natural do corpo. Uma vez descartada essa repressão a mulher “reaprende” a parir. Meu objetivo é analisar as redes de adeptas do parto humanizado como exemplo de biossociabilidade, entendo a nova maternidade como construção de uma identidade biológica e corporal.
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