GT 007. Antropoéticas: outras (etno)grafias
Patrícia dos Santos Pinheiro (Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPB) - Coordenador/a, Flávia Maria da Silva Rieth (DAA/ICH/UFPEL) - Coordenador/a, Cláudia Turra Magni (Universidade Federal de Pelotas) - Debatedor/a, Marília Floôr Kosby (Université de Liège) - Debatedor/aResumos submetidos |
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"A cidade é sem fim igual a tua janela": afetos urbanos, deambulações e narrativas Autoria: Lara Denise Oliveira Silva, Glória Maria dos Santos Diogenes Autoria: É possível transformar uma experiência pessoal em exercício etnográfico? Movida por esta pergunta, esse work busca fazer um apanhado de um processo de pesquisa que tem como aposta as relações com a cidade, vivenciadas pelos citadinos, e que ultrapassam sua materialidade. Tendo como eixo norteador o encontro com as imagens da cidade e as narrativas que elas suscitam na pesquisadora, percorre-se um caminho metodológico no qual sujeito e objeto não estão cindidos e a imaginação revela-se um instrumento de conhecimento. Não sei precisar quando começou nem foi algo deliberado. Apenas fui dando vazão a vontade de escrever que me tomava quando acontecia um encontro com as inscrições riscadas, coladas em lambe-lambe ou gravadas com tinta spray nas superfícies dos trajetos que eu percorria no meu cotidiano em Fortaleza- CE. Nesse momento em particular, chamava-me atenção em especial as palavras ou frases que pareciam fugir às classificações costumeiras das artes de rua ou street art, pois não parecem se encaixar no que comumente reconhece-se por arte urbana, entre elas, cito as palavras mais recorrentes ou que me chamaram atenção, tais como "desejo", "deixo", frases como a que diz "dezembro tem manga", "alegria" e "alento". Percebi uma recorrência e uma cartografia particular desenhada por estas palavras e mais do que a vontade de decifrá-las, um desejo de contar sobre o encontro com elas é que me invadia. Se uma cidade conta a si mesma a partir das imagens que povoam suas superfícies, estas inscrições marcam Fortaleza e contam de uma época em que a urbanidade parece engendrar um estilo de vida e marcar uma época. Este texto tem, portanto, a vontade de narrar os encontros com palavras/imagens públicas e urbanas, acreditando que a partir destas narrativas, a cidade pode se dar a conhecer não do décimo andar, mas de baixo, ao nível da calçada, no chão da rua, da perspectiva do que faz a cidade.
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"Cultura de areia" no bairro de Itapuã: uma etnografia performativa Autoria: Clara Domingas Correia de Codes Autoria: O projeto de mestrado "Cultura de areia no bairro de Itapuã: uma etnografia performativa" está em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFBA, sob orientação da Prof. Urpi Montoya Uriarte. O projeto faz pontes entre arte, antropologia e política, na medida em que narra uma entrada diferente em campo: realizada por uma artista visual, educadora corporal e nativa relativa do bairro de Itapuã, em Salvador-Bahia. Em 2015, a ação artística consistiu na convivência imersiva com pescadores e frequentadores do barracão “Os Kiloss” numa praia de Itapuã, durante 21 dias. Foram feitos desenhos, pinturas e vídeos neste barracão, condenado à demolição pela política de reforma da orla marítima de Salvador, sob gestão de ACM Neto (DEM). No ano seguinte o barracão foi destruído e alguns de seus antigos membros criaram o "Museu dos Ossos" no mesmo lugar. A pesquisa acadêmica tem como objetivo conectar a experiência artística de 2015 com o work de campo realizado nos dias atuais, no mesmo local, como uma etnógrafa relativa. Até onde uma intervenção artística e antropológica pode promover atravessamentos e contágios numa determinada comunidade, como modo de resistência política no processo de reconfiguração dos espaços urbanos? Através da criação colaborativa de imagens e ações com eles (desenho, vídeo, texto, etc.) faremos um inventário de dados a ser exibido no formato de montagem em tempo real (live cinema). Tal conjunto de ações propõe embaralhar o papel do pesquisador, do artista e do nativo através de um contato criativo, de duração e de mútua implicação, o qual estou chamando de etnografia performativa.
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"Desengano da vista é vê": escrita antropológica recôncava Autoria: Maíra Cavalcanti Vale Autoria: Ao longo de dois anos e meio de work de campo em Cachoeira, uma cidade do recôncavo baiano, aprendi o que muitos cursos de metodologia não ensinam: a responsabilidade de entrar na vida das pessoas. Como efetivamente levar a sério essa responsabilidade? Como trazer a vida aprendida no mundo para os nossos textos etnográficos? Como torná-los acessíveis para outras pessoas, não-antropólogas? É com questões como essas que procuro deixar a vida contaminar o texto. O cachoeirano Tical, mais conhecido como Babado, uma vez me falou que o mundo era espiritual e que havia uma guerra espiritual em Cachoeira. Com Babado e outras pessoas da cidade eu aprendi que havia presenças, donas e donos das esquinas, encruzilhadas, matas, caminhos e estradas. É preciso pedir licença a elas para entrar no seu espaço. Aprendi na academia que eu precisava escrever esse mundo, mas foi em Cachoeira que compreendi que não devia ousar explicá-lo a partir de uma forma analítica a ele estrangeira. Mas como então escrever teoria antropológica sem explicar o mundo aprendido? Proponho refletir sobre esta questão por meio de um experimento: olhar a teoria antropológica da forma como Mãe Dionízia dos Santos, mãe de santo do terreiro Oiá Mucumbi, no bairro da Faceira, faz com os seus búzios. Um dia ao responder a uma pergunta qualquer, ela me disse: "tem que olhar, minha filha, desengano da vista é vê". Pensando em forma, pretendo construir uma linguagem narrativa em que o campo contamine a forma da escrita, desenganando a vista da teoria.
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Antropologia Visual e Digital nas e das cidades: a revista Foto(crono)grafias como desafio da escrita hipermidiática Autoria: Felipe da Silva Rodrigues, Matheus Cervo Autoria: Apesar da hegemonia da escrita já ter sido amplamente questionada pelas interfaces da fotografia e do cinema na Antropologia Visual, os desafios teóricos, conceituais e práticos são novamente atualizados com as emergentes problemáticas da metamorfose da escrita etnográfica na era das textualidades eletrônicas. Se olhar, ouvir e escrever (OLIVEIRA, 2000) fazem parte do saber-fazer que compõe a experiência do ofício de antropólogos e etnógrafos, como podemos pensar sobre a expressão do work de campo na contemporaneidade ao utilizarmos diferentes recursos midiáticos hibridizados e fragmentados em ambientes virtuais?
Inspirados pelas reflexões em torno da criação de narrativas fotográficas na tentativa de capturar a dimensão sensível do vivido pelo Outro, criamos a plataforma Fotocronografias no início de 2016 – incentivados pelo work de (Achutti, 1997) – a fim de inventar formas criativas de publicação acadêmica que incorporem outras mídias na produção etnográfica em um ambiente virtual. A revista em formato digital é coordenada pelo Núcleo de Antropologia Visual (NAVISUAL/PPGAS/UFRGS) e pelo Banco de Imagens e Efeitos Visuais (BIEV/PPGAS/UFRGS) com a liderança das professoras Ana Luiza Carvalho da Rocha e Cornélia Eckert e possui o duplo intuito de divulgação de ensaios fotográficos de caráter etnográfico e de incentivar reflexões epistemológicas em torno da produção visual hipermídia na nossa disciplina.
A revista tem publicações bianuais organizadas em edições temáticas que versam sobre assuntos diversos. Todavia, refletimos que as tecnologias digitais oferecem, assim como a escrita, reflexões dentro de uma matriz disciplinar específica com a interferência da subjetividade dos pesquisadores na manipulação das novas formas de versar sobre nossos interlocutores. Dessa forma, nossa experiência enquanto comunidade interpretativa é moldada pelas formas de ver da antropologia da e na cidade (ECKERT; ROCHA, 2013b) e da etnografia da duração (ECKERT; ROCHA, 2013a) refletindo sobre memória e patrimônio etnológico no mundo contemporâneo e nas sociedades complexas (VELHO, 1981). O work aqui exposto apresenta os desafios encontrados na construção da plataforma digital e suas potencialidades expressivas, no que diz respeito à divulgação dos resultados das pesquisas etnográficas para além dos muros das universidades, de acordo com as nossas intenções teóricas que refletem sobre a produção de imagens na cidade como sendo uma atividade que se configura, ontologicamente, como uma operação no tempo (ECKERT; ROCHA, 2016).
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Cultura periférica e saberes localizados: uma perspectiva epistemológica sobre o movimento da literatura marginal Autoria: Lucas Amaral de Oliveira Autoria: Muito se tem debatido, nas ciências sociais, sobre práticas e metodologias de descolonização de saberes e horizontalização dos espaços de escrita e fala. Isso vem sendo colocado em pauta por aquelxs que se preocupam em aliar práticas de engajamento coletivo, colaboração intelectual e troca de experiências. Esta proposta de comunicação é fruto de experimentações epistemológicas empreendidas durante pesquisa de doutorado em sociologia finalizada, recentemnete, na Universidade de São Paulo. O estudo analisou a projeção de escritorxs, provenientes de bairros negligenciados da capital paulista, que atribuem a si e a seus objetos literários as alcunhas “marginal” e “periférico”, ao ponto de ser possível vislumbrar, hoje, a existência de um Movimento da Literatura Marginal, nascido e consolidado nas periferias. Esses novos protagonistas da cena cultural têm sido responsáveis por uma produção literária pujante e heterogênea, ainda que suas criações, para certa crítica, não se adequem às hierarquias simbólicas de praxe. Durante work de campo, notei que a viabilidade do movimento se deu, sobretudo, graças às lutas desses agentes para inverter processos de estigmatização de suas produções e validar saberes artísticos, de modo a circunscrever seus lugares de fala, escrita e atuação, suas estratégias de arranjo sociocultural e seu projeto literário em um contexto de lutas anti-hegemônicas contra diversas matrizes de dominação. O objetivo desta comunicação é apresentar parte dos resultados obtidos durante pesquisa, em especial alguns exercícios epistemológicos e metodológicos de sociologia reflexiva e colaborativa que pratiquei junto com os agentes na confecção da tese. Trata-se de explicitar o modo como experiências de pesquisa, militância e encontro entre saberes variados podem proporcionar, de um lado, um diálogo intercultural com diferentes agentes e, de outro, uma imaginação política e epistemológica capaz de reconheçer conhecimentos nascidos no cotidiano da luta. A hipótese de work é que em tais cenários de traduções e trocas interculturais, nesses espaços de tensão epistemológica, mas sobretudo de convivência, interlocução e parcerias nos processos de produção de saberes, pode desenhar-se uma ciência social crítica e pública que, em vez de visar a interpretação da “voz dos silenciados”, busca ouvir suas polifonias e compreender os lugares a partir dos quais suas demandas tomam forma e ganham força. O alvo deve ser, portanto, o de entender sob quais condições certa realidade sócio-cultural pode deixar de ser a repetição desenfreada da violência, desigualdade, assimetria, injustiça, discriminação e marginalização sociais, inclusive em seu aspecto epistêmico, para converter-se em palco de reconhecimento de cidadania cultural e social.
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Desafios de etnografar o íntimo e os diálogos com a Literatura de Autoria Feminina Autoria: Jurema Gorski Brites Autoria: Os desafios de “estar lá” e “escrever aqui” não se mostraram desatualizados quando me deparei com tarefe de etnografar ( investigação de campo e escrita) sobre consumo, divisão sexual do work, estratégias matrimoniais, conflitos e dramas familiares de imigrantes brasileiras casadas com americanos. É possível etnografar o íntimo, sem ser íntima? Como dimensionar os afetos/emoções e os preceitos éticos quando realizamos pesquisa com sujeitos que se tornam circulo de sociabilidades? Ou ao reverso, é possível no work de campo ignorar as informações que nos chegam do nosso circulo de amizades? Como escrever sobre tais experiências sem deixar de proteger nossos interlocutores? Estás são algumas das questões que o fazer de uma antropologia situada e implicada me colocaram num diálogo estreito com a Literatura de Autoria Feminina, como um dos experimentos possíveis para dar conta dos reveses que minha pesquisa sobre Articulação Casa work nos Estados Unidos me oportunizou
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Desenho de campo e o campo do desenho: resultados do uso dos diários gráficos na produção de etnografias visuais. Autoria: Tanize Machado Garcia, Guilherme Rodrigues Autoria: Na pesquisa antropológica, metodologia é um tema caro para condução de nossas reflexões e produção de nossas monografias. Assim, etnografia também é uma forma de criação (PEIRANO, 2014). Para isso, nós, antropólogas e antropólogos, pensamos em várias possibilidades que nos permitam contar como se dão as relações que observamos e participamos, no intuito de descrever detalhes dos universos de nossas pesquisas. Para isso destacamos dois universos distintos ligados pelo método do desenho como uma das principais ferramentas de apreensão dos sentidos de lugar.
Neste work, pretendemos abordar nossos casos etnográficos que convergem em estudos sobre a cidade e as formas de habitar dos citadinos que constroem seus significados. Apresentaremos o resultado gráfico da pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPel(RS), que pretendeu compreender as dinâmicas de relação entre as pessoas que frequentam o Mercado Público de Pelotas (RS) e do poder público, que gere o patrimônio cultural na cidade, pelas variadas formas de narrar o lugar. O desenho apareceu como forma de descrever conflitos e a negociação do espaço entre os variados grupos que constroem seu cotidiano. (GARCIA, 2018). O outro work é a pesquisa etnográfica realizada no Bacharelado em Antropologia da UFPel (RS), que teve como universo de pesquisa pessoas com deficiência visual do Centro de Reabilitação Visual da Associação Escola Louis Braille (RODRIGUES, 2018). Nesse caso o desenho serviu como fonte de reflexão sobre elementos do campo, evidenciando informações que a priori passaram despercebidas pelo pesquisador.
A partir de um curso de curta duração, no ano de 2017, o desenho passou a ser visto por nós como instrumento metodológico para narrar relações empíricas e como elemento fundamental para a escrita etnográfica. Tornou-se meio de contar fatos científicos. Além disso, desenhar para refletir sobre nossas produções, nos permitiu realizar mergulhos nos objetos de nossas pesquisas e, também, sobre a cidade e seus contextos, fluxos e conexões criados pelos atores sociais. De acordo com Kuschnir (2016), desenhar é um caminho de encontros para observar as dinâmicas sociais que muitas vezes não nos damos conta de que estão lá. Daí o desafio de incorporar o desenho como forma de inscrição das sensações dos pesquisadores em campo pelo recurso do diário gráfico (AZEVEDO, 2016); para a descrição de nossas situações de pesquisa, incorporando, por fim, o desenho no resultado de nossas etnografias. O diário gráfico foi importante ferramenta que contribuiu a que pudéssemos pensar que a produção científica pelo desenho etnográfico complementa o cabedal de possibilidades de construção de conhecimento nas ciências humanas.
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Fabulações especulativas para uma antropologia por meio do design Autoria: Zoy Anastassakis Autoria: Nos últimos anos, diversos antropólogos discutem os futuros da antropologia (Fischer 2011), se dedicando a formular revisões e reorientações para a disciplina (Strathern 2013). Alguns propõem reformá-la como prática de pesquisa engajada, imaginativa, criativa e aberta (Escobar 2017; Ingold 2011, 2013, 2015, 2016, 2017, 2018; Rabinow, Marcus, Faubion, Ree 2008). Nesse âmbito, revisitam a noção de observação participante a fim de reconsiderar as práticas de pesquisa, escrita e ensino na área (Ingold 2014, 2017), e debatem as limitações e potencialidades das relações entre real e ficcional (McLean 2017, Strathern 2013), equivocação (Viveiros de Castro 2004) e certeza na pesquisa antropológica. Em meio a essas propostas de reformulação da antropologia, surgem uma série de abordagens alternativas para a escrita. Dentre elas, emergem gêneros narrativos que combinam rigor etnográfico e exercícios imaginativos. Ganham destaque aí os conceitos de fabulação e especulação, articulados em torno da noção de fabulação especulativa (Haraway 2016; McLean 2017; Debaise, Stengers 2017). Com Debaise e Stengers, Haraway, Ingold e McLean, fabulações especulativas podem ser definidas como a criação de ficções antropológicas suficientemente vívidas e intensas para abrir espaço à imaginação de futuros transformadores, como para viabilizar intervenções e reformulações da realidade (McLean 2017). Podem ser cultivadas por meio de experimentações que envolvem práticas de correspondência (Ingold 2016, 2017) e observação participante (Ingold 2013, 2014), onde aqueles que observam atuam com habilidade de resposta (Haraway 2016, Ingold 2016, 2017) e engajamento (Ingold 2011, 2013). Cultivando os sinais de mudança em uma situação, as fabulações especulativas maximizam os atritos com a experiência, a fim de imaginar futuros possíveis de transformação (Debaise, Stengers 2017). São experimentos de imaginação antropológica (Ingold, Hallam 2007) que visam intervir e modificar a realidade, desafiando a ordem existente para transformar o futuro. Uma forma de narrativa ativista (Haraway 2016) que lida com histórias reais em que vários participantes estão envolvidos em traduções parciais e transformações liminares em meio a processos de diferenciação. Esta apresentação discute a noção de fabulação especulativa a partir de alguns experimentos concretos que vem sendo realizados pela autora em torno da etnografia do movimento EsdiAberta#UerjResiste (Anastassakis 2018; Anastassakis Brasil 2018), apresentando assim um investimento de pesquisa e escrita que se realiza a partir do tensionamento e da multiplicação de modos de experimentação com processos e produtos de pesquisa em antropologia, quando realizada por meio do design (Gatt, Ingold 2013; Rabinow, Marcus, Faubion, Ree 2008).
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Há um rio que mergulha em mim: ensaio sobre a multiplicidade de caminhos, vidas e experiências no Rio São Francisco (entre Alagoas e Sergipe) e outras antropologias. Autoria: Igor Luiz Rodrigues da Silva Autoria:
Este texto está sendo elaborado a partir da vivência que tenho estabelecido com o Rio São Francisco, objeto de pesquisa do doutorado. É um texto sobre mudanças, é sobre se inquietar, é sobre se angustiar, é sobre tentar romper barreiras, é sobre peregrinar, as vezes solitariamente, as vezes em bando, em busca de um humanismo que não se pode encontrar muitas das vezes, na rigidez profunda e hierárquica da academia. É um texto, que tenta fazer um exercício de reflexão, em meio as marés agitadas que rodam a vida acadêmica, em especial do fazer antropológico, na vontade cada vez mais idealista de que novos horizontes se abram e possibilidades antes inusitadas de perceber o outro ou os outros possam ser delineadas, como consequência negociável das interações do cotidiano. A partir do que propõe Ingold (2015), os sentidos dessas abordagens em relação ao Rio São Francisco e a antropologia, estão implicados na capacidade de desenvolver e articular paisagens com práticas, com habilidades em contato com água, em um passeio e construção de uma canoa, no jogar de uma rede de pesca, no contato com os peixes, proporcionando engajamentos que condicionem em primeiro plano os processos ao invés dos resultados, em que o pesquisador a partir da suas próprias capacidades técnicas, com hábitos possa estar engajado e produzindo narrativas a partir dos usos que se faz do seu corpo em ambientes diversos. Além do mais, e não menos importante, nessa construção, a partir de experiências relacionais, eu me apresento como um agente de dentro (insider) e de fora(outsider), nessa aventura junto as águas do Velho Chico, experiência compartilhada por Mol (2005), não estabelecendo padrões de hierarquia, mas antes compartilhando a vida e os moldes de se perceber ao longo do caminho. Quero na verdade produzir uma narrativa antropológica sobre uma fatia da multiplicidade que compõe o mundo de ser do Rio São Francisco, descobrindo caminhos, através não só da perspectiva de diferentes pessoas, mas prioritariamente, guiado pelo contato direto com o rio, ouvindo, sem ser mítico, as suas vozes e seus seres que habitam cada pedaço da margem, cada loca de pedra, cada contracorrente e marés, com elas flutuar na realidade múltipla, pois, no encontro com o rio, é essencial aprender a ser também um canal de comunicação, portador e transmissor de energia, veículo que transporta o rio dentro de si e o que dele tem aprendido, sentido e vivido. Mergulhar com o rio é ser parte, é ser metade, mas é também ser completo, é ser função, é ser essência, que em combinação com outros organismos, coisas e objetos, confluem para a formulação de uma rede elástica e coesa, que se justapõe na formação de um rio que é único e múltiplo ao mesmo tempo, assim como a antropologia também é plural, múltipla e viva. |
Improvisando ontologias: a dança e o pensamento em movimento Autoria: Renato Jacques Autoria: A comunicação que venho propor para o GT “Antropoéticas: outras (etno)grafias” é fruto de uma pesquisa de quase 10 anos em meio a práticas corporais (aulas) e processos criativos (ensaios) no contexto da dança contemporânea da cidade de São Paulo, com especial atenção a danças que se dão em modo de improviso, ou seja, sem (coreo)grafias pré-estabelecidas. Entrecruzando autoras/es como Étienne Souriau, Elizabeth Povinelli, Roy Wagner e John Dewey, dois serão os temas a se entrecruzar nesta proposta. O primeiro deles é o próprio (ou não tão próprio) corpo do pesquisador (aprendiz) enquanto campo de work. O que é pensar a dança enquanto registro de um processo de aprendizado? A dança enquanto documentação? A dança enquanto (etno)grafia? O segundo tema é a própria ontologia de uma dança que se dá em modo de improviso no tempo e no espaço. Que pensamentos são aqui pensados? Coloniais ou descolonizados? O que é dançar? O que é levar o improviso a sério, ou seja, pensá-lo nos termos de sua ontologia? Como pensar a "pele" de um work artístico? Em tempos de “virada ontológica”, a reivindicação de existências se tornou pauta e a etnografia remodelou seu caráter, nem tanto o "outro" da antropologia clássica/moderna, nem tanto o "eu" da antropologia pós-moderna, mas uma outra coisa, da ordem da inovação. O que será? Se Roy Wagner propõe que todo gesto humano é criativo, seja ele repetitivo ou inovador, aonde nos leva o estudo detido das relações entre arte e vida? Como fio condutor de minha comunicação, apresento trechos (lidos e dançados) de uma etnografia realizada desde o interior de uma obra em criação, em cujos meandros se encontrava a própria etnografia das práticas e do processo. "O duro desejo de durar" (II Mostra Programa de Exposições 2017 – Centro Cultural São Paulo) acabou se tornando uma obra sem limites precisos, algo que se deu intensiva e propositalmente, de modo que cada um de nós (5 pessoas, a princípio) éramos (e seguimos sendo) parte dela. Como pensar uma obra que contém vidas e não vidas a “produzir” obras? Há espaço para a ampliação do conceito de obra (artística "e" etnográfica)?
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Navalha na Saia: sobre como uma tese tradicional não se mostra suficiente para depurar as emoções que uma pesquisa evoca Autoria: Stéphanie Campos Paiva Moreira Autoria:
Pesquiso de forma transdisciplinar antropologia histórica, arte e culturas negras. As interações que foram arranjadas desde meu ingresso no doutorado em Estudos Étnicos e Africanos bem como no Grupo de Pesquisa Corpo e Ancestralidade da Escola de Dança da UFBA em 2016 em paralelo à vivência da capoeira tiveram como resultado o início dos estudos de corpo e movimento que desembocaram no processo criativo Navalha na Saia. Essa é a construção de um fragmento artístico que busca representar-se enquanto corpo negro feminino a partir de uma existência familiar ancestral utilizando a linguagem da dança-performance em paralelo ao escrito antropológico. Pretende ser um subproduto da pesquisa de doutorado “Ancestralidade familiar negra: um estudo sobre a trajetória de uma família negra do sul do Brasil’ com foco sobre a centralidade das matriarcas em sua organização, bem como na sua permanência e estratégias de resistência. Abordo a relação entre gênero e raça e a representação de guerreiras negras do cotidiano que costumam ser silenciadas tanto em suas trajetórias de vida quanto na memória construída sobre elas. É fundamental mencionar a existência de Estephânia Paiva (1893-1989) que concentrou em si um tipo de empoderamento o qual à sua época era transgressor e que, viúva em 1935 com uma prole de quatro filhas, levou adiante um projeto familiar defendido com atitudes e armas: o facão e a pistola que levava à cintura de sua saia. A arte dispõe de uma linguagem permissível às subjetividades. Antes que a regra da grafia ou da metodologia me aflija, eu já senti. Quando se trata da história das populações negras da diáspora é comum as narrativas virem banhadas em sangue ou lágrimas, e sempre em suor. Trata-se de works que ecoam aquilo que as pessoas nos dizem de suas histórias, e as histórias choram durante anos depois de vividas. Encontrei pesquisadoras com intensas dificuldades em dar continuidade às suas pesquisas por serem contextos que buscavam dar voz a mulheres silenciadas pelo racismo, pelas violências doméstica ou estatal. Estavam sendo atravessadas pela condição de existência compartilhada e a mim aquele discurso ecoava. As narrativas sobre vivências de escassez, dor e violência são impactantes a qualquer investigador(a) que entender que está trabalhando com seres human@s, mas quando os atravessamentos se confundem com suas heranças de dor? O que uma pesquisadora pode fazer para depurar os sentimentos que por vezes paralisam e nos fazem não mais querer a próxima entrevista, a próxima transcrição, a próxima página? Encontro na arte o lugar onde posso transbordar sempre que cheia, sem pausas para analisar a formalidade da escrita e me fazer esquecer do que vinha pensando. E assim em fluidez, permito-me transportar no tempo-espaço e imaginar. |
Navegando Entre Lenguas Salvajes: Reflexiones Sobre Escrituras Decoloniales, Resistencias Lingüísticas y Experimentaciones Poéticas Autoria: Kruskaya Cristina Hidalgo Cordero Autoria: Dentro del contexto de migración latinoamericana a Suecia, mi investigación se enfoca en las negociaciones de identidad que mujeres migrantes realizan para resistir el racismo cotidiano. Mi estudio se centra en como las mujeres migrantes forjan identidades hibridas en espacios liminales y construyen identidades de coalición sin homogenizar las múltiples posiciones dentro de la matriz de dominación. Mis reflexiones se basan en un archivo de treinta y tres historias orales que llevé acabo en las ciudades suecas de Gotemburgo, Estocolmo y Upsala. Trabajando de cerca con propuestas teóricas, metodológicas y analíticas de los feminismos chicanos, negros y decoloniales, propongo mi estudio como una investigación ‘encarnada’ – hablando como una mujer migrante también – que trata de experiencias ‘encarnadas’ de racismo engenerizado.
Para este grupo de trabajo en particular, quiero centrarme en prácticas políticas y estéticas de escritura (otra) que incorporo en mi investigación que instan a sobrepasar las barreras entre el lenguaje académico y creativo para transgredir las fronteras entre lo poético y lo formal. Quiero expandir mi construcción metodológica y teórica de una escritura decolonial que puede generar fisuras en las lógicas categoriales que reducen e invisibilizan el carácter multidimensional de la experiencia de las mujeres. Por un lado, busco reflexionar sobre el cambio de códigos entre idiomas – inglés y español – en los trabajos de Gloria Anzaldúa y María Lugones, como un recurso retórico de resistencia lingüística. Por otra parte, el uso de la poética en las experiencias de racialización desde una escritura del cuerpo, de la piel, en primera persona con la propuesta de las mujeres tercermundistas en los Estados Unidos – en particular Cherríe Moraga – de la ‘Teoría Encarnada’. De esta manera, quiero dibujar paralelismos entre las autoras mencionadas y las contribuciones teórico-políticas de mis entrevistadas de un mestizaje subversivo y disidente del idioma sueco. Es así, que en esta conferencia estableceré conexiones entre propuestas decoloniales del uso del lenguaje y mi propia propuesta de escritura (otra) donde las lenguas se tornan mestizas, salvajes, impuras y irrumpen el texto con una sonoridad propia.
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Nós em Canarana: poética, política e etnografia entre os parque-xinguanos Autoria: Amanda Horta Autoria: Este artigo propõe uma reflexão _a posteriori_ sobre as estratégias narrativas que conduziram minha tese de doutorado intitulada "Relações indígenas em Canarana (MT)", defendida em janeiro de 2018. A tese versa sobre as maneiras pelas quais os indígenas do Território Indígena do Xingu (TIX) formulam suas experiências em Canarana, cidade que abriga, hoje, uma grande quantidade de indígenas vindos de diferentes regiões do TIX. Minha aposta é que, na mesma medida em que o conteúdo da tese é fruto dos encontros ocorridos entre eu e os parque-xinguanos nos últimos anos, a faculdade poética da qual a tese não poderia deixar de prescindir é também resultado do encontro das formas de criatividade indígenas entre si e com a minha, no ambiente citadino de Canarana. Sendo assim, durante a redação, pareceu-me fundamental que a tese-pronta pudesse comunicar suas histórias para os sujeitos envolvidos nos encontros, incluindo aqui eu e meus pares antropólogos, e os indígenas letrados do TIX e seus pares. A consequência é que a força política da tese reside em seu alcance potencial - e que este é indissociável de sua forma literária. Retomando este material, o artigo propõe explorar o jogo entre as consequências políticas desse encontro poético e as consequências literárias desse propósito político expresso na acessibilidade da narrativa.
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Palavras encantadas: Notas de um experimento etnográfico sobre uma vivência afro-religiosa na Amazônia. Autoria: Anderson Lucas da Costa Pereira Autoria:
Os diálogos estabelecidos ao longo desses anos de work junto ao contexto afro-religioso no Município de Santarém no Estado do Pará, despertaram-me atenção para a palavra ajuremar, muito usado pelos afro-religiosos da região, sobretudo quando se escuta o mito das três princesas turcas que se encantaram em terras amazônicas. O modo como essa palavra aparecia nas falas dos afro-religiosos fez surgir a possibilidade de traçar e cruzar caminhos outros para a pesquisa que estou pondo em prática. Esse é, portanto, o esforço que estou fazendo para entrecruzar essas ideias, a palavra e as experiências que pude acompanhar. Deste modo, a partir de “pontos de vista” aparentemente não cruzados, mas certamente, “encruzilhados”, este artigo trata dos modos de pensar e fazer festa em um terreiro de Umbanda. Aqui, privilegia-se a dimensão descritiva narrativa dos aspectos simbólicos expressados pelas verbalizações do Pai de santo e filhos de santo do terreiro pautados em seus saberes, assim como as relações tecidas no terreiro e em outras atividades do cotidiano da festa que aparentemente não estariam conectadas à religião. Sublinha-se que esses saberes e essas relações incorporam no cotidiano das pessoas, assim como as entidades e espíritos, inúmeros encontros sensíveis e mesmo táteis que causam outros efeitos e possibilidades de transformações do presente. Assim, neste texto exercito um estilo “etnopoético” de como reverberar essas vivências na forma de descrições etnográficas, em um experimento de encontros de “etnosaberes”. O meu desafio é tentar produzir uma narrativa interessante desses encontros, pois o fato de apresentar longas descrições das falas dos personagens, no decorrer desta escrita, não significa que eu esteja repetindo o discurso “nativo”, mas também não é a minha pretensão produzir um discurso unicamente antropológico, cientificista, que possa marcar alguma espécie de separação absoluta nessa relação. Ou seja, este texto acabou sendo um experimento de como escrever, sem cair no “sonho” “naturalista” de um “conhecimento espontâneo”, e sem cair no “pesadelo” de um discurso academicista que possa esmagar todas as experiências vivenciadas, incluindo as minhas. De fato, a saída deste “pesadelo”/“sonho” está sendo pela poesia e a pintura, o que muito tem a nos ensinar a escrever, ou melhor, pintar e cantar nossas palavras. Por fim, ao se propor descrever os preparativos da festa, se está também descrevendo práticas de conhecimento que fazem do chão de um terreiro um solo fértil para produzir saberes diversos que vão muito além das margens desta escrita. |
Performances com cristal - sensorialidades e deslocamentos. Autoria: Rita de Cássia de Almeida Castro Autoria: CASTRO, Rita de Almeida.
Brasília: Universidade de Brasília; Professora Associada. Atriz e diretora teatral.
Resumo
Em tempos de aceleração, informações múltiplas e simultâneas, cultivar espaços de foco e profundidade são desafios constantes, principalmente no que tange a abordagens de processos criativos. Como ativar a escuta interna e percepções mais sutis do corpo em meio ao caos cotidiano?
Pretende-se assim adentrar, em um tempo mais dilatado, a partir da abordagem do seitai-ho, educação corporal de origem japonesa que visa resgatar e manter o corpo sensível, particularmente acessando os princípios do do-ho, técnica de movimento, do - significa movimento e ho - técnica; e o modo de percepção najimi, arte de tocar, que sente o ar entre os corpos, com espaço entre o eu e o outro.
A partir destes princípios propõe-se refletir sobre performances interativas realizadas com um cristal em diferentes lugares, paisagens e atmosferas, como o Jalapão no Brasil, Atacama no Chile, Tóquio, Monte Fuji, Kanazawa e Kyoto no Japão. O cristal, colocado no sétimo chackra, como em um alinhamento com o céu, em conexão com a atmosfera circundante, em interação com os sons e vibrações dos ventos, águas, areias e seres humanos. O cristal como mediador e impulsionador de ações e movimentos para a performer, um estímulo para estados de prontidão e escuta em interação com as ambiências com suas singularidades e especificidades. Depois das filmagens realizadas a partir das performances com o cristal, vem os questionamentos: Como criar campos de experiência para o outro? Como ampliar a escuta e a percepção de si e do outro? O que significa provocar uma distensão ou uma recolocação do tempo para o sujeito? Quais os desmembramentos da relação com o cristal? Como transpor as ações performativas para as outras pessoas? Como provocar deslocamentos e subversões na esfera do cotidiano para os transeuntes das cidades? Como experimento de troca com o outro, pretende-se realizar projeções associadas a sons específicos, em diálogo com as imagens. Criar pequenos portais sonoros e visuais no frêmito cotidiano.
Com os atos poéticos suscitados pela experiência e transmutados em cena expandida pretende-se trabalhar, no âmbito de uma micropolítica do cotidiano, com pequenos momentos de ruptura para o homem que vive nas cidades. Pretende-se mostrar em um pequeno filme, uma síntese da experiência performativa que ocorre em um tempo-espaço dilatado, propiciador de verticalidade e conexões mais sutis.
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Poéticas e aparições na demência e na etnografia Autoria: Daniela Moreno Feriani Autoria: “É como se os fios fossem se soltando aos poucos.” É assim que a coordenadora da Associação Brasileira de Alzheimer começa a falar sobre a doença para um grupo de cuidadores e familiares. Recolher os fios da doença, compô-los e desmanchá-los tem sido o meu percurso etnográfico desde o doutorado e, agora, no pós-doc. Esse paper se propõe a experimentar algumas dessas composições por meio de uma linguagem poética e de um pensamento visual através de fotografias, vídeos, gestos, bordados, blogs, metáforas, autobiografias e obras de arte encontrados ao longo da pesquisa. O que as imagens mostram em um contexto de lapsos e desaparecimentos? É possível falar em uma grafia-demente? E em uma etnografia assombrada? Ao longo desse percurso, proponho pensar tanto a demência quanto a etnografia como emaranhados e quimeras, um nó de relações que faz aparecer aquilo que está invisível, possibilitando outros modos de ver, conhecer e descrever. O que a doença de Alzheimer me revelou do fazer antropológico – e vice-versa? Como a travessia entre viver a doença e contá-la me ajudou a ver minha própria travessia entre viver o campo e contá-lo? Em uma doença cujos fios vão se soltando, em que a linguagem verbal e outros domínios cognitivos vão se perdendo, é fundamental criar outras estratégias para acessar o “mundo às avessas” da demência, com outras referências e subjetividades. Assim, a tentativa é de propor outros resultados para a reflexão antropológica e superar desafios como o de investigar os limites e alcances da linguagem e o de incorporar pessoas em processo demencial como interlocutores de uma pesquisa.
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Por uma Antropologia de Grafias Plurais: Octavia Butler e a reescrita do passado e do futuro Autoria: Ananda Andrade do Nascimento Santos Autoria: O interesse pelas hipóteses de fins do mundo, anunciados nas mais diversas cosmologias, vem sendo uma área explorada pela Antropologia desde os seus primeiros passos. No entanto, a temática dos medos e dos fins (Danowski e Viveiros de Castro, 2017) não é exclusividade das nossas construções antropológicas. Temos distopias narradas, repetidas e revisadas também a partir da ficção científica, através de linguagens como o Cinema e a Literatura.
Nesse sentido, é marcante resgatar o livro “Flame Wars”, de Mark Dery, que se questiona a razão de à época (1993) serem tão poucos os escritores de ficção científica negros. A capacidade de especular um futuro teria ficado apenas para as pessoas brancas? O que seria um futuro tecnocrático imaginado de uma perspectiva negra? A partir disso, Dery, um homem branco interessado na “indústria cultural” estadunidense, crava o conceito de “afrofuturismo”, que potentemente vem sendo questionado, ocupado e ressignificado por experiências negras.
Se pensarmos as narrativas estadunidenses de invasões alienígenas, poderíamos facilmente, com algum esforço imaginativo, alinhar uma distopia branca e ocidental a vários fragmentos da diáspora africana, seja a partir da dominação violenta, idiomas impostos e outros elementos dos processos de colonização. Se as distopias centrais no imaginário de um país como os Estados Unidos foi a experiência vivida e marcada no corpo e na trajetória dos afro-americanos, o que resta a ser imaginado?
Pensando junto da autora afro-americana Octavia Butler (seus livros, contos e artigos autobiográficos), que se confunde com algumas de suas personagens, busco pensar como a ficção científica pode balizar e inspirar as construções de outras narrativas, grafias e Antropologias possíveis, buscando a própria literatura como uma espécie de Antropologia Especulativa junto a Saer (2009) e Nodari (2010).
Junto a Fanon, acredito que o branco inventa o negro, mas a negritude é a antítese que responde a essa "maldição".
Que futuros construímos daqui?
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Por uma etnografia multissensorial Autoria: Alexsânder Nakaóka Elias Autoria: Esta comunicação surgiu das minhas interações com a escola Honmon Butsuryu-shu (entre 2011 e 2017), pertencente ao Budismo Mahayana japonês e presente no Brasil desde 1908, sendo considerado o primeiro segmento a chegar ao país. Dessa maneira, a partir da minha posição de “fotógrafo-antropólogo”, me inseri em campo como um componente em relação aos demais, procurando obliterar, tanto nas experiências vivenciadas quanto no texto etnográfico, um possível dualismo entre sujeito e objeto.
Nessa direção, o presente work busca tensionar uma questão instigante, que diz respeito ao domínio do verbal na escrita antropológica, a partir de algumas experimentações multissensoriais desenvolvidas no âmbito do meu doutoramento em Antropologia Social na Unicamp, finalizado em maio deste ano (2018), a saber: dois cadernos/capítulos visuais; um glossário verbo-visual, no qual fotos, textos e termos em japonês se inter-relacionam; a capa da tese, que foi confeccionada em goma bicromatada, com cheiro de incenso e relevo; um QR code, que permite que o leitor escute uma cerimônia budista completa, realizada no Templo Seifuji, (Osaka/Japão); além de capítulos verbo-visuais nos quais textos, narrativas verbais dos meus interlocutores e imagens fotográficas atuam conjuntamente para explicitar e dar a ver as vivências de campo.
Dessa forma, ao partir de conceitos potentes como “experimentação”, “invenção” (WAGNER, 1975) e “montagem” (EISENSTEIN, 1926, 1942 e WARBURG, 1929), a intenção aqui é a de ponderar sobre as possíveis relações entre o formalismo/estrutura e o conteúdo que produziu o próprio “texto” e saber etnográfico.
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Quando o outro está(é) nos rastros e restos de um arquivo: Experimentações etnográficas na invenção de um acervo Autoria: Angelita Soares Ribeiro, Fabiola Mattos Pereira Autoria: Nosso ponto de partida demarca-se no desejo de criação de um espaço de memória por onde pudéssemos ir ao encontro do “quem” de uma história ainda não suficientemente contada: A história dos(as) estudantes do atual Câmpus Pelotas – Visconde da Graça (CaVG) vinculado ao Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul), que surge em 1923 como Patronato Agrícola Visconde da Graça (PAVG). Desde então nos movem as seguintes questões: Quem foram as crianças e os jovens que vêm passando por esta escola agrícola do sul do Brasil desde o século passado? Por que chegaram? Por que partiram? Quem os enviou? Quem os retirou? De onde vinham? Por que suas histórias ainda não se fazem ouvir? Por que seus rostos permanecem anônimos em tantas imagens? A busca desse outro se faz então, desde 2014, um denso e contínuo processo de constituição de um acervo pelo Núcleo de Extensão e Pesquisa em Educação, Memória e Cultura – NEPEC. No manuseio de documentos, arquivos e álbuns, se impôs antes de tudo um work metódico de higienização, classificação, arquivamento, etc. No entanto, enquanto o imperativo parecia interpor-se na exigência de uma estruturação mínima do que entendíamos ser um acervo-campo de pesquisa, algo se passou enquanto nossos corpos e mentes se exauriam entre camadas de poeiras seculares, documentos soterrados abaixo de móveis caídos, álbuns de fotografias que se espalhavam pelo chão ao serem abertos: O processo de criação do acervo enquanto campo etnográfico se fez ele mesmo etnografia e nos vimos inventando o campo, os sujeitos, e a nós mesmos enquanto etnógrafas. Aproximando etnografia documental, surrealismo etnográfico, antropologia da imagem, polifonia e linguagem, nos propomos a problematizar neste work a forma como fomos, na criação do acervo do NEPEC, tensionando limites de alteridade entre sujeitos e objetos, nos relacionando com aquilo – que em rastro – restou dos sujeitos da história do CaVG, e com os próprios documentos, objetos e imagens que por vezes parecem protagonizar enquanto sujeitos-arquivo sobreviventes na memória institucional.
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Relato e reflexão sobre o documentário Autoria: José Otavio Lobo Name Autoria:
Neste work, irei esboçar algumas reflexões sobre o uso de fotografia e vídeo como formas de conhecimento, a partir do work de documentação do congo do Espírito Santo que venho realizando desde 2013, e fazer um relato da produção do documentário "Festa de São Benedito" (2018). Irei também fazer uma breve revisão de alguns textos que contribuem ao tema, versando sobre antropologia visual, narrativa etnográfica, e objetividade científica. Abordando o texto de Etienne Samain que, a partir da produção fotográfica de Malinowski na Melanésia propõe formas de se pensar a antropologia visual, procuro levantar algumas questões - não para respondê-las, mas para que guiem o meu work documental e a minha reflexão acerca dele. Uma delas é a respeito de uma concepção de realidade que, apreensível pela câmera, revelasse na imagem "seus significados"; em oposição à perspectiva que tem consciência de que o filme etnográfico é produzido numa relação entre o pesquisador, a câmera e o outro. Esta linha de pensamento permite-me comentar, brevemente, os works de Mead e Bateson em Balinese Character: a photographic analysis (1942); e o filme "The ax fight" (1975), de Timothy Asch. Essas ideias contribuem, também, à reflexão sobre a produção do documentário Festa de São Benedito, cujo relato trata de decisões técnicas, estratégicas e conceituais que fizeram parte do processo de filmar e editar o vídeo. Neste relato, são apresentadas as etapas que compõem os festejos de São Benedito da Banda de Congo Amores da Lua, principal universo de minha pesquisa de doutoramento em Antropologia pela Universidade Federal Fluminense. O filme também faz parte do projeto O Congueiro, de pesquisa audiovisual acerca do congo do Espírito Santo. Através de redes como Flickr, Facebook¸e YouTube, o projeto já publicou, desde 2013, centenas de fotografias, e mais de 150 vídeos, incluindo o documentário "O que é meu vem a mim" (2016), exibido na Mostra Competitiva do 7º Festival Internacional do Filme Etnográfico do Recife, em 2016. Por fim, este work recorre aos textos de Donna Haraway e Tim Ingold para discutir as questões da objetividade na ciência e o papel do etnógrafo na "descrição" antropológica. O documentarista atua na fronteira entre o discurso autoral, subjetivo, e o compromisso social do cientista, que visa compartilhar um conhecimento construído por consensos metodológicos. São questões que estão presentes, o tempo todo, em meu work de campo, em que decisões técnicas e logísticas são tomadas ao lado de uma atitude tão sensorial quanto analítica, em que não estou a registrar a ação, somente, sem dela participar ativamente. |
Ribeirinhos do Rio Marinaú - Construindo Histórias Visuais na Comunidade São Sebastião Autoria: Silvia Helena dos Santos Cardoso Autoria: Ribeirinhos do Rio Marinaú formam a Comunidade de São Sebastião com aproximadamente cem pessoas entre adultos, adolescentes e crianças residentes nas margens do rio e de igarapés. O Marinaú é um afluente do rio Anapú que banha a cidade de Portel entre outras pertencentes ao Arquipélago do Marajó e localiza-se no interior da FLONA de Caxiuanã (a morada das cobras) no Estado do Pará. Entre muitas comunidades, os Ribeirinhos do Marinaú tem a floresta como espaço provedor da cultura alimentar: o açaí, o peixe, a mandioca e a caça de animais silvestres. Os ribeirinhos fazem parte do conceito defendido na Antropologia Brasileira por “povos da floresta”, tocando na célebre obra “Enciclopédia da Floresta: o Alto Juruá” (2002). Nesta comunidade, existe uma vila central, onde se encontram: uma escola de ensino fundamental, uma igreja católica, uma casa refeitório secretaria e um galpão de reuniões e festas. No ano de 2018, a escola passou a fazer parte de um projeto educacional de responsabilidade do Museu Paraense Emílio Goeldi que também responde pela Estação Científica Ferreira Penna, desta forma várias oficinas culturais são ministradas, e entre elas a de Audiovisual. O assunto norteador dos experimentos foi: as histórias de cada um. Argumentamos que todos têm histórias, reais ou imaginárias, e estas histórias seriam filmadas com os dispositivos móveis, câmeras compactas e profissionais. À luz do cineasta documentarista Eduardo Coutinho, um cenário natural foi escolhido, os equipamentos foram posicionados e os adolescentes passaram a desempenhar várias funções, desde câmera fixa para o registro dos depoimentos, os celulares nos paus de “self”, a direção do “entrevistado”, bem como o cuidado com o “fazer silêncio” necessário para gravar a fala dos colegas. Impressionante verificar como todos respeitaram a ideia do “fazer cinema” a partir das próprias histórias de vida, da privacidade como fio condutor de um ensino/aprendizagem em audiovisual. A câmera se impôs como um instrumento que capta a “alma”, uma ideia bastante difundida desde os primeiros filmes documentários, evocando Dziga Vertov; em consonância os alunos começaram a narrar, a entregar suas vidas diante da câmera como se ela fosse um confessionário, muitos se emocionaram e os olhos marejados anunciavam uma história triste, uma história de protagonistas familiares e aparentados. Fascinante notar o monólogo estabelecido por cada um deles e provocado por um equipamento de registro de imagem e som. As histórias narradas e filmadas são o cerne deste work e fomentam essas “outras etnografias” construídas por todos: os propositores e os protagonistas. O Marinaú revela as suas faces em cada curva do rio onde se encontra uma casa palafita, um “casco” ancorado, uma canoa de rabeta.
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Roda/Camada/Coleção - o antropólogo como feitor de imagens e variações do artista como etnógrafo Autoria: Geslline Giovana Braga Autoria: Com uma formação anterior em imagem. Sempre pensei que meus textos antropológicos pudessem de alguma forma: ter forma. A herança de pensar a partir de imagens. Para estruturar a escrita da minha tese em antropologia social, “A capoeira da roda, da ginga no registro e da mandinga”, parti da forma do cosmograma Dikenga, um círculo como a roda de capoeira. Dividi a tese em duas partes: registro e salvaguarda, pensando no primeiro como analogia a ginga e o segundo a mandinga. Com isto, as partes podem ser lidas independentes, o último capítulo pode ser o primeiro, a introdução está no segundo capítulo, o primeiro pretende sugerir ao leitor como os capoeiristas foram apresentados as políticas públicas para o patrimônio e o terceiro liga-se ao caderno de imagens, pretensamente colocado no meio por relacionar-se a todos os capítulos como centro da roda, porque discute as relações entre imagens/imaginário e a salvaguarda. Memes das redes sociais são compartilhados ao longo dos capítulos, fundamentando as discussões propostas. A fotografia levou-me a antropologia. Estranhamente, depois de minha conversão à antropologia, tornei-me documentarista. Com a intenção de voltar-me a imagem, depois da defesa, fui selecionada para o Núcleo de Artes Visuais do SESI/PR, com o objetivo de dar um tratamento de arte contemporânea as minhas produções antropológicas e produzir imagens antropológicas a sem o real como referente. O formato do núcleo, com palestras e discussões da produção de cada participante, possibilitou a interlocução com jovens artistas, na maioria mulheres. Esta convivência fez-me observar os usos de ferramentas da etnografia em residências artísticas e site specifcs, ainda que não referenciadas e para além das observações de Hal Foster. Da mesma forma, surpreendeu-me o desuso da antropologia da arte. Desenvolvi três works visuais no núcleo, os considero todos antropológicos, fazendo usos das linguagens e estéticas da arte contemporânea. No presente artigo pretendo apresentar tal produção e, ainda, discutir sobre a etnografia como ato para produção artística contemporânea. Bem como as lógicas da forma da tese. Dois works produzidos no Núcleo, as “quase-colagens” inspiradas em Marilyn Strathern e Tim Ingold, intituladas “Capoeira em escalas” e a série “Objetos chucros” (fotografias de recipientes para doces ou açúcar de minha família colecionados junto aos restos de insumos dos usos de insulina de minha filha) foram inscritos no Prêmio Pierre Verger para ensaios fotográficos deste congresso, a aceitação, ou não, destes também será um dado para pensar a abertura às interlocuções entre arte contemporânea e antropologia. Pensando de tal formas nas permissividades das transversalidades antropologia e arte, para ambas as áreas.
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Testemunhos Desenhados: Uma autoetnografia em saúde mental na Universidade de Brasília Autoria: Beatriz de Lima Morais Autoria:
O work propõe reflexões acerca da temática da saúde e do adoecimento mental no contexto da Universidade de Brasília (UnB), através de uma perspectiva autoetnográfica, definida aqui como a análise social sobre a experiência de vida de sujeitos corporificados, construída a partir das vivências e da narrativa construída pela própria autora/pesquisadora. A utilização da expressão autoetnográfica permite uma a construção de um relato emocional em primeira pessoa sobre a experiência de ser uma estudante em sofrimento mental na Universidade de Brasília. Desafiando a ideia do distanciamento entre "objeto de pesquisa" e "pesquisador", o work retoma a ideia de “testemunho de sobrevivente” presente na literatura sobre saúde mental. A história de vida - o testemunho - da autora se mescla com reflexões antropológicas sobre saúde mental e adoecimento de estudantes universitários. A partir disso, é apresentada uma discussão sobre o papel da Antropologia e da autoetnografia em repensar estigmas e acolher as vivências de pessoas em situação de marginalização psicossocial. |
Um museu de imagens vivas: metáforas para uma etnografia poética e política Autoria: Carolina Machado dos Santos Autoria: O Teatro do Oprimido é um sistema estético - amplamente difundido na América Latina – que se utiliza do potencial das linguagens artísticas, concebidas como Palavra, Imagem e Ritmo, para apoiar indivíduos e suas comunidades a desmecanizarem seus próprios corpos e subjetividades, para que nos tornemos sujeitos ativos de nossas próprias vidas, compreeendendo melhor a realidade social para transformá-la. Como praticante do TdO há mais de 10 anos, participei da criação de um grupo de mulheres na minha cidade (Goiânia, Brasil) com o objetivo de criar intervenções principalmente contra a violência patriarcal, o sexismo e o racismo. Assim, em 2011, surgiu o Núcleo Ocupa Madalena, que atualmente é parte da Rede Madalena Internacional de Teatro das Oprimidas.
No presente work narro algumas práticas de meu grupo de teatro das oprimidas a partir das perspectivas e experimentações etnográficas e auto-etnográficas. Parto da seguinte pergunta: faz sentido estudar a prática de um grupo de teatro que não a partir do teatro mesmo? Ou seja, que melhor maneira de refletir que não a partir de um processo estético desenvolvido para esse fim? O que emergiu, como metodologia de pesquisa e intervenção, de forma a construir uma das possíveis histórias do nosso grupo, foi a retomada de um exercício estético que chamamos de 'Museu de imagens vivas '.
Desta forma nós, teatralmente, criamos um museu de memórias afetivas de nossas práticas que também serve como uma ferramenta metodológica de reflexão. Portanto, meu objetivo é apresentar a discussão sobre como o núcleo desenvolve sua práxis e como se correlaciona com teorias feministas e descolonial por um lado, e por outro lado, defender as formas estéticas como formas de produção de sentidos. Propor como, a partir da critica descolonial e propostas etnográficas outras, podemos incorporar o valor cognitivo da produção artística à produção de conhecimento situado e comprometido com as lutas dos oprimidos e oprimidas.
A partir da narração desse “museu de imagens vivas” busco delinear pelo menos três desses espaços, compreendidos como projeto local, construção de redes e de conhecimento situado. Nesse esforço de traduzir as práticas do Teatro das Oprimidas como uma luta de mulheres do sul, delineei alguns mecanismos, estratégias e práticas através das quais podemos: a) defender uma dinâmica entre teoria e práxis que favoreça as experiências de grupos, coletivos e movimentos sociais feministas como possíveis lugares de enunciação; b) rejeitar hierarquias que desvalorizem ou secundarizem o papel das artes e de uma estética das oprimidas; c) contribuir para a construção de metodologias artísticas criativas que nos apoiem na construção de outras etnografias.
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Uma análise da coleção de desenhos etnográficos do Museu Kunstkamera de São Petersburgo Autoria: Aina Guimarães Azevedo Autoria: O que uma coleção de desenhos etnográficos pode nos dizer sobre a história da antropologia, suas formas de percepção e descrição do conhecimento? Neste work, dedico-me à análise da coleção de desenhos etnográficos do Museu Kunstkamera de São Petersburgo, Rússia, que reúne cerca de mil desenhos produzidos entre os séculos de XIX e XX.
Os desenhos dessa coleção foram feitos por cerca de 27 autores — entre naturalistas, exploradores e etnógrafos —, sendo a exploradora Antonina Aleksandrovna Voronina-Utkina aquela que reúne o maior número de desenhos, 117, feitos em torno de 1910. Representativa de sete expedições, a coleção recobre territórios do Império Russo e da antiga União Soviética, além de diversos outros pontos espalhados pelo globo.
Produzidos com diversos materiais — como lápis, tinta, aquarela, pastel e também lã e algodão —, a variedade de temas desenhados é igualmente notável. Os desenhos selecionados para compor a coleção representam cultura material, técnicas corporais, arquitetura, assentamentos, retratos, ornamentos, ações sociais e rituais e etc.
A partir da análise desta coleção, busco recuperar parte importante da história da antropologia não hegemônica e que se refere a uma de suas técnicas de pesquisa de campo: o desenho — que é retomado na atualidade, sem que se conheça bem o seu passado. Esse é o caso da antropologia desenvolvida no início do século XX na antiga União Soviética que destacava, em seus cursos de formação, a aprendizagem de algumas técnicas de work de campo, como andar a cavalo e desenhar (Arzyutov e Kan, 2017: 61).
Disponível no website do museu, a coleção de desenhos etnográficos do Kunstkamera, permite desdobrar a própria rubrica “desenho etnográfico”, por meio da identificação de estilos, temáticas desenhadas, período de realização e autoria dos desenhos.
Essa coleção é uma fonte de investigação para aqueles interessados no desenho como ferramenta de pesquisa etnográfica, assim como para aqueles que refletem sobre o desenho como uma das formas imagéticas que compõe a antropologia. Representando a era em que a fotografia não era completamente empregada, esses desenhos nos permitem refletir sobre uma antropologia pré-fotográfica ou não-fotográfica e também sobre as temáticas desenhadas e desenvolvidas visualmente.
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