GT 039. Feiras, mercados, capitais e potencialidades
Maria Catarina Chitolina Zanini (UFSM) - Coordenador/a, Lídia Maria Pires Soares Cardel (Universidade Federal da Bahia) - Coordenador/aO objetivo deste GT é refletir sobre os processos produtivos, as dinâmicas interativas, as unidades familiares de produção da agricultura rural e urbana, bem como as especificidades de seus locais de mercado. Compreendemos que os procedimentos de produção, consumo e distribuição de alimentos dialogam com os aspectos da vida cotidiana voltados para os hábitos alimentares, para o saber/fazer na transformação dos alimentos, como também, para as diversas formas de trabalho humano na relação com a terra, com o bioma e com os bens da natureza. Neste sentido, entendemos que as estruturas conceituais que separavam as sociabilidades urbanas e rurais devem ser revistas para que novos constructos analíticos possam emergir. Em suma, esperamos estabelecer um diálogo objetivo e subjetivo que permeie os vários processos produtivos, de circulação e de consumo de bens e processos gerados pelo modo de produção familiar. Pretendemos, igualmente, agregar estudos que pensem novas opções e ferramentas teórico-metodológicas para refletir acerca das feiras como lugares de mercados variados em que muitos capitais circulam (econômico, cultural, político, de conhecimento e outros) e nos quais muitas dinâmicas se processam simultaneamente, fazendo deste um espaço repleto de significados e potencialidades.
Resumos submetidos |
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"Tem ovo hoje?": Interações, dinâmicas e "produtos" na feira Autoria: Maria Catarina Chitolina Zanini Autoria: Esta proposta tem por objetivo refletir acerca das interações entre feirantes e consumidores mediadas pelo consumo de determinados produtos. O espaço analisado foi uma feira urbana (de rua) na cidade de Santa Maria-RS. Trata-se de um diálogo entre estilos de vida, possibilidades de consumo, expectativas, confiança e a forma como se processam as construções narrativas acerca de determinados “bens de consumo” alimentares no espaço da feira. A pesquisa etnográfica está em andamento desde 2011 e ao longo destes anos de convívio, observa-se o quanto determinados produtos despertam discursividades e potencialidades que estão muito além dos processos de compra e venda. No caso aqui analisado, trata-se do “ovo caipira”, “ovo de fora” ou “ovo da galinha feliz”, como alguns consumidores o denominam. Observa-se no consumo deste produto, um diálogo entre feirantes, consumidores, estilos de vida, memórias e ordens de mundo que circulam no espaço da feira
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A feira de alimentos de corpos e alma: refletindo a partir de dinâmicas populares com a canção O Pidido, de Elomar Figueira de Mello. Autoria: Augusto Marcos Fagundes Oliveira Autoria: A feira é analisada aqui enquanto encruzilhada cultural, o catalisador é a canção “O Pidido”, da obra Das Barrancas do Rio Gavião (1972), de Elomar Figueira de Mello, iniciada por “Já que tu vai lá pra feira, traga de lá para mim...”; o cenário é construído através da canção, das memórias e linguagens que são evocadas no “Micro fórum de luta por terra, work e cidadania no sul da Bahia”, articulação que, no sul da Bahia se divide em dois núcleos: Ilhéus e Camacã. Opto refletir a partir do núcleo de Camacã, entidades e movimentos sociais do campo e da cidade - Associação para o Resgate Social (ARES/Camacã), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Geografia dos Assentamentos na Área Rural (GeografAR/UFBA), Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA), Movimento pela soberania popular na mineração (MAM), sindicatos e associações de moradores da microrregião de Camacã, Santa Luzia, Pau-Brasil, Mascote, Jussari, Arataca, e Serra do Padeiro (Buerarema), tendo como meta construir eixo catalisador de mobilização social através de “Alternativas de Desenvolvimento com Participação Popular”, embasadas nas ideias de Paulo Freire, e nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), encruzilhando pertencimentos e memórias a partir da mística do profetismo social. A feira é um dos componentes que atravessa os eixos de formação, e “O Pidido” entretece afetos, desejos, pertenças, articula solidariedades e linguagens. Indago como a arte, na mística do seu presentar-se evoca solidariedades, “sabências” e ação política ao refletir a feira como eclosão nesse processo de alimentar corpos e almas.
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A utilização de sistemas de certificação participativa como ferramenta de organização da produção e de fomento de mercados consumidores locais. Autoria: David Ivan Rezende Fleischer Autoria: Os sistemas participativos de garantia (SPG), também conhecidos como processos de certificação participativa, têm modificado as relação de agricultores com a terra e com os consumidores. SPGs em diferentes locais do Brasil têm contribuído para o fomento da agroecologia e da agricultura orgânica, para a organização de novas feiras agroecológicas e para uma real aproximação entre produtores e consumidores. Os SPGs têm fortalecido mercados locais e a organização de agricultores, que agora trabalham coletivamente para a manutenção de sua certificação. Tendo como base um recente estudo de campo dos processos de certificação participativa e comercialização de duas redes de agroecologia – a Rede Ecovida, da região sul do Brasil, e a Rede Povos da Mata, da Bahia – este artigo discute como o SPG tem fomentado o desenvolvimento de mercados consumidores locais e estruturado novos processos produtivos. Os SPGs dessas redes promovem a agroecologia como principal processo produtivo, ajudando a organizar grupos de agricultores interessados em fazer a conversão da agricultura convencional para uma produção orgânica e ecológica. Essas redes também têm um papel fundamental em organizar e consolidar estratégias de comercialização, que incluem feiras, pontos de venda, entrega direta (CSA) e acesso a mercados institucionais (PAA e PNAE). Os processos de verificação entre pares e a exigência de cumprimento de regras básicas de produção por todos os envolvidos, auxilia na organização de coletivos de agricultores e fortalece a agricultura familiar. Esses grupos de agricultores também têm dado mais sustentabilidade a feiras no interior do Brasil. Organizados coletivamente, os agricultores conseguem estruturar de forma eficiente a produção, o transporte e a venda. O artigo também discute os custos sociais do SPG em termos de comprometimento e concessões que agricultores e consumidores precisam fazer para que esse processo coletivo de produção e comercialização funcione.
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As feiras enquanto espaços de representação da agroecologia: um estudo sobre produção e redes técnicas e políticas do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Osvaldo de Oliveira Autoria: Andreza Aparecida Franco Câmara,
Nivia Regina da Silva;
Paulo Brasil Dill Soares;
Carla Appollinario de Castro. Autoria: As práticas agrícolas estabelecidas em Macaé/RJ, notadamente aquelas enquadradas como agricultura familiar, vivem um processo crescente de invisibilização impostas por representações dominantes sobre as feições urbanas e industriais do petróleo. Os agricultores familiares ocupam a microrregião há mais de duas décadas, dependem da renda das atividades agrícolas, e sofrem com os efeitos da expansão urbana, com as transformações nas relações de produção e de mercado e, com restrições de órgãos ambientais às suas atividades produtivas em compatibilidade com a conservação da natureza. Esta proposta analisará a categoria desenvolvimento rural a partir das práticas de agricultura sustentáveis, economia solidária e desenvolvimento local, tendo como ponto de partida a organização de espaços de produção coletiva, comércio justo, agroecologia e agrobiodiversidade, enquanto estratégias de mapeamento dos conflitos socioeconômicos que se apresentam nesses territórios (SANTOS; SOUZA; SILVEIRA, 1994), tendo como marco a criação e consolidação do Projeto de Desenvolvimento Sustentável Osvaldo de Oliveira (PDS) . O artigo examinará os espaços vulneráveis a partir da narrativa de ações de pesquisa e extensão desenvolvidas pelas instituições parceiras, considerando seu papel, funções reguladoras e culturais no PDS pelo Projeto de assessoria técnica instituído pelo Treinamento e Capacitação Técnica/ FAPERJ. Serão discutidos os resultados dessas ações, que visam promover a produção agroecológica no assentamento, nas áreas individuais e coletivas, apoiando a associação do PDS e o consumo sustentável, através de feiras e o incremento dos sistemas agroalimentares na dimensão política e organizacional, fortalecendo redes de cooperação técnicas de cultura alimentar e economia solidária.
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Circuitos curtos de comercialização no município do Rio de Janeiro: resistência em forma de alimento Autoria: Ketyline Pimenta Genaro Autoria: O presente work trata-se de um estudo feito com agricultores familiares do Maciço da Pedra Branca, na cidade do Rio de Janeiro, sobre suas relações com o comércio local e estratégias de comercialização. O artigo mostra a forma como a agricultura de base familiar, feita dentro da cidade, vem conseguindo se sustentar e resistir em um ambiente tão desfavorável para essa agricultura. Com o foco voltado para as formas de comercialização dos produtos advindos dessa agricultura, pudemos perceber o quanto a unidade de produção ecológica sofre pressão das regras de mercado e como isso tenta ser amenizado com diversas estratégias de organização produtiva diante de um mercado competitivo e globalizado. (BRANDENBURG, 2002). Estar presente no cenário do comércio local é uma estratégia que viabiliza o modo de vida dessas pessoas.
A partir disso, este work mostra duas experiências dos agricultores do Maciço da Pedra Branca, zona oeste do Rio de Janeiro, em circuitos curtos de comercialização, a Cesta Verde e a Feira Agroecológica da Freguesia, e como essas experiências são desdobramentos de uma atuação sistemática e integrada de atores, organizações e movimentos ligados à agroecologia que, desde 2007, têm atuado na cidade em defesa das atividades agrícolas.
Enquanto empreendimento que buscava fortalecer os agricultores, a Feira da Freguesia e servir de parâmetro para a demanda que se organizaria para a formação da feira em Vargem Grande, pode-se dizer que a Cesta Verde cumpriu seus objetivos. O circuito curto de comercialização é um mecanismo de fortalecimento da agricultura local e por isso contribuiu para que o objetivo de fortalecimento da FAFRE fosse alcançado. A parceria entre dois mercados em que um depende e alimenta o outro foi bastante funcional, nesse caso. Embora haja alguns pontos destoantes nas características de circuito curto em relação aos casos analisados, cabe-nos compreender que essa definição ainda é pouco trabalhada no Brasil e, por isso, pode se esbarrar em peculiaridades, como ficou claro ao longo do texto. A feira de Vargem Grande apresenta particularidades e problemas naturais de um empreendimento ainda em estágio inicial, como por exemplo, a dificuldade em passar para o cliente as diferenças entre o alimento orgânico e agroecológico. Antropologicamente, a pesquisa pôde nos mostrar princípios ordenadores de troca (MAUSS, 2003) que não são simples e podem ser vistos como forma de critica social, nos termos da pesquisa, os circuitos curtos de mercado, são assim um contraponto ao mercado capitalista hegemônico, que expressa a insatisfação com o sistema econômico, mostrando-se como uma forma de resistência, que como colocou Polanyi (2000), é tão legítima quanto a luta de classes.
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Correspondências e Dinâmicas entre o Setor das Ervas no Mercado Ver-o-Peso com o Contexto Urbano Autoria: Laura Carolina Vieira Autoria: A Feira do Ver-o-Peso, como lugar ativo e simbólico que é, reúne materialmente diversos elementos relevantes e constituintes da variedade cultural de Belém/PA, mesmo do Norte brasileiro. Possuindo uma posição emblemática dentro da vida e rotina belenense, caracteriza-se como um microcosmo de relações interpessoais entre seus comerciantes e consumidores; tendo a capacidade, somada ao viés cultural, de resguardar identidades, memórias, projeções e olhares. Economicamente substancial, é ainda um “cartão-postal” da cidade, agregando-se a um contexto capitalista-turístico. O presente work caracteriza-se por algumas reflexões e considerações elaboradas a partir da pesquisa de dissertação em andamento: “Os Produtos do Mercado das Ervas e seus Consumidores: um diálogo etnoecológico do subjetivo”, produzida no Programa de Pós-Graduação em Antropologia – UFPA, com base em exames desempenhados por ações etnográficas em uma das seções da Feira do Ver-o-Peso, o Setor das Ervas. Pretende-se ponderar as relações entre tal setor e seus produtos com a realidade citadina que este se insere – nos amplos e múltiplos aspectos de uma capital. Para isso, considera-se a especificidade biológica e o saber tradicional nos produtos ali comercializados, fundamentando-se numa discussão etnoecológica para pensar o vínculo produção/consumo a partir da prática etnobotânica dinamicamente coeva ao tempo e espaço urbano, canalizados pelos meios mercantis que são as feiras. Dessa forma, serão avaliadas e discutidas as relações de sustentabilidade e mercado vinculadas ao saber tradicional encarnado nos produtos vendidos no Setor das Ervas, considerando as demandas e readequações que o ambiente hegemônico urbano incita.
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Dos Mascates ao Senegalês do óculos: Os estrangeiros no comércio de rua do Rio de Janeiro Autoria: Miriam de Oliveira Santos, ALINNE FERREIRA DA SILVA Autoria: O Mercado da praça XV situado na região central da cidade do Rio de Janeiro, próximo ao porto, e primeiro mercado cosmopolita da cidade foi abatido pela sanha reformadora dos prefeitos da cidade. Hoje só resta uma das torres transformada em restaurante. Os projetos urbanos da cidade baniram os mercados para subúrbios distantes: Madureira, Benfica, Irajá... Onde os únicos estrangeiros eram os comerciantes portugueses e ocasionalmente um espanhol.
A cidade só volta a ter um comércio cosmopolita com a fundação da SAARA (Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega), na década de 1960, que teve um papel fundamental como espaço de integração entre as diferentes etnias árabes que consolidaram seus comércios na Rua da Alfandega (RIBEIRO, 2000). A associação reivindicou para a região o título de maior mercado à céu aberto do mundo e onde se concentram, desde meados do século XX, imigrantes sírios, libaneses, judeus e mais recentemente coreanos e chineses.
Contudo mais que na SAARA, o cosmopolitismo mercantil do Rio de Janeiro se encontra cada vez mais nas ruas da zona sul, onde é possível ver estabelecidos um ao lado do outro: Equatorianos, senegaleses, sírios e brasileiros. Alguns legalizados e com barraquinhas, outros atuando como ambulantes, especialmente na praia, outros que estendem um pano no chão sobre o qual colocam artesanato ou produtos típicos de seus países.
O objetivo desse work é apresentar uma breve etnografia do comércio de rua na Zona Sul do Rio de Janeiro, abordando especialmente os estrangeiros que se dedicam a esse work e buscando entender suas relações com as feiras e mercados da cidade bem como suas interações com os demais participantes do comércio de rua da cidade e refletir sobre os diversos capitais que circulam junto com as mercadorias.
A metodologia utilizada foi a observação participante com entrevistas não estruturadas, também utilizamos a fotografia, que muitas vezes permite perceber aquilo que não foi observado diretamente, e a pesquisa bibliográfica e documental.
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Economia Informal: Deslocamento e narrativas, a partir de uma etnografia de “Agentes de comercialização” -Sacoleiras no Centro Fashion em Fortaleza - CE. Autoria: Mayara de Oliveira Silva Autoria: O presente work tem como objetivo analisar e investigar junto as mulheres “sacoleiras” as suas dinâmicas e fluxos de compras de roupas, relógios, calçados e etc. Para revenda em grande quantidade em sua cidade natal em Belém do Pará, apresentando o perfil e o comportamento de compra das mulheres vendedoras de moda no centro fashion em interface com as vendas de seus produtos na feira do Ver-o-Peso e arredores da feira em Belém do Pará. Os preços satisfatórios tornaram a moda popular das feiras, dos grandes centros e das periferias, atrativas aos consumidores que buscam moda a preços baixos. O que o consumidor vê nas grandes vitrines, torna-se acessível aos novos consumidores da feira popular. Sacoleiras, mães, esposas, que muitas vezes abrem mão do mercado formal de work e buscam na vida de empreendedora tempo e qualidade de vida perto dos seus filhos e família. Assim, como jovens e adultos pertencentes a vários grupos buscam, nos grandes centros populares, consumir produtos de moda e estar atualizados com as tendências. Escolhemos a cidade de Fortaleza-Ce no litoral brasileiro, por se apresentar como o lugar mais próximo de Belém do Pará para as compras em grande demanda, com preços para revenda. Onde há uma diversidades de capitais que circulam (econômico, cultural, político, de conhecimento e outros) e nos quais muitas dinâmicas se processam simultaneamente, fazendo deste um espaço repleto de significados e potencialidades. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com base na pesquisa bibliográfica e na pesquisa de campo, que contempla levantamento de dados por meio de entrevistas e questionários. O estudo tem ainda abordagem qualitativa.
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Estudo do consumo e da estética do mundo Amazônico a partir da venda de artesanato no mercado municipal Adolpho Lisboa. Autoria: Tatiana Aigba, Prof. Dr. José Exequiel Basini Rodrigues (PPGAS/UFAM) Autoria: Existe um mundo interior que se manifesta em determinada ordem aparente dentro de um espaço de venda e isso também tem a ver com a maneira pela qual as pessoas se atraem por um determinado objeto, que levam a seu consumo. Nossa pesquisa visa desenvolver um estudo etnográfico do consumo e da estética dos artigos de artesanatos vendidos no âmbito do mercado brasileiro Adolpho Lisboa também conhecido como mercadão, localizado no centro da cidade de Manaus. Por se tratar de um ambiente turístico representado por um edifício histórico, o mercado Adolpho Lisboa, representa um lugar de entretenimento e consumo da cultura Amazonense. Neste sentido, buscamos trazer uma discussão sobre as relações simbólicas, gerada a partir do consumo de objetos artesanais, assim como a ordem pela qual esses artefatos são distribuídos/organizados pelos vendedores para dar sentido e ter um significado para os consumidores que podem ser compradores ou apenas visitantes. O recorte especial feito sobre a venda dos artigos de artesanatos se deve ao fato de ser uma das atividades que caracterizam mais o mercado. Por isso trataremos também do conceito de mercado-feira para trazer outra perspectiva teórica - baseada na pesquisa em andamento- de conceituar um mercado dentro de uma configuração sócioespacial especifica.
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Etnografia no coração da cidade: um estudo sobre as sociabilidades na Feira Central de Campina Grande Autoria: Deyse Dayane Alves Marques de Luna Freire, Susana Rolim Soares Silva
Autoria: O presente work tem como objetivo analisar a feira central de Campina Grande a partir das práticas e discursos cotidianos que lhes dão sentido e que, ajudam a construir a memória dos feirantes, fregueses e da própria cidade. Sendo assim, nosso work caminha na direção dos estudos históricos e antropológicos relacionados às feiras livres, que destacam o mercado como espaço de troca, de encontros, de interação e de disputas, de work para alguns e de lazer para outros. Logo, a sociabilidade ocupa um lugar de destaque em nossas análises, sendo vista e pensada como ponto de interseção e, ao mesmo tempo, ponto de partida para pensarmos os usos e discursos produzidos no e a partir do espaço público. É nessa multiplicidade de possibilidades interpretativas que o mercado nos oferece que também se constrói o feirante e o freguês, criadores da dinâmica urbana e do espaço enquanto “lugar” (AUGE, CERTEAU). Tais processos (re)criadores puderam ser observados a partir das várias entrevistas com feirantes e incursões diretas na localidade, escolha metodológica essa que nos possibilitou perceber que, em sua prática diária, no jogo das relações e interações sociais, no labor e nas conversações, o feirante modifica o espaço urbano e, de maneira dialética, também está em constante transformação, tendo que adaptar-se as demandas do mercado, à concorrência, e sobretudo, às necessidades dos frequentadores da feira ou fregueses, que através do ato aparentemente simples de ‘fazer a feira’ e escolher alimentos encobrem uma infinidade de significados que ultrapassam a razão prática (SAHLINS), e que aqui almejamos desvendar.
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Feiras livres: guardiãs de práticas de manejo da terra que desafiam os propósitos hegemônicos neoliberais Autoria: Osmar Lúcio Custódio, Osmar Lúcio Custódio
Janine Helfst Leicht Collaço Autoria: As Feiras Livres são, em sua maioria, estruturas urbanas destinadas à distribuição de alimentos produzidos no meio rural mediante um sistema produtivo denominado hortifrutigranjeiro. Em Goiânia, segundo relatos de antigos feirantes e consumidores, várias delas já funcionavam desde meados da década de 1940, a exemplo das feiras dos bairros pioneiros da capital. Razoavelmente, no decorrer dos anos, fruto da dinâmica urbana, houve um substancial aumento de seu número na cidade, ainda, a inclusão de outros segmentos de produtos, além dos alimentícios, e de novos horários de funcionamento.
Neste artigo analisamos o comportamento das Feiras Livres da cidade de Goiânia, sob duas perspectivas. Pela primeira, analisamos bancas que comercializam produtos cujas práticas de manejo da terra ocorre de forma independente, ou seja, dissociadas da aglutinação que deu origem ao termo hortifrutigranjeiro. Desta forma, as bancas foram observadas distintamente, ou seja, aquelas que são organizadas conforme um layout semelhante aos dos supermercados e aqueles cujos produtos são dispostos aleatoriamente. Tal escolha decorreu de relatos de antigos feirantes que atribuíram como marco para as novas disposições o final da década de 1970, a partir da necessidade de competirem com o novo modelo de distribuição de alimentos implantado naquela ocasião. Defendemos que, ao aglutinar as três práticas históricas de manejo, a produção de alimentos ganhou, propositalmente, uma conotação industrial, pela qual as categorias tempo e espaço ganharam outra relevância frente ao modelo tradicional; ainda, que houve a sobreposição da capacidade tecnológica e de capital, frente às práticas da “agricultura familiar”.
Em uma segunda perspectiva, nossas pesquisas em campo propiciaram identificar antigos feirantes que são também produtores rurais, além de produtores urbanos. Por elas, foram identificadas práticas de manejo tradicionais, além de produtos que já não fazem parte da cadeia de produção de alimentos para a cidade. Ainda, a possibilidade de compararmos a oferta de alimentos oferecidos a partir de mecanismos de mercados e a oferta e procura de alimentos bons, especialmente por outsiders, vindo à tona as maneiras pelas quais se entremeiam as formas de representação entre o campo e a cidade.
Conclusivamente, nossas pesquisas nos propiciaram um mapeamento preliminar de sistemas alimentares e suas formas de representação, segundo as lógicas presentes na produção do conhecimento, associados a um eixo cultural e amparados pelo eixo teórico das pesquisas da Antropologia em “soberania alimentar”.
Também, possibilitaram a verificação da importância dada pela produção de alimentos via “agricultura familiar” e suas temporalidades, as quais deixadas de lado a partir do modelo agroindustrial.
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Grupo Para Consumo Agroecológico (GRUCA): Experimentos Autônomos de Extensão Universitária Autoria: Bárbara Nyvia Silva Rosário, Noemi Sakiara Miyasaka Porro Autoria: O Grupo para Consumo Agroecológico (GRUCA) atua, desenvolve e promove atividades de conscientização para o consumo responsável de produtos da agricultura familiar dos acampamentos e assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, com base no modo de produzir agroecológico. A principal atividade desenvolvida pelo grupo é o repasse autogestionado de paneiros com produtos agroecológicos. A atividade é gerida por e para consumidores preocupados com questões como a segurança alimentar, ou seja, procuram produtos agrícolas livres de agrotóxicos e do monocultivo dos latifúndios. O objetivo do work é descrever o perfil dos consumidores/integrantes, compreender a relação destes com a proposta de autogestão do GRUCA e como a agroecologia mencionada pelo grupo é compreendida por seus consumidores/integrantes. O percurso metodológico utilizado para este work consiste em um questionário estruturado com perguntadas abertas e fechadas, bem como utilização de observação participante, material fotográfico e revisão bibliográfica. Como resultado se pôde observar a formação crescente de uma rede de consumidores urbanos – cujo estrato social é pertencente à classe média - apoiando, promovendo e se envolvendo com as atividades do GRUCA, que vão desde a coleta dos produtos agroecológicos à montagem e distribuição dos paneiros. São agentes sociais urbanos interessados em contribuir para a manutenção da produção de base familiar e de alimentos agroecológicos.
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La Plaza del Sur de Tunja (Colombia), un espacio de saberes y memoria Autoria: Ángela Jasmín Fonseca Reyes Autoria: Las plazas de mercado son lugares de memoria, de encuentro y de socialización cuya relevancia física y simbólica está ligada a las dinámicas de ocupación y uso del espacio por parte de las comunidades. En estos lugares, las relaciones comerciales dependen de la interacción y la comunicación, que usualmente sobrepasa las fronteras de la formalidad, generando un ambiente de familiaridad y proximidad, con valores simbólicos y de identificación
En este sentido, consideramos pertinente preguntarnos ¿cómo circulan los saberes y prácticas relacionadas con plantas medicinales, recetas y platos tradicionales, que persisten al interior de la plaza de mercado del sur de Tunja? además ¿cuál es la funcionalidad y legitimidad de estos saberes dentro y fuera del contexto de la plaza?
Para dar respuesta a las cuestiones enunciadas, realizamos un trabajo de campo etnográfico, que vinculó observación participante y entrevistas con algunos comerciantes y trabajadores de la plaza. Esto nos permitió contemplar las dinámicas sociales que se producen en este lugar.
La plaza de mercado del sur se encuentra cargado de símbolos, signos, representaciones y subjetividades cuya relevancia va más allá de lo económico, pues se oponen a las lógicas de la globalización y su funcionalidad se da de forma alterna a los conocimientos legitimados por la escuela.
Es un universo donde se mezclan lo colorido y lo sombrío, es un encuentro retumbante, que estimula a oír con los ojos y ver con los oídos en una sinestesia espacial, puesto que “olhos e ouvidos não devem ser entendidos como teclados separados para o registro de sensações, mas, sim, como órgãos do corpo como um todo em cujo movimento, dentro do ambiente, consiste a atividade de percepção” (INGOLD, 2008, p. 29).
El pintoresco escenario ofrecido por la plaza, se configura como un espacio de sociabilidad y diálogo, en el cual también se comparten sabores y saberes, pues, las frutas y verduras adquiridas en cualquier puesto, vienen acompañadas de narraciones, consejos, plegarias y deseos, que le otorgan un valor simbólico al ejercicio de hacer mercado. “Estas maneras de hacer constituyen las mil prácticas a través de las cuales los usuarios se reapropian del espacio organizado por los técnicos de la producción sociocultural” (CERTEAU,2000. p. 16)
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Nos embalos de uma rede: um balanço das relações estabelecidas pela economia têxtil na cidade de São Bento-PB Autoria: Ericleuson Cruz de Araujo, Raphaella Ferreira Mendes Autoria: Este work tem como objetivo realizar uma observação acerca das relações de work no de município de São Bento-PB, evidenciando a economia que é estabelecida primordialmente pela produção da rede de dormir. Conhecida popularmente como a “Capital Mundial das Redes”, a cidade apresenta potencial econômico de destaque em todo o estado. Esse reconhecimento é resultado da massiva dedicação à fabricação e exportação do produto destacado, demonstrando que por trás do título conferido à cidade e dos demonstrativos econômicos, há, na verdade, um sistema de produção em grande escala que através da mão de obra barata tem conseguido ostentar esse domínio. A incorporação da indústria têxtil instigou o processo de urbanização da cidade. As relações de work da maioria da população permeiam o “fazer, vender e exportar” o produto. Muitos trabalhadores deixam a cidade para vender o produto em todo o Brasil, passando temporadas e regressando por períodos curtos. A família é permeada por esse sistema de produção e pelas relações de work que envolvem a fabricação da rede de dormir, sendo que na maioria das vezes são estabelecidas relações informais, sem respeito aos direitos dos trabalhadores e os submetendo a condições insalubres ou negligenciadas. Consequentemente, é possível perceber que além do título de Capital Mundial das Redes, a cidade de São Bento-PB também ostenta índices que vão além dos demonstrados pela economia, como os indicativos da má distribuição de renda, que evidencia as disparidades inerentes às relações entre o produtor, o consumidor e o empresário. Na perspectiva dos objetivos, foi feito um recorte das relações observadas na principal feira da cidade, lugar onde essas relações se materializam. A Feira da Pedra, como ficou conhecida, pelo fato de os comerciantes estenderem seus produtos no chão, acontece desde a década de 80, no centro da cidade. Ainda hoje esse tipo de exposição é prática comum. É um espaço importante, por fomentar a comercialização dos produtos para as regiões vizinhas. O evento da feira carrega consigo manifestações típicas de relações interpessoais e de interação com o espaço urbano, por isso a sua importância econômica e cultural. Na metodologia, foi utilizada uma observação participante durante o acontecimento da Feira, seguida de entrevistas sobre a história de vida dos participantes e como configura as relações de work nesse processo. Diante disso, os resultados apontam para uma utilização do espaço da feira para a comercialização de produtos fabricados pelos próprios vendedores, como também através de uma terceirização da fabricação do produto, fragmentado de maneira que cada indivíduo nesse processo tem uma função a ser desempenhada, consequentemente, por vezes, se distanciando desse produto final.
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PANC para quem? Um estudo sobre práticas e saberes envolvendo o consumo de Plantas Alimentícias Não Convencionais Autoria: Renata Tomaz do Amaral Ribeiro, Renata Menasche Autoria: Situado no campo dos estudos sobre Cultura e Alimentação, este work é resultado de pesquisa etnográfica que vem sendo desenvolvida, há aproximadamente um ano e meio, junto a famílias rurais de duas localidades do Rio Grande do Sul, em Ipê, e no extremo sul de Porto Alegre, bem como junto a consumidores de duas das Feiras Ecológicas, que ocorrem, semanalmente, na capital gaúcha, no Parque da Redenção e no bairro Tristeza. Este estudo busca apreender como agricultores e consumidores percebem e representam as Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANC, definidas na literatura especializada, como sendo plantas ou partes de plantas consideradas alimentícias e que não são costumeiramente comercializadas ou mesmo consumidas. Tendo presente que o ato alimentar é manifestação de cultura e identidade, prática carregada de simbologia e intersubjetividade, percebemos que cada sociedade elege o que é considerado culturalmente comestível. É assim que o que é tido por PANC em um determinado território não necessariamente o será em outro. Deste modo, muitas das plantas consideradas PANC por consumidores das feiras estudadas são de uso cotidiano dos agricultores. As feiras revelam-se, nesse quadro, como importante espaço de trocas simbólicas entre sujeitos do campo e da cidade. É nesse espaço quando o agricultor revela ao consumidor as maneiras como as utiliza em seu cotidiano, orientando sobre como prepará-las e consumi-las, que as PANC são transformadas em comida também na cidade.
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Saúde e consumo alimentar nas feiras de Goiânia: a comida como cultura e autocuidado Autoria: Carolina Cadima Fernandes Nazareth, Janine Helfst Leicht Collaço
Filipe Augusto Couto Barbosa Autoria: Depois da primazia dos restaurantes, dos supermercados e dos shopping centers enquanto espaços de consumo alimentar que estabeleceram as bases dos hábitos alimentares das classes médias quanto ao adquirir comida e ao “comer fora” nas urbes modernas do século XX, outro fenômeno ressurge e ganha força nas últimas décadas: a “comida de rua”. As condições de preparação e os tipos de comida servidos em feiras, mercados de rua, quiosques suscitaram muitas discussões em torno da segurança alimentar e também do quão saudáveis seriam esses alimentos, na maioria das vezes partindo de perspectivas médico-sanitárias e/ou nutricionais. Estes discursos em torno da ideia de saúde vinculada à alimentação têm se preocupado também com a relação da população em geral com produtos industrializados e alimentos in natura, e com sua forma de produção, por exemplo, se é “orgânica”.
Embora esses discursos informem a população pelas mídias e penetrem a educação formal das crianças, estão ainda em constante modificação, ora demonizando um dado ingrediente ou prática culinária, ora santificando estes mesmos, e não explicam o que motiva a adoção de hábitos alimentares ligados ao “comer na rua”, e nem como as concepções individuais de alimentação saudável se estabelecem informadas também por discursos outros, assumindo configurações cultural e individualmente variadas. Mediante este cenário de disputa entre discursos, as escolhas relativas aos alimentos considerados saudáveis acabam sendo definidas no plano individual, o que coloca o comensal como agente do seu “autocuidado”. A noção de autocuidado estabelece como recebemos, interpretamos e colocamos em prática no cotidiano os vários conhecimentos e discursos em torno da saúde, e, consequentemente, da alimentação saudável.
Nesse contexto atual e a partir da perspectiva do “autocuidado”, procuramos demostrar a complexidade deste fenômeno a partir de um caso específico envolvendo comida de rua: o do consumo alimentar nas feiras de Goiânia. Nesta capital, as feiras atraem vários tipos de comensais e relativizam esse imaginário pejorativo ligado à comida de rua, ressignificados como espaços do “comer saudável”. Além de uma “comida de rua” que guarda semelhanças e diferenças com outros contextos urbanos, trazendo sua diversidade em pratos como pastel, espetinho com “jantinha” (feijão tropeiro, mandioca cozida e vinagrete), pamonha, tortas, etc., nessas feiras se consome também outros tipos de alimentos, como de hortifrúti, temperos, produtos “caipira” etc., constituindo um espaço privilegiado para o consumo de alimentos de origem local. Assim, a partir desses espaços e seus comensais, procuramos identificar as práticas e saberes individualizados que caracterizam o autocuidado baseado no comer saudável, em suas diferentes acepções.
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“Esse work tu não encontra em nenhum lugar aqui”: Objetos de arte africana à caminho do sul do Brasil. Autoria: Cristiano Sobroza Monteiro Autoria: Esse work trata de compreender as dinâmicas de troca e circulação de objetos de arte comercializados por imigrantes senegaleses na Feira “Sem Fronteiras” na cidade de Caixas do Sul-RS. Erigida, historicamente, sob desígnios étnicos da italianidade, a cidade passou a receber, desde meados de 2008, milhares de imigrantes senegaleses em busca de work nas indústrias locais. Se, inicialmente, o setor de frigoríficos, representou a porta de entrada dos imigrantes no saturado mercado de work local, foi através da prática de venda na rua que grande parte deles, viabilizou a sua sobrevivência na cidade. Ao mesmo tempo em que, os ganhos através do comércio de rua permitiam a permanência e sustento de si e dos seus, o poder público municipal, passou a ver, com “maus olhos” aqueles estrangeiros que, posicionados em esquinas e debaixo das marquises dos prédios históricos, comercializavam relógios, meias e panos de prato. Com a intensificação dos deslocamentos de senegaleses para a cidade, a partir de 2013, novas configurações de troca e consumo incorporaram-se à vida social e comercial do centro da cidade. Além dos objetos ditos “ilegais”, artefatos de arte, como esculturas em madeira, máscaras, tecidos, colares e anéis, passaram a ser comercializados por vendedores de arte africana na praça principal. Em 2018, a Feira “Sem Fronteiras”, surgiu da intenção do poder público municipal de Caxias do Sul, de solucionar o “problema” da informalidade na região central, ao propor o deslocamento desses vendedores de rua, para um espaço comum, onde seria admitido que, em dias e horários específicos, eles pudessem comercializar.
A partir de minha aproximação a um artista plástico e dois vendedores de arte senegaleses, proponho, a refletir, utilizando-me para isso, de uma abordagem etnográfica, sobre os significados, estratégias e disputas imbuídas na atividade de “vender na rua”, bem como, traçar as rotas e os caminhos transnacionais por onde transitam, pessoas, objetos e sentidos. Dos mercados de arte no Senegal, passando pelas ruas de Caxias do Sul, até alcançar o espaço da Feira “Sem Fronteira”, esses “objetos negros mercantilizados” (Sansone, 2000) revelam hierarquias comerciais, jogos de poder, (in)visibilidade e distinção, além de políticas de identidade e formas de inserção dos imigrantes na cidade.
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